Aquele era definitivamente o cara mais bonito que eu já tinha visto em toda a minha vida. Mas ao mesmo tempo, não era. Ele era alto, mas nem tanto. Musculoso, mas nem tanto. Era um exemplo de tudo o que há de mais comum em um homem, mas ao mesmo tempo era como se eu nunca tivesse visto nada parecido.

Porém, o que mais me chamou atenção nele foi seu cabelo. Liso e de corte baixo, e por inteiro, prateado de uma maneira que parecia roubar o brilho da lua. Hipnotizada, eu tentava em vão entender como aquilo era possível. Quero dizer, ele era jovem. Não aparentava mais do que trinta anos de jeito nenhum. E não me parecia do tipo vaidoso o bastante a ponto de descolorir as madeixas àquele nível.

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Alguma coisa dentro de mim parecia gritar que algo extremamente significativo jazia por trás disso. Não era apenas a cor pela cor a chamar minha atenção, e embora eu não tivesse a mínima ideia do que poderia ser, disso eu tinha certeza: existia naquele cara uma força que parecia tentar me arrastar em sua direção.

Quando finalmente consegui tirar os olhos de seus fios, o que em minha realidade paralela durou uma eternidade, mas que provavelmente na verdade durou apenas algumas frações de segundo, reparei no quanto suas roupas eram diferentes do que estava acostumada a ver, e por um instante me senti até envergonhada por ter achado até meio... Ridículo.

Não é como se eu me lembrasse da última vez que vi um homem adulto usando um colete vermelho. E naquele calor? Céus, isso sim era estranho.

Balancei a cabeça de um lado pro outro na tentativa de afastar o turbilhão de devaneios que invadiu minha mente junto com a chegada do homem misterioso. Foi quando percebi que minha divagação me impediu de ouvir a explicação do professor, que parado ao lado de meu objeto de curiosidade, explicava o que é que ele estava fazendo ali, afinal.

E tudo o que consegui entender – torcendo ainda para que não tivesse entendido errado -, era que ele vinha de outro país para estudar conosco. Era impressão minha ou ele estava ligeiramente corado?

Sorrindo, ele pareceu agradecer ao professor Jorge, mas num volume tão baixo que sequer pude ouvir sua voz. Senti a frustração de sentar no fundo da sala. Talvez se estivesse mais próxima...

Mas minha pulsação quase foi cortada quando percebi que enquanto ele buscava um lugar para se sentar, se aproximava de mim. Engoli seco e tentei com a maior naturalidade possível fingir que estava realmente ocupada com alguma coisa muito importante.

O que mais me incomodava era o fato de eu me sentir tão nervosa com uma situação que em qualquer outra ocasião não teria me afetado. Não era como se eu fosse tímida ou insegura, eu gostava de sentar no fundão basicamente para ser deixada em paz e evitar ao máximo qualquer socialização desnecessária.

E agora me encontrava quase descontrolada, com a impressão de que se abrisse a boca para tentar emitir qualquer som, soaria como o grasnar de um corvo. E um corvo deveras histérico, você consegue imaginar o nível da tragédia?

Com a cabeça abaixada percebi que ele chegou ainda mais perto e se preparava para se sentar ao meu lado. Meu Deus, quais eram as chances? Por mais atraída que me sentisse, tudo que eu podia desejar agora é que ele se sentasse o mais longe possível. Em outra sala, de preferência. Em outro país, de preferência.

Talvez eu devesse sair. Estava me sentindo sufocada, respirando em pequenos blocos de ar, temendo que o menor movimento chamasse sua atenção, ele interagisse comigo e eu fosse obrigada a grasnar, em resposta.

Mas contrariando toda a lógica, minha cabeça involuntariamente se virou em sua direção, e não tenho certeza de qual era minha expressão – tudo que eu esperava é que não fosse de horror –, mas em resposta ele sorriu. Acho que sorri de volta, e para minha surpresa, minha voz saiu absolutamente normal quando sem querer, disse “oi”.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.