A primeira vez que entrou na Millenium Falcon foi no dia em que deixaria Hoth e estava ansioso. Por isso, não se importou com as condições precárias do interior do cargueiro, que eram tão desoladoras quanto o seu aspeto exterior. Havia odores estranhos, manchas suspeitas, pedaços soltos e a impressão de que tudo se iria desagregar com uma manobra forçada.

Encolheu os ombros e sentou-se no lugar do passageiro, na carlinga, que era curiosamente semelhante àquela do cargueiro YT-450 com que saíra de Pesak. Muito normal, já que se tratavam de dois cargueiros projetados e construídos nos estaleiros de Corellia.

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Viajava sem bagagem. No tempo que passara na base Echo não reunira qualquer bem que fosse fundamental transportar consigo, no dia da partida. Deixou o que lhe tinham dado no seu quarto e levava apenas a roupa que vestia. O estilo era duvidoso, uma farpela que era partilhada pelo pessoal civil da base, mas mantinha-o razoavelmente quente e ele sabia que seria transitório. Nunca se tinha manifestado contra a moda adotada pela Aliança, embora secretamente suspirasse de desgosto, todas as manhãs, quando vestia aquilo. Muito bem, o seu padecimento, também na área da indumentária, estava a terminar.

A estadia em Hoth fora educativa, para não ser maldoso. Aprendera muito sobre a Aliança, sobre o seu funcionamento e a hierarquia estabelecida, como funcionava militarmente e as relações entre o restante pessoal, como se interagia com os androides, os recrutamentos e a manutenção do equipamento, os fornecimentos, as decisões políticas que geravam novos aliados, os bastidores e a linha da frente. Havia problemas, discussões, contrariedades, como em qualquer local onde convivia muita gente, criaturas, humanos e máquinas, mas no geral o ambiente era de camaradagem, amizade e compromisso. A esperança era palpável e começava a ser difícil resistir-lhe.

No dia da sua partida de Hoth, porém, ele sacudia tudo o que entranhara naqueles dias de convivência com resolução, como quem sacode a neve dos ombros. Todo aquele otimismo contagioso esvaía-se do seu sistema, quando ia regressar a casa e às tardes de ócio no seu terraço. Era bom que se curasse, não se podia envolver – ainda não se sentia preparado, ainda não tinha feito a necessária metamorfose para incorporar aquele espírito luminoso e missionário dos rebeldes.

A viagem não seria direta – a Falcon faria uma paragem num asteroide que servia como posto de abastecimento e local de encontro de contrabandistas de especiarias, onde se iria encontrar com Onca que o levaria, num transportador fretado, até Iskarish, sistema próximo do sector Bormea e só depois seguiria para Corulag. O objetivo era desviar atenções, precauções sugeridas tanto pelo ithoriano, como pelo general Rieekan.

Estava a fechar o seu cinto de segurança quando Han Solo passou por ele a resmungar.

— Ela quer despedir-se de ti.

— Ela… ela quem? – perguntou, admirado.

O wookie não entrou na carlinga, esperava que ele saísse primeiro para ir para a sua cadeira de copiloto. Num segundo resmungo, Han Solo disse, apontando com o polegar.

— Está na zona comum. Vai ter com ela para podermos descolar. Não demores.

Leia aguardava junto à mesa holográfica de xadrez, um adereço que ele achara divertido existir num cargueiro que apenas servia de veículo mercantil. No mesmo pensamento acrescentou que seria lógico, já que o seu dono era um jogador inveterado. As rotas seriam longas e um passatempo tornava-se necessário.

Heskey cumprimentou-a com um aceno de cabeça e ela devolveu-lhe a cortesia. Tinha as mãos atrás das costas e estava ligeiramente corada. Achou-a bonita, aquele tipo de beleza natural de uma mulher que gostava de exibir o seu esforço em prol de uma causa, sem se importar com enfeites, cosmética ou uma máscara ideal para esconder a sua natureza combativa.

— Senador…

— Continuas a chamar-me por um título obsoleto. Não somos mais senadores, minha querida.

— Tens razão. Desculpa-me… Heskey.

Sorriu-lhe e disse-lhe:

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— Muito obrigado por teres vindo saudar-me antes de deixar Hoth, Leia.

— Era o mínimo que podia fazer por um grande amigo do meu pai. Fui eu que te recebi, achei que não fazia mais do que a minha obrigação ao apresentar-te os meus respeitos e desejar-te uma excelente viagem.

— Mais uma vez, muito obrigado. E, querida…

— Sim? – Ela susteve a respiração.

— Não me vou juntar à Aliança. Regresso a casa e a minha vida vai continuar noutra direção. Ajudei-vos no caso dos planos dos compressores, contribuí com uma vantagem evidente no campo militar, mas fi-lo ingenuamente.

Uma espécie de alívio estampou-se no rosto dela. Pestanejou, olhou-o de baixo para cima.

— Oh, não, Heskey. Conheço a tua intransigência e as tuas convicções. Jamais faria o convite nesta fase, quando sei que o gelo de Hoth te tornou mais determinado em recusar a nossa causa. O fogo da rebelião ainda não foi aceso em ti e não aconteceria quando existe tanto frio à tua volta. Tu precisas de… acreditar. E para acreditares precisas de ser seduzido. Nesta bola de neve estamos longe da sedução, do encanto e da crença. Pelo menos, de acordo com os teus padrões.

— Contudo, não vais desistir.

— O meu pai acreditava que tu te juntarias a nós. Eu também acredito.

— Sim… claro. Honras a memória do teu pai.

— Sempre, até ao fim. Até à nossa vitória.

— Admiro-te, como admirava o teu pai. És uma digna sucessora de Bail Organa.

Leia ficou rígida, presa numa qualquer lembrança mais emotiva que ela lutava para que não saísse para o exterior. Ele agarrou-a pelos braços, inclinou-se e raspou os seus lábios na testa dela, num leve beijo.

Gostaria de ter conhecido Alderaan, o planeta da cultura, da beleza, do luxo, da temperança, da magnificência. Havia muito de Alderaan em Bail Organa, na sua vaidade e tolerância, na sua bonomia e distinção. Naqueles gestos imensos que se repercutiam em pequenos cantos da galáxia. Naquelas preocupações insuspeitas que convocavam grandes movimentos que mudavam mentalidades. Ele também via essas características em Leia Organa, no brilho que queimava no seu olhar firme, na verdade afiada que enchia cada palavra que pronunciava, na recusa da derrota e na aceitação do sacrifício, porque sabia que o futuro lhe iria ser favorável. Heskey continuava sem ter a coragem de se deixar arrastar, todavia. Não queria perder, nem abdicar de nada e retraía-se.

Deixava a Aliança, deixava o furor dos Organa, partia outra vez de consciência tranquila.

— Iremos encontrar-nos mais tarde. Talvez em melhores circunstâncias.

— Mais liberdade e menos frio – aquiesceu ela.

— Seria o ideal, minha querida.

— Que a Força esteja contigo, Heskey.

A comissura dos seus lábios torceu-se num sorriso mais ou menos forçado. Tornou a inclinar a cabeça.

— Bem, é melhor terminarmos esta despedida, ou o teu namorado vai ficar com ciúmes.

Leia estremeceu. E as suas faces ruborizaram imediatamente.

— O quê? Namorado?... Estás a falar de Han Solo? Ele e eu… nós não somos…

Heskey sorriu com mais vontade. Atingira um nervo sensível e ele adorava apanhar as fraquezas dos outros. Apesar de, no caso deles, não ser muito difícil. Os dois partilhavam um enorme segredo. Mentalmente mudou o foco para o corelliano. Era uma fraqueza dele, não de Leia.

— Eu compreendo, não precisas de te explicar.

— Compreendes?! Não há nada para compreender! – exclamou ela, esganiçada. – O que andou aquele… aquele… o que te andou Han Solo a contar?

— Mal trocámos uma palavra, minha querida.

Leia soprou como um nwarr furioso. Deu meia-volta e saiu da Falcon com passos pesados, as suas botas a ecoar nos painéis metálicos que forravam o chão da nave. Ele esticou os lábios, oscilou o seu peso sobre os calcanhares. Oh!... O corelliano tinha uma paixoneta pela princesa, mas ela… e ela, lamentavelmente, correspondia.

Ao regressar à carlinga viu através da janela panorâmica, assim como Han também viu, a princesa cruzar o hangar com os punhos fechados, braços às ilhargas, no mesmo caminhar rápido, demonstrando a sua irritação.

— Deixaste-a zangada com o que lhe disseste, Heskey – observou Han após uma risada dissimulada. Ligava uns interruptores que arrancariam o motor do cargueiro. – A princesa é muito sensível… temos de saber lidar com ela.

— Efetivamente – concordou ele, escondendo a ironia da sua resposta. – Efetivamente.

E depois deixaram Hoth. Aconteceu tão depressa que ele se perguntou se teria valido a pena a sua apoquentação durante aquelas horas vazias da noite, quando fazia mais frio e o silêncio era fantasmagórico. Bastava uma nave, uma permissão, um vetor de saída e ali estava ele, novamente entre as estrelas, tendo Corulag como destino final.

Calou-se durante os primeiros minutos-padrão da viagem. O piloto e o copiloto desempenharam o seu trabalho, trocando indicações, graçolas, ordens e instruções, num tom que oscilava entre a galhofa, a seriedade e a irritação. Ainda na base descobrira que aqueles dois, corelliano e wookie, eram grandes companheiros e que a sua relação especial se construía numa amálgama de respeito, subordinação, interesse e amizade. Se eram inseparáveis, também podiam discutir alto e ficarem amuados. No geral, funcionavam muito bem os dois, pois nenhum deles tinha bom feitio. Heskey preferia assim. Gostava de pessoas honestas e brutalmente francas.

A nave navegava em hipervelocidade. Um zumbido enchia o interior e dava uma certa sonolência. Seria uma viagem aborrecida e previsível, contou o corelliano e foi para a zona dos passageiros sentar-se na sua cadeira favorita. Dali podia vigiar a consola de navegação e detetar alguma anomalia, mas o mais provável era chegarem ao asteroide 777 dentro da hora-padrão prevista e sem nenhum percalço a assinalar – o Império estava longe, ocupado com uma revolta num sistema da Orla Exterior próximo a Dantooine.

Heskey ficou na carlinga durante algum tempo, a cismar com o vazio de manchas cinzentas que a velocidade da luz provocava na tessitura do firmamento. O wookie tentou conversar com ele, na sua típica linguagem de rosnadelas. Ele tentou responder. Em Corulag havia uma população razoável de indígenas de Kashyyyk, mas ele nunca privara de perto com eles e, por isso, era incapaz de decifrar aqueles sons roucos, transformando-os em palavras e frases. Ao fim de algumas respostas que não correspondiam ao que Chewbacca perguntava, ele desistiu e o wookie também.

Encontraram-se todos na zona dos passageiros. O wookie jogava uma partida de xadrez holográfico sozinho, Han Solo dormitava e ele passeou-se pela nave. O percurso era curto. A Falcon tinha a forma de disco, era circular e ele vinha sempre dar ao ponto de partida. Nada de corredores esquisitos, de passagens secretas, de portas enganadoras que o pudessem levar para qualquer zona menos aconselhável. O cargueiro, aparentemente, era transparente e insuspeito. Não tinha nada a esconder – o que lhe deixava a impressão de que os seus segredos não eram aparentes. Assim como o seu dono.

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Han despertou e pôde conversar um pouco com ele sobre a natureza daquela missão. Iria encher os porões de mantimentos. Iria tentar comprar rum, também, o Liam tinha-lhe feito o pedido. Com o tempo que teria livre, confidenciou, iria passar por Ord Mantell para resolver uns assuntos que deixara inacabados e deixou o mistério no ar. Heskey não quis saber mais. Preferia ficar com uma imagem despojada, tanto da Falcon, como de Han Solo.

Para seu próprio benefício, quanto menos soubesse, melhor. Logo veria com Onca a melhor estratégia para não atrair a atenção do Império Galáctico sobre si, pois ele podia tornar-se num prisioneiro indispensável assim que soubessem que ele tinha vivido numa base rebelde. Só de pensar nisso, estremecia de horror.

O asteroide 777 era uma rocha espacial gigantesca provida com uma atmosfera artificial, gerada por uma chaminé alta situada no centro do completo que constituía o posto de abastecimento. Pertencia à cintura de asteroides de Poyt, num setor no limite das Regiões Desconhecidas. Paravam naquele lugar muitas criaturas, de diversas espécies. Ocorriam reuniões clandestinas de todo o tipo, desde espiões que informavam o Império, até espiões que trabalhavam com a Aliança, para além dos habituais negócios entre contrabandistas que traficavam especiarias.

— É o local ideal para te encontrares com o teu ithoriano. Não vais levantar suspeitas – disse Han Solo, com o asteroide à vista na janela.

— Foi por essa razão que o meu ithoriano escolheu este local – reforçou Heskey.

— Quando pousar a Falcon, sais com o Chewie, que te levará ate ao ponto de encontro.

— Perfeito, capitão.

— Então… – Han virou-se na sua cadeira de piloto, sorriu-lhe de través. – Então, é aqui que nos despedimos.

— Foi um prazer – disse ele, sincero. – Espero que nos voltemos a encontrar, em melhores circunstâncias.

— Espero ver-te do lado da Aliança, definitivamente, Heskey.

— Talvez um dia.

Trocaram um aperto de mão.

A nave aterrou numa pista que servia o posto de abastecimento. Estavam ali estacionados vários transportadores, algum seria o dele e Heskey sentiu-se mais confiante. A despedida do wookie foi um pouco mais exuberante do que estava à espera – recebeu um abraço apertado e sufocou entre a pelagem profusa de Chewbacca, dizendo, numa voz entrecortada pela falta de fôlego, que tinha gostado muito de o conhecer.

Aguardou à porta da loja do posto de abastecimento, que tanto aviava mercadorias, como bebidas fortes ao bom estilo das piores cantinas da galáxia, e só entrou quando se assegurou que Chewbacca já se tinha afastado o suficiente, o que significava que estava a regressar à Falcon.

No interior da loja pairava uma nuvem de fumo e o ruído ambiente era proporcionado pelo burburinho das conversas e pela gargalhada ocasional de alguém. Havia androides a guinchar pelos cantos. Um sistema de senhas eletrónicas determinava quem seria servido primeiro e os apitos que anunciavam o próximo código eram estridentes. Heskey avançou cautelosamente até ao dispensador de senhas e retirou a sua. Evitava parecer demasiado ávido, mas naquela fase, em que estava prestes a reencontrar Onca, mal conseguia disfarçar a ansiedade.

Uma mão pousou-lhe no braço e um conjunto de cinco dedos pequenos fez a pressão suficiente para ele olhar para a sua esquerda. Uma criatura de baixa estatura abordava-o, encostando-se a si. Vestia uma capa que lhe chegava até às botas, impedindo o reconhecimento imediato de quem se tratava. O rosto estava escondido pelo capuz largo e o corpo envolvia-se pelas dobras do manto. Ele tinha a certeza, porém, de um facto – não era Onca.

— Senador… – sussurrou. – Acompanha-me, por favor.

A criatura fora talvez enviada por Onca, para que não existisse um encontro direto que levantasse suspeitas, já que no asteroide 777 existiam espiões imperiais disfarçados. Estava à sua espera, sabia quem ele era. Confiou na criatura e seguiu-a até aos fundos da loja. Vislumbrou uma porta.

Ele quis assegurar-se.

— Está tudo preparado?

— Sim, senador.

— Também estou pronto.

— Ótimo. Não nos devemos demorar.

A criatura usava um dispositivo que lhe mascarava a voz, provavelmente uma coleira em volta do pescoço que operava a alteração junto às cordas vocais. Mas Heskey arriscou tratar-se… de uma mulher, pela entoação e pelo carinho do toque no seu braço. Sentia ainda uma espécie de calor onde a criatura tocara, um formigamento agradável.

De repente, um vulto saltou entre eles, separando-o da criatura. No mesmo salto inesperado empurrou a criatura e puxou-lhe pelo capelo, descobrindo a cabeça desta. Era uma mulher, sim, com o cabelo escuro apanhado num carrapito junto à nuca e era humanoide. Ela voltou a cabeça irritada com a interrupção e Heskey descobriu um rosto bonito, redondo, implacável. Grandes olhos expressivos, da mesma cor do cabelo, um nariz arrebitado, uma boca pequena e vermelha, dentes brancos.

— O que é que…? – tentou protestar, mas o vulto empurrou-o também.

Reconheceu um bothan no agressor. Usava outra capa, mas o focinho destacava-se na penumbra e as mãos peludas não se escondiam dentro de luvas. Aqueles dois que o disputavam eram praticamente do mesmo tamanho, reparou. Pouco mais de um metro e meio e era francamente engraçado, sendo ele um homem alto, estar a ser manobrado, como um androide avariado, por aqueles dois.

— Afasta-te dela!

Um puxão levou-o para longe da mulher. Heskey ficou confuso – em quem deveria confiar? E onde estava Onca? Procurou pelo ithoriano, mas não o encontrou na rápida observação que fez do interior da loja. Ao olhar novamente para a mulher reparou que ela apontava uma pistola laser. Gritou:

— Oh!

Um raio luminoso e quente rebentou por cima dos seus cabelos e a sala agitou-se num tumulto. Os frequentadores do sítio começaram aos berros e a fugir quando se aperceberam que estavam a ser disparados tiros ali dentro. O bothan também sacou de uma pistola laser e devolveu os disparos. Foram cinco de uma vez. Ele preocupou-se com a mulher. Teria sido ferida? Teria sido… abatida?

O que se estava a passar ali e por causa dele?

— Vem comigo. Por favor. Sou eu que vais querer seguir. Não ela! – explicou o bothan com veemência.

— Vou contigo?

— Ela trabalha para o Império!

— Como é que sei que não és tu que trabalhas para o Império?!

O bothan movimentou a cabeça, ajuizando a sua dúvida como razoável.

— Vamos descobrir quem tem razão? – acrescentou, provocador. Estava muito zangado.

Heskey apertou os lábios.

— Onde está o meu assistente?

Evitou dizer como se chamava e que se tratava de um ithoriano. Qualquer um deles, o bothan ou a mulher, teriam essa informação – seria um dado fundamental para a sua captura baseada na confiança, pois ele confiaria sempre em quem lhe dissesse que vinha da parte de Onca.

Alguma coisa teria corrido mal com o ithoriano, pensou desanimado. E naquele momento não podia avisar Han Solo ou Chewbacca, que já teriam deixado o asteroide convencidos de que ele estava a salvo. Mais uma vez, encontrava-se no meio de uma guerra que ele evitava, a fazer uma escolha que ele nunca quisera fazer. O Império ou a Aliança.

Estaria já demasiado envolvido?

Continuava a afirmar-se um senador, protegido pela imunidade diplomática. Podia ser confundido com um rebelde, todavia, já que vivera durante os últimos meses-padrão numa base rebelde e conhecera um dos seus mais importantes generais. Podia viver nesses dois mundos, com todo o à-vontade, sem beliscar a sua reputação. Talvez fosse tarde demais e só agora Heskey se estivesse a aperceber que era o imenso jogo de forças políticas da galáxia que o forçava a decidir. Não podia, como Mon Mothma lhe dissera em Chandrila, viver à margem desse conflito para sempre.

— Onde está o meu assistente? – insistiu.

— Conto-te mais tarde. Vem, aproveitemos a confusão.

Deixaram a loja no meio da debandada geral e dirigiram-se à pista de aterragem. Estavam ali as mesmas naves, os mesmos transportadores, a Falcon já tinha partido. Teria de acreditar no bothan e de o seguir. Se se revelasse um agente imperial, tentaria salvar-se com o seu estatuto de servidor do Imperador. Se se revelasse um agente rebelde… bem, voltava a estar entre amigos. Estava numa situação controlada e que ele conseguiria gerir, sem grandes malabarismos.

Ficou a pensar na mulher. Espreitou por cima do ombro, à medida que se afastava da loja. Queria que ela estivesse bem. Podia ser uma inimiga, mas não lhe queria mal. Nem sequer a conhecia e era abominável que tivesse sido ferida, ou algo pior, por sua exclusiva culpa.

— O nome da mulher é Kiiara e ela é bastante perigosa – contou o bothan como se lesse os seus pensamentos. – É uma agente contratada por Darth Vader.

— Vader? – Pronunciou o nome com um arrepio.

— Sim, o Lorde Negro está atrás de ti. Está atrás de todos os rebeldes, nos dias que correm.

— Mas eu não sou um rebelde!

O bothan ergueu uma mão.

— Conversaremos no meu refúgio. Estamos estacionados num asteroide deserto, aqui perto.

Estamos?

— Um bothan nunca viaja sozinho.

Heskey fechou o seu casaco até ao pescoço, enfiou as mãos nos bolsos. Revirou os olhos, de dentes cerrados, a respiração superficial, tentando aplacar a cólera que lhe queimava o sangue.

Não iria regressar a casa.