Oblivion

Capítulo 21, ano quatro


Louna me ama! Ela me ama! Amor, para valer!

Meu Deus. O que eu faço com o resto das informações que ela me deu quando tudo que consigo pensar é nisso? Amor!

Sinto os cantos da minha boca se repuxando para cima num sorriso, enquanto ela ainda aguarda com apreensão por uma resposta. Ah, céus... Como somos ridículos! Gastamos todo o tempo dos últimos anos procurando por pessoas que só existiam nas nossas cabeças...?

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Louna ainda está com a mão apoiada em meu peito. Portanto, o que posso fazer por ora para demonstrar que ainda estou ali é colocar a mão por cima da dela e olhar fundo para seus olhos azul-escuro.

— Acredito em você — repito, debilmente. — Compartilho dos sumiços mentais que você disse, mas... Os meus foram em apenas um dia isolado no ano. Eu... Deveria ter dito isso antes, quem sabe não teria gasto tanto tempo imaginando coisas sem sentido e...

Minha afobação não torna mais fácil a fala. Pelo contrário: sinto o ar se comprimindo em minha garganta. Daqui a pouco, eu poderia ser mesmo um cadáver na mesa de experimentos do Pietr. Louna, por sua vez, não se abala – ela aperta meus dedos com delicadeza, insistindo em ouvir o que eu tinha a dizer.

— Eu sinto muito, Louna — concluo, engolindo em seco. Eu não era dado a sentimentalismos excessivos, mas era muita coisa que estava em jogo naquela hora. — Sinto muito por fazê-la agonizar à toa... Eu... Deveria... Deveria ter dito a você como estava me sentindo, e não... Ter escondido e... Esperado que estivesse tentando me magoar de propósito.

Daí, ela relaxa o ombros, uma vez que digo com todas as letras que eu a perdoo também. Nós dois estávamos errados, não é justo que eu dê as costas para ela agora. Com o relaxamento, Louna também recosta os cachos em meu peito em um abraço.

Tudo parece encontrar o seu lugar debaixo das estrelas. Quase ergo os olhos aos céus e agradeço por não ter estragado tudo ao menos uma vez na vida. Percebo que tenho de tomar alguma atitude, portanto acaricio seus cachos com delicadeza, pois sei que ela não gosta que os desmanchem. Então, me lembro de que ainda a devo uma resposta decente.

— Lou...?

— Hum?

— Eu também amo você. Se... Se não ficou óbvio até agora nas minhas tentativas patéticas de...

Obrigo-me a ficar quieto quando Louna olha para mim com um sorriso. Já faz um bom tempo que não o vejo; apesar de conhecer seu sorriso a ponto de decorá-lo, é bem melhor vê-lo ao vivo. Melhor ainda é saber que faço parte dele. Então, para retribuir à altura, seguro suas bochechas com carinho e puxo seu rosto com cuidado para poder beijá-la do jeito certo.

Com calma. Sem pressa. Degustando, como diria qualquer poeta barato por aí.

Das outras vezes, nos beijamos porque achávamos que iríamos perder um ao outro. Agora, fazemos porque não há mais nenhuma chance de nos deixarmos escapar de novo.

Tradicionalmente, não gosto de me sentir a mercê de nada. No entanto, com Louna posso abrir uma exceção.

Dessa vez, ao sentir o hálito quente de Louna em minha pele, não me sobressalto. Sei que ela está em meio a um cochilo e que provavelmente vai acordar de outro espasmo em breve, mas não posso deixar de tirar esses minutos para admirá-la em silêncio.

Como uma premonição, é isso mesmo que ela faz. Após um breve momento de confusão da parte dela e apreensão da minha parte, Louna pisca os olhos brilhantes para mim. Tenho medo de perguntar se ela ainda está aqui comigo. No entanto, me recordo que, segundo suas narrativas, hoje é meu dia no rodízio do esquecimento.

— Adrien? — ela murmura, num nível de sonolência que jamais permitiria mais do que isso. — Estou sonhando?

Nego com a cabeça, aproveitando para beijar sua testa com carinho.

— Cientificamente, as chances de sonhar que acabou de acordar são baixíssimas.

— Não me vem com papo inteligente, eu nem sei que horas são...

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— São... — viro o corpo para trás, para olhar o relógio de cabeceira que fica na cômoda dela. Que, comicamente, está coberto de pelos brancos de Chantilily. Tantos lugares para cochilar e a gata quer ficar na cômoda. — 2h41, dia nove de abril de 2019.

Louna se equilibra em um cotovelo, descrente de minhas palavras. Olha por cima do meu ombro, e logo em seguida deita-se de barriga para cima encarando o teto com um sorriso de orelha a orelha.

— E você ainda está aqui — ela comenta mais para si mesma do que para mim.

— Eu ainda estou aqui — replico retoricamente. Aproveito a oportunidade para rolar para seu lado e acariciar sua bochecha com o polegar. — E você também.

— Bem, é o meu quarto. A grande novidade é você, senhor Thomas.

Gargalho baixo, uma vez que entramos escondidos e não pretendemos fazer estardalhaço. Quer dizer, mais do que já fizemos, mas posso dizer que é incrivelmente surpreendente o que morder alguma coisa não resolve.

— Posso virar um frequentador, se assim a senhorita desejar.

— Meu Deus — ela gargalha de volta, abafando o som em meu peito. — Não, a gente precisa arranjar um lugar novo. É bom que aí terei uma desculpa decente para sair desse inferno que é essa casa.

— E Pietr pode ficar em algum lugar com a Marla...

— E Pietr pode finalmente ser livre e formado também...

— E nós também — sorrio, bem como ela. — Estamos merecendo um descanso, não estamos?

Louna assente com a cabeça, apoiando a bochecha em minha mão que já estava ali.

— Tem algum palpite inteligente do que pode ter acontecido durante todo esse tempo...?

— Improvável — murmuro absorto com a ideia. — Mas nem eu nem você somos supersticiosos a ponto de inventar uma justificativa plausível, não é?

— Hmhm. A gente pode pensar nisso outro dia, né...?

— Tem toda razão. Agora, só penso que amo você e meu palpite inteligente é que vai voltar a dormir dentro de cinco minutos.

Louna ri baixo, me abraçando pela cintura. Permanecemos em silêncio, apenas apreciando a companhia um do outro.

Talvez jamais saibamos o porquê de todos os desencontros místicos que o universo colocou em nosso caminho. Talvez desistamos de pensar nisso depois de algum tempo... Ou talvez a resposta venha a nós do mesmo jeito que a incógnita chegou de início.

De qualquer maneira, não importa agora. Já perdemos tanto tempo procurando respostas a perguntas impossíveis de ser respondidas que agora chegou o tempo de responder as que estão ao nosso alcance.

Estamos bem. Não somos mais um talvez. Somos um universo inteiro de diversas possibilidades e veias abertas. No entanto, todas elas levam ao mesmo destino.

O universo observável terá um fim, isso é certo. Mas, até lá, temos muito a viver.

É como dizem os poetas baratos: você tem duas vidas. A vida que você vive primeiro e a que você começa a viver depois que percebe que ela é finita. E eu estou de braços abertos para receber o que quer que a vida tenha a me propor de bom. Só que, dessa vez, não estou sozinho.