Olhe nos meus olhos

Madruga, medo, chá e leite


As vezes os ombros não basta para acalmar a tristeza, dependemos de um colo. As palavras, quando deitadas, redescobre o tamanho do céu.

Fabrício Carpinejar

Regina desceu a cozinha de sua casa, olhou o relógio mais uma vez.

2:32

Nada de Emma.

Colocou água no bule e tamborilou os dedos na pia da cozinha, a preocupação fazia seu estômago arder e um enjoo chato não a abandonava.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Deus, nunca fui muito religiosa, e sabemos bem porquê... Mas, cuida da Emma, ela é uma das coisas mais importantes que tenho.

Cuida dela.

— Você está bem? - Lara perguntou baixo, mas foi o suficiente para Regina dar um pulo, olhando assustada para a menina parada, encarando-a preocupada.

— Estou bem querida. Te acordei?

Lara balançou a cabeça e sentou na cadeira, Regina imitou seus movimentos.

— Emma ainda não chegou?

Regina respirou fundo e olhou mais uma vez o relógio.

2:34

— Ainda não. Estou um pouco preocupada. - Notou como Lara ficou silenciosa, olhou a menina que estava com as bochechas coradas. Sorriu - Pode perguntar, querida.

Lara a olhou assustada, se perguntando como Regina sabia.— Você e Emma são namoradas? Igual marido e mulher?

Regina sorriu mais uma vez, a pergunta havia demorado a vir.

— Isso incomoda você? - Perguntou calma e recebeu um não tímido como resposta. - Emma e eu nos amamos, muito. E não nos prendemos ao fato de pertencemos ao mesmo sexo, ou aos rótulos que isso acarreta.

Lara fez uma careta confusa e Regina gargalhou, havia esquecido que era uma criança, ali na sua frente.

— Só entendi a parte que vocês se amam e, acho que é isso que importa. O resto é só palavra confusas.

— Exato. O resto são só palavras confusas.

Se olharam por alguns instantes.

— Eu acho bonito o jeito que vocês se olham - Lara falou, acariciando a orelha de Tigra. - Se olham diferente. Mamãe não olhava assim pro Antenor.

— Antenor? Esse era o nome do seu padrasto? - Regina fez uma careta, fazendo Lara rir.

— Ele era mais feio que o nome. - ambas riram.

Regina levantou e desligou o fogo. Pegou uma xícara, seu chá estava pronto. - aceita? - Perguntou a Lara que fez uma careta.— Quer um pouco de leite quente?

A menina sorriu, agradecida, esfregando os olhos.

Em silêncio Regina preparou o leite, enquanto bebericava do seu chá. Havia silêncio, mas não havia solidão. Ela sentia-se bem na companhia daquela menina.

Terminaram o chá e leite em silêncio.

— Posso contar uma história pra você dormir? - Lara perguntou animada— Isso funcionava comigo.

Regina assentiu e ambas subiram ao quarto do casal.

Lara contou a história de um menino que sonhava ser dançarino. Regina ficou maravilhada com a riquezas de detalhes.
Lara terminou a história e saiu feliz do quarto, vendo Regina calma e com os olhos fechados.

Assim que a porta foi fechada, a morena abriu os olhos, dormir não estava em seus planos, mas ela não queria desapontar a menina. Notou como Lara esfregava os olhos, porém não desistia de lhe fazer companhia.

Destravou a tela do celular, sorrindo para a imagem de fundo. Uma foto da família, sentiu falta dos hóspedes naquela imagem. Abriu a galeria e assistiu todos os vídeos, admirou todas as fotos. Ela era uma mulher feliz.

Chorou.

Chorou por agradecimento.

Chorou por medo.

Chorar de alguma forma a aliviou, porém tudo que desejava eram os braços de sua esposa ali.

Tentou dormir, mas o tic tac do relógio não a deixava em paz.

3:48

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Sua cabeça doía, sorte não ter que trabalhar no dia seguinte. Não aguentaria se precisasse.

Ouviu a porta abrir devagar. Sabia que não era Emma, pois não ouviu o carro chegar.

— Pode entrar - Falou para quem estivesse na porta.

Ouviu a porta ser fechada de volta, um peso em um lado da cama e braços fortes a abraçaram. Reconhecia aqueles braços e cheiro.

— Também não consegue dormir, Jesus?

— Ouvir você chorar - acariciou os cabelos da mãe.

— Desculpa.

— Não precisa se desculpar. Vou ficar aqui até a mamãe voltar.

— Obrigada. — limpou as novas lágrimas que caíam. - Obrigada filho.