O último Suspiro de Anne Ryan

Capítulo 10 - Escuridão


- Eu ouvi. E eu não queria que a pessoa que disse aquilo deixasse de existir.

Eu não queria não existir. Eu não queria que aquele fosse o fim. Não queria abandonar quem eu mais amava no mundo. Aquela voz... eu não queria esquecer. Mas a escuridão que me engolia não permitia nem que eu lembrasse do seu rosto.

Eu poderia ter sentido medo, se soubesse o que estava acontecendo ao meu redor, se sentisse calafrio ou qualquer aproximação. Era como se minhas pálpebras estivesse coladas, eu abria os olhos o máximo que podia, tentava enxergar, mas a escuridão me cegava.

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Era assim que eu passaria minha eternidade? Era assim que eu seria castigada? Eu não consigo nem pensar em como alguém poderia suportar tal infelicidade.

Movi meus braços tentando encontrar algo em que tocar, estiquei meus pés procurando o chão, mas eu parecia estar flutuando numa névoa fria. Eu podia sentir o frio. Muito frio. Estava congelante.

Eu também não conseguia ouvir coisa alguma. Escutava apenas o apito insuportável do silêncio, que parecia querer perfurar meu ouvido, como uma agulha fina e pontiaguda.

Não achem que eu não lutei. Eu lutei sim. Mas contra o quê? Como lutar contra algo que nem sabemos o que é?

Mas agora eu sei bem o que era. Era o fim.

Meus braços não mais se moviam, eu estava enfraquecida. E foi então que eu entendi. Eu não flutuava. Eu me afogava, uma vez, e mais outra vez, e outra vez. Era como reviver minha própria morte.

Eu senti a agonia de perder o fôlego debaixo d\'água. Era a pior coisa que eu poderia esperar. Reviver minha morte. Morrer várias vezes e sem chance de ser salva. Esse era o verdadeiro castigo. Assim que eu pagaria pela minha decisão estúpida.

A escuridão tomou conta da minha mente, e me impediu de tentar lutar. Me entreguei.

- Anne? - ouvi uma voz que eu tão bem conhecia. A voz suave e gentil que salvara a minha... morte infeliz. A voz suave que me fizera feliz nos meus últimos suspiros fantasmagóricos, se é que isso existe.

Não havia claro com escutar a voz dele no fundo do mar negro. Não havia. Era minha mente. Eu tinha certeza.

Ouvi o seu chamado mais de uma vez e tentei não pensar nisso, até que ao longe, uma luz gentil brilhou. Eu mal pude abrir meus olhos, mas pela brecha que consegui, vi um par de all stars azuis nadando na minha frente e logo em seguida uma mão puxou o meu corpo.

Vi seu rosto em um relance, mas tinha certeza de quem era. Não precisava mais que isso para saber que Antwon viera me buscar.

Ele me levou a até então desconhecida superfície do mar. Sem fôlego, ele precisou de alguns minutos até dizer alguma coisa.

- E-eu... Eu vim buscar você! - disse ele tentando recuperar o fôlego e segurando meu rosto com desespero. Eu não pude evitar e então pus-me a chorar. E ele também. - Não deixaria você ir... Não posso deixar. Você é tudo pra mim. Acredite quando eu digo. Eu não quero que você deixe de existir! Eu preciso de você.

- Como você chegou aqui? - perguntei enquanto ele me abraçava fortemente.

- Eu não sei, e-eu acho que me desloquei pra cá. Eu não sei. Eu entrei em desespero quando você sumiu e... eu vou tirá-la daqui.

Mas ao terminar a frase, a escuridão me puxou novamente. Iria me levar para o meu castigo. Não poderia deixar que o levassem também. Eu queria estar com ele, nem que fosse pra viver a eternidade no escuro. Mas eu o amava demais para deixá-lo sofrer daquele jeito.

- Antwon... - comecei.

- Venha! Vamos embora! - disse ele me puxando.

- Antwon. Você não pode me levar. Esse é o preço que eu tenho de pagar.

- Ninguém merece viver na escuridão.

- É esse o problema. Eu não estou mais viva. Eu estou morta. E você tem que ir embora.

- Anne...

E essa foi a última palavra que eu escutei de Antwon, antes de empurrá-lo para fora da escuridão. A luz que ele trouxe consigo desapareceu e eu estava completamente sozinha...