Já falei que mamãe mora sozinha, certo? Ela tem um amigo colorido, como ela mesma diz, que sempre a consola com noites tórridas de amor, mas não sei se isso serviria de ajuda nesse momento.

O celular dela toca assim que ela o põe para carregar. É Michael Lobach, um homem de personalidade forte e jeito marcante. Ela olha alguns segundos a chamada e atende.

— Alô? — ela tenta disfarçar o choro.

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Alô, gracinha! Como está? O que houve? Estás a chorar? — a voz dele antes animada do outro lado, tingiu-se de preocupação.

— Não é nada, não se preocupe. — diz mamãe, tentando se animar.

Queres que eu vá aí? Podes contar comigo, sabes disso. — ele tenta consolá-la por telefone, todavia ele não parece ser bom nisso, não.

— Podes vir, sim. — diz mamãe, sem conseguir se animar. — Irei só me arrumar, então.

Em vintes minutos estarei aí, gracinha.

— Até logo, Michael. — Mamãe se despede, colocando o celular no criado-mudo para carregar.

Ela foi ao banheiro e demorou a sair de lá. Saiu sem maquiagem e devidamente pronta: um short jeans baixo na cintura e uma blusa rosa bebê como os dizeres em inglês: I love my job, em negrito. Nos pés calça sandálias rasteirinhas. Ela abre a porta e depara-se com um homem esbelto, orbes verdes e cabelos castanho claros, levemente cacheado nas pontas. O cabelo dele bate na nuca e a franja dá um charme a mais a ele.

Está vestido a caráter, como um advogado deve vestir-se: terno e gravata. Ela fecha a porta atrás de si e não tem tempo de dar boa tarde. Ele a toma nos braços e retira do bolso uma “camisa”, enquanto a beija voluptuosamente.

Mamãe emite sons que desconheço, parece gostar das carícias que recebe, ao mesmo tempo em que ele a encosta na parede, “veste” seu “terceiro braço” e a toma para si, urgente. Amam-se ali mesmo, os corpos roçando-se, as mãos inquietas, “cantos” e suspiros mesclando-se em um ato de amor único.

Eu fico cheirando dedo, enquanto mamãe é feita mulher por Michael, entretanto algo acontece: um ser vestido de sol vem até mim, através dos raios solares, tão brilhante e radiante quanto o astro. Meu coração dispara ao notar orbes âmbares a me fitar, enquanto lábios quentes tomam os meus em um beijo calmo, fazendo-a mexer as mãos em uma tentativa de afastá-la de mim.

— Sei quem és, Amarilis. — diz-me o ser, após o beijo, o que surpreende ainda mais. — Sou Lina Tetelbaum, representante do Sol.

— Hã? Representante do Sol? — digo, quase gritando e fico com vergonha, abaixo a cabeça em espírito e coro. Fisicamente continuo parada.

— Isso mesmo. Vim te amar, mas só poderei fazer isso durante o dia, já que meu trabalho é diurno. — diz Lina, sorrindo. Seus dentes são tão alvos quanto o marfim.

— Sem problemas, eu acho. — digo, sem jeito.

Ela mantém o sorriso e me beija novamente. Minhas raízes ouriçam-se com o toque cálido dela, fazendo a minha cintura balançar levemente, não sei se pelo vento ou pelo peso do corpo dela sobre o meu. Os raios solares me abraçam e não me soltam mais, estou imersa em sua energia dourada, apenas chacoalho em resposta, para lá e para cá, perdida em seu amor irresistível.

Ela me segura para não cair. Sinto que terei uma dupla fotossíntese, sou amada e amo-a com a mesma intensidade, sem importar-me com o tempo a passar.

Chove. O Sol se esconde nas nuvens e Lina se vai. Recebo um banho gelado e o choque térmico me faz suspirar de contentamento; finalmente tenho a quem amar e agora aprecio a chuva.

A água banha meu corpo, mesmo contra a minha vontade. Não quero que o cheiro de Lina saia de meu corpo, mas não tem jeito.

A chuva prossegue e o dia finda-se, mamãe dorme acompanhada de Michael e eu abraçada com a solidão.