Obsessão

Acensão de Flávia


Passar a noite na cadeia foi um pesadelo pelo qual Verônica nunca tinha pensado que passaria em sua vida, mas ela sabia quem era a responsável por tudo aquilo. Ela não tinha conseguido dormir, pois passou a noite toda pensando em qual seria o próximo passo de Flávia. Será que ela iria apenas incriminar Verônica para vê-la presa ou será que ela tinha mais alguma coisa em mente, e se ela tinha mais algum plano, qual seria? Deveria Verônica temer por sua vida ou Flávia queria apenas vê-la sofrer?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Era passado de meio dia quando o advogado de Verônica chegou com o habeas corpus e Verônica foi liberada para aguardar o julgamento em liberdade. Fábio e Carolina foram buscá-la na delegacia e era óbvio que a saída estava repleta de repórteres e fotógrafos. Carolina havia levado óculos escuros para todos e conforme eles atravessavam a maré de pessoas que gritavam perguntas e tiravam fotos, o advogado apenas dizia que a inocência de sua cliente seria provada logo.

Dentro da delegacia, Clarice e César discutiam sobre o caso.

— sério que você acredita nessa versão hollywoodiana de que foi armado para ela? - perguntou César.

— o pior é que eu acredito – disse Clarice, então deu um gole em seu café e voltou a falar – eu lembro do caso da Flávia, ela teve a coragem de entrar em uma casa com uma mulher grávida com um galão de gasolina em uma mão e um revólver na outra, quer dizer, coragem ela já mostrou que tem e ela teve quatorze anos pra bolar um plano de vingança, algo me diz que a Verônica está falando a verdade, ou ao menos, alguma coisa aí é verdade, bom olha César, o que eu sei é que essa trama está cada vez mais complicada.

— e qual é a nossa linha de investigação a partir de agora? - perguntou César.

— bom, não vou dizer que a Verônica é inocente, mas agora nós temos que descobrir quem é o assassino.

***

— mas é óbvio, ela é rica, gente rica nesse país não fica presa – disse Beatriz.

— pois é, parece que ela vai conseguir esperar o julgamento fora da cadeia por não ser ré primária né – disse Flávia.

— que pesadelo, eu indo pro velório do meu pai e a assassina dele está solta. Você acha que ela terá a cara de pau de aparecer no velório ou no enterro do meu pai?

— não amiga, eu acho que não. Ela é a principal suspeita, ela não teria coragem de aparecer lá.

— desgraçada, ela matou meu irmão, arruinou sua vida e agora matou o meu pai – então Beatriz olhou fixamente nos olhos dela – pode escrever, se ela se safar dessa vez, quem vai mandar ela pro inferno sou eu. Dessa vez ela não se safa.

Flávia e Beatriz foram juntas para o velório. Ao chegarem na capela, havia uma multidão que se dividia entre fãs de Antenor, fotógrafos e jornalistas que tinham a esperança de um furo jornalístico, porém diferente do que houve com Verônica na saída da delegacia, ali tiveram mais respeito. Todos ficaram fotografando de longe para que as pessoas pudessem chegar até dentro da capela para poder prestar suas últimas homenagens a Antônio.

Do outro lado da sua, mais afastada de todos havia uma jornalista. Marcela tinha uma câmera pendurada no pescoço e estava escorada em sua moto fumando um cigarro enquanto olhava a chegada de Beatriz e Flávia. “O psicopata que gosta de exposição, essa Flávia vai me dar o furo da minha carreira” ela pensou, então tirou algumas fotos, jogou a guimba do cigarro no chão e foi embora, ela já tinha visto tudo o que esperava ver ali.

Foi um dia terrível para Beatriz, ela estava medicada para conseguir aguentar aquilo, afinal a mesma dor que havia acontecido com ela quando seu irmão havia falecido estava se repetindo, só que agora ela não tinha ninguém de sua família para confortá-la, apenas Flávia, a quem ela considerava sua amiga e esse evento trágico foi o que as uniu cada vez mais. Sem que Beatriz soubesse ou percebesse, Flávia estava entrando em sua vida e conquistando um espaço de confiança, afinal, Beatriz era a única pessoa que acreditava na inocência de Flávia. Beatriz era a vítima perfeita: uma mulher poderosa e vulnerável que a ajudaria em tudo que fosse preciso.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Passaram-se dois dias e o desespero de Beatriz e de Verônica foram aumentando cada vez mais. O de Beatriz porque ela achava que a assassina de seu pai era Verônica e que ela iria “se livrar” de mais um assassinato enquanto Verônica temia ser presa por um crime que não cometeu e temia também por sua vida, então ela praticamente não saia mais de casa. Fábio e Carolina estavam levando os negócios.

Beatriz, com a morte do pai, foi alçada a diretora da empresa, tanto por ter sido treinada por seu pai para tal como por ser a herdeira daquele império, então ela continuou como editar chefe da revista de moda a qual trabalhava e diretora de todo o conglomerado, porém ela sentia-se na obrigação de pagar sua dívida de gratidão com Flávia. O dia seguinte ao enterro havia sido cruel, a mídia caiu matando em cima do fato de a herdeira estar acompanhada e chamar de melhor amiga a mulher que havia sido condenada por matar seu irmão, e ela nem deu-se ao trabalho de responder nenhuma acusação ou questionamento, ela apenas emitiu uma nota em seu site onde dizia, entre outras coisas, que acreditava na inocência de Flávia e que com o tempo ficaria provada a sua inocência devido a seu profissionalismo. Mas naquela tarde, sua primeira tarde como diretor geral das revistas, ela decidiu que era chegada a hora de começar a pagar sua dívida com Flávia.

— oi Beatriz, você quer falar comigo? - disse Flávia ao entrar na sala da diretoria.

— oi Flávia, senta – disse ela apontando para uma das poltronas que havia na mesa a sua frente – eu tenho uma proposta a te fazer – disse ela com um sorriso.

— claro amiga, sou toda ouvidos – respondeu Flávia com seu tom sempre cordial.

— então, quero que você já pensou em trabalhar na editoria de uma revista? - perguntou Beatriz.

Os olhos de Flávia brilharam.

— a, não sei se tenho competência pra isso – ela respondeu tímida.

— então, meu pai ia lançar uma revista voltada ao público feminino, uma publicação assim mais dia a dia sabe, estilo de vida, receitas, matérias sobre a vida da mulher, esse tipo de coisa e estávamos apenas fechando algumas questões de pessoal e eu acho que você seria perfeita para estar a frente desse proejo.

— Meu Deus, eu nem sei o que te dizer, eu realmente não acho que tenha talento para isso.

— eu confio em você – Beatriz sorriu.

Flávia estava fazendo-se de contida na frente de Beatriz, mas o que ela queria mesmo era gritar para quem quisesse ouvir que Beatriz era uma perfeita idiota e que ela finalmente estava alcançando tudo o que mais desejava, mas ela contentou-se apenas em agradecer a Deus, em mais uma de suas cenas mentirosas e teatrais e chorar.

Os dias foram passando. A primeira edição da revista de Flávia foi um sucesso de vendas e os comentários na mídia já não eram tão pesados em relação a Flávia, mas sim em relação a Verônica, cujo julgamento estava cada vez mais próximo e pouco se ouvia falar dela que pouquíssimo saía de casa a essa altura, o que ninguém imaginava é que a trama estava prestes a mudar completamente, principalmente Flávia, que achava estar por cima e em menos de dois meses, Flávia já era indicada ao prêmio de Editore Revelação no prêmio do sindicato dos editores.

Era uma tarde de quinta-feira quando a secretária de Flávia informou que havia uma mulher lá, uma repórter chamada Marcela querendo falar com ela e alegava ser caso de vida ou morte. Como boa cristã que Flávia mentia ser, ela aceitou receber a mulher sem horário marcado, mas ela imaginava tratar-se de alguém desesperada por emprego ou querendo vender alguma história sensacionalista, então ela já sabia que encaminharia a mulher para o RH ou coisa parecida.

— boa tarde – Flávia estendeu a mão para cumprimentar a mulher.

— é bom você trancar a porta, o que nós temos pra falar você vai querer manter em sigilo absoluto – respondeu Marcela.

Flávia estranhou, mas trancou a porta. Ela agora tinha certeza que tratava-se de alguém querendo vender uma história sensacionalista qualquer.

— e que assunto é esse de tamanha importância? - perguntou Flávia.

— vamos direto ao assunto – a mulher abriu sua bolsa e tirou de dentro duas fotos que jogou sobre a mesa de Flávia – simples, aqui estão as duas fotos que podem acabar com sua vida e provar que a Verônica é inocente, a menos que você esteja disposta a fazer um acordo, isso irá tudo parar na caixa de correio da nossa amiga investigadora Clarice. Conhece a Clarice né, aquela que está com o caso do assassinato do Antenor, lembra do Antenor né, o homem que você matou – então Marcela sorriu.

Flávia ficou completamente sem reação.

— do… do que você está falando? - tentou disfarçar Flávia.

— a, que falta de educação a minha né? Eu vou te explica bem devagarzinho pra você entender bem. Eu sou fotógrafa e estava lá na noite do assassinato do Antenor. Dentre as inúmeras fotos que eu tirei, essas duas sobre a sua mesa são as mais interessantes, porque uma delas prova que a Verônica estava na mesa na hora da morte do Antenor que, segundo divulgado pela polícia, aconteceu entre 21h30 e 22h30 e a foto foi tirada às 21h57 e a outra mostra você subindo pelo elevador de serviço do prédio às 21h19. A e se você estiver se perguntando como é que eu tenho exatidão do horário das fotos é porque fica tudo registrado na memória da câmera – disse Marcela com um sorrido no rosto.

A expressão de Flávia mudou completamente.

— o que você quer? - perguntou ela.

— agora a estamos começando a nos entendermos – disse Marcela em um tom sarcástico.