Estranho. Era a única palavra que podia definir como foi a ida pra casa. Depois do abraço totalmente humilhante no quarto do hospital eu não consegui reuni coragem pra fazer nenhum comentário decente. Ele, ao que me parecia, estava totalmente perdido nos próprios pensamentos. Era simplesmente estranho de mais sentar ao lado dele em silencio por que eu simplesmente não conseguia pensar em nada pra dizer. Então era isso, estávamos fadados a nos sentir desconfortáveis pelo resto da vida por que os últimos seis anos acabaram com a nossa relação. Certo, não foi o tempo que acabou com a nossa relação, afinal se eu tivesse sido um pouco mais esperto teria percebido que ele nunca sairia de casa no meio da noite por conta própria e agora nós estaríamos muito felizes comemorando o fato de ele ter finalmente voltado pra casa e nós estávamos juntos de novo e tudo mais. Mais não, eu tinha pensado somente com o meu ego ferido e odiado ele por todo esse tempo enquanto ele estava em uma prisão sabe Deus onde e passado sabe Deus pelo que. Lindo Bill, você jogou toda a culpa nele e isso acabou colocando toda a culpa em você. Ele disse alguma coisa.

Bill: Desculpe, o que disse?

Tom: Espero que não se importe por ter pegado seu carro.

Bill: Tudo bem, eu não posso dirigir de qualquer jeito, minha carteira foi suspensa. Eu estou surpreso que ele ainda funcione, esta parado há vários meses.

Tom: Ele só precisava trocar o óleo.

Aquela tensão toda estava acabando comigo. Eu não sabia exatamente pra onde estávamos indo e fiquei contente quando desci do carro e vi a casa branca à minha frente. Já tinha algum tempo que eu não ia pra casa realmente.

Tom: O Andreas cuidou da limpeza e tudo mais, acho que está tudo como você deixou.

Bill: Eu não me lembro muito bem da ultima vez que estive aqui mais parece ter sido há muito tempo.

Tom: Bom, está tudo mais ou menos como eu me lembro então...

Nós passamos pela porta da frente e as lembranças me invadiram. Foi quando eu soube que minha mãe tinha morrido, a ultima vez que eu estive aqui. Meu Deus eu era mesmo um ser repugnante. Eu tinha quebrado coisas e gritado com Fred e Andreas, estava totalmente chapado, fora de controle, zangado comigo mesmo e descontando nos outros.

Tom: Você está bem?

Bill: Estou, eu só... isso tudo é muito esquisito.

Tom: Eu sei. Eu acho que agente devia conversar sobre algumas coisas.

Bill: É, eu sei.

Eu me sentei na minha poltrona favorita e ele se sentou no sofá de três lugares, aquilo me remeteu a uma outra conversa, a muito tempo atrás.

Tom: Você tem que me contar quando essas coisas acontecem.

Bill: Pra que?

Tom: Pra que eu possa defender você.

Bill: Fala serio Tom, o cara tem duas vezes o seu tamanho, o que você poderia fazer?

Tom: Eu teria dado um jeito. Prometa que vai me contar quando alguém te provocar outra vez.

Bill: Não resolver nada, as pessoas estão sempre me provocando.

Tom: Prometa Bill.

Bill: Tudo bem.

Nós estávamos nos mesmos lugares e ele estava com o mesmo olhar preocupado. Ele parecia escolher as palavras mais não há palavras delicadas para aquele assunto.

Bill: Olha eu sei o que eu você vai dizer, não precisa se preocupar em parecer rude.

Ele me olhou surpreso.

Bill: Eu sei qual é a situação. Eu sou viciado em drogas e você quer que eu pare assim como todo mundo.

Tom: Você não quer parar?

Bill: Eu não sei. É a maneira que eu encontrei pra não pensar em certas coisas.

Tom: Certas coisas?

Certo, isso ia ser muito difícil e constrangedor.

Bill: Em você. Em tudo o que aconteceu.

Ele abichou a cabeça por alguns minuto, talvez ele esteja passando mal, talvez eu devesse fazer alguma coisa a respeito.Ele levantou a cabeça e olhou nos meus olhos, eu estremeci por dentro, ele parecia realmente triste agora.

Tom: Me desculpe pelo que aconteceu com você.

Bill: O que?

Tom: Por tudo o que você passou, me desculpe por tudo, se eu estivesse aqui nada disso teria acontecido e...

Bill: Pare com isso!

Tom: Com o que?

Bill: Com isso. Pare de se desculpar, não é sua responsabilidade.

Tom: É sim, você é meu irmão mais novo e eu...

Bill: Não sou não. Dez minutos a mais não te fazem responsável por mim, e ainda que fosse não tinha nada que você pudesse fazer você não estava aqui.

Tom: Exatamente, eu não estava aqui e olha o que aconteceu.

Bill: Pare de se responsabilizar, não é culpa sua, você não queria ir embora, você nunca me ofereceu drogas, o que eu aconteceu comigo é responsabilidade minha, foram minhas escolhas e meus erros.

Nos dois suspiramos, não era uma conversa agradável. Há dois dias eu gostaria muito que ele se sentisse culpado pela minha vida ter ido pro buraco por que eu realmente achava que era culpa dele, mais agora eu sei que não é e esse instinto protetor estava sendo bastante irritante.

Bill: Só não me interne está bem?

Tom: Internar você?

Bill: Em uma clinica ou coisa assim. Eu vou tentar me afastas das drogas sozinho, não vai ser fácil mais eu quero tentar. Não quero ficar isolado em um hospital outra vez.

Tom: Tudo bem.

Bill: E não fique ai se martirizando pensando que eu passei esses 6 anos em um sofrimento sem fim, eu tinha amigos, eu tinha o Andreas, ele ajudou bastante.

Isso Bill, minta pra ele. Como se qualquer um de seus amigos conseguisse, por um segundo, te fazer esquecer seu irmão. “Ah merda”, amigos. Não falava com seus amigos desde que foi pro hospital, eles provavelmente achavam que tinha morrido, Fred com certeza não estava nada feliz.

Bill: Olha só, eu tenho que visitar uma pessoa, por que você não vai comigo e depois nós vamos almoçar em algum lugar.

Tom: Parece bom.

Bill: Ótimo, então vamos.

Ali, parado em frente à porta da casa do meu pseudo namorado eu pensei que trazer Tom não foi uma idéia muito boa, na verdade era uma idéia idiota. Primeiro por que eu não contei ao Tom o real nível de amizade entre Fred e eu, segundo por que eu nunca me dei ao trabalho de contar ao Fred que eu tinha um irmão. Definitivamente aquela foi uma péssima idéia. Se eu fosse uma pessoa com um pouco mais de sorte Fred não estaria em casa, mais ele abriu a porta depois de alguns minutos e me encarou totalmente confuso.

Fred: Ah seu grande idiota!

Ele me abraçou eu não pude deixar de perceber a cara de desgosto de Tom.

Fred: Você tem alguma idéia de como eu estava preocupado?

Bill: Eu estou bem.

Fred: Você poderia ter me ligado ou alguma coisa assim. Da ultima vez que eu te vi você estava inconsciente!

Bill: Eu perdi meu celular. Eu estava em um hospital, como eu poderia falar com você?

Fred: Eu tentei te encontrar mais aquele seu amigo idiota não me dizia nada. O que você teve afinal?

Bill: Overdose. Nós vamos ficar aqui na porta?

Fred: Não, entre.

Ele olhou pra Tom pela primeira vez e franziu as sobrancelhas, provavelmente percebendo a semelhança entre nós.

Fred: E você quem é?

Bill: Ah, certo. Tom esse é Fred, Fred esse é Tom, meu irmão.

A ultima parte foi difícil, por que eu já sabia o escândalo que viria a seguir. Fred olhava de mim para Tom com a boca levemente aberta. Todos esquecemos o restante do caminho até a o sofá.

Tom: É um prazer Fred.

Aquilo soou muito forçado, e eu não fui o único que percebeu.

Fred: É Frederic. Desculpe mais Irmão? Você nunca me disse que tinha um irmão.

Tom: Você não disse?

Ótimo, agora os dois olhavam pra mim com aquela cara inquisitória, não que eu realmente me importasse com o que Fred estava pensando, eu gosto dele mais nem tanto assim, e ele parecia estar aborrecido mais no geral ele estava sempre aborrecido, mais Tom parecia estar realmente chateado. Mais uma vez, no que eu estava pensando quando trouxe o Tom aqui?Aquele com certeza era um bom momento pra procurar um cigarro, ou alguma coisa mais forte, bem mais forte.

Bill: Eu não tenho que te contar tudo a respeito da minha vida “Frederic”. Aliás, eu só vim aqui pra que você perceba que eu estou vivo e pare de importunar o Andreas, ele não gosta de você.

Fred: Ah, seu amigo ainda acha que eu sou uma má influência pra você, se ele soubesse um terço da verdade não pensaria assim.

Bill: É, onde está Susan?

Fred: Ela foi fazer... hã, compras. Precisa de alguma coisa? Eu posso ligar pra ela.

Bill: Não, apenas diga que estive aqui.

Fred: Você já vai?

Bill: Já fiquei tempo de mais aqui.

Fred: Você desaparece por 3 semanas, aparece com um irmão que ninguém sabia que existia e vai embora depois de 5 minutos?

Bill: O que você quer, que eu te conte toda a minha vida enquanto tomamos chá e trançamos o cabelo um do outro?

Fred: Eu espero o mínimo de explicação.

Bill: O que eu você é, minha mãe?

Fred: Não mais o fato de eu estar dormindo com você me da alguns direitos!

Maravilha. A parte que eu esperava que não fosse mencionado foi gritada agora e a cara do Tom era indescritível, alguma coisa entre uma enorme vontade de bater em alguém, ainda não sei se em mim ou em Fred, e a vontade de ouvir o resto da discussão. Eu por outro lado sabia exatamente em quem eu queria bater, em mim mesmo.

Bill: Nós não estamos casados, nem somos um casal então eu não lhe deve nenhuma explicação.

Fred: Qual é o seu problema? É por que seu irmão está aqui? Você não quer que ele saiba como você tem levado a vida ultimamente?

Bill: Fique ai com suas perguntas, eu estou indo.

Eu estava quase atravessando a porta e eu sabia que Tom estava bem atrás de mim quando Fred fez um som exasperado e começou a falar de novo.

Fred: Tom! Então é isso! Você é o Tom!

Eu me virei e agora eu queria muito bater nele. Mais Tom estava parado na minha frente de costas pra mim.

Tom: O que eu quer dizer?

Bill: Cale a boca Fred!

Fred: Então era pelo seu irmão que você chamava durante as crises não é!

Bill: Fred se você não calar a boca agora eu vou partir sua cara.

Susan: O que está acontecendo?

Susan entrou carregando uma pequena sacola de papel e eu tentei muito não pensar em o que estava ali dentro.

Bill: Seu irmão está sendo um idiota outra vez.

Susan: E quando ele não é?

Bill: Eu falo com você depois Susan.

Puxei Tom pelo casaco e nós saímos dali, durante o trajeto de volta ao centro da cidade tudo o que eu conseguia pensar era como eu era idiota ao ponto de colocar Tom na frente de Fred e esperar que ele ficasse com a boca fechada. Tom estava calado também, provavelmente digerindo toda a informação que tinha recebido sobre a minha vida.

Tom: Você poderia ter me avisado que ele é seu namorado.

Bill: Ele não é nós só... dormimos juntos as vezes. A irmã dele é minha amiga.

Tom: Você também poderia ter me avisado que nunca mencionou minha existência pros seus amigos.

Bill: Eu sei me desculpe.

Tom: Por quê?

Bill: Por que o que?

Tom: Por que você não falou sobre mim?

Bill: A Susan sabe, bem ela sabe algumas partes. Fred é só um cara, não somos melhores amigos, apenas convivemos juntos. Era um assunto delicado, eu não ia sair falando pra todo mundo que eu conheço, especialmente sendo eles quem são.

Tom: Certo. Apenas me avise da próxima vez.

Bill: Tudo bem.

“Merda”. Ele estava chateado, dava pra notar pelo tom frio na voz dele. “Perfeito Bill, seu irmão voltou há um dia e você já fez besteira, você deveria ganhar alguma premio”.

Frederic:

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