Opostos

A proposta


Mais uma vez o despertador toca. Cecília faz seu ritual de todas as manhãs. Dentro de algumas horas está na escola. Observa Mateus e Patrícia juntos. Sente o sangue ferver de raiva.

- Cissa, de boa, quer dar mais bandeira ainda pra esse mané? – diz Fabiana.

- Claro que não, mas parece que ele faz de propósito, pra me atingir.

- Não parece, ele está fazendo pra te atingir. Ele se diverte sabendo que você gosta dele.

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- Não sou obrigada a ficar aqui vendo isso, vou pra sala.

- Mas o sinal nem bateu.

- Não me importa, ao menos lá não tenho que ver o casalzinho. Pode ficar aí, to de boa.

Cecília então vai para a sala e fica lá lendo uma das apostilas até dar a hora da aula.

- Isso sim é uma aluna exemplar. O sinal nem tocou e já está na sala estudando.

- Ah, oi Murilo. – diz Cecília fechando a apostila. – Tudo bem?

- De boa e com você? Está melhor da sua cólica? – pergunta com um ar de desconfiança.

- Um pouco, obrigada.

- Que bom, fico feliz.

- Ah Murilo, aproveitando que estamos aqui, qual era a proposta que queria me fazer?

- Era não, é. Não mudei de idéia.

- Enfim, qual é afinal?

- Ficou curiosa é? – pergunta com um sorriso convencido.

- Um pouco. Não sou acostumada a receber propostas de ninguém, só isso.

- Sei... Bem, notei que você é ótima aluna e não têm dificuldade em matéria nenhuma especialmente as que têm números, fórmulas e tal.

- não é bem assim. Tenho minhas dificuldades também.

- Pode até ter, mas aprende rapidinho. Mas então, como eu dizia você tem notas boas e aprende tudo muito rápido, além de ensinar bem também.

- Ensinar bem? Eu?

- É, você. Não entendi nada do que a professora falou, mas quando você explicou consegui entender. Você é boa.

- Caraca, obrigada por achar isso. Mas onde entra a proposta?

- Você não é obrigada a aceitar, mas queria pedir se tinha como você me dar uma força nos estudos. Daqui a pouco vão começar as provas e eu não quero começar o ano mal sabe? Quero me garantir logo no começo do ano.

- Ah ta, quer que te ajude a estudar então. Tudo bem, sem problemas.

- Mas ia ter que ser à noite.

- À noite?

- É o único horário que posso. Quando saio daqui vou direto pro serviço, saio só no fim da tarde.

- A noite é complicado pra mim. Ter que voltar sozinha pra casa.

- Isso não é problema, eu levo você pra casa sem problemas.

Cecília fica pensativa.

- Você não é obrigada a aceitar, se não quiser tudo bem, vou entender.

- Não, tudo bem. Eu te ajudo sim, mas com uma condição.

- Eu te levar pra casa? Já disse que faço isso.

- Não, outra coisa.

- O que?

- Eu te ajudo com as matérias em que tiver dificuldade, mas você vai me ensinar a jogar xadrez.

- Só isso? Tranqüilo.

- Então tudo bem. Quando quer começar? – pergunta Cecília.

- Pode ser amanhã?

- Tudo bem, até melhor, assim já aviso a minha mãe.

- Combinado então.

Ao terminarem de falar o sinal bate.

- Vou pro meu lugar agora, bancar o bom aluno – diz Murilo sorrindo e fazendo Cecília sorrir também.

Em poucos minutos a sala de aula é tomada por diferentes vozes, a turma já estava completa. Porém Cecília dá falta de Fabiana e Luis, que chegam depois de um bom tempo. Luis parece sério, mas Fabiana tem um sorriso tímido no rosto.

- Meu Deus, é o que estou pensando? – pergunta Cecília a amiga.

- É sim, pediu pra ficar comigo. Nem acredito Cissa! – dizia Fabiana baixo, mas eufórica.

- Que legal, fico feliz por você, de verdade.

- Obrigada amiga! Mas não se preocupe, logo será você e o Mateus.

Cecília olha para Fabiana com um semblante não muito feliz, mas logo desvia o olhar com a chegada do professor.

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Aula após aula e enfim hora de ir embora.

- Boa sorte com o Luis, depois me conta tudo hein!

- Pode deixar, contarei todos os detalhes! Tchau amiga.- diz Fabiana saindo as pressas da sala de aula. Luis a esperava na porta.

Cecília sorri vendo a empolgação da amiga enquanto arruma o material para ir embora. Bem ao seu lado passam Mateus e Patrícia abraçados e trocando carinhos.

Cecília fecha os olhos e respira fundo. Não sabia por quanto tempo agüentaria aquilo.

- Tudo bem Cecília?

- Ah, tudo bem sim. – diz para Murilo, que agora estava ao seu lado.

- Sua “cólica” costuma atacar sempre na escola não é?

- Podemos dizer que sim, mas deixa isso pra lá. – diz desviando do assunto.

- Ok.Tudo certo para amanhã então né?

- Por mim tudo, mas não sei onde você mora, como vou à sua casa?

- Não é muito longe do meu serviço, mas se quiser, passa lá na papelaria perto das 18hs, que é o horário que saio. De lá vamos pra minha casa.

- Certo. Até amanhã então.

- Até amanhã. – sorri Murilo saindo da sala de aula.

Cecília sorri em resposta e também vai embora. Ao passar pela porta da sala, alguém se esbarra nela.

- Desculpa flor.

- Tudo bem, relaxa. – diz em tom seco.

Era Patrícia. Parece ter esquecido algo na classe e voltou para buscar.

Cecília sai sem acreditar.

“Incrível, quanto mais rezo, mais assombração aparece!” – pensava nervosa enquanto andava.

Fez o caminho de costume até sua casa e acabou vendo de relance Fabiana e Luis aos beijos na praça. Ficou feliz pela amiga.

Ao chegar em casa almoça com a mãe e aproveita para falar sobre Murilo.

- Ah mãe, a partir de amanhã vou ajudar um colega de classe a estudar ta.

- Tudo bem. Ele vira aqui depois da escola com você?

- Não, ele trabalha depois da aula. Eu que vou a casa dele, mas fica tranqüila, já falei com ele e quando terminarmos ele me traz em casa, pra eu não voltar sozinha a noite. Ta tudo bem né?

- Filha, sei que você é ajuizada, confio em você. Mas procura não demorar muito, porque seu pai pode encrencar.

- Já tinha pensado nisso mãe, está tudo sob controle. – diz sorrindo – Agora vou dormir um pouco, to com muito sono.

Cecília escova os dentes e vai para o quarto. Liga o rádio e deita na cama, fechando os olhos. O sono não demoraria a chegar.

Pensa na alegria da amiga por estar ficando com o cara que estava afim, mas ao mesmo tempo lembra de Mateus e Patrícia. Como ela odiava aquela garota! Porque tinha que aparecer logo agora?

O problema maior era que não conseguia esquecer Mateus, pelo contrário, agora parecia ainda mais difícil tendo que ver ele todos os dias com Patrícia.

Ajudar Murilo a estudar iria a ajudar também, ficaria com a mente ocupada. Aquela proposta veio no momento certo. Quem diria que o cara que enfrenta um dos professores mais assustadores da escola e deixa os demais alunos pé atrás com sua aparência poderia estar ajudando tanto a ela, mesmo que sem saber?

Cecília sorri com a lembrança de Murilo e enfim pega no sono.