Depois que Brienne teve um aborto espontâneo, o Lannister passou a dormir em um quarto de hóspede, deixando a dama sozinha na cama de casal.

Apesar do ditado "Um leão não chora", o Lannister se permitia derramar uma lágrima ou duas algumas noites, enquanto fitava a escuridão em seu novo aposento. Chorava pelo seu filho ou filha que não nasceu, mas, principalmente, chorava pela sua dama de Tarth. Sabia que a mesma estava triste, mas seria muito pior se o afastasse. Temos que passar por isso juntos, garota, pensou Jaime, enquanto tentava sufocar suas lágrimas, em vão. O que aconteceu com você? Por que está assim comigo?, se perguntava todas as noites.

Cada dia que passava, o leão tinha cada vez mais certeza de que Brienne já não o amava mais. Ela se arrependeu de ter se casado comigo, pensou, entrando em desespero.

Limpou as lágrimas com raiva e se levantou da cama. Olhou pela janela do seu quarto e viu que o céu estava negro, com apenas a lua cheia iluminando vagamente as ruas e alguns contornos de seu quarto. Estava frio, mas Jaime não queria ligar a lareira para se esquentar. Essa noite, queria dormir em sua cama, junto de sua mulher.

Seguiu em direção ao quarto de Brienne de Tarth e entrou, sem bater na porta.

– Quem é? - Perguntou Brienne, que sempre teve o sono leve. Sua voz estava trêmula, e Jaime percebeu que a mesma não estava dormindo e, sim, chorando.

É por isso que não quer dormir comigo?, se perguntou Jaime. Não quer que eu a veja chorando? Não quer que eu veja suas fraquezas?

– Sou eu. - Respondeu Jaime, não havia calor em sua voz e a mesma estava rouca pelo pouco uso.

O quarto estava mais iluminado do que o seu novo aposento, pois a lareira estava acesa.

Sentou-se na beirada da cama, e sentiu Brienne ficar tensa. Levantou sua mão esquerda e hesitou por alguns instantes, mas logo colocou-a sob o ombro da garota.

– Eu quero dormir. - Disse Brienne, sua voz dura. Era a única voz que usava para se dirigir ao leão ultimamente. Jaime sentiu uma pontada de raiva e, antes de poder pensar melhor, apertou o ombro de Brienne, fazendo-a se virar na cama, obrigando-a a olhá-lo.

Seus olhos de safiras estavam vermelhos, assim como seu nariz. Ela não para de chorar nem um minuto, percebeu Jaime, e a raiva momentânea passou. Sentiu um aperto no coração.

– Eu também quero dormir, Brienne. - Respondeu o leão, sustentando o olhar de safiras da dama de Tarth. - Mas eu quero dormir com você. Não quero que se culpe pelo resto da vida. Quero a mulher que eu amo de volta, não essa garotinha triste.

Brienne arregalou os olhos.

– Jaime... Faz apenas duas semanas! - Gritou, seus olhos de safiras continham um brilho perigoso, e o leão percebeu que havia dito o que não devia. - Como quer que eu supere que meu filho morreu?

– É tanto seu quanto meu. - Interrompeu o Lannister, sua voz e seu olhar duro.

Brienne se sentou na cama, fitando os olhos do leão.

– Garotinha triste? - Repitiu Brienne, indignada. - Eu quero um tempo para mim, só isso. Todos os filhos da minha mãe estão mortos. E ela morreu ao dar a luz à sua última filha. Ela era fraca, talvez eu também seja.

De repente, pareceu difícil olhá-la por muito tempo. O leão desviou os olhos, fitando o colchão da cama.

– Você... Você nunca me disse isso. - Respondeu Jaime.

– Olhe para mim. - Exigiu Brienne, e o Lannister obedeceu. Seus olhos de safiras estavam arregalados, mostrando sua ira. - Talvez eu nunca possa te dar herdeiros. Já pensou nisso?

– Eu nunca pensei que ia ter algum filho. Não um filho que pudesse assumir. - Respondeu Jaime. - Então, só de ter uma esposa que eu amo ao meu lado, que possa dormir na mesma cama que ela, anunciar para o mundo que é minha, poder andar de mãos dadas, já basta pra mim. - A imagem do rosto de Cersei apareceu na mente de Jaime, e o mesmo sentiu lágrimas ameaçando cair. - Ficarei muito feliz o dia que você puder ter filhos comigo, que eu sei que você vai poder. Eu acredito nisso. Mas você é o suficiente para mim. Não sabe disso?

Os olhos de Brienne ficaram levemente umedecidos, e aquele brilho perigoso foi sumindo a cada palavra dita pelo leão.

– Então você não me odeia?

– Te odiar? - Agora foi a vez de Jaime gritar. - Oh, sua garota estúpida. Eu te amo, Brienne. Eu te amo.

Brienne o calou com um beijo apaixonado. Fazia duas semanas que seus lábios não se encontravam, e Jaime sentia muita falta disso.

Só o beijo quente da garota fez com que seu membro ficasse ereto, mas não fizeram amor nessa noite.

Brienne permitiu que Jaime compartilhasse a cama com ela, o que já era um bom avanço, e o leão se sentiu satisfeito por isso. Parece que ainda há esperança para nós, afinal. Pensou, enquanto fitava a escuridão do quarto, e se permitiu dar um sorriso.

Ao fechar os olhos, sonhou que Brienne carregava um bebê de colo. Ao chegar mais perto, viu que era uma garotinha com olhos azuis iguais o da mãe, cabelos dourados e sardas no rosto.