O despertar da Herdeira

IV - O que há em um toque


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O que há em um toque

Levei um tempo para absorver todo o poder que emanava dos enormes centauros bem próximos ao nossos pequeno grupo e enquanto tentava esconder minha face que transbordava surpresa com meus longos cachos dourados, vi Caspian finalmente se libertar do ataque de Ripchip, erguendo seu corpo esguio do chão e retornando para perto de nós que ainda estávamos com Caça-trufas deitado no chão e com a flecha fincada em seu dorso.

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― Dó tanto quanto aparenta, amigo? ― O rapaz indagou, ajoelhando-se próximo ao corpo do texugo que repousava a cabeça em meus braços e o restante do corpo no tecido macio de meu vestido.

Um sorriso fraco do narniano em meu colo foi quase um consolo para meu temor de perde-lo tão rapidamente.

― Ah, ainda bem que vocês estão na companhia de uma fada, não é mesmo? ― Ripchip aproximou-se cauteloso, colocando-se ao meu lado e fazendo uma leve mesura ― Senhorita, necessito dizer que sinto honrado em minha humilde existência ser agraciado com a chance de conhecer uma da espécie fabulosa dos fae.

Oh, não.

Acenei com a cabeça, gentilmente, não querendo parecer desagradecida com as palavras, mas inutilmente surtiu o efeito que eu desejava ali de passar despercebida, já que a voz firme do centauro maior soou bem mais próxima agora.

― Uma dos fae entre nós? ― A suspeita em sua voz era evidente.

Senti suas patas baterem mais firmes bem próximas a nós e eu fui obrigada a erguer o olhar até pegá-lo encarando-me desconfiado por leves momentos até que, enfim, suas feições suavizaram o suficiente para que eu ganhasse um leve, porém, gentil, sorriso. O que foi um feito e tanto, visto que há segundos atrás estava perdendo as estribeiras, temendo novamente estar sob ameaça.

― Sou Ciclone, senhorita. É uma enorme alegria saber que sua espécie sobreviveu ao ataque do povo de Telmar. ― Assentindo com a cabeça, em uma leve mesura, deixou que seu tronco abaixasse o suficiente para aproximar-se de nosso amigo Caça-trufas ― E quanto a você, amigo texugo, podemos leva-lo até a Clareira imediatamente e buscar cuidados apropriados ao seu ferimento.

― Então a fada não pode ajudar? ― Ripchip indagou, curioso.

― Talvez ela não tenha o dom da cura. ― Nikabrik resmungou, enquanto colocava-se de pé e olhava a sua volta, como se buscasse por algo ― Vou voltar e buscar as coisas de nosso acampamento que tivemos que deixar para trás.

Ciclone assentiu para o anão negro que logo foi caminhando, na companhia de dois dos centauros rumo à nossa antiga localização.

― Bom, tenho certeza que se ela tivesse o dom da cura, já teria feito algo para salvar a vida de Caça-trufas. ― Caspian então falou, parecendo tomar minha defesa ali naquela situação.

― Ah, bom. Sim, isso eu concordo. ― Ripchip colocou-se a falar novamente.

Com um movimento lento e surpreendentemente delicado, Ciclone tomou Caça-trufas em seu colo e, endireitando sua postura, nos olhou de forma firme e direta.

― Precisamos ir antes que mais telmarinos apareçam na surdina. Tiveram sorte de nos pegar aqui, pois não era nosso plano tomar o caminho mais longo para a Clareira. ― O centauro revelou enquanto nos observava erguer nossos corpos.

Olhando para a enorme mancha de sangue em meu vestido amarelo, peguei-me pensando nos riscos reais que esta guerra traria para os cidadãos desta floresta que eu sequer conhecia e uma onda energética de proteção tomou conta de meu coração. Olhando para o caminho traçado por Nikabrik, comecei a refletir sobre os perigos que todos corriam ali com a ousada fuga de Caspian para o interior da floresta.

― Acho que vou aguardar Nikabrik voltar para que possamos alcança-los em seguida. ― Sugeri, de supetão, deixando minha voz ser ouvida após um longo período em silêncio.

Ciclone nada comentou sobre minha decisão, mas pude ver o sorriso cálido no rosto cansado de Caça-trufas um agradecimento por minha atitude.

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― Ficarei com você para o caso de algum telmarino aparecer. ― Eu não esperava menos de Caspian naquele momento e esforcei-me para não sorrir tanto em agradecimento, para não lhe dar uma impressão errada.

― Quando meus filhos retornarem, peça que lhes carreguem até a Clareira. Não podemos perder mais tempo com caminhadas lentas de duas pernas. ― E dito isso, Ciclone, seguido pelos outros dois centauros, cavalgou pela relva que cada vez mais estava mais baixa, revelando mais a frente apenas um gramado sereno, coberto pela sombra das altas árvores que formavam esta floresta.

Depois de perder de vista os narnianos que a pouco nos rodeavam, fui obrigada a encarar Caspian novamente e pega-lo me olhando de volta. Ele aproximou-se em pequenos passos e só parou quando eu já podia sentir sua respiração quente tocar minha face levemente. Erguendo uma mão, tocou a lateral de meu rosto e o calor já familiar percorreu por minha bochecha enquanto ele deixava seu dedo deslizar por minha face.

― Você é tão linda...

Eu podia sentir minha respiração aumentar gradativamente e sentia, no fundo do meu coração, que o que desabrochava por Caspian em meu interior era, agora, um caminho sem volta. Um sentimento poderoso, repleto de facetas misteriosas, fez-me erguer minha mão e copiar seu movimento, deixando minha palma pousar em sua face direita enquanto estava submersa no poder magnético de seus olhos castanhos. Em um movimento leve, ele aproximou-se centímetros a mais, permitindo que sua boca ficasse a uma distância quase inexistente dos meus lábios.

Eu não podia pará-lo, não sabia como pará-lo. Ah, sinceramente! Eu não queria pará-lo! E quando achei que nossos lábios finalmente iriam se tocar, ouvimos um som agora conhecido dos cascos dos centauros tocando firmemente a relva e se aproximando de nossa localização.

Imediatamente dei um pulo para trás, afastando minha mão de sua pele quente, como se tivesse levado um choque e ignorando totalmente a trilha quente que sua mão deixou em meu rosto enquanto fora forçado a afastar-se de mim.

Os outros narnianos logo se aproximaram. Um deles era bem mais alto que o que carregava Nikabrik em suas costas e fora este que começou falando:

― Creio que ficaram para garantir nosso retorno. Bom, sou mais forte que meu irmão e conseguirei carregar os dois em direção a Clareira. Por favor, montem e se acomodem para que possamos seguir nosso caminho.

Minhas bochechas começaram a arder com a ideia de ter Caspian tão próximo de mim e a imagem de nós dois montados no dorso do centauro era algo realmente embaraçoso, principalmente quando quase nos tocamos tão profundamente como há pouco.

― Não me incomodo em ir caminhando. ― Quando Caspian disse isso, tive que erguer meu olhar para encará-lo.

Ele não em olhava diretamente, mas pude ver uma amargura em sua voz. Eu o havia chateado de alguma forma?

― Não. ―Foi então que tomei forças para protestar ― Nós... hm... podemos viajar juntos. Não há problemas para mim.

Apesar da ardência evidente em minha face, Caspian nem mesmo precisaria me encarar para notar meu constrangimento ao admitir aquilo em palavras.

― Vamos. Não temos muito tempo a perder. ―Agora, ríspido, o centauro encarava Caspian incomodado ― A propósito, sou Elaster. ― Fez uma breve mesura em minha direção. Ato este que deixou claro que se sentia confortável com minha presença, apesar de evidentemente não sentir o mesmo pelo rapaz ao meu lado.

De alguma forma muito anormal, pude sentir um conforto novamente em estar próxima aos centauros e sorri sem poupar esforços.

― É um enorme prazer conhece-lo, Elaster. Me chamo Ella.

Ouvi um bufar vindo de Caspian enquanto nos aproximávamos mais do dorso de Elaster que nos aguardava pacientemente.

― Acho que o menino ficou incomodado. ― Nikabrik teceu o comentário, de repente.

― O que quer dizer com isso? ― Caspian indagou, na defensiva.

― Ah, já chega dessa protelação. Vamos logo antes que o a reunião aconteça sem a nossa presença. ― Negando-se a continuar o assunto, Nikabrik bradou, agora expressivamente incomodado.

Notoriamente, Caspian ajudou-me a montar o dorso de Elaster, fazendo-me ficar na parte mais a frente, enquanto ele tomou as costas como seu lugar, fazendo-o assim, pousar ambas as mãos em minha cintura de forma firme, transmitindo o calor para meu corpo novamente. Após ouvir instruções do centauro que nos carregava para que segurássemos firme, fui obrigada a acomodar minhas mãos na cintura peluda de Elaster, enquanto sentia um abraço apertado, mas nada incomodo de Caspian em minhas costas.

Queria muito poder dizer que sentir o calor de seu corpo contra o meu, bem como sua respiração tão próxima de minha nuca, era algo desagradável e causava-me espanto, contudo, tudo o que fui capaz de sentir fora leves arrepios, bem como uma energia intensa que fluía de seu corpo para o meu constantemente. Tudo o que eu pude me perguntar durante a viagem era se ele sentia o mesmo que eu ou aquilo era coisa da minha cabeça.

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― Em breve, os outros chegarão. ― Elaster anunciou assim que reduziu o passar de suas cavalgadas e nos aproximamos de uma área mais aberta e, agora, habitada por novos seres ― Sugiro que fiquem na cabana do fauno Mentius. Acredito que seja lá que seu amigo esteja. E, além disso, será mais seguro para o telmarino não ficar em visão aberta dos lobos. Ele não é bem-vindo aqui.

Quando terminei de descer do dorso do centauro, pude pega-lo encarando firmemente Caspian que mantinha uma das suas mãos em minha cintura.

― Talvez, Ella, seja melhor até mesmo você ficar longe deste telmarino. Não será fácil para alguns narnianos receberam uma fada novamente, mas, ainda sim, você é uma de nós. Ele não.

Encarei Caspian por um longo período, analisando suas feições que mostravam que ele pensava sobre a proposta de Elaster. Por um segundo, vi um brilho amargurado em seu olhar que fitava o horizonte distante. Sua mão deslizou para longe da minha cintura e deu um passo para se distanciar de mim. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, eu mesma tomei minha decisão.

― Obrigada pela carona, Elaster. Chegar antes do Sol se por realmente foi um grande alívio para mim. Nós estaremos na cabana do Mentius, assim como você sugeriu. ― Assenti e, de uma forma automática, tomei a mão de Caspian na minha e fiz um leve sinal com a cabeça para Nikabrik, esperando que ele entendesse que a partir dali o seguiríamos até o fauno.

― Hm... certo. Vamos ver o fauno. ― O anão negro pareceu fazer força para resmungar, tentando aparentar mais insatisfeito do que realmente estava com minha atitude.

Olhando ao nosso redor, pude notar que o nosso pequeno grupo possuía um destaque exagerado ali. Não fazia ideia se era o fato de que Nikabrik era o único anão negro presente ou que meu vestido, agora surrado com manchas vermelhas e marrons, chamava atenção pelo dourado em seu corpete. Sinceramente, nem sabia se era apenas o fato de que o telmarino caminhava de mãos dadas com uma que deveria ser da nação deles os incomodava ali. Mesmo assim, me neguei a soltar a mão de Caspian, de modo protetor, agora que percebia que ser uma fada, naquele meio, parecia ser algo realmente grandioso.

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Passamos por um grupo de lobos que quando me encaravam, acenaram com mesuras em minha direção, mas, ao se voltarem a Caspian, deixaram leves rosnados escaparem propositalmente, indicando que ele era um problema. Uma reação similar obtivemos ao passarmos por um grupo de esquilos que cortavam a grossa camada externa das nozes e sementes que pareciam desmontar para uma refeição que era preparada em um grande caldeirão ligado em uma fogueira. Eles acenaram para mim, contudo, viraram-se imediatamente de costas no segundo que Caspian passou por eles.

― Acho que não faço muito sucesso por aqui. ― Caspian aproximou-se para sussurrar próximo ao meu ouvido.

― E eu acho que é um péssimo momento para fazer piada com sua situação. ― Reduzi meus passos, afim de olhar para trás e fita-lo seriamente, mas fui pega desprevenida com um sorriso cálido em seus lábios que me desconcertou e fez minhas bochechas corarem novamente.

― Gosto de quando você não consegue esconder que gosta de me olhar. ― Ele voltou a sussurrar, agora provocativo.

Soltei imediatamente sua mão e comecei a caminhar mais apressada, alcançando e ultrapassando Nikabrik quando avistei uma pequena cabana de tecido pesado e azulado erguida mais a frente.

Um fauno com barba loira e olhos esverdeados parecia estar voltando para a cabana quando nos encontramos no caminho da porta.

― Ora, só. Se não é verdade que os fae enviaram uma dos seus para nossa reunião. ― Ele parecia amistoso e sorridente quando pousou seus olhos em mim ― Sou Mentius, senhorita. E presumo que seja a doce Ella que meu amigo Caça-trufas fala tão bem.

Não pude evitar sorrir e aceitar a mão que ele oferecia para um breve aperto.

― É um prazer conhecer o fauno que salvou a vida do meu amigo. ― Falei alegre com a energia positiva e gentil que este fauno emanava.

Logo, Nikabrik e Caspian juntaram-se a nós e a energia no lugar mudou para tenebrosa.

― Oh, bem. Interessante. Um anão negro e um telmarino. Vejo que Caça-trufas fez muitos amigos especiais nos últimos tempos.

― Ah, vê se não enche, Mentius. ― Resmungou Nikabrik enquanto esbarrava no meu vestido para entrar na cabana.

― Muito bom revê-lo, antigo amigo. ― O fauno retribuiu com um sorriso seco.

― Não se incomode com falsa hospitalidade. Fui obrigado a vir aqui, já que o texugo mais burro do mundo foi capaz de levar uma flechada de um dos humanos e essa daí queria ver se estava tudo bem.

Sua voz foi ficando mais baixa enquanto se afastava de nós e entrava na cabana.

Notando que Caspian ficara calado, resolvi olha-lo de soslaio e peguei notando atentamente tudo a sua volta, enquanto conversávamos. Logo, sua frase sobre um novo mundo ser apresentado aos seus olhos surgiu em minha mente e peguei-me, mais uma vez, condescendente com sua situação, apensar de não sentir um pingo de medo no meio desses seres na floresta.

― Onde estão meus modos, afinal? ― Mentius parecia falar consigo mesmo ― Por favor, entrem. Há frutas frescas no balcão, assim como água e mel, caso deseje.

Seguindo o fauno, entramos na cabana que agora, com três altos seres de pé e um anão apoiado nas almofadas no chão, próximo ao corpo de Caça-trufas que repousava ao lado, parecia bem menor.

― Oh, minha amiga Ella. ― O texugo sorriu, animado com minha chegada.

Aproximei-me o suficiente, evitando topar com minha testa em uma das hastes de madeira que sustentava o teto acima de nossa cabeça.

― Vejo que está bem melhor. ― Retribui o sorriso, colocando-me sentada, encolhida ao seu lado, e observando atentamente a ferida coberta com folhagens.

― Sim. Um pouco de sopa de Mentius e algumas folhas nessa ferida são uma dádiva para a saúde de um texugo.

― Fico feliz que esteja a salvo, Caça-trufas. ― A voz de Caspian finalmente soou ali e percebi um leve incômodo imergir dos olhos de Mentius, que esforçou-se para esconder o desconforto pegando em uma bancada uma bacia com pequenas frutas cortadas, erguendo-a em minha direção.

Aproveitei para pegar algumas das que me foram oferecidas e ergui um outro punhado para que o Nikabrik aproveitasse a comida também.

Caspian esforçou-se para se acomodar próximo a nós, evitando com mais dificuldades não bater na haste firme enquanto se abaixava e sentava ao meu lado.

― Senhora. Oh! Não notei seu ferimento. Céus! É tão grave! ― Mentius começou a pular exasperado enquanto apontava para a mancha escura em meu vestido.

― Não, Mentius! Fique tranquilo! ― Consegui interromper sua exasperação ― O sangue não é meu, veja! ― Ergui o tecido alto o suficiente para mostrar minhas panturrilhas e joelhos intactos.

Observei os 3 pares de olhos ali presentes analisarem atentamente minha pele pálida enquanto eu a deixava a mostra tempo o suficiente para provar meu argumento.

Não pude deixar de notar que Caspian, de repente, pareceu compenetrado com minha exposição e uma mancha vermelha espalhou-se por seu rosto, enquanto ele desviava o olhar para qualquer outro lugar, tentando escapar de algum pensamento que dominou sua mente, ao que me parecia.

Abaixei o tecido novamente, satisfeita com a calmaria que proporcionei aos espasmos do fauno curandeiro.

― Mas os pés dela estão feridos. ― Apesar de não me olhar diretamente, Caspian proferiu as palavras com tom de preocupação.

― Hm, isso pode ser acertado, claro. ― Mentius assentia, como se já matutasse algo para ser feito a respeito de meus ferimentos.

Ele não demorou a se retirar da cabana e notei, naquele momento, que não oferecera alimento ao telmarino ali.

Tomei a liberdade de pegar mais um punhado de frutas, enquanto erguia meu braço em direção à bacia e ofereci à Caspian que não demorou a aceitar, parecendo, por um instante, aliviado com minha oferta. Nikabrik não demorou também a se retirar, deixando-nos sozinhos com o texugo.

― Teremos uma noite intensa aqui, Caspian. ― Caça-trufas começou a falar de forma lenta e pausada enquanto nos observava devorar o nosso alimento ― Muitos dos narnianos não apoiam.

― Nikabrik é um deles. ― Ele ponderou, depois de degustar do seu último pedaço de uma fruta molenga e adocicada, repleta de pequenos pelinhos que grudavam no dente.

― Eu não entendo... o que exatamente Caspian fez de tão errado? ― Resolvi indagar ― Eu ouvi que ele... hm... soprou uma trompa. O que isso significa?

O olhar de Caspian tornou-se intenso quando o peguei me observando, mais uma vez. Ele não desviou o olhar, dessa vez, apesar de não falar nada inicialmente.

― Não necessariamente o que ele fez foi errado, senhorita Ella. ― O Texugo falou, por fim ― Mas o fato de quem soprou a trompa tem muito a nos dizer.

― E o que essa trompa tem de tão especial assim, no fim das contas?

Ambos voltaram a ficarem calados, assimilando o poder da minha pergunta.

― Sempre achei que todos os narnianos soubessem das histórias dos reis e rainhas de Nárnia. ― Caspian soltou, confuso com o que eu havia perguntado.

Aquilo ativou um alerta no meu interior e eu automaticamente encarei Caça-trufas exasperada, sem saber o que fazer ou o que dizer.

― Bom, para tudo há uma primeira vez, não? ― O texugo falou ― Acredito que Caspian, nesse momento, tenha mais força e conhecimentos para compartilhar com você do que eu, querida Ella. Sinto que o chá que o fauno me deu finalmente está fazendo efeito e eu irei descansar. Recomendo que possam dar uma volta pelo acampamento, mas não tão longe, pois os lobos estão vigiando os passos de Caspian atentamente.

Aquilo era um convite educado para que nos retirássemos para ele dormir sem que nosso falatório o atrapalhasse.

Assim que o fizemos, sendo obrigados a rastejar para fora, pela saída traseira da cabana, pude notar que esta parte da floresta parecia um pouco mais escura, com pouca iluminação presente, devido copas carregadas que não permitiam que o Sol penetrasse muito no local.

Caspian começou a caminhar ao meu lado e pude sentir minha mão roçar na sua e uma vontade incontrolável de pega-la novamente, bem como havia feito anteriormente, brotou em minhas entranhas, quase impossível de conter.

Precisei caminhar alguns passos a frente e buscar usar uma das muitas raízes de árvores para me acomodar enquanto o aguardava se aproximar.

― E então... os reis e rainhas de Nárnia? ― Resolvi indagar, sem olhá-lo nos olhos de verdade, pois já estava absorta demais no efeito que ele causava em mim para me render a mais esta tentação.

Caspian aproximou-se, sentando ao meu lado, tão perto quanto podia e, de forma súbita, tomou uma das minhas mãos, puxando para si e fechando seus dedos entre os meus enquanto fui pega por seus olhos penetrantes e a pergunta surpreendente:

― Você não estava na floresta porque queria vir para a Clareira, não é mesmo?