Opostos
Bendita idéia
Sábado pela manhã Murilo acorda com o celular tocando. Ele não está nem um pouco a fim de atender e cobre a cabeça com o travesseiro, porém quem ligava era muito insistente.
– Alô?! – diz Murilo sonolento. – Oi mãe, bom dia!
Murilo não tem tempo pra falar, apenas concorda com a mãe em tudo o que ela diz. Quando enfim ele desliga o celular, se joga novamente na cama. Olha para o relógio e vê que são 08hs da manhã.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Ser filho de enfermeira plantonista é um saco às vezes! – resmunga enquanto levanta e vai cuidar da sua higiene matinal.
Após fazer isso e tomar seu café, começa a fazer os deveres que sua mãe lhe pediu e foram muitos. Entre eles lavar e estender a roupa, fazer almoço e dar uma geral na casa.
Ele então joga as roupas na máquina de lavar e segue limpando a casa, porém depois que começou a faxina nota que algum dos produtos havia acabado o que o faz então sair para comprar mais.
Ele encontra Fabiana no mercado, ela estava fazendo compras com a mãe.
– Tão cedo fazendo compras? Que menino prendado! – brinca ela com Murilo.
– Fazer o que né? Minha mãe é enfermeira e está de plantão hoje, me ligou avisando que só volta amanhã no fim da tarde.
– Não sabia que sua mãe era enfermeira. Mas lembro que uma vez você comentou que os horários dela eram bem loucos.
– Exatamente. Tem vezes que ela trabalha dois dias seguidos.
– Uau! Corajosa ela.
– Muito. – diz Murilo sorrindo.
– Certo, mas mudando um pouco de assunto, e você e a Cissa? Acertaram-se?
– Não. De boa Fabiana, eu não me considero brigado com ela, é a Cissa que está agindo feito criança comigo.
– Ela disse que não vai te pedir desculpas de jeito nenhum.
– Eu já percebi isso. Ela é dura na queda.
– Vai desistir então?
– Do que, de provocar ela? Não mesmo! Nem comecei pra valer.
– Vocês dois são terríveis!
Murilo ri e a mãe de Fabiana a chama.
– Vou nessa Murilo, boa sorte com a cabeça dura, você vai precisar. – diz ao se despedir dele.
Murilo então compra o que é preciso e volta pra casa. Enquanto faz o que tem que fazer se lembra de Cecília nervosa no dia anterior e da bolada que deu na garota. Ri com a lembrança.
Enquanto lembra, o telefone toca. Era sua mãe novamente.
– Oi mãe. Já sim, estão na máquina já e estou quase terminando de limpar a casa, aí é só fazer o almoço e estender a roupa quando a máquina parar. Como assim, você não volta no fim da tarde amanhã? Ah é, só à noite então? Que merda hein! Ta mãe, fica de boa, sei me virar. Relaxa, não vou dar festa não. – diz rindo. – Tudo bem então mãe, até amanhã à noite, beijão, te amo.
– Que beleza, vou ter a casa só pra mim por 24 horas! – diz Murilo se jogando no sofá – Espera: a casa só pra mim por 24 horas? Interessante.
Murilo fez as suas tarefas o mais rápido que pode. Terminou com a faxina e o almoço e assim que a máquina parou estendeu as roupas.
Foi para o quarto, escolheu uma roupa e tomou um banho. Ao terminar volta para o quarto e sentado na cama volta a pensar em Cecília e na conversa que teve com Fabiana no mercado.
– Quer saber? Sei que ela não vai me pedir desculpas mesmo, melhor parar com esse joguinho de gato e rato logo. Afinal não é todo dia que tenho a casa por 24 horas só pra mim! E pra ela se ela quiser... – diz pra si mesmo.
Murilo então liga para Cecília, mas seu celular dá caixa postal. Resolve então ligar na casa dela. Chama, chama e ninguém atende.
Ele estranha afinal ela nunca desliga o celular. Dá um tempo e almoça. Ao terminar tenta mais uma vez, mas não obtém resultado, o que o deixa preocupado.
– Quer saber? Vou até lá. – diz trancando a casa e saindo.
Ao sair olha para o céu e se assusta com as nuvens negras. Ele tinha que correr, porque as roupas estavam no varal e sua mãe o mataria se ele as esquecesse de recolher.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Ao se aproximar da casa de Cecília, vê que a mesma parece estar falando sozinha com a porta. Ele então passa pelo portão sem que ela perceba e belisca sua cintura.
– Que susto Murilo! – diz com a mão no coração – de onde você saiu?
– Da minha casa, de onde? – responde mas já de uma maneira descontraída.
– Engraçadinho!
– Sério, eu vim falar com você.
– Ah é? Finalmente hein!
– Finalmente o que?
– Você veio pedir desculpas pelo jeito que está me tratando, acertei?
– Ta louca é? Não tenho que te pedir desculpas por nada não, você que tem.
– Eu pedir desculpas de que? De falar a verdade?
– Que verdade Cecília?
– De tudo oras. Eu falei verdades que você não gostou, mas não admite.
– Eu não admito? Você que não admite que errou e me deve desculpas!
– Não devo não!
Eles continuam discutindo de quem deve desculpas pra quem por mais algum tempo, até que um vento forte começa e vem seguido de fortes pingos de chuva.
– Será que ao menos podemos entrar? – pergunta Murilo.
– Eu bem que gostaria, mas não dá.
– Como não dá, por quê?
– Hoje cedo eu fui ao centro comprar umas coisas com a minha tia que mora no Sul e deixei meu celular em casa carregando, mas saí sem a minha chave. Toquei a campainha umas vinte vezes, mas ninguém atende. Acho que meus pais saíram e me deixaram trancada.
– Liga pra eles e pergunta se vão demorar.
– Acabei de falar que deixei meu celular em casa carregando, vou ligar como?
– Usa o meu burrinha! – diz entregando o celular pra ela que faz uma careta, afinal não gostou de como ele a chamou.
Ela liga para a mãe e Murilo fica atento a conversa e as expressões no rosto dela. Alias não são nada boas. Ela desliga resmungando algo e entrega o celular para ele.
– Pela sua cara vão demorar.
– Demorar? Eles foram ver o meu avô, só voltam amanhã depois do almoço!
– E você não pode ir pra casa do seu avô?
– Em Campinas? Eles foram depois que eu sai, deixaram um bilhete me avisando, mas porque pensaram que eu estava com a minha chave.
– E agora?
– Vou ligar pra Fabi e perguntar se eu posso dormir lá hoje.
Quando Cecília diz isso, Murilo teve uma idéia. Enfim ele havia descoberto uma maneira de fazer com que ela lhe pedisse desculpas.
– Não vai dar pra você ficar na casa da Fabiana não.
– Não? E como você sabe?
– Hoje eu encontrei com ela e a família no mercado, estava indo viajar.
– Viajar? E nem me falou nada?
– Ela precisa falar quando vai viajar? Pode ter sido de última hora.
– A Fabi não é disso. Mas que seja ela era a minha única esperança, agora to ferrada!
– Bom você pode ficar na minha casa se quiser.
– Na sua casa? Acho melhor não Murilo...
– Bom você que sabe, mas você não tem outra opção, ou é minha casa ou ficar aqui fora e na chuva!
Cecília não tem escapatória, dessa vez Murilo tinha razão e ela sequer podia questioná-lo.
Mesmo vendo que agora estava no controle, Murilo resolveu dar uma última cartada e ter certeza que poderia seguir em frente com o que havia acabado de propor.
– Se bem que você pode ficar com essa tia aí que você falou.
– Não posso, ela veio pra cá só pra fazer compras, de lá mesmo a deixei na rodoviária. Deve estar mais da metade do caminho já.
Murilo fica aliviado no seu interior e continua com a idéia maluca que teve.
– Bom, essa é sua única alternativa então. Passar a noite na minha casa.
Cecília fica sem saída. E agora, o que vai fazer?
– Sua mãe não vai achar ruim?
– Você dormir em casa? Claro que não. E eu explico a história pra ela. Duvido que ela fosse deixar você ficar na rua.
– Sei lá, é meio que uma invasão minha.
– Nada a ver Cecília!
– É sério Murilo, não é melhor avisar ela?
Murilo não sabe o que fazer. Sabia que a mãe não seria contra Cecília ficar lá, mas também sabia que ela estava de plantão e não queria ligar pra ela naquele momento, mas também não queria que Cecília soubesse que ficariam sozinhos a noite toda. Enquanto pensava no que fazer seu celular toca. Ele olha no identificador e vê que era Fabiana, o que na hora lhe dá uma nova idéia.
– Oi mãe! Ia ligar pra você agora.
– Mãe? Pirou Murilo, é a Fabiana que ta falando.
– Eu sei mãe. É que preciso te pedir uma coisa.
– Meu Deus Murilo, o que você está aprontando? Tem a ver com a Cissa não tem?
– Então mãe, queria perguntar se a Cecília pode dormir lá em casa hoje.
– Como? – diz Fabiana sem entender nada.
– Ela saiu cedo de casa e esqueceu a chave e o celular, mas os pais achavam que ela estava com a chave, então foram pra casa do avô dela em Campinas.
– Ah, entendi, ela ficou trancada do lado de fora?!
– Isso mesmo.
– Ué, ela pode vir dormir aqui em casa, sem problema.
– Ela ia dormir na casa de uma amiga nossa da escola, a Fabiana, mas ela foi viajar com os pais.
– Eu fui viajar é?
– Foi mãe e ela não tem onde ficar hoje. Tudo bem se ela ficar lá em casa né?
– Ah ta, agora eu entendi tudo! Essa é a ajuda que você disse que ia me pedir mas nem você sabia como certo?
– Isso mesmo mãe. Então tudo bem ela ficar em casa hoje né?
– Ah é, sua mãe não vai estar em casa, ou seja, vocês vão ficar sozinhos né?
– Isso.
– Seu danadinho! Você vai tentar o que estou pensando?
– Sim senhora. Tudo bem então né mãe?
– Claro! - diz com um tom de voz animado.
– Valeu mãe! Alias a senhora me ligou pra que?
– Ah é, queria saber se você tinha falado com a Cissa, porque tentei ligar várias vezes pra ela, mas não consegui falar. Agora entendi o porquê. Mas pelo o que vi você vai cuidar bem dela.
– Com certeza mãe, pode deixar. Beijo.
– Juízo crianças, beijo – diz Fabiana ao desligar.
Murilo sorri e guarda o celular no bolso.
– Pronto resolvido.
– Sua mãe deixou?
– Claro. Então vamos?
– É né, fazer o que?
Assim que vão até o portão, a chuva aumenta e Cecília volta para trás.
–Não tem como irmos nessa chuva Murilo, ta muito forte.
– Tá bom, podemos esperar um pouco. – diz encostando-se à porta.
Enquanto esperava ficou pensando no que estava prestes a fazer. Aquela noite seria perfeita. Sem pressa de levar Cissa embora logo pra casa, sem os pais, sem Fabiana pra interromper. Aquela noite tinha tudo pra ser a primeira noite dos dois. Murilo sorri.
– Ta rindo de que? – pergunta Cecília.
– Nada não. – diz ele ficando sério em seguida – Puta que pariu, esqueci! – diz levando uma das mãos a cabeça.
– Esqueceu o que? O que houve? – pergunta Cecília sem entender nada.
– A roupa! Deixei a roupa no varal! Corre que acho que dá tempo de salvar alguma coisa. – diz ele segurando a mão de Cecília e saindo correndo com ela em seguida.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Murilo, ta doido? Vou me molhar toda!
– Para de frescura Cecília,você é de açúcar por acaso? Fora que minha casa não é tão longe, ainda mais se a gente correr.
Dessa vez Murilo não foi grosso de propósito como das outras vezes, mas ele realmente estava desesperado por ter esquecido a roupa no varal.
Não demorou muito e finalmente chegaram a casa dele, que abriu a porta e correu para o quintal para ver o estado em que às roupas estavam. Cecília ficou parada na sala, em pé ao lado do sofá. Estava encharcada.
Murilo voltou mais calmo, porém parecia sem graça.
– Se eu te falar uma coisa você vai ficar brava comigo?
– Mais do que estou? Acho difícil!
– As roupas estavam na área de serviço que é coberta... – diz coçando a cabeça.
– Deixa ver se entendi. Você me fez correr na chuva, ficar toda molhada quando na verdade as roupas estavam em um lugar coberto?
– Isso... – responde sem jeito.
– Eu vou te matar Murilo! – diz correndo atrás dele.
Eles saem correndo pela casa, até que Cecília consegue segurar Murilo pela camiseta e o puxa até ela.
– Ta vendo o meu estado? A culpa é sua!
– A culpa é minha coisa nenhuma, culpa seu pai e sua mãe.
– Eles não tem culpa de eu ter me molhado na chuva!
– Não to falando disso. Você disse pra olhar seu estado.
– Exatamente! O que meus pais têm a ver com isso?
– Tudo! Você está linda como sempre princesa e eles que te fizeram linda assim.
Cecília fica sem jeito e sem resistência ao ouvir aquilo. Murilo por sua vez se aproxima e a beija. Porém pela primeira vez desde que começaram a namorar Cecília o afasta.
– O que foi? – pergunta Murilo sem entender.
– Eh... Nada... É que estou um pouco desconfortável toda molhada.
– Quer tomar um banho?
– Eu até quero, mas não tenho roupa.
– Fica com uma camisa minha até suas roupas secarem. Ela vai ficar parecendo um vestido em você mesmo. – diz rindo.
– É, pode ser. – diz Cissa com um sorriso sem graça, o que deixa Murilo intrigado.
– Tudo bem princesa?
– Tudo sim. Você pode me dar uma toalha e uma camisa pra eu tomar um banho então?
– Claro, vou buscar.
Murilo vai até o quarto pegar o que Cecília pediu e ela fica pensativa ao lado do móvel onde havia algumas fotos. Olha para o sofá e lembra da primeira vez que foi estudar com ele. Sorri e se olha em um espelho que havia no corredor.
Murilo volta e lhe entrega a toalha e a camisa. Consegue chegar a tempo de vê-la sorrindo, mas acha melhor não perguntar o motivo. Mostra o caminho do banheiro para ela que se dirige até lá. Ele por sua vez senta no sofá e fica pensativo.
– No que ela estaria pensando pra sorrir daquele jeito?
Fale com o autor