O príncipe, a cientista e o plebeu

Enfim, um diálogo decente


O dia começava a amanhecer quando retornaram para casa. O pequeno Trunks, por fim, podia dormir sossegado. E sua versão mais velha ainda não havia recuperado os sentidos. Enquanto isso, no outro quarto, Bulma já havia providenciado a caixa de primeiros socorros. Era algo aborrecedor, mas apesar disso fazia sem reclamar muito. Estranhamente, nos últimos dias havia sentido falta de “cuidar” de um certo saiyajin quando ficava ferido.

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― Ainda bem que sempre tenho uma caixa dessas de reserva aqui no quarto, senão nem sei o que faria, viu?

Vegeta simplesmente grunhiu. Apesar de estar sentado à beira da cama já sem a armadura, ainda se sentia bastante esgotado. Mesmo assim os ferimentos que havia sofrido na luta não haviam sido tão sérios: fora o grande cansaço, seu corpo acumulava apenas alguns hematomas, cortes e arranhões mais superficiais. Após colocar o último curativo no rosto do saiyajin, Bulma o encarou, olhos nos olhos:

― Você está bem, Vegeta?

Ele logo desviou o olhar e respondeu:

― Tire as suas próprias conclusões. – esboçou um sorriso irônico.

― Hum... – ela fingiu adivinhar, colocando a mão no queixo com uma falsa atitude pensativa. – Apesar de cansado, você se sente bem porque voltou a fazer o que mais gosta, não é mesmo?

― De certo modo. – cedeu. – Eu estava agindo como um idiota.

― Olha, Vegeta... O que o Trunks tinha pra agir daquela maneira?

― Aquele velho cientista gagá tinha implantado algo no pescoço dele.

― Entendo. Com aquilo ele controlou o Trunks. Velho sacana! Ainda bem que você conseguiu tirar aquilo dele a tempo. E a propósito... Fazia tempo que eu não te via vestido assim.

― Qual é o problema com a minha roupa?

― Ah, nada... Nada.

― Quando o Trunks acordar, diga que eu estou na sala de gravidade recuperando o tempo perdido.

― Pode deixar. – ela disse agora sorridente. – Mas... Não tá faltando algo?

Ela deu uma piscadinha, deixando-o meio confuso.

― O quê?

― Ahh... Nada, nada... – ela disse. – Depois do treino a gente pode conversar um pouco?

― Que seja.

*

Sentia-se bastante revigorado apesar do grande cansaço que o dominava. Após se exercitar por algumas horas, desligou a gravidade aumentada e sentou-se no chão em posição de lótus. Fechou os olhos e procurou acalmar a sua respiração. Seu corpo pedia por um descanso logo após isso e, mais cedo, após a luta que travara com Trunks. As habilidades do jovem se mostraram muito impressionantes. Não sabia que ele possuía tanto poder assim. Ele escondera o tempo todo seu verdadeiro potencial.

Mas... Por que ele fizera isso?

Ouviu a porta da sala de gravidade se abrir e não precisou abrir os olhos para sentir a presença do recém-chegado Trunks. Abriu os olhos negros para encará-lo, o rapaz sentou-se à frente dele com uma fisionomia bastante séria. O viajante do futuro estava bem mais introspectivo do que o normal e não parecia muito disposto a encarar o olhar penetrante do pai. Era como se ele estivesse envergonhado.

Mas de quê?

― Desculpe a demora, eu acordei há pouco e ainda estou sentindo os efeitos da luta que tivemos.

― Já percebi. – Vegeta respondeu seco e foi direto ao ponto. – Trunks, desde quando você esconde o seu verdadeiro poder?

A pergunta o pegara de surpresa. Não se lembrava de ter lutado com todo o seu poder diante do seu pai, mas não foi preciso ele dizer isso. Os curativos em seu rosto e o cansaço lhe davam uma mostra do que ocorrera. Já havia percebido que dera um trabalho considerável a Vegeta.

― Me desculpe, pai. – murmurou.

― Eu fiz uma pergunta, não disse pra você se desculpar. Desde quando você esconde seu verdadeiro poder?

O olhar penetrante do príncipe saiyajin foi o suficiente para colocar Trunks contra a parede. O jovem de cabelos cor lavanda não teve outra escolha senão falar:

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― Eu faço isso desde o nosso treinamento na Morada do Tempo. Não queria ferir seu orgulho.

― Acho que desta vez meu orgulho estava tão ferido que não senti essa. – Vegeta sorriu com ironia.

― Não?

― Vou ser bem franco com você, Trunks. Meu orgulho já estava bem ferido quando vi você mostrar seu verdadeiro poder. E isso acabou me fazendo ter vontade de te superar... E, por consequência, me fez perceber o quanto eu estava sendo estúpido.

― Espero que não fique furioso com o que vou te dizer, papai, mas você realmente estava sendo estúpido.

Vegeta se levantou e se colocou em posição de combate:

― Agora não estou mais... – ao dizer isso, se transformou em Super Saiyajin. – Vamos! Quero que me enfrente com todo o seu poder!

O jovem Trunks também se posicionou e deu um sorriso brincalhão. Sabia que isso era o mesmo que seu pai dizer “Quero que seja meu adversário de treinamento!”. Transformou-se em Super Saiyajin também e ironizou:

― Tem certeza? Não vou pegar leve com você!

Após isso, o combate entre pai e filho começou. Trunks realmente não facilitou contra Vegeta, que não se importava com a dificuldade da luta. Naquele momento, tudo o que importava era estar fazendo o que mais sentia falta: lutando para se superar cada vez mais.

E, enquanto estivesse lutando, nada mais lhe importava no momento.

*

Deveria prever que sua caixinha reserva de primeiros socorros seria usada novamente. E lá estava Bulma na tarefa de bancar a socorrista mais uma vez, colocando curativos e bandagens em Vegeta. Só faltava ele estar compensando o que não aprontara nos dias sem lutar. Era engraçado que desta vez ele tinha uma expressão satisfeita em sua face. E só por isso Bulma se sentia mais aliviada. Sabia que Vegeta estava em seu “normal”.

― Definitivamente você não tem jeito, Vegeta... – ela disse. – Mas esses dias eu sentia falta de te ver assim. Não todo arrebentado, mas você sendo você mesmo.

― Você nunca achou isso divertido. – ele respondeu com um sorriso debochado.

― É, mas desta vez é diferente.

― Você é mesmo muito estranha.

A cientista, em vez de se ofender com aquilo – como normalmente fazia – se aproximou “perigosamente” do saiyajin. Mais precisamente, a distância entre os dois rostos era de praticamente pouquíssimos centímetros. Ela deu um sorrisinho bem malicioso e cobriu o restante da distância, só parando nos lábios do saiyajin com um beijo que há muito tempo não dava nele. Não houve nenhuma resistência da parte de Vegeta, que logo correspondeu. Era um momento que há muito não se permitia desfrutar devido ao afastamento ao qual ele mesmo se impunha.

Demorou, mas percebeu que estava simplesmente fazendo uma grande besteira em ficar se restringindo e se culpando. Apesar de ser saiyajin, apesar de ser guerreiro, apesar de tudo, era um homem. E tinha a necessidade de alguém... E esse alguém era Bulma. Poderia ser estranha a seu ver, ser maluca, ser irritante e tudo mais, mas fora a única, até então, capaz de se aproximar dele. Ela fora capaz de passar por suas sólidas barreiras que ele mesmo criava. Não precisara de força física para tal, não precisara ser uma poderosa guerreira. Só precisara ser quem era. E criar empatia.

Eles formavam, querendo ou não, um estranho casal.

Logo os dois se separaram, olhos negros encarando longamente os olhos azuis. E a Vegeta, naquele momento, ocorreu apenas um pensamento... Na verdade, uma pergunta:

Bulma era sua salvação... Ou seria sua perdição?

Só o tempo seria capaz de lhe dizer.