Once In a Lifetime

The right moment.


Eis que a ferida se cura quando é deixada para trás, eis que o ferimento se fecha assim que o ferido deixa de tocá-lo.

Eis que é curado, o enfermo que se permite curar.

O passado machuca, e todas as suas feridas continuam abertas até que decidamos deixa-las para trás.

Ferida interna se cura com perdão, esquecimento, amor e caridade.

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(Eu sou, eu lírico por Gustavo Pozzatti)

Chapter twenty six –

As batidas de meu coração estavam frenéticas, ensurdecedoras em meio aquele silêncio que havia tomado conta de toda minha mente. Era como se aquela melodia estivesse presa em minha audição como um disco arranhado, fazendo com que eu levasse uma de minhas mãos ao meu ouvido na tentativa frustrada de abafá-las, enquanto a outra se apoiava em minha barriga. A dor em meu abdômen era lancinante, indo e vindo em pequenos intervalos, espalhando torpor por cada centímetro da minha epiderme enquanto eu me encolhia em posição fetal.

Respira, inspira. Respira, inspira. Respira!

Por alguns segundos eu pensei que fosse morrer, e parte de mim realmente acreditava nisso. Queria gritar, mas tudo o que saia por meus lábios eram gemidos que escapavam pelo nó formado em minha garganta. Meus olhos estavam cerrados com toda minha força, e eu tentava manter o pensamento positivo que tudo aquilo iria passar e logo eu poderia voltar a respirar, mas qualquer tentativa era falha diante do estado catastrófico que eu me encontrava.

E o pior de tudo, sozinha.

Seja forte. Seja forte! Aguente firme, você consegue.

Queria pegar o telefone celular que estava em cima da minha cômoda, em frente a minha cama, mas eu não tinha forças sequer para andar. As lágrimas escorriam livremente por meu rosto sem que eu conseguisse ao menos senti-las, enquanto meus pulmões tentavam com dificuldade continuar sua busca por ar.

Eu sabia que não aguentaria muito tempo, meu corpo já me dava sinais de que minha consciência me deixaria na mão diante daquela situação, e eu já não tinha qualquer esperança de que Wells ouvisse meus gemidos lânguidos.

Aguente só mais um pouco! Não, não se deixe levar. Você vai conseguir, Clarke! Isso vai passar e logo tudo ficará bem.

Meus olhos semicerrados focalizavam os números garrafais e brilhantes do rádio relógio em meu criado mudo, duas e vinte da manhã. Levantei minha mão até uma altura suficiente para que eu pudesse analisa-la, vendo o líquido vermelho e viscoso entre meus dedos, tentando conter o medo que agora já me assolava.

Eu estava sangrando, e isso definitivamente poderia ser um bom sinal.

Minha visão estava pesada, assim como minha respiração. Os músculos de meu corpo já não tencionavam, e aos poucos eu me entregava à escuridão. A última coisa que vi foram seus olhos, os mesmos que refletiam toda a paz que inundava todo meu ser, arregalados em meio ao seu próprio desespero.

E então me deixei vencer pelo abismo da inconsciência.

27 de Maio de 2017 - Manhattan, New York

“E então você acordou?”

“Sim, eu acordei.” Clarke desviou os olhos azuis, a barra de seu jaleco parecendo muito mais interessante do que qualquer outra coisa. “A dor era tão real, Luna. Eu a sinto todas as noites que esse pesadelo volta a perturbar meu sono.”

“Como um déjà vu.”

“Como um déjà vu. Tão doloroso e desesperador quanto.” A loira afirmou, erguendo seu olhar para a mulher que a avaliava minunciosamente.

Luna Rayen era a assistente do chefe de psiquiatria de seu hospital e também futura esposa de seu melhor amigo, uma das melhores no ramo e sem dúvidas uma profissional brilhante. Em seus olhos castanhos Luna carregava a intensidade capaz de desvendar seu intrínseco, enxergar o que nem mesmo ela era capaz de decifrar.

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Seu dom era ler pessoas, e Clarke poderia até mesmo admitir que isso lhe causasse inveja se o seu não fosse salvar vidas.

Foram muitos meses de insistência de Abby e de Wells para que ela finalmente cedesse e se permitisse conversar com alguém que fosse capaz de ajuda-la. As crises de ansiedade certamente haviam dado uma trégua, os pesadelos, entretanto, estavam longe de lhe deixar ter paz.

“Você não acha que precisa fazer as pazes com seu passado para que seu subconsciente pare de te castigar dessa forma?” Luna permaneceu compenetrada em suas anotações, ouvindo o suspiro impaciente da mulher sentada em sua frente.

Clarke era uma pessoa fechada, e isso nem mesmo anos de terapia seriam capaz de mudar. Os muros em volta de seu coração não foram capazes de se reerguerem, não depois de tudo o que aconteceu em seu passado, mas isto não melhorava sua capacidade de se expressar. A cicatriz estava lá, ela latejava quando os dias se tornavam difíceis demais para suportar.

Ela ainda se agarrava em suas lembranças para que seu coração se sentisse acalentado. E por mais que soubesse que isso era errado, por mais que sua razão insistisse em lembra-la que era hora de deixar ir, não conseguia.

Estava bem, tudo estava correndo como deveria. Ela até mesmo tinha um relacionamento duradouro, um apartamento só seu, uma carreira brilhante a sua frente como cirurgiã em seu hospital. Sua lista de conquistas só aumentava. Clarke Griffin tinha tudo o que qualquer pessoa morreria para ter.

Então por que seu subconsciente insistia em lhe desestabilizar? Por que ela não conseguia se sentir realizada?

“A verdade carrega um peso que a mentira é incapaz de falsificar, Clarke.” Ela endireitou a armação de seus óculos de leitura com o indicador, levantando seu olhar para observar a loira. “Se continuar mentindo para si mesma, não vai haver progresso algum. Esses pesadelos vão continuar te torturando, você não vai ser capaz de deixar tudo isso para trás.”

“Não há um passado para fazer as pazes, Luna. Está tudo trancado a sete chaves, eu não vou abrir essa porta novamente.” Ela cerrou os olhos de forma pesarosa, uma sensação estranha criando vida em seu peito. “Eu devo isso a ele. Eu não posso tirar esse monstro de dentro do guarda-roupa, não vou conseguir superar novamente.”

Luna a encarou por mais alguns instantes, o azul nas íris de Clarke ganhando uma tonalidade ainda mais clara conforme as lágrimas se formavam.

“Você deve isso a ele, então pague essa dívida. Conte a ele o que quer que seja que precisa ser contado, Clarke. Essa dor não tem que ser carregada só por você. Enquanto insistir em carrega-la sozinha, ela vai te consumir. Você precisa seguir em frente, e para que isso aconteça, a atitude tem que vir de você.”

“Não é fácil assim. Eu fui capaz de me permitir, eu aceitei todas as oportunidades que a vida me deu, eu segui em frente e estou feliz agora.” A Griffin respirou fundo, buscando forças dentro de si para se recompor. “Ele também deve estar.”

As imagens criavam vida em flashes por trás de suas pálpebras. Em sua cabeça ela relembrava as sensações que somente aquele homem sabia despertar, cada poro de sua epiderme se arrepiando em pura abstinência. O amargo tomou conta de sua boca, como sempre acontecia quando a verdade gritava em sua mente.

Isso é tudo o que você vai ter. Lembranças. Fantasias do que poderia ser.

“Eu o amo.” Clarke limpou uma lágrima solitária que insistia em manchar seu rosto, levantando o olhar para fita-la diretamente. “Da forma que só se ama alguém uma vez na vida. Mas eu não faço mais parte da vida dele, e não tenho esse direito.”

“Contudo, ele sempre vai fazer parte da sua.” As íris castanhas de Luna eram tão benevolentes, capaz até mesmo de acalmar todo o caos que aquelas memórias causavam dentro de si. “Como está sua relação com Octavia? Raven?”

“Se recuperando.” A loira deu de ombros, os lábios se repuxando sutilmente. “Às vezes eu sinto que eu e O nunca voltaremos a ser o que éramos antes, mas tento ser perseverante. Raven é uma boa amiga, tão boa que está sempre tentando reparar os estragos que minhas escolhas fizeram.”

Luna voltou a fazer suas anotações conforme Clarke brincava com seus próprios dedos, a culpa já não mais lhe devastando como um fenômeno natural ao falar em suas melhores amigas.

Cinco anos haviam se passado e ela ainda sentia as consequências. Havia um grande rancor que se alimentava na parte mais obscura de seu ser, um sentimento nada proveitoso que a Griffin nutria por si mesma devido aos anos que passou longe, e que só fazia aumentar cada vez que Octavia tentava lhe contar sobre algo que ela não havia presenciado.

Momentos que ela perdeu quando deveria estar ao lado de sua melhor amiga.

Raven teve seu primeiro bebê e ela não esteve lá para segurar suas mãos, para acariciar seus longos cabelos castanhos ou escutá-la criar os mais diferenciados nomes feios para xingar Kyle Wick.

E apesar de tudo, ela foi a primeira a perdoá-la, e por isso Clarke se sentiria grata pelo resto de seus dias.

“Se não fosse por Raven, Octavia nunca teria me perdoado. Levou três anos para que ela fosse capaz, mas o importante é que hoje o abismo que crescia entre a gente está cada vez menor.”

“Eu fico feliz.” Luna levantou sua atenção para o rosto da loira, um sorriso sincero criando vida. “E estou feliz pelo progresso que você teve com a Niylah. Está se saindo bem em manter suas inseguranças nas rédeas, uh?”

A Griffin soltou um riso nasalado, as sobrancelhas se arqueando.

“Acho que pode se dizer que sim. Eu fiz uma reserva em um dos melhores restaurantes de Manhattan para comemorar nosso primeiro ano juntas. Eu quero fazer diferente dessa vez, quero com todas as minhas forças que isso dê certo.”

A loira inalou uma lufada de ar, e então duas batidas discretas na porta anunciavam que elas tinham companhia. A porta se entreabriu, o rosto de Emori se tornando visível.

“Perdão pela interrupção, Dra. Rayen. Precisamos da Dra. Griffin na ala de Emergência, está um pouco corrido hoje.”

Clarke apertou a mão de Luna em agradecimento, já se levantando.

“Estou feliz por você e Niylah, de verdade, espero que esses planos não afetem a noite de hoje. É a única coisa que tem deixado Wells empolgado.” O sorriso singelo que se iluminava no rosto da morena expressava claramente o carinho ao mencionar seu companheiro.

“Continuamos na próxima sessão, Dra. Rayen.” A Griffin retribuiu o gesto, olhando-a por cima de seu ombro antes de passar pela porta.

E como se dizia em uma de suas séries de tv favoritas: era um belo dia para salvar vidas.

***

“Você está brincando? É uma ótima notícia!”

O moreno vagava por seu quarto, o celular se equilibrando entre seu ombro e seu queixo conforme as mãos vasculhavam novamente uma de suas gavetas de roupas.

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“Você acha? Não estou muito certo disso. Bryan, no entanto, está me dando nos nervos com a possibilidade.”

Bellamy foi incapaz de impedir o curvar satisfeito de sua boca com a notícia que seu melhor amigo acabara de lhe contar.

“Com certeza é um grande passo, mas eu sei que vocês estão prontos, Nate. Qual a dúvida?”

O silêncio denunciava a hesitação, as sobrancelhas negras se franziram em pura incompreensão.

Ele havia sido padrinho de Nathan há três anos, um pouco depois de ele finalmente criar coragem para contar a verdade para seu pai e assumir o relacionamento que manteve escondido por tempo demais.

Bryan e Nate se casaram em uma noite de junho, as luzes enfeitavam a grande árvore que o Comandante Miller tinha em seu jardim. Bellamy assistiu seu melhor amigo iniciar toda uma jornada naquele dia, aceitando passar o resto de sua vida ao lado do homem que amava.

Nathan sempre foi um cara perseverante, e essa característica em especial sempre acendia no Blake uma faísca de inveja. Em meio ao caos, Miller fazia planos. Quando as coisas ficavam difíceis, ele imaginava como seria sua vida dali a alguns anos e o brilho que seu olhar adotava nesses momentos era, na opinião de Bellamy, algo a ser estudado.

“Eu não sei.” Ele suspirou. “Não me parece o momento certo para cuidarmos de uma criança. Não quero dar um passo maior que a minha perna, entende? Nosso casamento está tão bom, os anos passaram e a fase da lua de mel ainda existe. Uma criança?”

Bellamy escutou a porta da frente de seu apartamento se abrir, vozes familiares ecoando pelos corredores antes da entrada de seu quarto se arreganhar e um pedacinho de gente correr em sua direção, abraçando seus joelhos como se sua vida dependesse disso.

“Crianças são dádivas, Nate. Você vive dizendo que Bryan é sua família, por que não dar a ele essa mesma sensação?” O moreno direcionou a sua irmã um sorriso cheio de dentes, olhando para a pequenina que lhe admirava cheia de afeição brilhando em seus olhos esverdeados. “Preciso ir, cara. Minhas duas dádivas acabaram de chegar.”

Octavia permaneceu escorada no batente da porta, os braços vestidos em sua jaqueta de couro se cruzavam em seu abdômen. Os longos cabelos castanhos reluziam conforme a claridade que invadia o cômodo pelas grandes paredes de vidro.

“Sei, dádivas.” Ele pôde jurar que Miller estava revirando os olhos, cético. “Dê um beijo em Livie por mim. Nos falamos mais tarde, Blake.”

Bellamy escorregou o celular no bolso de sua calça preta antes de se agachar na altura da criança, a grande mão levemente calejada bagunçando os cabelos cacheados e depositando um beijo estalado em sua bochecha rosada.

“Mesmo estando casado o Nate não é capaz de te superar, não é mesmo?” A Blake se moveu em direção ao irmão que se levantou para abraça-la. O nariz se enterrando em seu pescoço onde o cheiro familiar exalava, os olhos se fechando conforme a saudade se extinguia aos poucos dentro de si.

“É cansativo ser tão irresistível.” Ele suspirou, puxando a pequenina para seu colo. “Á que devemos essa visita tão inesperada, uh?”

“Tio Bell!” A garotinha escondeu o rosto na camiseta branca do moreno, um tom mais rosado que o normal tomando conta de seu rosto. “Mamãe vai abandonar Olivia.”

Os olhos esverdeados de Octavia se reviraram quando Bellamy a olhou inquisitivo.

“É drama, Bell. Eu juro que eu não sei com quem ela aprendeu a ser tão dramática.” Sua mão se levantou até os cachos escuros de sua filha, que se escondeu ainda mais nos braços fortes do mais velho ao tentar escapar de seu toque. “Olivia, mamãe já disse que isso é muito feio. Não vou demorar, eu prometo!”

Uma insinuação de sorriso se criou nos lábios de Bellamy, o deboche que sempre lhe serviu tão bem aflorando no castanho de suas íris ao fitar a irmã.

“Sério? Você realmente não sabe de quem ela puxou todo o drama para teatro?”

Octavia bufou, se contendo para que seus lábios não se curvassem e acabassem lhe denunciando. O bico que a pequena Omaha fazia não era nada diferente do que ela mesma usava quando queria persuadir alguém para fazer algo de seu interesse.

A maçã realmente não cai longe da árvore.

“Está sozinho?” A morena vasculhou o quarto com seus olhos claros, não deixando passar despercebidas as gavetas reviradas. “Alguém entrou aqui? Tentou te roubar? Aconteceu um terremoto e eu não estou sabendo?”

O Blake desceu a garotinha de seu colo, a mão passeando pelos fios ainda úmidos de seu cabelo desgrenhado.

“Eu estava procurando o anel da mamãe.” Ele se sentou na beirada da cama, Octavia fazendo o mesmo ao notar o olhar desarmado de seu irmão. “Estive pensando... na verdade, eu fiz muito mais do que pensar e reservei uma mesa em um restaurante renomado. Algo me diz que esse é o momento certo.”

Um suspiro pesado quebrava o silêncio, e a morena puxou a garotinha de pouco mais de dois anos para seu colo.

“Eu sabia que isso iria acabar acontecendo.” Seu olhar se desviou, o queixo se apoiando na cabeça na pequena. “Você sabe, o anel da mamãe tem um significado muito forte até mesmo para mim. Foi marco de um amor que marcou a vida dela, de um sentimento único que só acontece uma vez na vida. Você a ama, Bell? Está certo de que é ela?”

Octavia foi incapaz de reconhecer o que pairava nos olhos escuros de seu irmão, completamente ignorante diante do que se passava dentro de sua cabeça. E claramente, era muito raro acontecer aquele tipo de coisa quando se tinha um laço fraterno como o deles.

Por muito tempo ela lamentou o fim que teve o envolvimento dele com a herdeira dos Griffin. Para ela, foi errado, havia muitas coisas não terminadas. Era triste demais assistir de camarote a vida separar duas pessoas que nutriam um sentimento tão bonito, um infortúnio imensurável.

Entretanto, o tempo passou. Foram muitos anos de ressentimentos nutridos por sua melhor amiga, muitos anos de amargura por erros cometidos e pela sua incapacidade de perdoar. Obviamente, essa dádiva dificilmente corria no DNA dos Blake.

Ela teve que assistir seu irmão manter sua pose sempre tão designada enquanto olhava no castanho escuro de seus olhos e reconhecia a sombra do homem que ele foi um dia. Bellamy era feliz agora. Ele era capaz finalmente de sorrir sem que o gesto parecesse um sacrifício.

Ele tinha alguém que o amava e o compreendia, que trazia alegria nos dias em que a amargura transparecia. Aquela mulher fazia bem a ele, porém, nada daquilo parecia certo. Não para ela, não para sua intuição sempre tão aguçada.

“Eu a amo, O. E eu sei que ela é meu futuro, eu sinto.” Ele levantou seu olhar, prendendo-o no de sua irmã. “É com ela que eu me vejo construindo uma família, é no colo dela que eu quero me aconchegar todas as vezes que eu tiver um dia muito difícil no trabalho. Ela desistiu de um cargo importante para sua carreira para que eu pudesse continuar a minha, para permanecer do meu lado. Como eu não poderia ter certeza, O?”

Olivia resmungou alguma coisa incompreensível até mesmo para o tradutor do Google, quebrando toda a seriedade da conversa que acontecia entre os Blake quando Octavia gargalhou.

“Essa garota fica cada dia mais esperta.” Bellamy constatou ao bagunçar os cabelos da menina e receber um olhar repreensivo em resposta. “Cada dia mais parecida com você, O.”

A Blake empinou o queixo de forma pomposa, os lábios se repuxando em puro orgulho.

“Hoje é seu dia de folga, não é?” O esverdeado de seus olhos se ascendeu ao encarar o irmão, e Bellamy não pode deixar de pensar que viria algo daquele questionamento.

“Sim. Meu superior me deu alguns dias para me preparar para nosso próximo trabalho.” Ele suspirou, cansado. “Basicamente trabalhar em casa. Continua sendo trabalho, no final das contas.”

“Hmmmm.” Sua boca se crispou em uma linha fina e Olivia se remexeu em seu colo. “Então acho que é uma ótima oportunidade de passar um tempo com sua sobrinha preferida enquanto eu vou á um compromisso.”

Bellamy riu nasalado ao ver o olhar ultrajado que a pequenina lançou para a mãe, descendo bruscamente de seu colo para se encaixar entre as pernas do tio.

“Mamãe abandonar Olivia, tio Bell.” O esverdeado de suas íris adquiriu um brilho peculiar conforme seu lábio inferior se curvava em um bico adorável. “Não deixa.”

Aquela criança seria sua perdição tanto quanto sua própria irmã foi um dia.

“Onde está Lincoln? Eu não tenho certeza se posso ficar com ela, O. Alguma emergência de última hora pode surgir no trabalho.”

Octavia revirou os olhos, bufando ao ouvir o nome de seu marido.

“Não me fale nesse traidor. Ele nos trocou por mais uma de suas reuniões de última hora, parece que a filial de New York vai ficar pronta mais rápido do que nós esperávamos.”

Ela cruzou os braços novamente, suas feições se enrugando ao expressar sua irritação. Não parecia nem mesmo por um segundo ser uma mulher de vinte e sete anos, e talvez Bellamy estivesse disposto a aceitar sua culpa nesse detalhe.

Ele a mimou demais, isso era claro.

“Gina vai voltar logo, não vai? É hoje de noite e só por algumas horas, Bell. Até lá nós podemos te ajudar a achar o anel da mamãe e esvaziar seu estoque de guloseimas, não é Livie?”

A garotinha lançou um olhar ressentido para a mãe, aumentando ainda mais seu bico.

“Compromisso, uh? Parece importante.” Bellamy arriscou, engolindo seco ao ver sua irmã desviar o olhar.

Ele sabia o que se expressava neles, acontecia sempre que o assunto vinha à tona – mesmo que indiretamente.

“Não precisa se sentir culpada, O. Ela faz parte da sua vida.” Sua mão afagou os fios lisos do cabelo de Octavia, conforme ela se aninhava em seu toque. “Não se prive nunca mais de manter sua amizade com ela por minha causa. Vocês vão além... disso.”

A morena o encarou por mais alguns instantes, contemplativa. Um sentimento agridoce se inflou em seu peito ao constatar o quanto seu irmão havia crescido, o quanto ele parecia ter amadurecido.

Aquela vida fazia bem a ele. Aquela mulher o fazia alguém melhor.

“E quanto a nossa conversa...” Sua mão delicada cobriu a do moreno, o verde complacente de seus olhos lhe trazendo a calma que só ela era capaz de lhe transmitir. “Faça o que seu coração manda. Se esse é o momento, então faça. Ganhe de vez a garota e seja feliz.”

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Olivia se empertigou e então se livrou das pernas de seu tio para correr para os braços da mulher que parou diante da entrada, se abaixando o suficiente para amparar o abraço empolgado da pequena.

“Tia Gina!”

A morena dos longos cabelos cacheados e olhos amendoados sorriu, a covinha em sua bochecha se revelando.

“Olá, Livie! Octavia!”

O olhar que os irmãos compartilharam naquele momento dizia muito mais do que palavras poderiam expressar. Bellamy entendeu o recado, assentindo e então se levantando em direção a suas garotas.

E talvez, só talvez, Octavia pudesse finalmente passar a se acostumar com aquilo.