A chuva que cai, chuva que cai

Semeando as sementes de amor e esperança

Não temos que ficar aqui, presos no mato

Tenho a coragem para mudar, hoje? (...)

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Você não está sozinho, eu prometo

Juntos podemos fazer qualquer coisa

COURAGE TO CHANGE, Sia.

Julho costumava ser um mês quente de rachar desde que o Texas era o Texas. No entanto, com relação às chuvas, elas nunca davam sinal de vida ou aviso prévio quando vinham. Quando apareciam, eram nos momentos mais inoportunos possíveis. Por exemplo, os Thomas-Abbott contavam que fizesse um sol de rachar para a formatura do filho mais velho, Adrien. Obviamente, toda a turma de astronomia que se formava em 2019 contava com isso. A chuva, entretanto, escolheu visitar os moradores de Austin bem no dia em que boa parte da população estava com milhares de cosméticos nos cabelos e no rosto.

— Pensemos pelo lado bom, nós que temos cabelo cacheado estamos agradecendo por pararmos de suar — Maisie Thomas, a matriarca, falou. Ao seu lado, Adrien e Louna concordaram com a cabeça. Caleb e Mattie não contavam nestes termos, uma vez que tinham os cabelos mais puxados para o crespo do que para o cacheado. — É até bom o ventinho fresco, não acham?

— Não acho não... — Aimee, a terceira mais nova, grunhiu. Seus cabelos lisos haviam sido profundamente castigados pela chuva repentina. — Eu fiquei meia hora alisando o cabelo... E mais meia hora fazendo a maquiagem...

— A comida foi levada pelo aguaceiro... — foi a reclamação de Caleb, que pouco se atentava às reclamações da irmã.

Madeline e Daisy-Lynn, as irmãs menores, deram de ombros e voltaram a olhar pela janela da sala de estar. Elas já sabiam que tudo iria acabar em pizza e risadas. Ai, adultos eram tão complicados...

— Pelo menos o diploma não molhou — Louna contribuiu para o lado positivo da coisa. Todos eles tiveram de concordar com um suspiro. Adrien duvidava de que alguém fora a namorada se lembrasse do diploma agora. — Podemos pedir umas pizzas assim que diminuir um pouco a chuva, para o entregador não vir nesse dilúvio...

Agora sim a garota tinha tocado no ponto sensível de todos. Com um grunhido, Aimee ofereceu a mão para Marla e Joelle. Aimee estava naquela fase da adolescência onde garotas mais velhas eram seres a serem cultuados.

— Vamos, eu empresto meu secador de cabelo. Já voltamos, mãe.

Marla e Joelle, por outro lado, eram filhas únicas; portanto, não achavam tão terrível serem mimadas pela mais velhas das meninas da casa Thomas-Abbott. Uma vez que Caleb voltou a entreter-se com o celular e as meninas mais novas correram para o outro quarto para brincarem, o restante dos adultos permaneceu espalhado pela cozinha e pela sala de estar. Subitamente, Mattie sugeriu:

— É... May, Franz? Vocês ficaram de me passar aquela receita de cupcakes que fizeram para a aula da Daisy!

— Cupcakes? Nunca é demais — Pietr acrescentou.

— Oh, é claro! — Maisie sorriu, de uma maneira até bem convincente. — Caleb, querido, pode no ajudar na cozinha? Eu me esqueci de qual era aquela pizzaria que ligamos da outra vez...

Caleb demorou a reparar qual era seu papel na tramoia. Já Louna, por respeito à autoridade de Maisie Thomas, fingiu não ter percebido nada. Infelizmente, mulheres são dotadas de intuição certeira desde que o mundo é mundo, então não foi difícil para Louna deduzir de que se tratava.

— Eu tenho o contato — Caleb balbuciou um tanto quanto impotente aos encantos da mãe. Francamente, quem conseguia?

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— Ótimo. Então pegue para nós enquanto preparamos os cupcakes. Importam-se, queridos?

— À vontade, mãe — Adrien adiantou-se para beijar os cachos dourados da mãe. Louna derreteu-se com a cena, e foi como se seu coração estivesse se comprimindo dentro do peito. Do jeito bom, é claro. — Vamos ficar aqui com a chuva, se vocês também não se importarem.

— Imaginem. Qualquer coisa é só gritarem, tudo bem?

Adrien e Louna confirmaram com a cabeça, observando enquanto os cinco saíam para dar privacidade aos pombinhos. Louna foi obrigada a reprimir a vontade de rir que despertava de dentro de si como uma supernova, como diria Adrien.

— Eu fico me perguntando quando será que vão parar de nos tratar como pré-namorados — Adrien brincou, olhando para a namorada de soslaio. — Porque, seriamente, o cupido aqui já fez o seu trabalho para todos os lados, não é mesmo?

— Vai saber... O nosso cupido foi bem malvado, quem sabe ele não esteja tentando compensar?

— É uma possibilidade, é claro.

Ambos caíram na gargalhada após a constatação, mas logo o formando oferecia a mão para que sua bela dama o acompanhasse no trajeto do tapete até o sofá. Louna aceitou a mão como quem aceita um cavalheiro levando uma dama até o altar. Era bom dar uma credibilidade para o pobre cupido, afinal de contas. Ele levou uma vida muito complicada.

— Bem, queira ou não queira, uma vez que estamos aqui acho que posso me dar o direito de dizer uma ou duas coisinhas — Adrien fingiu espreguiçar-se para poder passar o braço ao redor dos ombros de Louna. Corroborando para o plano, ela fingiu não ter se dado conta e permaneceu bem onde estava. — Sei que não é o formando que faz o discurso, mas hoje estou me sentindo particularmente inspirado.

— Oh, é mesmo?

— É mesmo — aproveitando a proximidade, Adrien beijou a ponta de seu nariz, o que fez com que a garota ficasse estrábica tentando acompanhar o movimento. — Meu discurso de hoje vai para minha namorada que, ainda que eu não soubesse ou não lembrasse, foi o principal motivo de eu estar aqui hoje. Então, se a plateia imaginária quiser aplaudir, agora é a hora!

As bochechas de Louna se inflaram em vermelho. Era sempre adorável vê-la constrangida, pelos motivos certos. Lá fora, um trovão assustou-os, mas já que estavam em companhia um do outro foi suficiente para não passar de um sobressalto leve.

— Chuva, não atrapalhe meu discurso, faça-me esse favor — Adrien falou para a janela, franzindo a testa. — Apesar das piadas, eu estou falando sério, Lou... Ainda é algo nublado, e tenho medo de sempre ser, mas a parte que quero manter fresca é que por algum motivo você se motivou a estar aqui, sem ganhar nada em troca... E isso fez toda a diferença.

— Como não ganhei nada em troca? Eu ganhei uma família inteira...

Foi a vez de Adrien parar para ouvi-la. Louna dificilmente abria o coração mesmo para as pessoas em que mais confiava – e ele não a culpava, com os pais que sempre a inibiram e a taxaram como louca quando estava com problemas –, então quando acontecia, era o mínimo parar e escutar atenciosamente.

— Podia não saber que o que estava fazendo na época me levaria de volta a você, sim, mas... Não quer dizer que eu não me diverti ganhando um ambiente familiar agradável. Dinheiro era o de menos. Sua mãe tem um amor pelos filhos quase palpável... Era algo que eu não conhecia e... Eu queria conhecer — Louna riu fraco, brincando com os nós dos dedos do namorado. — Nesse caso, você foi um prêmio que eu amei encontrar aqui.

— Ah! Eu não sabia disso...

— Claro que não... Nunca contei para ninguém como me sentia. Tanto que você até me estranhou naquela época.

— Foi inevitável não estranhar, tem que admitir.

— É... Mas ainda assim, eu... Agradeço por naquela época você me ter tão em alta, Adrien. Obrigada.

Em seguida, ela ergueu a cabeça para alcançar os olhos castanhos que a fitavam com tanto carinho. Adrien sentiu-se muito mais sortudo do que havia se dado conta de início. De repente, a ideia de um discurso parecia boba demais para ser colocada em prática. Portanto, aproveitando que já estava posicionado para isso, Adrien roubou-lhe um beijo, sendo retribuído por um riso baixo e adorável.

— Não só naquela época, mas agora ainda mais — então, ele sorriu daquele modo amável que Louna sempre se rendia por falta de opções. — Eu amo você, Louna.

— Também amo você. E não vou te deixar sozinha. Não mais.

Ela estendeu o dedo mindinho, e Adrien aceitou-o com um sorriso brincalhão. Daisy-Lynn fazia-o milhares de vezes, mas um gesto daqueles vindo dela ganhava outro significado. Por isso Adrien retribuiu-o segurando o dedo com o seu próprio mindinho, selando a promessa com um beijo.

— Passamos uma borracha nos nossos buracos a serem preenchidos e o que vai contar é daqui para frente. Certo?

— Você tem toda razão — Adrien piscou para ela.

— E quando não tenho?

— Olhe, veja bem...

— É só o ditado! — Louna gargalhou, recostando-se no peito do namorado. — Mas dessa vez tenho razão, mesmo.

— Vamos comemorar os novos começos com chuva e pizza?

Os “pombinhos” trocaram um sorriso. Seus dedos ainda estavam unidos quando Louna sussurrou seu voto final:

— É uma ideia amável.

Por infelicidade ou não, os Thomas-Abott eram inconstantes como as chuvas de verão em Austin. Logo Maddie e Daisy estavam correndo para se juntar ao casal preferido no sofá, Aimee e Caleb estavam discutindo o sabor da pizza e Franz e Maisie estavam suspirando com a tentativa de controlar os cinco monstrinhos que chamavam ocasionalmente de filhos.

O que seria de Louna sem eles?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.