Depois de nove horas de voo com ponte aérea em Johto, Alex sentiu-se aliviada em poder esticar as pernas novamente. O sol já havia se posto, e o horinzonte ganhava um tom laranja misturado com roxo deveras melancólico, ou talvez fosse apenas sua própria leitura da situação.

—Vem, Achilles!—Descendo do avião, pode ver a cidade de Vermilion em seus detalhes, como o porto, os prédios com iluminação antiga de neon e o cheiro da maresia misturado com o de eletrodos queimados. Ao seu lado, Umbreon erguia o focinho para o alto, farejando.

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—Então isto aqui é Kanto? Bem provinciana...

Era ali que seu pai havia pisado em Kanto pela primeira vez, descendo do mesmo voo, seis dias atrás. Dali encontrou com a família do menino, o tal do Billy White, e depois seguiu os passos até o cânion, onde o garoto desaparecera, e de onde havia feito seu último contato, à dois dias. O lugar ficava dentro do Rock Tunnel, que ia de Vermilion á Lavander Town, uma das maiores cavernas de Kanto. Precisaria comprar repelentes e talvez capturar um ou mais pokémons para entrar.

Olhou o relógio: eram quase sete horas. Queria começar a reconstruir os passos que seu pai dera, mas estava cansada e exaurida pelo efeito do jet-lag, não seria bom tentar investigar nada desse jeito... Odiava pensar nisto, mas não havia outra solução se não adiar para o dia seguinte.

—Vamos, Achilles, vamos ver se achamos um lugar barato pra ficar.

Após circular pelas avenidas principais da cidade, encontrou o hotel Magnemite, com sua fachada um tanto desgastada pela maresia. Apesar da aparência, a vaga era um pouco mais cara do que imaginava, mas do modo como precisava dormir, desembolsou o dinheiro. A atendente fez uma careta: —Ah, não trabalhamos com esse dinheiro...

Alex pôs as notas de volta no bolso. A mulher tinha um penteado e uma maquiagem que a fazia parecer um Mr.Mime que vira em uma festa infantil. Permaneceu séria, no entanto: —Acho que a senhora não entendeu a situação. — E tirando a mão do bolso, mostrou o distintivo policial a ela. — Eu estou averiguando um caso muito sério por aqui, e se a senhora não me deixar ficar, estará obstruindo um processo policial. Não vai querer problemas com a lei, não é?

A mulher arregalou os olhos esbugalhados, tremendo, e entregou a chave, aceitando o dinheiro. —Q-quarto 420...—Disse, entregando a chave como se tivesse visto um fantasma.

Alex sorriu ao passar pelo balcão, divertindo-se, quando lembrou: —Ah, e mais uma coisa, seria bom que ninguém soubesse da minha presença aqui, ok?

—Claro— a atendente respondeu com um fiozinho de voz, e Alex não teve dúvidas de que ela devia ser uma ex-integrante da antiga Equipe Rocket, aflita para se manter anônima e fora das grades da prisão. Alex sorriu, segurando o corrimão. Sorte a dela ter trazido aquele distintivo policial de brinquedo que seu pai lhe dera aos dez anos. Subiu as escadas, Achilles seguindo-a como uma sombra.

O quarto era como a própria cara da atendente: bagunçado e fora de moda, as paredes cheirando a mofo. Desfez a mochila, retirando o saco de dormir, quando algo rolou pra fora dela; Uma pokébola. Colado com fita adesiva no dispositivo, havia uma folha de caderno dobrada. Era a letra de sua mãe! Leu:

“Sabia que você não ia passar a noite na casa da tia Cassandra coisa nenhuma, você odeia ela. Então eu entendi o que você faria, e apesar de não concordar, sabia que não conseguiria te impedir, então pus o Aiden na sua mochila.”

Alex não conseguiu conter os olhos de lacrimejarem um pouco. Aiden era o Charmeleon de sua mãe e ela o tinha desde pequena. Continuou a ler: “Ele precisa de treino, mas quem sabe você o põe nos eixos. Pelo menos assim eu sinto que uma parte de mim estará com você.” Engoliu em seco, limpando os olhos. Depois, segurou a pokébola, chamando: —Vem Aiden!

O Charmeleon surgiu, bocejando, os olhos vívidos olhando pra ela e Achilles. Depois, começou a morder sua mochila, procurando comida. Alex o afastou, examinando a mochila:— Sinto muito, Aiden, só tenho os amendoins da viagem.—Abriu o saquinho, dividindo entre os dois pokémons. Ficou sentada na cama observando Aiden comer os amendoins, tostando-os com a própria cauda. Tinha jantado no avião e não estava com fome, mas sim com sono. Esperou eles terminarem e apagou a luz, deslizando o anel de prata pra fora do dedo e entrando no saco de dormir. Antes de pegar no sono, ficou um tempo olhando o anel, que continha uma pequena pedra brilhante de uma cor estranha. Fechou os olhos. Amanhã começaria sua missão.

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Entediado era a palavra que definia Peter Dheimos, sentado em seu terno de grife o obrigara a usar para ir à mansão dos Steel, onde Marty dava uma festa. Marty mesmo porque os seus pais faziam exatamente o que ele queria, então não havia por que fazer tal separação de propriedades. Podia ouvi-lo de longe contando sobre como esteve à beira da morte por culpa do ataque do Venusaur, e que suas cirurgias custaram mais que a soma dos salários de todo o parlamento. Mas o pior foi ouvir a resposta dele à pergunta de um dos amigos:

—Onde está seu Charmander?

—Me livrei dele. O imbecil nem me defendeu do ataque daquele monstro. Não tinha por que continuar com ele... Agora meus pais me deram um Rhyhorn pra eu me defender!—dizia, chamando o monstro da pokébola em pleno salão, o que provocou apenas algumas risadas da senhora Steel: —Ah, como meu filhinho é espirituoso!

Mas Peter não ouviu os risinhos fingidos, ou as declarações convencidas do garoto. Apenas a parte sobre ter se livrado do Charmander, seu Pokémon inicial. Como sentia vontade de socá-lo na cara até que seus pontos internos arrebentassem todos. Ao invés disso, teve de se conter, fechando os punhos por baixo da mesa.

Rolou os olhos ao vê-lo passar por ele novamente, acompanhado de seus amigos bajuladores, o rosto ainda coberto com alguns esparadrapos. Se pudesse, sairia dali correndo, mas sua mãe e principalmente seu pai o obrigavam a ficar, de modo que pouco podia fazer a não ser sentar e tomar ponche. Marty o cumprimentou com uma intimidade que não existia entre eles:

— Hey Pete! Tá gostando da minha festa?

Demorou um minuto pra deixar a raiva esfriar, quando lançou essa resposta:—Pra quem gosta de chá de bonecas, deve estar excelente...—Tinha que reconhecer, era o melhor pra pensar no que dizer no momento exato que precisava. Marty franziu o lábio recoberto por um band-aid, cruzando os braços em repreensão:

—Hum, Pete, lembre-se que você tá falando com um sobrevivente!— Marty mirou o horizonte do salão. Por um longo tempo, duvidara que Marty sofrera tal acidente. Quem o visse diria que foi apenas um tombo de bicicleta, mas fazer isso deixava o mini milionário extremamente irritado. —Não é legal me ofender agora, sabia que eu podia ter morrido?

—É, pena que não temos tanta sorte...—Falou em tom zombeteiro, os colegas de Marty se entreolhando, quando o garoto estreitou os olhos pra ele: —Gosta de zombar dos outros, não é, Pete? E que tal se eu disser que todos os colegas do meu pai sabem do segredinho sujo da sua família... Na Silph Scope...

Peter não desviou o olhar, mas sim continuou encarando-o, quando Marty disfarçou seu gesto, indo abraçar um convidado que lhe trazia mais um presente. Se levantou da cadeira, indo até a varanda. Olhou o céu do entardecer. Como desejava pegar o Flygon e sair voando, pra bem longe, longe de tudo aquilo, daquela vida que insistiam em lhe enfiar goela abaixo.

Procurou sua mãe, pedindo que voltassem pra casa, mas ela mandou que procurasse seu pai. Ele procurou sem encontra-lo em nenhum lugar, até que um garçom no outro lado do salão lhe indicou um corredor. Seguiu, até o escritório particular do senhor Steel. A porta estava fechada, mas ele espiou pelo buraco da maçaneta: viu as silhuetas de seu pai e do senhor Steel, além de outro homem desconhecido, de terno laranja. Falavam descontraídos e Peter encostou o ouvido perto, tentando pescar algum detalhe da conversa.

“Aquele moleque, o tal de Blue, ele também era genial, mas assim que lhe dei um pouco de poder, se mostrou um inútil. Ele queria vencer o Red, e fez tudo, tudo pra conseguir, mas no fim das contas quase levou os negócios à ruína quando lhe dei um cargo em Johto enquanto ele era líder do meu antigo ginásio. E agora vocês sabem porque o ginásio de Viridian mudou de gerência...”

“Sim, disso tudo nós sabemos, mas diga, o que foi feito do garoto?” O senhor Steel perguntou, num misto de curiosidade e sadismo.

“Digamos que ele agora está coordenando negócios com Magikarps no lago da Fúria.”

“Você é mesmo cruel Giovanni...” Teve de se conter pra não exclamar; Era a voz de seu pai, que ria. Peter sentiu um impulso de se lançar porta adentro, mas ao invés disso, correu até o salão, procurando por sua mãe. A encontrou conversando com a mãe de Marty.

—Mãe, preciso ir embora, agora!

—Que foi querido? Está com dor de barriga?

—Não mãe, é só o meu pai que está fazendo merda de novo!— Gritou, deixando a mulher chocada perante a anfitriã e as outras convidadas. Correu antes que pudessem pegá-lo.

Parou em frente a varanda, subindo no apoio, ouvindo a mãe gritar:

—Nem mais um passo!

Lançou a pokébola que tinha guardada no bolso, antes de sair de casa, sem ninguém ver: — Vamos, Flygon!

O dragão verde surgiu, deslizando sobre o piso escorregadio do salão, quando o menino ordenou, montando nele: — Voe Flygon, voe!

E o Pokémon obedeceu, levando seu dono para longe da mansão Steel, deixando todos os convidados com algo mais interessante para conversar do que as mínimas cicatrizes do acidente de Marty.

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Edu olhou impaciente para seu relógio de pulso: Já andavam à quase meia hora naquele maldito Rock Tunnel sem encontrar a saída. Se queixou, apontando o relógio pra namorada, que seguia à frente:

—O seu problema é não ter paciência.—Julia disse, carregando Litwick, o Pokémon vela fantasma, à sua frente, sua luz arroxeada iluminando a caverna.—Acho que foi por aqui que passamos...

—Pois eu acho que estamos perdidos! Droga! Já passamos por aqui um zilhão de vezes!—Edu chutou uma pedra próxima, mas calculou errado o chute, machucando o pé. Sentou, choramingando. —Eu odeio cavernas, e odeio essa vela metida a pokémon! Aposto que ele tá sugando toda a nossa energia enquanto andamos feito Pidoves tontos! Porque tínhamos que entrar aqui? Nunca mais vamos sair!

—Para com isso, Edu! Tudo bem... Em primeiro lugar, o Litwick não suga energia se estiver satisfeito, e isso ele está. Em segundo lugar, vamos sair sim! Então para de dar chilique, Tá bom!

—Tá. — respondeu Edu, solenemente. Caminharam mais um pouco, procurando detalhes que pudessem fazê-los encontrar a saída, quando Edu apontou para o chão:

—Olhe, pegadas! E são bem recentes!

—São grandes, mas tem pequenas também...—Julia abaixou Litwick um pouco, levando claridade até elas. —Podem ser de outros treinadores...

—Vamos segui-las! Pode ser que nos levem à saída!— Começaram a fazer isso, e perceberam que elas circulavam a pedra onde tinham passado antes, voltando para o mesmo ponto de onde tinham acabado de vir, no entanto. —Esses caras estão tão perdidos quanto nós...— Edu sentou na pedra, os ombros caídos e a cabeça baixa. Julia sentou ao seu lado, suspirando. O garoto a encarou, curioso: —Tá pensando em que agora?

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—Tô pensando naquela menininha cega. Se nós estamos confusos, imagina ela... Espero que esteja bem. Acho que devíamos ter ajudado ela.

—Pffft. Ajudar... Nós é que precisamos de ajuda, Julia. Esses Zubats do inferno! Me dá um pouco mais desse repelente?— Julia lhe entregou o frasco quando ouviram:—Tem alguém por aqui! Ouça!—Se levantaram tentando precisar a direção, quando sentiram um esbarrão no escuro que não era iluminado por Litwick. Uma voz masculina exclamou:

—Olhem por onde andam, moleques!— Julia apontou Litwick e os dois viram o rosto de Pablo emergir da escuridão, e Lucy acompanhada de seu Yvisaur, ambos saídos de trás de uma enorme rocha, o pokémon inicial emitindo um brilho fluorescente. A garota parecia aliviada em vê-los:

—Julia! Edu! Por Arceus, estamos perdidos aqui! Sabem onde é a saída?

—Ai, Lucy! Pensei que pudesse nos dizer! Também estamos perdidos.

—Esse é Pablo. Ele também tá competindo na jornada.

—Ei, esse não era o cara que tava de joelhos choramingando pro Brock?

—Eu não choraminguei... Aquilo foi o ensaio de uma peça chamada “Não se meta no que não é da sua conta!”

—Gente, vamos nos concentrar em achar a saída?—Julia dizia, até ser interrompida por um grito agudo ao longe.

—O que foi isso? — Murmurou Lucy devagar como se ainda duvidasse se o som ouvido era real ou não. Todos se calaram por um momento esperando quando outro grito irrompeu da escuridão, fraco e agudo. Um grito de criança. “Socorro” era o que ouviram. Pablo ficou branco e Edu parecia congelado no chão, quando Julia se manifestou: —A menina! Ela deve estar em perigo!

O grupo se encarou, e Lucy ordenou: —Yujin, use flash!— Assim que o Pokémon se iluminou mais uma vez, correram na direção dos gritos, os corações batendo no mesmo impulso das pisadas no chão da caverna, o medo remanescente se transformando em urgência. Correram pelo caminho principal por uma longa linha reta, até que Edu atentou para algo: —Hey, vejam! Uma passagem! Tem um buraco aqui, grande o bastante pra uma criança ou um adulto abaixado passar!— Havia uma pedra ao lado do buraco que parecia ter sido removida recentemente. Mas não tinham tempo para especular. —Vamos!—Disse Pablo se abaixando e convocando Monferno. Julia e Edu fizeram o mesmo com seus iniciais e os quatro cruzaram a passagem.

Já era noite. O vento quente do cânion soprava através de seus rostos e a lua brilhava bem acima deles, quando Julia apontou: —Olhem!— E eles viram, claro como o luar; a cobra de pedra, a cabeça pairando a metros do chão, investindo incessante contra um rochedo. Precisaram estreitar os olhos, mas Lucy viu: —Ali!—Uma menina se encolhia sob as rochas revolvidas, e quase não se podia ver sua face, mas eles a ouviram gritar novamente e não tiveram dúvidas.

Rapidamente, Julia se voltou para seu Pokémon: —Bayleef! Folhas navalha!— o Pokémon de planta correu até seu alvo, saltando sobre ele e lançando um vendaval de folhas cortantes, que cravaram-se no corpo rochoso do Onix como shurikens. A criatura se debateu um pouco, esquecendo seu intento original, e Julia gritou: —Fique aí, nós vamos te salvar!— Enquanto falava, o Onix se voltou para ela, e foi a vez de Edu chamar seu Pokémon: —Vai, Croconaw! Use Jato d’água nele!— O Pokémon crocodilo lançou seu ataque na base do Pokémon rochoso, criando lama e diluindo um pouco a camada de rochas que formavam seu corpo. O Onix se enroscou, encolhendo-se, quando sem aviso, levou sua cauda a bater contra o rochedo atrás deles, fazendo-o desmoronar.

—Cuidado!— Pablo gritou, puxando Lucy e Julia pro lado quando uma pedra se desprendeu do alto. A rocha não os acertou, mas os imprensou contra a parede do Rock Tunnel. De onde estavam, só podiam ver Edu e Croconaw lutando para manter o Onix afastado.

—Argh! Já tô cheio desse cabeça de pedra! Monferno, tira a gente daqui!— Pablo gritou espremido entre as rochas quando seu Pokémon desfez a pedra em um soco. Julia correu em meio à poeira: —Edu! Bayleef!

Pablo e Lucy saíam, pisando sobre os destroços, quando Monferno foi apanhado num golpe, a crista do Onix comprimindo seu tórax contra uma das paredes do cânion. O Pokémon expelia chamas e sangue pela boca.

—Monferno! —Pablo gritou, e parecia querer socar o Pokémon ele mesmo quando Lucy ordenou: — Folhas navalha Yujin!

O Pokémon de rocha recuou em meio ao turbilhão de folhas, e Pablo recolheu seu Pokémon, apoiando-o no ombro e chamando-o para a pokébola. O Pokémon não respondeu no entanto. Pablo gritou: —Monferno! Monferno, acorda!

Lucy olhou para trás. Pablo tentava desesperadamente reanimar seu Pokémon, mas nada ocorria. Ele permaneceu ali, inerte e sangrando. Ele gritou mais uma vez:

—Seu desgraçado!

Bayleff e Croconaw se juntaram a Yvisaur num esforço para levar o Onix à exaustão ou à derrota, mas o Pokémon rochoso parecia se esquivar de seus golpes com facilidade. Onix soltou um urro, tentando acertar Yvisaur com a cauda, mas o Pokémon se desviou a tempo. Lucy arfou, exausta:

—Ele é muito forte! Não pode ser um Onix comum!

—Ela ainda está lá em cima! Como será que ela foi parar lá?— Edu se perguntava, quando Julia o interrompeu:

—Não importa, temos que salvá-la! Distraiam ele, eu pego a Hikari!

Edu a parou, puxando-a pelo ombro: —Não, Julia, é perigoso demais!

—E vai fazer isso como? Usando o ataque de bolhas ou o jato d’água?

Ele se calou. Julia correu: —Vem Bayleef!

O Onix se voltara para onde Hikari estava, e começaria uma nova investida com o focinho entre as pedras, se Croconaw e Yvisaur não o impedissem:

—Yujin, use o chicote de vinha pra segurar ele!—O Pokémon de planta lançou suas vinhas como cordas sobre a crista do Onix e seu dorso, prendendo-o e puxando pra baixo enquanto Edu gritou: —Agora, Lucy, tira ele de perto delas que eu vou mostrar o poder dos pokémons de água! Vai Croconaw, usa o Jato d’água!

Julia e Bayleef passaram ao lado deles, chegando ao rochedo destruído. Gritou, chamando a menina: — Hikari! Pode sair, viemos te salvar! Bayleef use chicote de vinha pra trazê-la pra baixo!— A menina guiou os cipós do Pokémon planta ao redor da sua cintura e desceu, segura até ela.

Edu e Lucy viam seus Pokémons cansando-se, Croconaw atacando sem cessar, Yvisaur já fraquejando em segurar o Onix, quando Pablo veio até eles, a pokébola inerte de Monferno numa das mãos e a de Riolu na outra. —Esse bastardo não pode ficar impune! Riolu use seu Mega-soco nesse filho-da-mãe!

O Pokémon lutador passou por eles, pulando sobre a rocha que formava a cabeça do Pokémon gigantesco e desferindo uma série de socos. O Onix sacudiu-o de cima, atordoado, mas logo fez um movimento erguendo o corpo e se lançou contra o solo à frente deles, fazendo Edu, Lucy e Pablo caírem de costas. Lucy permaneceu no chão por um instante quando entendeu o que ocorria e gritou: —Solte-o, Yujin!— O Pokémon de planta obedeceu, faltando pouco para ser tragado com o adversário. Quando se ergueram, o Onix sumira subsolo adentro, deixando um túnel enorme aos seus pés.

Lucy olhou ao redor: Julia apareceu com Hikari nos braços. A menina tremia chorando. —Quill...

O Riolu de Pablo assumia um brilho claro como cristal, evoluindo para Lucario, mas Pablo mal viu tal acontecimento. Estava de costas, sentado numa pedra, olhando o local onde Monferno ainda jazia, sem poder ser levado de volta pra sua pokébola. Edu abraçou Julia, ambos recolhendo seus pokémons. Lucy fez o mesmo, e os quatro foram até Pablo. Ninguém sabia ao certo o que dizer numa situação como aquela, então Julia tomou a palavra: —Talvez eles possam fazer algo por ele em Vermilion...

—Não, não podem. Já era. Vão, eu alcanço vocês...—Ele dizia. Lucy sentiu o ímpeto de sentar ao lado dele e chorar também, quando o grito de Edu os alertou:

—Espera! A saída! Ficava bem aqui!— Ele apontava para o que agora era um paredão de rochas.

—O Onix deve ter fechado ela quando atacou a gente... Pablo, precisamos do Lucario aqui!

O treinador se levantou enxugando as lágrimas e se deslocou com o Pokémon até o local, ordenando:

—Lucario, use o mega-soco!—Um, dois, três golpes, sem resultado aparente. Edu comandou Croconaw por sua vez: —Jato d’água!— O jato do Pokémon era quase tão forte quanto os de um Blastoise, mas as rochas não pareciam ceder um centímetro. Julia e Lucy tentaram também com seus pokémons, mas a coluna rochosa permanecia no mesmo lugar.

—Eles estão cansados! Se não fosse aquele maldito Onix!— Edu exclamou.

Pablo se virou até ele então, empurrando-o: —Nada disso teria acontecido se você tivesse mantido ele ocupado!

Eduardo franziu as sobrancelhas: —Ora essa, eu fiz isso! Fiz o que eu pude, o que mais eu deveria ter feito?

Lucy interrompeu, puxando a jaqueta do rapaz: —Pablo, para com isso! Não é culpa de ninguém!

—Isso eu não sei, só sei que o Pokémon dele era um dos que tinha mais vantagem contra o Onix! Ele poderia ter nos ajudado quando ficamos presos entre as rochas!

—Sim, eu ia ajudar, se aquele monstro não estivesse querendo matar eu e o meu Pokémon! Ele estava de costas pra vocês, eu não achei que ele fosse se virar e atacar! E eu fiquei sozinho daquele lado!

Julia se interpôs entre eles, gritando: —Chega! Essa discussão não vai levar a lugar nenhum!— Os dois se aquietaram, Pablo indo para o lado oposto a eles e Edu cruzando os braços. Então, ela disse: —Vamos ligar pedindo ajuda. O socorro não deve demorar.— Edu e ela buscaram o celulares, mas imediatamente se espantaram.

—Ué, não tem sinal! E o seu Julia?

—Também não! Mas tinha dentro da caverna!

Lucy cutucou Pablo, mostrando seu celular a ele e aos outros dois: —Isso é muito estranho... O seu também, Hikari?

Hikari chorava abaixada. Lucy parou ao seu lado confortando-a um pouco. A menina falou baixinho, entre soluços: —Eu não sei...Perdi a minha mochila, o Quil...

—Quem é Quil?— perguntou Lucy.

—Meu Cyndaquil... Perdi ele, perdi todos...

—Calma, eles podem estar por aí... Podem ter se escondido durante o tumulto.— respondeu, olhando em volta: a paisagem rochosa do interior do cânion era cheia de fendas e cantos onde pokémons pequenos podiam se esconder. Em sua cabeça, as estórias horrendas sobre o desaparecimento do menino e do detetive começavam a tomar a forma do monstro de quase 100 metros de comprimento.

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Julia retomou a palavra: —Precisamos achar um lugar seguro pra passar a noite. Seria bom se tivéssemos uma lanterna...

Lucy pensou em pedir a Pablo, mas ele se adiantou, lançando uma na direção de Julia. —Temos que ficar juntos agora.

Pablo se virou, de costas para eles. —Podem ir, eu vou ficar aqui.

O grupo estarreceu-se; Edu gritou: —Tá maluco?! Se aquele Onix aparecer, vai te matar!— Julia reforçou o argumento dele, tentando convencê-lo:— Pablo, seus Pokémons estão muito fracos pra lutarem por você sozinhos...

Pablo deu de ombros, então Lucy marchou até ele, puxando-lhe pelo braço:

—Você não vai ficar aqui, você vem com a gente!— Chorava, puxando-o, e por mais que tentasse, Pablo não teve escolha a não ser encarar seus olhos lacrimosos, enquanto ela pedia em súplica: — Por favor...

—Não posso, não vou deixar o Monferno aqui, pra aquele desgraçado... Ele merecia descansar em paz, não ficar dessa maneira... Eu não vou abandonar ele!—Gritou, e nenhum deles teve coragem de contrariá-lo. —Vão vocês, eu fico pra vigiar.

Foi quando sem aviso, Edu deu um passo à frente, tirando uma pokebola da mochila: — Vulpix!— Então encarou Pablo, mas nada precisou perguntar, pois ele logo entendera, e com um aceno da cabeça, permitiu que Edu usasse o lança-chamas de Vulpix no corpo sem vida de seu caro amigo.

O grupo começou então a caminhar vale adentro, as cinzas de Monferno ardendo sobre o solo ao luar daquela noite.