Não se falava em outra coisa. Todos queriam saber o que foi que causou a destruição do aglomerado que apareceu na noite anterior. Era meio difícil acreditar nos depoimentos dos pilotos que foram designados aquela área. A única prova que confirma o relato eram as câmeras onboard acopladas nas naves de Clay e Emmo.

Em virtude dos acontecimentos, a peneira para determinar aqueles que entrariam para a Divisão F2 foi adiada para o mês seguinte. Temia-se que outra situação inesperada como a aquela da noite anterior pudesse acontecer novamente.

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Niki estava alheio a tudo isso, a única coisa que o preocupava era o fato de que seu segredo havia sido descoberto por sua única amiga e seu “rival”. Lilly se tornara distante, a não ser quando falava com ele o básico. James também não tocava no assunto, agia normalmente. Nos primeiros dias aquilo parecia uma tortura para o jovem, porem o tempo foi se passando, e ao final dequela semana, nem James, nem Lilly havia comentando alguma coisa com Niki.

O austríaco poderia achar que eles deixariam isso pra lá, mas o suspense que rondava sua cabeça não o deixava em paz, nem mesmo quando ele tentava dormir à noite. Duas semanas se passaram e nada, e o assunto sobre a ajuda misteriosa também havia perdido um pouco o interesse dos pilotos aspirantes. A investigação agora se restringia a primeira divisão, que estava sendo conduzida por Clay Reggazoni. Eram feitas rondas diárias pela Cidade dos Construtores na busca de alguma pista ou foco. Os jovens que testemunharam o fato não comentaram nada com ninguém, estavam receosos, pois achavam que aquilo poderia metê-los em uma encrenca. Ou talvez ninguém acreditasse que eles estavam ali onde os carros foram arremessados.

Mas as coisas mudaram naquela sexta feira chuvosa. Os treinos daquele dia haviam sido cancelados, devido à intensidade da chuva. Niki aproveitou para fazer suas pesquisas rotineiras na biblioteca do Paddock. A biblioteca não era muito frequentada pelos recrutas, então era normal que ela estivesse pouco movimentada, lá tinha todo o material desde livros, artigos e informações coletadas por pilotos em missão, ou pelo analistas de cada escuderia. A maioria dos pilotos se preocupava em aprender o combate e básico para poder ter êxito nos confrontos. Para Niki, o básico não contava, ele queria saber tudo. Tudo o que pudesse estar ao seu alcance e o que poderia ser útil para que ele se aproveitasse de suas habilidades em seu “trabalho”. Neste exato momento ele fazia anotações rebuscadas em seu velho caderno de capa de couro, quando duas mãos espalmadas bateram contra a mesa. Ele se retraiu com o ato recompondo-se na postura e então encontrou o rosto de Lilly. Ela estava corada e levemente ofegante.

— Eu não posso mais aguentar! – ela sussurrou em alemão – Preciso saber!

Ele não disse nada, com seu costumeiro ar frio.

— Não se faça de bobo! Você sabe muito bem sobre o que me refiro!

Niki se levantou da cadeira olhando para os lados, não havia ninguém circulando ali, e então se apoiou na mesa ficando bem próximo ao rosto de Lilly. Olhou firmente naqueles olhos castanhos.

— Não. É. Da. Sua. Conta. – ele respondeu pausadamente.

— Agora é – a jovem retrucou.

— Não, não é.

Rapidamente ele juntou suas coisas, fazendo menção de ir embora.

— Não pense que eu vou deixar você sair assim... – ela insistiu – eu vou descobrir o que você tanto esconde.

Lauda a encarou agora com visível impaciência.

— O que quer afinal?

— Quero saber o que o meu amigo esconde de mim. Quero saber ao menos se ele é um humano, ou não.

— Olha aqui, eu só não te mando à merda porque você é uma garota, agora se me dá licença – ele passou por ela.

— O fato de eu ser uma garota não conta! Todos vocês dizem esse tipo de asneira!

— É claro que conta! – ele se virou para ela – Por mais talentosa ou forte que você seja isso não muda o fato de você ser uma garota. Nosso senso de proteção continua igual.

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Lilly não deixaria por barato, a jovem pegou um livro que se encontrava na mesa e o arremeçou contra Niki, que fora pego de surpresa. O livro não chegou a atingi-lo porque o rapaz o parou no ar. Lilly olhou com assombro quando notou que a mão dele tinha uma leve luz azulada e a mesma envolvia o livro. Numa fração de segundo ele deixou o livro cair. Lauda a fitou um pouco aturdido e agora alternando para um olhar de raiva, não esperava por essa.

— Ficou louca? – ele sussurrou em alemão e visivelmente irritado – e se alguém visse?

— Agi sem pensar – ela respondeu dando os ombros – e então vai me contar ou eu terei que...

— Pára – ele a cortou – tá, eu conto, com uma condição.

— Não se preocupe, eu guardarei segredo – uma terceira voz falou.

James, que estava escondido em uma das colunas apareceu. Niki olhou dele para Lilly, fez um gesto negativo com a cabeça e suspirou revirando os olhos, nem ele sabia dizer se era segredo ou não.

— Eu queria um poder desses pra mim – James deu um sorrigo largo e fechado – confesso que estou invejado.

— Cala essa boca seu asshole!

*

Os três foram para uma parte isolada do prédio de treinamento. James estava tranquilo e Lilly hora ou outra roía as unhas, curiosa.

— E então? Como foi que fez aquelas coisas? Você é mesmo humano, ou é um rato mutante? Pêra, eu disse rato mutante?

— Cala boca, James! Você não está ajudando – Lilly deu um tapa na nuca do inglês.

— Que mãozinha pesada princesa!

— Já disse para não me chamar de princesa seu idiota inglês!

Niki encarava aqueles dois de braços cruzados. Para começo de conversa, não era para eles terem visto nada daquilo. Mas culpa fora do próprio Lauda, que agira de forma inresponsável ao se expor, da mesma forma que acontecera outrora. O rapaz deu pigarro chamando a atenção dos dois. Ambos se calaram e esperaram que Niki iniciasse. Alguns minutos se passaram e nada.

— E então?

— Não sei por onde começar. É confuso demais, ninguém acreditaria.

— Bem, começe pelo começo – James deu os ombros – é meio ridículo, mas faz sentido, não?

Niki fechou os olhos e os abriu agora encarando os dois.

— Primeira coisa, eu sou humano, vou ao banheiro, peido e sinto fome como qualquer outra pessoa. Segundo, eu não nasci com isso, eu adquiri.

— E há quanto tempo você tem isso?

— Há quase dez anos – o rapaz fitou o chão.

Lilly piscou os olhos.

— Dez anos? Como?

— Lembra-se do incidente em Graz que eu lhe contei? – ele fitou a garota.

— Sim.

James que não entendia nada se meteu.

— Eu não sei dessa história.

— Niki quase foi morto por um anômolo – Lilly foi direto ao ponto – mas um piloto o salvou.

— Ah, entendi.

— Mas, não foi só isso – o rapaz teve a atenção dos dois para si – essa é apenas uma parte da história.