O Senador Rebelde

Quando se cuida


As florestas de bambu eram muito apreciadas em Corulag. Vastas planuras cerradas de plantas altaneiras, grossos postes naturais que construíam labirintos verdejantes, sombras tépidas e perfumadas que serviam um cartaz turístico sofisticado que atraía visitantes de outros sistemas. A mais famosa dessas manchas verdes situava-se em Kallis do Sul e esse era o local escolhido para o piquenique.

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A reunião em redor de um lanche frugal estava prometida havia tanto tempo e Heskey rejubilava por, finalmente, ter conseguido encontrar a oportunidade certa para fazer a visita à famosa floresta. E quando ele considerava oportunidade, incluía no conceito aqueles que estavam com ele na excursão e que era mais do que perfeita.

Jotassete rolava ao seu lado. O androide tinha o hábito de o acompanhar de perto, para continuar a cumprir a diretiva de o proteger – que parecia inútil, quando pensava nisso mais a sério, mas que de repente fazia todo o sentido, pois a sua vida era uma constância de surpresas e de situações anómalas.

Onca estava uns passos atrás, a supervisionar a plataforma flutuante que carregava os adereços necessários ao passeio. As vitualhas, o vinho, as mantas para estender na relva, os hololivros e outros passatempos para aproveitar um dia ao ar livre, um toldo para criar sombra, incensos e leques porque fazia muito calor e havia que afastar insetos.

E mais adiante, a saltitar na emoção pueril da descoberta de um local de uma beleza ímpar, ia Kiiara. Portava-se como se fosse a senhora do reino de bambu, a nobre dona da floresta que vinha visitar os seus domínios, apercebendo-se da pequena maravilha que era sua. De vez em quando rodopiava e era nesse movimento que Heskey lhe captava o rosto feliz e sorridente e sentia-se feliz e sorridente com ela.

Estava terrivelmente enamorado.

Era um erro – ele não queria ver as coisas desse prisma, todavia. Onca tentou convencê-lo de que estava a ser totalmente imprudente e mais irritado ficou. Nunca tinha visto o ithoriano tão alterado, quando acolheu Kiiara na sua casa e a tornou numa hóspede especial e permanente, sem um prazo para partir.

— Senhor, será que te esqueceste que essa… essa senhora é uma espia imperial enviada para recolher segredos sobre a Aliança em Corulag? Que te está a espiar a mando do juiz Emile Omonda, o teu mais importante inimigo?

— Onca, Onca, estás a criar um problema desnecessário.

— Essa mulher não é de confiança.

— Provavelmente. E fazendo parte dos meus inimigos, não será uma jogada inteligente tê-la por perto e sob a minha estreita vigilância?

— É esse o teu plano. Esse teu plano não é muito fiável, senhor – rebateu o ithoriano indignado.

— Eu disse-te que era melhor que a tivesse convidado para um jantar apropriado. Agora tive de improvisar. Já a cativei, não a irei largar.

— Não podemos portarmo-nos como amadores nesta matéria. Senhor, tu és um rebelde declarado. E se Mon Mothma te contacta, entretanto, com a senhora Kiiara na mansão?

— O juiz Emile Omonda ficará muito contente.

— E nós não queremos que o juiz Emile Omonda fique contente.

— Eu confio que ele nunca ficará contente, Onca.

— Estás bastante confiante.

— Sim, confio na minha Kiiara.

— Não percebi, senhor. Confias nela, mas sabes que é uma inimiga que deves vigiar.

— A duplicidade é um jogo que aprendi em Coruscant. Velhos hábitos levam muito tempo a morrer. Julgava que tinhas entendido o que estou a preparar.

— É demasiado rebuscado e incompreensível para mim, senhor.

Onca passou a desprezar Kiiara, mas nunca a tratou de forma rude e dirigia-se a ela sempre com decoro, usando o apodo de senhora. Ela percebia que havia animosidade, mas não se deixava afetar e ignorava o mau ambiente, porque, julgava Heskey, era uma profissional e estava a trabalhar no seu ofício com uma eficiência irrepreensível. Ou estaria tão deslumbrada quanto ele.

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Tentava focar-se na primeira hipótese, porém as noites que partilhavam eram tão intensas e apaixonadas, que ele tinha tendência para olvidar o muito que podia perder naquele doce engano.

Kiiara era adorável. A mulher tinha uma personalidade forte, dizia sempre a última palavra, conversava de igual para igual com ele sobre diversos assuntos, embora evitassem a política. Partilhavam gostos, tinham ideias parecidas e detestavam comentar o passado. Com eles era só futuro e o que podia haver no amanhã. Na galáxia que eles imaginavam para si não existia Império, nem existia República, guerra ou disputa de setores. Era uma utopia absolutamente perfeita de um mundo de lazer e de riquezas várias, sem preocupações, recheado de momentos de ócio e de deleite, de cultura e de surpresas. Roupas novas, comidas inusitadas, prendas e futilidades.

Heskey nunca se olvidara de quem ela era – uma espia ao serviço do Império. E também nunca se esquecera de quem ele era – senador imperial de Corulag ao serviço da Aliança. Naqueles dias em que tinha o coração aceso de amor, essas classificações pareciam-lhe mesquinhas. A vida era bastante mais do que obrigações, lealdades e compromissos. A vida podia ter luz e ser simples.

Era isso que ela lhe ensinava, quando lhe pousava a mão no rosto e lhe transmitia o seu calor. Era isso que ela lhe mostrava quando lhe afirmava que podia confiar num abraço. A vida era para ser vivida da melhor maneira possível.

Então, marcou o piquenique e prolongou aquele idílio amoroso para novos horizontes.

Onca preparou o local que escolheram para o lanche, uma pequena clareira bordejada por um lago que se estendia num tranquilo espelho turquesa. Desdobrou as mantas, montou o toldo, colocou as pequenas mesas, distribuiu a comida, preparou os copos e abriu a garrafa de vinho. Jotassete estacionava perto da estação portátil e pediu que lhe recarregassem as baterias. Era a sua forma de participar no piquenique.

Heskey aproximou-se de Kiiara que atirava pedrinhas para o lago. Postou-se ao lado dela e ficou a vê-la a fazer os lançamentos, tentando superar a distância alcançada pelos primeiros projéteis. Ela olhou-o daquela maneira peculiar que misturava apreensão e arrojo.

— Ah, estas águas são habitadas por alguma besta aquática que eu desconheça?

Ele sorriu, divertido com aquilo.

— Não, Kiiara. Kallis do Sul é um local bastante pacífico e daí que seja tão procurado. Não existem animais perigosos por aqui e podes continuar com o teu exercício. A única coisa que pode acontecer é perturbares alguma planta aquática mais sensível. Estamos rodeados de plantas, somente. Estava a gostar de ver a tua força de braço.

Ela também lhe devolveu um sorriso bem-humorado.

— Sei usar uma arma. Isso surpreende-te?

— Não. De todo. No nosso primeiro encontro, no infeliz asteroide 777, usaste uma arma contra mim.

— Usei? Não me recordo de ter sido tão indelicada…

— Tenho a fatalidade de possuir uma memória demasiado boa. – Estendeu-lhe a mão. – Vamos, minha querida? Onca já preparou tudo e o banquete aguarda-nos.

Kiiara deu-lhe a mão. Tinha dedos pequenos e quentes. Ele adorava segurar-lhe a mão, observar-lhe as linhas desenhadas na pele, cheirar-lhe o perfume próprio, analisar aquela parte do corpo dela com minúcia. Uma senhora reconhecia-se pelas mãos, dizia-se.

Uma melopeia suave soou de um pequeno emissor portátil. O ithoriano estendeu duas taças de vinho que Heskey e Kiiara aceitaram. Fizeram um pequeno brinde, elevando-as ligeiramente e ele provou o néctar, com um especial prazer. Era o vinho da mesma casta daquele que involuntariamente partilhara com Omonda, naquela noite que a sua memória prodigiosa queria muito esquecer. Conseguira encontrar uma garrafa, que estava reservada para um outro cliente, na loja do mercado central de Curamelle. Pagara uma fortuna, mas não lamentava o capricho. Queria oferecer a Kiiara o melhor que o seu dinheiro podia comprar, ainda que as suas finanças continuassem num nível pouco saudável.

Ela reconheceu o sabor apurado do vinho.

— Hum… Excelente. Um vinho de Alderaan? Ouvi dizer que ainda se encontram algumas garrafas das colheitas famosas desse planeta, em adegas exclusivas. Não me admirava que a tua adega fosse uma delas.

— O vinho é de Carida, que também produz excelentes aguardentes.

— E terás vinho de Alderaan, escondido, na tua cave secreta da tua mansão?

— Creio que sim. Guardei algumas garrafas que me foram oferecidas por um excelente amigo.

— Bail Organa.

Heskey afastou a taça do rosto. Observou-a durante uma curta pausa. Decidiu não morder o isco. Aquele nome levava-o à via política da discussão que ele evitava, na presença dela. Era uma clara armadilha. Por um instante, incomodou-o que fosse um ardil deliberado para o apanhar num passo em falso.

— Tive a enorme fortuna de receber presentes exclusivos do vice-rei de Alderaan – explicou ele. – Alguns consumi e usei em Coruscant e por lá ficaram. Em relação a outros, tive o bom senso de os despachar para casa.

— Oh! Que maravilha!

— Um dia iremos beber o vinho de Alderaan juntos, minha querida.

— Isso é uma promessa?

— Efetivamente. É uma promessa.

— Irei cobrá-la!

— A ocasião deverá ser adequada a esse vinho.

O riso dela era divino.

— E que ocasião poderá ser essa? És exigente, Heskey… Ah, compreendi! O vinho de Alderaan seria inadequado num piquenique no meio da natureza. Esse tipo de vinho requer uma cerimónia mais formal e eloquente. Como o empossamento de um novo líder.

Teve um espasmo numa das sobrancelhas. Disfarçou o seu sobressalto com um sorriso que ele teve consciência de ser desprovido de autenticidade. Kiiara continuava a estender a armadilha, subtilmente, sedutoramente.

— De facto, o vinho de Alderaan, por ser raro e impossível de encontrar, deverá ser servido também numa ocasião inédita e irrepetível – concordou, a voz um pouco tensa.

— Como saberás que essa ocasião chega?

— Acho que saberei. Não costumo ignorar os avisos importantes.

— Costumas antecipar-te aos teus adversários.

— Tenho conseguido fazê-lo com acerto, até agora.

Deu-lhe o braço que ela aceitou. Encaminhou-a para a manta. Ela sentou-se, prendendo a saia do vestido por debaixo das pernas. Ele também se sentou, de frente para Kiiara. A sombra proporcionada pelo toldo era refrescante. Jotassete apitou.

— Este lugar é muito bonito, senador. Parabéns! A floresta de Kallis do Sul vai ficar eternamente guardada na minha base de dados.

— Obrigado, Jotassete.

Notou uma certa emoção no modulador de voz do robot que o deixou sensibilizado. Aliás, naqueles dias andava bastante sensível aos estímulos que recebia. Via o mundo com outras cores, havia mais beleza, as emoções eram aguçadas como agulhas, desistira de rancores, ansiava pelo futuro com otimismo. O ar que respirava oxigenava-lhe até a alma e sorria bastante mais. A feiticeira que operara essa magia obscura era ela.

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Onca começou a servir os aperitivos, fruta desidratada condimentada.

Ele disse que tinha uma surpresa, Kiiara bateu palmas entusiasmada. Ela era uma grande admiradora dos seus gestos teatrais, dos seus rasgos inesperados. Ele pediu o estojo e o ithoriano entregou-lhe uma caixa preta, com um formato estranho. Abriu os fechos e retirou desse estojo que era forrado a tecido vermelho um instrumento musical. Uma guitarra. Ligou-a a um amplificador alimentado a uma bateria portátil, a mesma usada por Jotassete para se carregar. Aconchegou-a a si, dedilhou as cordas.

— Não sabia que tocavas – observou Kiiara encantada, trincando um pedaço de fruta. Naquele dia, na Executor, depois da entrevista com Vader, ele tinha mencionado a sua banda. Kiiara, obviamente, ignorara essa informação. Não seria relevante para as suas atuais investigações sobre ele.

— Chama-se viola-sinth – contou Heskey. – É uma guitarra. Sim, toco e compus música, quando era mais jovem.

— Então, sempre foste rebelde.

Relevou mais essa insinuação. Tocou dois acordes.

— Quando somos jovens, a música é a nossa suprema rebeldia e eu experimentei o lado mais selvagem da vida. E escrevi uma canção que celebra esses tempos. Nunca mais a toquei.

— Oh! Que privilégio! Irei escutar a canção perdida do senador Heskey, de Corulag!

Ele tocou-a. Não tinha letra, não chegara a arranjar um letrista que expressasse convenientemente o que ele sentia e que se pudesse adequar à melodia melancólica imbuída de um certo heroísmo e ele próprio não se achou qualificado para traduzir as notas musicais no melhor poema. Então, deixou apenas o som.

Tocava aquela canção no encerramento dos espetáculos da sua banda, quando a assistência já tinha bebido demasiado e não se importaria com a quebra no tom, já que a canção era claramente mais suave do que o restante repertório. Era como o cair do pano no palco onde acontecera a explosão juvenil. Um adeus, até sempre, voltaremos a ver-nos amanhã.

A tocá-la para Kiiara, Heskey percebeu na harmonia híbrida, uma mistura entre um registo pesado e outro mais lânguido, uma homenagem a tudo o que se perdia de cada vez que se respirava. E por cada fôlego vamos ficando mais longe do que já existira e mais perto de todas as demais promessas. E Kiiara era a sua mais recente promessa. Olhava-a nos olhos enquanto tocava e Heskey sentiu-se mais vivo do que alguma vez se tinha sentido.

Recebeu novo aplauso dela.

— A composição é tua?

— Sim, minha querida.

— Uma canção muito bonita. Nunca pensaste em comercializá-la? Acho que se venderia muito bem e terias um sucesso que seria replicado em vários sistemas da galáxia.

— Jamais! – riu-se ele. – O senador de Corulag perderia dignidade se gravasse uma canção.

— Podias usar um pseudónimo…

— É uma sugestão interessante.

— Estás a considerar a minha proposta?

— Quem sabe.

Osculou-lhe a mão pequena.

Foi servido o prato principal, o ithoriano esmerava-se por apresentar os acepipes de uma forma elegante, ainda que fosse comida de piquenique – fatias de carne, miniaturas de bolos salgados, vegetais desidratados, gotas de queijo. Fazia calor e o rumorejar dos bambus, embalados pela brisa, era a banda sonora daquele silêncio bonito. Os insetos zumbiam em redor do local. Havia aqueles que incomodavam porque picavam e faziam comichão, para esses havia repelente e os leques. Mas havia também espécies de borboletas, muito coloridas, que pousavam graciosamente nos cabelos de Kiiara. Ela soltava um gritinho e ele assegurava-lhe de que não era nenhum bicho ruim, que ficava muito bela com aquele enfeite natural.

Durante a sobremesa, Heskey voltou a tocar a sua guitarra, toadas mais alegres, canções tradicionais que lhe recordavam a sua infância. Cantou as letras simples, fez Kiiara rir-se. Ela recostava-se junto a ele, comendo as tartes geladas, elogiando cada uma que vinham com sabores diferentes.

De repente, ajoelhou-se diante dele e depositou-lhe um beijo nos lábios.

— Minha querida…

— Esta foi a tarte que mais gostei. Conseguiste sentir o sabor?

— Hum… creio que não.

— Oh, espera… terei de te mostrar melhor.

Pousou-lhe a mão na face e olhou-o com tal paixão que Heskey esqueceu-se de que não estavam sozinhos nas florestas de bambu. Estreitou-a nos braços e beijou-a com deslumbre, afã e carinho.

— Oh, acho que assim vou ficar sem ar.

— Bebeste demasiado vinho, Kiiara. Não sou eu que te estou a roubar o fôlego.

— O vinho de Carida é excelente. Não há outro igual.

— Como tu. Não existe outra igual a ti.

— Ainda bem. Gosto de pensar que sou única e que, depois de feita e acabada, o molde foi quebrado.

— Concordo. O molde foi quebrado e és uma raridade nesta galáxia cinzenta e monótona. Onde estiveste durante toda a minha vida? Onde escondeste esse teu fogo que é capaz de acender um sol, de afastar a noite escura, de dar pujança ao deserto e criar ondas no mais calmo dos oceanos?

— Também bebeste demasiado vinho de Carida, Heskey. Não estás a ser coerente. Demonstras… demasiada emoção.

— Influência dos teus olhos que me contemplam com esse ardor.

— Será do vinho? Penso que poderá ser do vinho… tremo nos teus braços.

— O vinho apenas realça o sentimento.

— És tão lindo com as palavras.

Amaram-se quando regressaram a casa e juraram recordar para sempre aquele piquenique fragrante, doce e quente nas florestas de bambu de Kallis do Sul. E fizeram outras juras.

Mas a primavera não durava para sempre e num dia de chuva fria e constante, que prenunciava o inverno em Corulag, Heskey descobriu que Kiiara se tinha ido embora sem se despedir. Procurou por ela na sua mansão, no terraço, pelos jardins, mas ela não estava em lado nenhum. Inquiriu Onca, Jotassete, mandou perguntar ao outro pessoal, mas ninguém a tinha visto sair ou dera-se conta de que se ausentara.

Kiiara, a espia imperial, sumira-se sem deixar rasto.

Nos dias seguintes, Heskey não disse uma palavra. Ficava prostrado no terraço, a olhar a distância, perdido em pensamentos, agarrado ao passado e lamentando que não pudesse ter sabido manter a coisa mais preciosa que tinha entrado na sua vida, o amor daquela mulher.

Falhara. Aquele era mais um falhanço a acrescentar à lista infindável que acumulava na sua vida vazia.

Jotassete esteve sempre ao seu lado. Mudo, sem soltar um pio. Onca também não o largou. Respeitou o seu sofrimento, cumpriu com a sua função de assistente, acompanhou-o e nunca o deixou sozinho, ainda que se portasse como o androide, numa mudez necessária.

Uma noite, Heskey levantou-se e disse:

— E é assim que termina este capítulo. Voltemos a página e recomecemos, com outros propósitos e outro ânimo. O tempo continua a fluir e nós fluímos, também, com o tempo. Há uma guerra que precisa de ser vencida e vamos vencê-la.

Convenceu-se de que assim iria rever Kiiara. Derrubado o Império Galáctico, já não seriam inimigos – tinham estado, a bem de ver, sempre em lados opostos do conflito e ele, no fim de contas, por muito que lhe tivesse dado, nunca lhe dera aquilo que ela mais procurava nele, que eram motivos para cumprir a sua missão.

Haveriam de conseguir ser qualquer outra noção, para além de inimigos.

Amigos, amantes.

O que fosse, seria melhor do que a tristeza da perda.