Os Campos de Hera

Infelizmente eu herdei o nariz pontudo.


Coisa ruim: Wendi vacilou total e dormiu poucas horas depois do taxista pedir um McLanche Feliz para mim e para ela.

Bem, o taxista não reclamou das nossas armas, a Névoa deve ter dado uma forcinha para a gente. Ele avisou, por fim, que faltava pouco para chegarmos no PP (eu chamo assim agora, vou ficar pronunciando aquele nome nada...) e perguntou se eu não gostaria de dormir. Eu respondi que não, muito obrigado. Mesmo sem ele ter reclamado e ter parecido um bom taxista, sentia uma aura diferente, não confiava totalmente naquele senhor. Era um senhor de meia-idade, com alguns cabelos brancos, uma jaqueta de hóquei, calça jeans rasgada, pochete na cintura e um cigarro na boca. O táxi também dava um sentimento diferente. Um tipo de animação e diversão, mas que também era aconchegante, mesmo com a fumaça do cigarro.

- Tem certeza que não quer dormir? – ele perguntou, com sua voz meio esganiçada.

- Tenho sim, senhor. – respondi

Tyson deu um ronco alto.

- Acha que eles vão acordar se eu falar com você? – ele perguntou.

- Não... O que você quer? – perguntei desconfiado.

- Calma, não sou nenhum monstro, nem vim aqui matar você. Sou seu pai. – ele falou, levantando as mãos do volante como um inocente.

O quê? Não, não podia ser. Meu pai era Hermes e não um taxista de estado. Minha cabeça girou naquela hora. “Deuses podem assumir formas diferentes, de humanos ou animais...” veio a frase de Quíron, quando eu cheguei no acampamento pela primeira vez. Mas Hermes não viria me visitar, já que os deuses não podiam fazer contato de jeito nenhum. Zeus ia matá-lo. Não, aquilo podia ser um monstro querendo me enganar. Ou até mesmo um deus inimigo, não sei...

- Não sei do que você está falando. – falei por fim.

- Sabe sim. Sou Hermes, ou Mercúrio, como preferir – ele falou, e sua roupa e seu rosto começou a mudar. Em sua cabeça, cachos encaracolados apareceram, e depois desapareceram por causa do chapéu alado que apareceu logo em seguida. O cigarro desapareceu e um nariz pontudo foi se formando, a jaqueta de hóquei virou uma camisa de corrida com o número “XII” ou 12, em romano. A calça jeans virou um short também de corrida e meu pai estava ali, olhando para mim, com as mãos no volante de um táxi comum, a caminho do PP. – Taram! Satisfeito?

- Certo, então, o que você quer aqui? Quer nos ajudar a levarmos ao Peak Pikes, okay, me leve. Agora se é outra coisa, fale logo. – falei, ríspido.

Não é que eu o odiasse, é que ele apenas tirou a chance da minha mãe não ser mãe e viver radicalmente por ai. E daí, eu fiquei sem mãe.

- Hahaha, você é meu filho mesmo. Bem, tenho de ser rápido. Eu só tenho mais alguns minutos até que a engenhoca que meu chapa Hefesto me emprestou quebre e o jornal de Éolo volte a funcionar, e Zeus volte a ter pleno controle sobre os outros deuses. Filho, eu sinto muito por sua mãe ter te abandonado, eu tentei convencê-la que ela ia conseguir lhe criar, mas ela fugiu de mim. Aquela mulher era fogo puro, tomava suas própias decisões sem ninguém mandar nela. Foi difícil pra mim, tentei contornar as leis de Zeus de não poder falar com os filhos, afinal, sou o deus dos ladrões, mas sempre acontecia alguma coisa. Eu sempre estive do seu lado, Rafa, mas nunca podia conhecer melhor você. Vi você destruindo o Hipogrifo, e abençoei você quando correu da Fúria. Não sei como falar, ou o que falar, Rafa, mas sou o seu pai... Vou te levar até o Peak Pikes e te entregar um presente. Tenho vários deles, mas esse é especial... – ele falou, numa velocidade incrível. Então, ele pegou uma caixa, em baixo da cadeira do motorista e olhou dentro, provavelmente para conferir.

- Hermes, você disse que você só tinha alguns minutos até que a “engenhoca” – fiz o sinal com as mãos – de Hefesto quebre, como vamos chegar até o Peak Pikes? – perguntei com uma cara de decepção.

Hermes olhou feio pra mim.

- Rafael Jonhson, eu não sou o culpado de sua mãe ir embora. Você acha mesmo que se eu quiser não chegamos ao P.P.?

- P.P.? – perguntei já imaginando a resposta.

- Peak Pikes. – ele falou, olhando duro para mim, então depois soltou um sorriso – Você também chama assim, não? Bem, coloque o cinto dos seus amigos, vamos acelerar.

Depois de colocar o cinto de Tyson, consegui tentar ser legal com meu pai.

- Tá bom, você venceu. Mas quantos minutos ainda temos... pai? – perguntei, com uma grande hesitação para falar pai.

Ele pigarreou:

- 10 minutos – ele falou por fim.

- E como vamos chegar lá? – perguntei, meio bobo.

- Hahaha, voando! – ele falou.

Antes que eu pudesse dizer que ele estava louco, ele clicou num botão em cima do rádio do táxi. Os bancos começaram a tremer, ou melhor, o carro TODO começou a tremer. Hermes soltou uma gargalhada. Poucos segundos antes, eu estava sentado num banco cheio de durex’s que cobriam rasgões e apertado contra Tyson. Agora eu estava sentado num banco de couro, com espaço suficiente pra mais um Tyson, o rádio virou uma tela de TV, os tapetes foram contornados por algo parecido com ouro, na cabeça das poltronas da frente, mais telas de TV, o retrovisor recebeu uma asa de decoração e eu achei ter visto no reflexo de uma poça (sim, a poça refletia) que o carro havia ficado preto e com adesivos de fogo em formato de asas. Então meu pai pisou no acelerador. Minha cabeça voou para trás, e eu me segurei em tudo o que estava na minha frente. Ouvi um grito feminino, Wendi havia acordado. A lança ao meu lado quase caiu, Tyson também acordara e Tiago estava olhando para o carro, bem eu não preciso falar que ele acordou, preciso? Bem, o carro tremeu novamente. Agora, o banco de carona girou, o do motorista foi para a frente, e em poucos milésimos estávamos sentados em uma carruagem verde-claro-brilhante, se é que essa cor exista, e voamos em disparada. Não havia cinto de segurança na carruagem, por isso Wendi voou para cima de mim com um grito abafado por um abraço inesperado.

- Opa, desculpem-me, deixam eu ver se posso fazer alguma coisa

Ouvi um crec e de repente uma sala, pequena, mas super-legal nos envolveu dentro da carruagem, e eu não sentia mais a velocidade da mesma, provavelmente poderia andar normalmente ali.

- Argh! Eu estava dormindo quando me engasguei com minha própia saliva! – Tiago falou, meio emburrado.

Dica para minha vida: NUNCA, em hipóteses alguma, acorde Tiago do nada.

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