O Verdadeiro Lar - A Luz De Safira

As Sensações de um Novo Dia


O sol iniciava sua jornada no novo dia. A China se iluminava novamente, era uma bela manhã ainda no início do inverno. O único lugar no qual os raios luminosos quase não atingiam e não conseguiam esquentar ao menos para confortar daquele ligeiro frio, era o castelo no qual Fa Huo havia se escondido antes de ir para a cidade imperial.

La dentro, o quartinho no alto da torre, era constantemente iluminado pelo brilho azulado que saia do espelho. Os machos contratados por Fa Huo, por ordem dele, levaram o espelho para aquela sala, longe de seu convidado. Os capangas mal chegavam perto, apenas se precisavam. Tinham tanta curiosidade e também medo do que haveria ali, saber o porque do brilho e porque ele fora mais intenso no dia anterior e continuou brilhando forte até o início da manhã. Um dos contratados, que era um crocodilo, resolveu perguntar à alguém que talvez pudesse responder sobre aquilo.

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O prisioneiro estava sendo alimentado todos os dias pelos capangas contratados do panda. Além disso, com a ausência dele naquele lugar, poderia imaginar que estava pondo pessoas, a China inteira, em perigo. Se sentia culpado por não ter feito mais do que fez para evitar. Estava sentado na cela escura, de onde só se viam seus olhos intensos em vermelho. Enterrou a cabeça entre os joelhos e ficou respirando para relaxar de olhos fechados. Durante todos esses anos não pôde escapar e agora, pela sua pequena janela da cela, podia ver a área ao redor do castelo se iluminar graças à luz que emanava da torre. Já podia imaginar o que estava acontecendo e nunca havia feito nada para remediar a situação por achar que estava tudo bem.

Estava errado. Por mais que evitasse chegar a isso, Fa Huo poderia tomar aquilo que lhe custou muito proteger. Depois de ouvir os guardas comentarem sobre o casamento do Dragão Guerreiro e Mestre Tigresa, sabia que Fa não conseguiu separar os dois. De qualquer forma, o que tem sido evitado por milênios, estava acontecendo.

Ele sabia de toda a história, ele e a alma presa no espelho com a pedra azul, a safira sagrada. Por isso ela estava presa la dentro, por isso foi impedida de retornar com as criaturas que ela amava e ele também. Queria ter feito algo para evitar que o panda saísse do castelo, ou que pelo menos parasse com essa obsessão pelos amuletos Yin Yang e pelo que ele achava que era correto, deixando assim, os dois mestres de kung fu viverem seus sentimentos em paz e finalmente, consumar o equilíbrio. Mas se ele se quer pensasse em agir, aquele monstro destruiria a prisão refletora na qual se encontrava alguém que ele queria proteger.

Nenhum dos vigilantes se atreveu a falar com ele durante esses dias que se passaram. Apenas em olhar, já se sentiam gelados pela aura que emanava aquele pobre ser. Ninguém se atreveu a se aproximar, pelo menos, até esta...

– Quem é você?

– Meu nome não importa. Eu gostaria de ouvir a sua história.

– Como assim a minha história?

– O porque você está preso aqui, o motivo pelo qual Fa Huo te trouxe aqui.

– São motivos pessoais, muito complicados pra você entender.

– Mas quero saber, prometo não contar - implorou o jovem crocodilo.

O prisioneiro bufou. Há quanto tempo não tinha companhia... deveria confiar nesse jovem e contar tudo a ele? Não sabia, pelo menos não iria contar enquanto não confiasse de verdade nele.

– Olha - virou seu corpo para o réptil e se manteve sentado, não usava correntes, o panda que o mantinha ali sabia que ele não iria fugir ou tentar escapar - eu estou aqui por quem está presa naquele espelho.

– Como assim presa no espelho? - O crocodilo se sentou para ouvir melhor a história.

– Não foi você quem levou o espelho lá pra cima, não é?

– Não, não levei.

– Por acaso, os seus colegas que levaram ele lá pra cima, sumiram?

O crocodilo parou para pensar. Aqueles que haviam levado o espelho, foram chamados para morar na fortaleza depois de ele chegar lá e os viu por poucos dias. Realmente, não havia mais um sinal se quer deles.

– É, sumiram. Como você sabe?

– Fácil. Aquele espelho guarda um segredo e se você contar pra alguém, Fa Huo vai se livrar de quem sabe, entende? Adeus pra você e pra quem você contar - sorriu cinicamente, mas logo se tornou sério de novo - e você está fazendo algo errado em manter presos animais inocentes.

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– Eu sei que o que estou fazendo é errado, mas não tenho escolha. Não tenho dinheiro nem nada, só queria um emprego que me trouxesse honra e viver em paz, e já estou aqui, é pra trabalhar e ajudar.

– Quer paz em sua consciência? Quer ser honrado e ajudar? Então me ajude.

– Espera um pouco aí, eu quero saber sua história, não é você quem tem que saber a minha e eu ajudo se eu quiser... se bem que se isso devolver minha honra, eu poderia sim ajudar você e a tal alma dentro do espelho.

– E vai devolver sim.

– Mas me diga, por quê está aqui?

– Por me recusar a ajudar seu amo quando eu podia. Ele queria algo que significa muito e tem poder, ainda quer e foi atrás disso, mas pelo visto, ainda não conseguiu, ou o espelho não teria brilhado tanto - se levantou e foi olhar pela janela.

Apesar da claridade diurna começar a inundar os locais próximos, ainda se via bem a luz azul. O ser, o qual o crocodilo ainda não conseguiu identificar pela falta de luz e apenas podia ver a silhueta contra a fraca luminosidade que entrava pela janela, continuou ali olhando para fora sem voltar a encarar o réptil.

– Eu seria beneficiado, assim como o nosso amado imperador - continuou e virou-se para o novo amigo - receberíamos um poder sobre a China que seria dividido entre nós, mandaríamos no mundo todo. Zhi o ajudou, mas eu me recusei quando vi que machucaria quem eu amava.

– O que o imperador fez?

– Fechou os olhos para as coisas horríveis que Fa Huo Fazia. Se esqueceu de seu passado. Não posso te contar mais nada ou você vai querer enfrentar esse maldito panda.

– Depois eu quero saber mais. O que eu preciso fazer?

– Tente saber o que aconteceu com Fa Huo. Parece que ele não conseguiu impedir o casamento de Mestre Tigresa e o Dragão Guerreiro e não deixe que ninguém quebre o espelho, quem está lá dentro sabe coisas muito importantes. Por enquanto, só isso.

O crocodilo assentiu e ia perguntar mais, mas foi interrompido por barulhos que se aproximavam. Eram os outro guardas com o alimento do prisioneiro. Se levantou e fingiu estar em guarda ali.

Apesar de estar há pouco tempo ali e não confiar no panda e em nenhum dos bandidos que estavam com eles, não sabia se poderia acreditar nesse prisioneiro, cuja espécie ele nem sabia, mas seus olhos pareciam mostrar a verdade. Não iria acender as tochas agora apenas para vê-lo.

Estava em dúvida sobre se ajudava ou não. Precisava verificar de quem era a tal alma aprisionada.

O gongo soou no Vale da Paz. O sol já estava iluminado tudo e apesar de seu calor, o dia começara com uma brisa fria que prenunciava os próximos dias gelados, quem sabe até mais um pouco de neve.

A luz entrava em todos os quartos e em um, era especialmente bem vinda para alegrar o início de uma nova etapa de vida.

Tigresa foi acordada pela luz dourada do sol em seu rosto, fazendo-a se mexer um pouco na cama. Conforme se mexeu sua pata foi para a frente de seus olhos para cobrí-los e esconder daquela claridade. Ainda não estava pronta para acordar.

Sentiu uma respiração em sua testa. Notou que estava deitada com a cabeça algo grande e peludo. Não poderiam ser suas almofadas. Apalpou um pouco para se certificar do que era e tocou em algo gelado e achatado.

Abriu os olhos e encontrou-se deitada com a cabeça sobre o peito de Po, então soltou um forte ronronar enquanto esfregou o rosto na pelagem do panda, se perguntando como é ele não acordou com o som que ela fazia. Sua cauda balançava de maneira leve e estava com a metade dela para fora das cobertas. Viu o medalhão Yin Yang semelhante ao seu. Ele continuou a usar durante toda a noite assim com ela ainda mantinha o dela no próprio pescoço. Assim como e ao olhar para onde vinha a respiração, o viu dormindo de boca aberta. Sorriu ao notar também que ele a abraçava com a pata esquerda.

Sem fazer barulho, levantou-se devagar para deixá-lo dormir. Nem casado com ela ele levantaria cedo? Talvez nem assim. Tigresa foi até seu armário e pegou suas roupas comuns de treinamento e algumas vendas para proteger o busto e as costelas. Foi se trocar em uma pequena sala que era o banheiro de seu quarto e depois iria tomar o café a manhã.

Seu quarto era um pouco afastado dos demais. Fora construído um pouco mais atrás da ala dos estudantes para dar privacidade a ambos recém-casados. Era ligada ao corredor que dava para a cozinha, os quartos dos outros e para a saída por um corredor curto que levava ao corredor principal. Ao chegar na cozinha com o rosto mais feliz do mundo, o que era estranho se tratando dela, encontrou com Víbora, Shifu, Hui Nuan e Garça conversando.

– Ah, bom dia filha - disseram o tigre e o panda vermelho em uníssono, e logo depois se olharam, ainda estranhavam as atitudes de ambos com a felina.

– Bom dia, Tigresa - disseram Garça e Jing-Quo em uníssono.

O velho panda havia dormido no antigo quarto de Po. Seus acompanhantes que vieram junto a ele e ao Dragão Guerreiro ficaram em uma hospedaria. Jing-Quo apenas aguardaria alguns dias para que Po aproveitasse os primeiros dias com sua esposa.

Estava ansioso por voltar para casa e para que seu filho anunciasse logo quem o substituiria. Queria livrar Po desse fardo que, além de comprometer suas obrigações como Dragão Guerreiro, poderiam comprometer seu casamento.

Claro que ninguém tentaria fazer mal à temida Mestre Tigresa se não fosse louco ou bom o suficiente na arte do kung fu, ou se não tivesse uma arma na manga, e ultimamente não havia visto ninguém assim. Até porque, ela era respeitada e temida, como já foi dito, e até as garotas do vale que tentavam flertar com Po tinham medo do que ela poderia fazer, apenas ouvindo seu rosnado. Quando ela estava perto, essas fêmeas não se atreviam a se insinuar para o panda.

“Que sortudo, ser tão protegido assim, ou não...”, pensou Jing sorrindo e rindo mentalmente “ela já o tentou proteger, mas ele é teimoso, sempre vai às lutas e depois pede desculpas quando ela fica brava, não tem jeito. Ama kung fu e a ela também”.

– Bom dia, irmã - sorriu Víbora.

– Bom dia, pai, Jing-Quo, Víbora, Garça - fez uma reverência à eles e se sentou - não vai ter treino hoje?

– Não, dia de folga pela festa de ontem - respondeu Shifu e depois, limpou a garganta e todos olharam para ele.


– O que? - Perguntou ela confusa.


– Acho que ninguém te falou que durante os primeiros três dias de casamento, você é quem tem que fazer o café da manhã, não é? - Perguntou Hui olhando divertido para a filha.

– Ah, não.

– Então... tem que fazer antes que ele venha comer ou vai ficar com fome.

– Ai, não cozinho há anos. Nem sei se me lembro.

– Você sabe fazer venenos mais fortes que os do meu pai, mas não sabe cozinhar? Que coisa ein, Tigresa - riu Víbora.

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– Não fala assim. Eu vou tentar fazer bolinhos e chá - a felina se levantou e foi em direção aos armários pegar os ingredientes.

Os mestres e o pai de Tigresa a faziam lembrar como se prepara bolinhos, já que ela teria de fazer sozinha. Hui contou que costumava fazê-los para a mãe de Tigresa, dizendo que ela adorava comer bolinhos, especialmente os grudentos enquanto estava grávida.

Continuaram conversando até que Shifu entrou em um tema que haviam esquecido.

– Víbora, suas irmãs não viriam treinar comigo e com você?

– Elas deveriam ter vindo para o casamento deles.

– Bem, deve haver algum motivo para o atraso. Vou enviar uma carta para o seu pai.

Depois de algum tempo, eis que entram Louva-a-Deus e Macaco. Ao verem Tigresa preparando a massa dos bolinhos, ficaram em estado de choque, para depois explodir em gargalhadas.

– Já quer ficar viúva? - Perguntou Louva-a-Deus tentando parar de rir para não cair da mesa e recebeu um rosnado baixo da felina.

Ela nem se quer olhou para eles, tentando manter-se concentrada no primeiro café da manhã de seu esposo.

– Pobre do meu amigo, mal casou, já vai sofrer - brincou Macaco - achei que isso só aconteceria quando tivessem filhos.

Shifu e Hui o encararam com um olhar assassino. Isso lá era jeito de falar de filhos? Tigresa soltou dentro da panela a colher de madeira que estava usando para mexer o recheio de frutas dos bolinhos e os encarou também.

Não exatamente brava, mas chateada porque eles sendo de espécies diferentes, como poderiam ter filhos? Até ela estranhou a própria atitude, já que nunca pensou em ser mãe, mas levando em conta que nunca pensou em se casar e agora estava junto com Po, sabia que era compreensível um desejo de construir uma família, como a qual teve um dia, mesmo sem se lembrar.

– Quando ele voltar pra Yu Qin vai comer bem melhor do que com Tigresa – continuou Louva-a-Deus.

– É, pelo menos vai ficar longe dessa comida venenosa, se é que isso é comida.

Apenas ouviram um barulho. A outra colher, a de madeira, havia sido quebrada por Tigresa que se recusava a encará-los.

Ok, agora eles sabiam passaram dos limites.

– Caiam fora - disse rosnando.

– Era só brincadeira, Tigresa - disse Macaco.

Já que havia extrapolado, não adiantaria parar, então ignorou a raiva da felina, era mesmo provável que iria apanhar... então, dá na mesma.

– Não estraguem meu dia - seu semblante ficou sério novamente e ela voltou a se concentrar na panela.

Ambos amigos receberam bronca de Víbora e Garça, além de um golpe da serpente em suas nucas. Eles imaginavam, mas ninguém sabia exatamente o quanto doía em seu coração saber que em alguns dias teria que se separar dele sem saber exatamente quando voltariam a se encontrar. Como quando ele ficou para trás, sentiu que sua alma se partira em dois.

Tigresa esperava que fosse logo, mas tinha uma sensação profunda em seu peito que lhe dava angústia, como se estivesse em desespero e sentindo que algo ruim aconteceria. Sempre que sentia isso, ignorava. Talvez fosse besteira, paranoia por estar casada e não saber exatamente como uma boa esposa deve se portar, mas então lembrava que Po se casou com ela porque a amava do jeito que era e esse pensamento a ajudava a relaxar e esquecer do aperto em seu peito.

No quarto, o panda se revirava de um lado a outro, não queria despertar. Abriu os olhos ainda sonolento e procurava por sua esposa.

– Hm - resmungou - Tigresa?

Sentou-se na cama encostado na cabeceira da cama e esfregou os olhos. Antes que pudesse pensar em onde estaria Tigresa, seu estômago roncou. Pousou as patas sobre a barriga resolveu se levantar.

Vestiu sua velha bermuda de sempre para ir até a cozinha. Se espreguiçou enquanto percorria o corredor e chegando lá, teve uma surpresa.

– Uau! Quem fez esse café da manhã? - Perguntou Po ao entrar.

Encontrou-se apenas com Tigresa, já que os demais já haviam comido. Seu pai e mestre Shifu saíram depois que ela terminou de cozinhar.

Em cima da mesa havia bolinhos grudentos, rolinhos primavera, tofu, e chá.

– Eu.

– Obrigada, Ti - se aproximou dela e a beijou rapidamente para depois sentar-se e começar a comer.

– De nada. É parte da tradição e também, foi bom. Lembrei como se cozinha e pude fazer algo que você gosta - sentou-se para comer com ele.

Ambos sorriram e tomaram o café da manhã juntos como um casal.

– Já tá todo mundo treinando?

– Não, mestre Shifu deu o dia de folga.

– Então, vamos fazer o que?

– Eu estava pensando em meditar um pouco.

– Vamos meditar e depois... hm, que tal ir no lago das lágrimas sagradas?

– Tudo bem.

– Depois do almoço – Po sorriu.

– Tá certo.

Fizeram uma longa sessão de meditação aos pés do pessegueiro. Não podiam estar mais felizes.

Na metade da manhã, as zonas de comércio da cidade proibida e fora de seus limites, já estavam funcionando. No fundo de uma certa floricultura, um certo leopardo de pelagem dourada e olhos castanhos esperava ansiosamente pela tarde para poder ver sua bela Ayra. Ele estava cuidando das flores que ela tanto gostava e preparando um buquê como para ela, até enrolou uma fita azul tal qual os olhos dela, azul ciano. Até abriu um sorriso quando terminou de fazer o laço e elevou o presente para apreciar o perfume.

Ali havia recipiente com um pouco de água chega para que as flores aguentassem até a hora de serem entregues. Eis que ao depositar as flores de volta em tal recipiente, reconheceu na sua frente a última pessoa que desejava ver.

– Rin.

– Hai Li.

– O que você quer?

– Ainda está saindo com aquela estranha?

– Não fala assim dela. Aliás, vá embora.

A pantera negra se aproximou dele e sussurrou ao ouvido:

– Não se esqueça que eu posso contar a ela seus segredos.

– Eu não tenho medo de você e nem do que você pode falar, você sabe que não é verdade.

– E como você sabe? – Sorriu ela cinicamente.

– Do mesmo modo que você. Eu não te escolhi e eu não quis fazer parte daquilo.

– Mas estava lá.

– No lugar errado, na hora errada.

Antes que ela pudesse falar alguma coisa, os pais e a irmã de Hai Li entraram correndo.

– Hai Li, você se meteu de novo com os guardas ou com alguém do palácio imperial? – Perguntou a leopardo mais velha.

– O que tá acontecendo?

– Responde pra mamãe.

– Eu não fiz nada. E como ela entrou aqui? – Apontou pra Rin que estava atrás dele de braços cruzados.

– Então por... hey, o que tá fazendo aqui? Não pode entrar assim, vai – disse a mãe de Hai Li apontando para a saída.

– Tá bom, tá bom, tô indo – começou a caminhar, mas parou ao passar por Hai Li apenas para soltar mais de seu veneno – pense bem no que eu te falei e no que eu posso fazer a seu favor e contra você – continuou a andar até sair.

– O que ela quis dizer com isso, filho? – Perguntou o pai.

– Sei lá. Mas me digam, o que foi? Que história é essa de guardas?

– Tem guardas na entrada da loja e querem nos levar até o palácio – respondeu a irmã do leopardo.

– Oh, ou.

– Não gostei desse “oh, ou”.

– Vamos, só preciso disso – pegou as flores – estou pronto.

– Pra quê? Se estiver encrencado, não vai precisar disso – disse o pai.

– Só pra por no seu túmulo.

– Hanna! – Disseram os leopardos mais velhos.

– Desculpa, não falo mais nada.

Saíram para seguir os guardas até o palácio. Certamente, era hoje o dia do qual Ayra havia falado para ele, o dia de conhecer seu pai, de apresentarem suas famílias e convencer os membros do conselho de sua escolha.

Ninguém percebeu a pantera negra que observava tudo de longe.

“O que quer que ele tenha feito, quem quer que seja aquela garota, tem alguma ligação com a família real, ou então ele não estaria levando as flores que eu vi aquela garota pegar ontem”, pensou Rin entrecerrando os olhos. “Que eu saiba, ele parou de roubar, então só pode ser por causa dela. Mas eu vou descobrir.”

Estava chegando a hora do almoço e no palácio imperial, teriam visitas.

– Como estou? Ju, Xue?

– Você está linda – respondeu Ju sorrindo para Ayra.

– Concordo com a Ju, tá linda, maravilhosa – disse Xue.

– Obrigada gente, ai... nem acredito que vamos apresentar a família dele pro papai e pros conselheiros.

– Será que eles vão falar alguma coisa ruim? É que eles são rígidos, não é? – Perguntou a panda.

– Não vai acontecer nada ruim, seu pai ia junto com o meu falar com eles – disse Xue.

Ao ouvir isso, Ayra se lembrou do trato com Fa Huo e mordeu o lábio inferior. Realmente deveria roubar de uma mestre que estaria a ali para protegê-la?

– Espero que eles tenham conseguido. O que foi Ayra? – Perguntou Ju.

– Ah, nada. É que... – se recompôs e disfarçou alisando seu vestido com as patas –será que papai não exagerou mandando os guardas buscarem a família do Hai Li?

– Acho que sim – disse Xue e riu, assim como Ju.

Uma empregada anunciou a chegada da família do leopardo. As três damas desceram as escadas correndo até a sala do trono onde eles seriam recebidos. Antes de entrar na sala, pararam de correr para andar à passo lento, além de recuperar o fôlego.

Ao chegarem, estavam Hai Li e seus familiares, todos naquelas túnicas em tons de cinza. Era seu uniforme de trabalho e a roupa também era protetora para que não arranhassem o corpo nos espinhos de algumas flores.

Ayra seguia à frente da irmã e de Ju. Xue estava com um simples vestido azul claro, com forro branco, com pequenas flores cor-de-rosa bordadas próximos à bainha. Ju possuía apenas um kimono simples em amarelo, sem quaisquer desenhos. Ayra tinha um q’pao verde escuro com adornos dourados e vermelhos em espirais e flores.

Quando estavam mais próximas, Hai reparou que Xue também tinha os olhos azuis, mas a tonalidade era ligeiramente mais escura, ela olhos de safira.

– Você, você é a mocinha que ia na loja todos esses dias! – Exclamou a mãe de Hai.

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– Por favor, não gritem isso por aí, os conselheiros não devem saber que ela saiu escondida e que foi tocada por ele, ou podem considerar desonra e sabem as consequências.

Todas sorriram e se apresentaram à família de leopardos.

– Me perdoem, majestades, mas por que nos trouxeram aqui? – Perguntou o pai de Hai.

– Simples, precisamos tratar de apresentar vocês e seu filho formalmente à mim e também aos conselheiros do palácio imperial.

– A quê se deve essa honra, senhor? – Perguntou a mãe de Hai.

– Se deve ao fato de que seu filho é o dono do coração de minha filha.

– Isso a gente já percebeu, né irmãozinho – Hanna cutucou o irmão com um sorriso malicioso.

– Hanna, para com isso – retrucou ele com nervosismo e virou-se para Ayra – eu trouxe isso pra você – se aproximou dela e entregou o buquê.

– Obrigada, Hai Li – respondeu a futura imperatriz tomando o buquê e sentindo o delicioso perfume das flores.

– Bem, vamos ao almoço – disse o imperador.

E durante o almoço, a família foi apresentada aos conselheiros e a felicidade de Ayra estava encaminhada. A princesa se apresentou, explicou o porquê escolheu Hai Li como seu companheiro, teve de falar a verdade. Os oito conselheiros pareceram não se importar. “O que será que Fa Huo disse a eles?”, pensou Ayra desconfiada, assim como Xue e Zhi, e ambas felinas compartilharam outro pensamento: “vou descobrir mais tarde”.

Ayra contou sua história, a história de sua mãe, como foi adotada, o que ela aprendia e os seus futuros deveres no palácio. Explicou o trato com seu pai para que escolhesse um companheiro logo para apresenta-lo na coroação e que então, se apaixonou por Hai Li. Ele será o novo imperador.

– Você tem certeza que... quer a nossa família como sua? Que quer nosso filho como imperador? – Perguntou a mãe de Hai Li.

– Claro que sim, eu o amo. Pode ser cedo pra dizer, mas é o que eu sinto. Algo errado?

– É que, pra ser sincero, nosso passado não é dos melhores – disse o pai do leopardo sendo interrompido por Ayra.

– Não me importa, o importante é o que se escolhe ser e escolheram ser bons, não é? Além disso, ele me escolheu – sorriu para Hai Li e ele sorriu de volta.

– Então, ele será seu prometido.

– Eu permito que minha filha se case com ele.

Os pais dos dois se levantaram e selaram o compromisso com aperto de mão.

O dia não poderia estar melhor para eles. Depois do almoço, a família de ambos prometidos passearam pelos belos jardins imperiais. Nem os jardins que cultivavam eram tão lindos assim.

Passaram o dia todo assim e antes da noite cair, Fa Huo estava bolando uma ideia. Não tinha muito tempo para conseguir concretizar seus planos, precisava trazer Po e Tigresa à Cidade Proibida logo. Já que não pôde evitar a união dos dois, teria que evitar a consumação, aquilo que poderia sair disso e que estava por vir à partir dessa ligação de ambos e que descobrissem o que pretendia realmente.

Quando pararam em um local entre as flores para se sentar e conversar mais, ele resolveu falar:

– Bem, não querendo ser intrometido, afinal eu sou apenas um humilde convidado e amigo do nosso nobre imperador, eu gostaria de sugerir que a coroação fosse adiantada.

Nesse momento, Xue começou a sentir-se mal, mas disfarçou. Era como uma dor de cabeça, como se seu cérebro pulsasse como um coração. Respirou fundo antes que alguém percebesse. Apesar disso, ainda estava escutando a conversa.

– Por quê? – Perguntou Ayra.

– Porque você já escolheu um companheiro. Pra quê adiar mais? Não foi adiada apenas pra que você tivesse tempo pra encontrar alguém por amor? – Disse Fa Huo, tentando soar o mais convincente possível.

– Eu já pensei em fazer isso sim – afirmou Zhi – mas não ia comunicar a eles agora.

– Mas não tem importância – disse Hai – não importa quando ou como, eu a amo e me caso com ela assim que puder.

Hai Li aproximou-se de sua noiva e a prendeu em um abraço. Ayra sorriu para ele e depois para o pai.

– Estou de acordo, papai.

– Então, preciso enviar uma carta aos mestres do Palácio de Jade para que venham assim que marcarmos a data. Bem, agora, deixo vocês voltarem para casa e perdoem-me por mandar buscar vocês assim. Não sabia de outra maneira que não fugissem ou fossem alvo de alguns que querem entrar aqui à todo custo por serem meus convidados.

– Está tudo bem. Obrigada por tudo – respondeu o pai de Hai Li.

– Não tem que me agradecer, logo seremos uma só família. E tenho que agradecer aos deuses e aos senhores por esse jovem correto e bondoso que cruzou o caminho de minha filha, que a fará feliz e cuidará de toda a China junto a ela.

– Não me importa quantas responsabilidades eu carregue, se for com ela, estou feliz – disse Hai sorrindo, mas o sorriso logo sumiu com as “graciosas” palavras de sua irmã.

– Nossa, tão doce, tô até enjoada.

– Hanna! – Brigou a mãe da leopardo.

– Tá bom, parei.

– Perdão, eu preciso me retirar – disse Xue escondendo a dor que sentia, inclinou-se para se despedir e foi à passo rápido para seu quarto.

Chegando lá, no meio do caminho para a cama, caiu de joelhos no chão, de olhos fechados esfregando a testa e a cabeça com as patas. Já há algum tempo sentia alguns incômodos que evoluíram para dores e agora, está forte. Ultimamente estavam ficando mais intensas e ela nem sabia o porquê.

– Por que isso? Quero saber... – sussurrava.

Logo a dor passou e ela abriu os olhos. Estava em frente ao próprio espelho e seus olhos de azul safira eram mais intensos do que ela se lembrava.

Preferiu esconder isso de todos, não queria que achassem que estava doente. Ela tinha a mesma coisa que Zhi dizia que teve sua mãe.

– Ai, meus deuses, será que vou morrer, agora? Ah, preciso descansar...

Se levantou e foi para a cama. Era cedo, mas quem sabe era disso que ela precisava, já que dormia pouco. Muitas horas de sono. Talvez por isso tivesse dor de cabeça nesses últimos meses e estivesse piorando. Deveria se cuidar.

No Palácio de Jade, todos estavam reunidos em torno da mesa de jantar para comer o famoso macarrão de Po. Antes que começassem a comer, entra Zeng na cozinha, chamando por Víbora.

– O que houve Zeng?

– Suas irmãs chegaram. Estão esperando você e Mestre Shifu na arena do palácio.

– Obrigada.

– Bem, vamos recebê-las. Todos nós – disse o panda vermelho saindo da cozinha, sendo seguido pelos outros.

Até mesmo Hui Nuan e Jing-Quo foram receber as irmãs mais novas de Víbora.

Ao chegar na arena, encontraram suas novas colegas e alunas e a serpente se apressou a se encontrar com elas. Elas abaixaram a cabeça em sinal de respeito aos mestres.

– Gente, essas são minhas irmãs, Mei é a do meio e essa é Xiaoli, a mais nova.

– É um prazer conhecê-los – disseram juntas ao olhar para o grupo.

Esses dias com novas pessoas seriam muito movimentados e apesar de estarem curiosos pela demora das irmãs do poderoso clã Víbora, deveriam deixá-las descansar da viagem. Logo saberiam seus motivos.

Foram jantar junto a elas e depois dormir. Foi quando o casal mais show de bola de toda a dinastia iria aproveitar mais seu tempo juntos.

Embora Tigresa soubesse que ele deveria voltar em breve para Yu Qin, e quisesse que ele ficasse, deveria desfrutar o máximo de tempo que tinham juntos, porque depois seriam poucas as vezes que se encontrariam até que tudo se resolvesse. Ela não sabia por quanto tempo estaria afastada dele e que teria de guardar cada toque, cada bela palavra e cada momento com ele em sua memória.