O outro lado do clichê

3 - Keep Calm e não me chame!


Capítulo três

Keep Calm e não me chame!

"É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a vida, quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música."

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(Honoré de Balzac)

Encontrava-me jogada no sofá da sala vendo um filme qualquer do gênero desenho animado com um biscoito de água e sal de um lado e suco de uva feito com o pó industrial do outro. De tão doce que era me fazia tossir a cada gole que dava.

“Não poderei ir hoje” — Mãe.

Respondeu-me ao perguntar se viria para a casa.

Sim, ela é a única que converso por mensagens. Algum problema?

“Vai onde?” — Audrey.

Que não seja o que estou estou pensando, por favor.

“Plantão” — Mãe.

Nem sequer mandei algo e disquei o número do hospital rapidamente. Enquanto eu rezava para que estivesse falando a verdade. Perguntei os nomes das enfermeiras que ficariam e ao ouvir a atendente falar seu nome fiquei aliviada.

Ainda bem que não estava naquele lugar terrível.

Quando percebi que os créditos subiam na tela aproveitei para olhar o computador. Olhando um site e outro até que...

“Você perdeu”

Não acredito que eu não consegui nem vencer um jogo insignificante como esse. E ainda é recomendado para crianças de seis anos. Tentei um jogo de maquiar e arrumar a mulher para o encontro, mas em todas as vezes o homem não gostava do que via.

Sempre recebia uma nota cinco para menos.

Vamos tentar uma coisa para a minha idade mesmo.

E lá estava eu vendo umas imagens e páginas tão engraçadas que me fizeram soluçar de tanto que ri, só que levei o maior susto e pensei que estava doida quando vi uma janela de bate papo subir e um demônio de olhos verdes veio fazer a recepção.

Será que estou no inferno?

“Boa tarde mulher das cavernas.” — Evan.

Lá estava ele me atormentando em uma rede social.

E no e-mail.

“Mandarei algo como lembrança.” — Evan.

Vai me azucrinar por mensagem no celular também?

E enviou justo a nossa foto?

Por quê?

“Como conseguiu meu número?” — Audrey.

Tratei de ignorar a imagem a qualquer custo.

Aquilo me dava náuseas.

“Transei com a secretaria e o consegui. De qual jeito mais poderia pegá-lo? Ninguém teria o teu contato além da escola.” — Evan.

Ele é nojento.

Eu sei que eu sou uma solitária esquisita, mas e daí? Não tem nada de tão errado nisso. Só é ruim quando temos trabalho em dupla, em grupo, para sair e quando necessitamos de algum conselho, para nos ouvir, fazer uma festa do pijama e dividir o dinheiro do meu lanche.

Se tivesse alguém para fazer esse último eu amaria a pessoa pelo resto da minha vida.

“Não tem um encontro hoje não?” — Audrey.

Mandei ao torcer para que parasse com esses assuntos.

“Só queria te deixar uma lembrança de que beijou o cara mais lindo e maravilhoso que já viu. É como um sonho não?” — Evan.

Se acha!

Possivelmente deve ser daqueles que postam frases como “partiu academia” e fica batendo foto o no espelho com uma roupa de criança, ao ponto de me fazer perguntar como conseguem usar algo tão apertado.

Será um mistério do qual nunca saberei, até porque pretendo casar com um cara que rico e inteligente. Que pagará para mim vários lanches e usará camisas do tamanho ideal. Estou me esforçando para isso.

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“Entenda, um burro nunca terá compatibilidade com uma cadela.” — Audrey.

Respondi ao me lembrar do que ocorreu antes.

“O que é isso? Quer me dar aula de biologia? Pelo que me lembre estávamos conversando sobre química. ;)” — Evan.

Até uma piscadela virtual dele faz meu corpo vibrar de tanta raiva!

“Não, pelo que sei é filosofia. Porque apenas você acredita que existe algo a ver com química entre nós.” — Audrey.

Dessa vez está demorando um pouco para me responder.

Será que está procurando algo na internet? Não me surpreenderia.

“Está dando uma de filosofa mesmo, opinando sobre algo que não é verdade. Todas são apaixonadas por mim, inclusive você!” — Evan.

Estou cansada disso já.

“Então vamos parar de deixar de falácias e ser diretos? O que quer?” — Audrey.

Se resolver se despedir ficarei grata.

“Você avisará quando eu estiver com uma garota e Catherine chegar.” — Evan.

Agora foi curto e grosso.

“A que te odeia?” — Audrey.

Quando você me perguntar e eu disser que não adoro o provocar é mentira. Mesmo que eu goste de ficar dando uma de falsa com minha mãe, isso seria algo que realmente responderia com vontade.

“Isso é só um detalhe.” — Evan.

Pelo jeito ficou irritado. E quando isso ocorre o meu sorriso fica parecido com o do coringa – o que é estranho.

“Não sou tua babá sabia? Então nada de ficar te vigiando para que não se dê mal com a princesa do gelo. Se quer seja homem e tente conquista-la sem ficar dando em cima de outras garotas.” — Audrey.

Cadê ele que não me envia uma mensagem?

Apesar de não ser a melhor companhia estou gostando desse jogo. Sim, eu sou carente. Isso significa que se uma pessoa da testemunha de jeová viesse pregar algo eu ia dar um abraço nela e recebe-la em casa.

“Vai e pronto. Ou quer que eu mande para todos a nossa foto em apenas um clique? Faço com maior prazer.” — Evan.

Repito: É o diabo em forma de gente.

“Sim. Não poderei te responderei, estou muito ocupada.” — Audrey.

Ele me mandou ainda uma de volta perguntando se era com os estudos. Nem sequer respondi e fiquei rindo enquanto relia a nossa discussão. Pode ser que seja uma pessoa egoísta, idiota, destruidor de corações, galinha e um canalha, mas quem diria que esse garoto seria o primeiro a conversar comigo por SMS da escola?

Nunca ia imaginar algo assim.

Sol lindo.

Dia Maravilhoso.

Eu rica e poderosa acordando do mesmo jeito que dormi.

O melhor homem do mundo deitado ao meu lado.

É assim que me imagino no futuro.

“Não esquece do nosso acordo Drey! ♥” — Evan.

E tudo o que eu sonhei foi por algo abaixo quando vi algo assim ao despertar. Só podem estar brincando comigo não? Tirando com a minha cara com toda a certeza.

Mas e esse apelido ridículo? O que é isso?

“Pensei que meu pedido de que morresse logo tivesse se tornado realidade. No entanto, já que infelizmente está vivo mando o recado: Vê se me esquece, larga do meu pé, deixa-me em paz!” — Audrey.

Pequei minha mochila e nem sequer toquei no meu celular para que não fizesse a besteira de cometer um assassinato hoje. Só que ao ouvir o som peguei-o de imediato.

Por que será que não aguento? Pronto, agora virei uma curiosa mentirosa.

“O ódio está mais próximo do amor do que imagina sabe?” — Evan.

Qual QI será o dele para não entender o que enviei? Estava com muita vontade de descobrir isso.

“É? Então te contarei uma bela história. Você para mim é como uma formiga. Se pisei em ti ou não pouco me importa, as vezes nem noto e me é indiferente.” — Audrey.

Ao chegar no colégio vi a mula com os jumentos ao seu redor.

— R$120,00 para pegar a Catherine? Deu tudo isso? — ouvir sua voz era pior do que ler suas palavras.

— Sim, muita gente acha que ficarão juntos até o final do ano. — declarou outro.

Eu que não ouvirei isso.

Tenho coisas melhores para resolver. Como ler o livro que tenho comigo e arrumar o armário. Para que ficar escutando fofocas de adolescentes? Isso não é algo para seres inferiores como eu.

— E já sabe o que fazer?

Infelizmente sou curiosa demais para ouvir esse meu outro lado.

— Tenho uns planos, mas agora vou lá conversar com uma gata e já volto. — declarou.

Vi-o andar a passos lentos para uma garota loira.

Por que eu não conseguia tirar meu pé daqui e ir para outro lugar?

— Só o veremos no meio da primeira aula de certo. — sussurrou um moreno.

Era um tal de Logan.

Ao me ver ele lançou um pequeno sorriso que me deixou surpresa. Seria mesmo para mim? Olhei até para os lados para ter a certeza de que não tinha ninguém perto ou atrás, mas só eu estava ali.

Simplesmente fugi pela vergonha enquanto tentava procurar o babaca de cabelos pretos ao ver a garota que queria conquistar.

— Parem de se beijar agora. — berrei.

Pegá-los se agarrando daquela maneira foi a coisa mais horrenda que já presenciei. Era melhor até ver um show de sertanejo do que isso. E olha que eu não gosto nem um pouco desse tipo de música.

Infelizmente eles fingiram não me ouvir e continuaram.

— Se não se soltarem agora vou chamar a Catherine! — exclamei.

Droga! Parecem dois cachorros depois do acasalamento.

Será que precisarei de água fria para se soltarem?

Não, felizmente me obedeceram quando pulei nas costas dele.

— O que está fazendo mulher das cavernas?

— Pior que ela parece mesmo uma. — riu a garota.

Acho que terei mais outra para colocar na minha lista negra.

— Ela está chegando. — sussurrei em seu ouvido.

Penso que se a outra ouvir vai ficar chateada.

— Boa cachorra. — declarou quando ficamos a sós.

Dei uma de surta para não enfiar a mão na cara dele.

Um tempo depois uma garota alta, bonita e com uma expressão irritada apareceu na porta de maneira afoita.

— Onde está a sua ficante? — deu um grito.

Deu de ombros ao me olhar. Como se não acreditasse que fosse eu.

— Qual? Eu não beijo ninguém há tempo, mudei por você. — respondeu.

Aproximou-se dela e entrelaçou sua mão com a dela. Uma cena de casal de fachada, só se for. Esse seu ato é muito grotesco.

— Finjo que creio em ti. — rolou os olhos.

— É verdade. Não é Audrey? — virou-se para mim.

Agora sobrou para mim?

Ia negar, mas ao ver sua expressão mudei de ideia.

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— Sim. — com um fio de voz.

— E como sabe? — revidou.

Não tinha a noção do que responder.

A vida ainda nem tinha me preparado para esses momentos.

— Ela é minha amiga.

— O quê? Acha que acreditarei nisso? — deu uma gargalhada forçada.

Tão alto que meu ouvido chegou a doer.

— Ele está certo. — me intrometi do nada.

— Sério? — a mão na boca.

— Sim, andamos juntos por um tempo já. Ele está comportado desde que começaram as aulas ontem.

Sorte que sou uma boa mentirosa.

— Estarei de olho. — finalizou.

Só que quando ia sumir da minha vista o ser abriu a boca.

— Não vai nem me dar um beijinho? — sussurrou.

— Se está dando uma de padre como diz, isso não terá mesmo.

Só faltou isso para que ele ficasse calado por um bom tempo.

— Acho que realmente é melhor não ficar com ninguém por enquanto. — aconselhei.

Ele apenas riu na minha frente por um bom tempo e saiu sem nem dizer uma palavra.

Hoje, milagrosamente, apareceu na sala antes do sinal bater.

“Np Nedicp.” — Mãe.

Olhando o teclado do celular acho que era “no médico”. Só que isso não me importou e sim saber que só significava uma coisa, estava naquele lugar de novo.

Nem sequer perdi meu tempo ligando para o hospital e peguei a minha bolsa rapidamente. Não tinha nenhum dinheiro em mãos, mas precisava por conta dos documentos e o celular.

O ônibus que paguei com a carteira escolar parou em um lugar escuro, sem iluminação e com casas pequenas. Cachorros e lixo por todo lado enquanto eu passava pelo lugar. Quando cheguei em uma com luz vermelha eu entrei.

Por sorte ninguém cuidava da porta.

— Uma mulher baixa, de mechas loiras, olhos verdes e com uma tatuagem no braço passou por aqui? — perguntei para o homem do balcão.

Talvez não lembrasse quem eu era.

— A sua mãe? — quis saber.

De certo me conhecia de tanto que vinha aqui.

— Isso mesmo.

— Está sim. — respondeu.

Respirei fundo, deixei minha covardia de lado e subi as escadas. Tal minha incredibilidade e o quanto senti-me desapontada e traída ao ver aquela cena.

Encontrava-se pelada, dois homens ao seu lado enquanto bebia alguma coisa. Não parecia estar nada bem enquanto eles a aliciavam. Ver aquilo me deixava com raiva e nojo ao mesmo tempo. Lagrimas encharcavam meu rosto e eu tentava decidir entre fugir e deixa-la ali ou leva-la comigo. Mesmo eu sendo a filha muitas vezes é como se eu fosse a mãe, e esse era um desses momentos.

Simplesmente porque era fraca o bastante para ficar gastando dinheiro com álcool e prostituição. E qual o motivo? A morte do meu pai. Só que eu tenho de aguentar tudo isso? Não mesmo, ainda mais depois que ela me prometeu que ia parar.

É uma mentirosa. Como eu.

— Vem se divertir conosco. — ela disse.

Sinto vontade de vomitar.

— Vamos embora. Agora! — gritei.

— Mas aqui está tão bom. — a voz mudada por conta da bebedeira.

— Pare de se comportar como uma adolescente. — berrei perto dela.

— Não estou bem ao lado desses bonitões? — declarou.

Isso é muito ridículo.

— Põe a roupa. — mandei.

Me desobedeceu descaradamente e eu tive que vesti-la como em todas as vezes. Mesmo com seus protestos, berros e tentativas de tentar voltar para onde estava. Como os homens sabiam da situação deixavam.

No fim peguei o dinheiro na bolsa dela e os paguei, mesmo que minhas mãos tremessem. Saber que aquela quantia foi gastada para algo tão fútil e nada necessário me dava calafrios.

Dava para comprar uns 50 hambúrgueres.

Arrastei a pelos braços e fingia não ligar para os seus cambaleios e seu Estado. Será que amava tanto o meu pai para quase todo o dia fazer algo tão vergonhoso como isso?

— Eu não mereço cuidar sempre de seus caprichos. Você não cumpriu o que me disse.

— Desculpa. — era apenas o que dizia.

E isso se repetiu por um tempo enquanto dava um sermão.

Até ela parar e vomitar no meio da estrada.

Olhei para trás e notei um cara com um chapéu e uma faca nas mãos enquanto ia em nossa direção. Nem pensei e puxei minha mãe rapidamente, para depois correr com ela.

Sabia que nossas vidas estavam em risco.

— O que eu faço? — sussurrei.

O desespero bateu e de novo eu chorava.

— Liga para uma amiga sua. — respondeu.

Mesmo com a boca parecendo mole eu entendi.

Mas quem?

Peguei o celular e demorei um pouco para discar o número do desgraçado. Entrei em um lugar que considerava seguro para que eu pudesse acertar, porque se continuasse naquela velocidade o que faria era deixar meu aparelho cair várias vezes.

Atenda, por favor.

— Socorro, me ajude! — gritei pelo telefone.

Os gemidos femininos que escutava atrás me faziam ter os pensamentos mais sórdidos e também uma vontade de desligar na mesma hora.

— Deixa só eu... — cortei-o no mesmo instante.

— Até chegar estarei morta. — ameacei.

Ouvi passos ao meu redor enquanto soluçava de tanto medo. Por que minha mãe não poderia ser certa e sofrer em silêncio?

— É sua culpa. — mandei em sua direção.

Lá vou eu tentar fugir de novo daquele bandido.

— Minha? — ouvi a voz do outro lado.

— Não. Estamos perto da boate luz do sol. — declarei.

— Conheço bem. — declarou.

— Vai me pegar ou não? — já estava irritada.

— Não tem como ficar em outro lugar ou falar mais alto? Não entendo o que fala direito.

— Como sairei daqui com alguém armado atrás da gente? — briguei.

— É só mostrar tua cara feia para ele que irá embora na hora.

— Não é momento para brincadeiras.

— Esperará onde? — finalmente perguntou.

— Na parada de ônibus, mas vem rápido. — disse.

Desligou na hora enquanto eu tentava chegar lá.

Nem sei onde mora. Será que é longe?

Liguei para a polícia também enquanto torcia pela minha vida.

— Era seu namorado? — minha mãe falando besteira.

— Nunca. — rebati.

Um carro parou na nossa frente e abriu a janela.

É agora que morremos?

Se sim espero que pelo menos do outro lado seja bem melhor.

— Entra. — gritou uma voz de um conhecido.

Quando abri os olhos percebi que era nada menos que Logan. O que está fazendo aqui? Não acredito que quele idiota o chamou ao invés de vir.

— Claro. — sussurrei ao perceber que meu rosto ficou vermelho.

Além de curiosa e mentirosa, estou fazendo papel de boba.

E antes mesmo de entramos direito minha mãe vomitou no tapete do veículo.

O que ela quer? Envergonhar-me?

Justo na frente de uma pessoa que parece legal e é bonita?