O Símbolo da Revolução

Dicas de sobrevivência


Naquele momento eu era uma grande mistura de sentimentos.

Mais do que nunca eu sentia raiva da Capital por nos obrigar a participar dos jogos e ainda nos deixar em condições tão ruins. Se eu morresse quem iria alimentar minha família? Ela não poderia sobreviver com a comida extra que a Capital sedia em troca de colocarmos nosso nome mais vezes na colheita. Porque o Presidente insistia em manter a situação assim? Mais cedo ou mais tarde as pessoas se cansariam de miséria e opressão. A não ser que morressem de fome antes.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eu estava borbulhando ódio quando os Pacificadores entraram na sala para me acompanhar. Saímos do Prédio da Justiça e fomos ao encontro de Effie Trinket que nos esperava em um carro. Peeta estava com os olhos inchados e vermelhos, provavelmente esteve chorando. Mais cedo eu havia feito o maior esforço para não chorar, mas depois não precisei mais. O ódio que eu sentia secava qualquer lágrima que tentava sair.

Até a estação de trem, Effie insistia em nos contar sobre coisas fantásticas da Capital, luxuria que encontraríamos no trem e durante o treinamento para os jogos. Mas eu não me importava. Mesmo tendo prometido a Prim que tentaria vencer, eu ainda não sabia como iria conseguir vencer outros 23 participantes. Ainda por cima, havia o risco de ter que matar Peeta. De longe eu me importaria com o que pensasse, são as regras. Apenas um pode vencer. Mas se eu pudesse evitar, preferiria não ser a causadora de sua morte.

Por algum motivo, a voz de Effie ecoou na minha mente nos desejando sorte com a frase que eu achava mais irônica. Que a sorte esteja sempre ao seu favor. A sorte nunca está a nosso favor.

Quando a estação de trem surgiu, eu agradeci. Não aguentava mais as baboseiras que aquela mulher falava. Nós estávamos indo para o abate e ela narrava sobre maçanetas de ouro. Agora que eu corro o risco de nunca mais ver minha família, eu não desejo essas coisas.

Assim que o carro para, eu desço rapidamente. Parecia que Peeta não estava nem com a gente. Estava abalado. Era normal as pessoas se sentirem assim quando eram escolhidos para os jogos, mas eu imaginaria que ele se comportaria diferente. Imediatamente me lembrei de tributos que passaram a imagem de fracos e coitados, para, durante os jogos, saírem matando e vencer. Uma tributa do Distrito 7, Johanna Mason, venceu dessa forma. Nunca fui muito com a cara dela.

Eu nunca havia andado em um trem, muito menos em um super avançado da Capital, que tinha a maior velocidade possível. Assim que entrei, percebi que as poucas coisas que a Effie havia dito e que eu tinha escutado era verdade. Lustres de cristal, maçaneta de ouro, recipientes de prata, estofado de couro. Tudo o que nós do Distrito 12 não conseguíamos ter estava em um trem para transportar pessoas marcadas para morrer.

É muito lógico gastar uma fortuna com trens para transportar pessoas e deixar os Distritos morrendo. Quem nunca fez isso, né?

– Eu não disse? – Effie rodopiou apontando para todos os lados alegremente. – Tudo para vocês. Podem aproveitar.

Olhei para Peeta, para não ter que olhar para a felicidade de Effie, mas ele ainda chorava silenciosamente.

– Mas primeiro todos para o banho. O jantar é daqui à uma hora.

Finalmente eu ficaria a sós. Fui até a câmara reservada para mim, onde havia uma cama, gavetas com roupas caras e macias, chuveiro com água quente e lanches para todos os lados. Esse exagero por luxuria e comida parecia até uma piada.

Tomei um banho demorado, aproveitando o meu primeiro banho em um chuveiro. No meu Distrito o único modo de nos lavarmos é enchendo uma banheira e se quiséssemos água quente, tínhamos que ferver.

Uma hora exata depois, eu saí para o vagão onde seria servido o jantar. Peeta já estava sentado na mesa, comendo. Parecia outra pessoa. Estava sério e com uma postura que o deixava com cara de Carreirista.

Effie me vê aproximando e se levanta sorridente.

– Vou atrás do Haymitch. Deve estar no vagão bar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eu me sento ao lado de Peeta, pois assim não preciso ficar olhando para ele. O clima entre a gente é sempre pesado. Eu gostaria de saber o que ele pensa sobre mim, o que pretende fazer nos jogos. Se pelo menos se importa.

Até onde entendi, Haymitch vive bêbado. Talvez ele seja um dos motivos do Distrito 12 nunca ter um vencedor. Ele não se importa. É normal vencedores como ele usar algo para fugir da realidade. Bebidas, drogas, dores. Eu sempre imaginei que estar dentro de uma arena contra outras crianças que você não conhece e ter que matá-las era horrível, mas ainda não consigo me imaginar dentro dos Jogos.

A porta do vagão então se abre, revelando um Haymitch cambaleante e uma Effie vermelha de raiva. Haymitch, nosso mentor, sentou diante de nós dois. Pegou um copo de alguma bebida vermelha e derramou algum tipo de bebida alcoólica que estava em uma garrafinha em seu bolso. Depois de uma grande golada, parou e nos encarou.

Por um momento, eu imaginei que a Capital pretendia nos matar de raiva ou qualquer coisa do tipo, porque lidar com pessoas como Haymitch é muito difícil.

– Supostamente seu dever é nos dar conselhos. – Eu digo plenamente séria e com um leve ar de aborrecimento – Você é o nosso mentor. – Alguém tinha que falar alguma coisa. Infelizmente eu tive a ideia de iniciar uma conversa.

– Aqui está um conselho: fique viva – e então começa a rir até alcançar uma gargalhada forçada.

Vejo Peeta inquieto do meu lado. Ele aperta a mão sobre as pernas, segurando para não explodir de raiva.

– Seria muito engraçado – começa ele, respirando pesado – se estivesse falando com seu filho?

Haymitch ficou sério imediatamente. Aquilo pareceu afetá-lo mais do que poderia. Na verdade, eu nem imaginaria que ele poderia ser afetado.

– Eu não tenho filhos. – Nosso mentor nos encarou, agora nos analisando. Algo pareceu chamar atenção dele. – O que foi? Eu peguei dois lutadores esse ano? – E sorriu novamente, mas um sorriso diferente, que um Haymitch debochado e bêbado não faria. Ele colocou o copo na mesa.

– Nos dê conselhos – Peeta pede.

– Eu irei ensiná-los como ficarem vivos, mas primeiro precisam comer e dormir. Logo estaremos chegando à estação e vocês precisam estar preparados para os estilistas. – Haymitch pegou um pão e apontou para um pote de vidro na minha frente. – Me passe a geleia.

– Como que fazemos para ficarmos vivos? – pergunto, sendo um pouco mais grossa do que pretendia.

– Vamos querida, me passe à geleia.

– Como que fazemos para ficarmos vivos? – Repito.

Haymitch se move em direção à geleia e rapidamente eu pego uma faca na mesa e finco nela, entre os dedos do meu mentor. Ele olha para mim fixamente.

– Isso é mogno – grita Effie, com seu jeito único, do sofá que estava sentada nos observando.

– Parabéns, você acaba de matar a mesa. – Haymitch finalmente consegue um pouco de sua geleia. – Quer saber como ficar viva? Faça as pessoas gostarem de você. – Alguma coisa em meu rosto, talvez minha expressão, fez com que ele sorrisse, se divertindo – Não era o que esperava, não é querida?