O Retorno dos Antigos

Mundo de Teceu [Coisas Inevitáveis]- Parte 1


Primeiro iria começar a vir os pingos fracos. Aqueles que não costumavam preocupar ninguém. Chegavam até a serem agradáveis pela maioria das pessoas, embora ela sempre parecessem fugir quando as nuvens escuras se aproximavam ao longo das colinas na companhia de trovões que ameaçavam abrir portais pelo céu. Diziam que era uma das formas com que os espíritos malignos conseguiam atravessar do mundo deles para o nosso. Claro, era apenas uma possibilidade dentre tantas outras, mas Arthur sempre pensava a respeito dela.

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Depois dos primeiros pingos, começaria a vir os outros, um pouco mais forte. Nessa altura, as pessoas já começariam a se preocupar em chegar em casa a tempo de impedir que lhes fossem atingidos pela próxima onda.

Arthur sempre foi um homem apaixonado pela magia. O hospedeiro estava lá, no topo do prédio, com ambas as mãos erguidas para aproveitar o máximo de poder que conseguisse pegar.

A magia estava em toda parte. Uma energia invisível, porém que podia muito bem ser sentida, para aqueles que nela acreditavam. Era algo que havia sido esquecido. Se perdido daquele mundo em sessenta anos. Entretanto, Arthur ainda tinha esperanças de trazê-la de volta. Esperava que tudo desse certo, mas temia que isso estivesse além do tempo que o deus de mesmo nome lhe concedera para viver.

Arthur podia sentir o poder das nuvens. Era de lá que ele tirava sua magia. Era as nuvens e a chuva que o faziam poderoso. E, naquele momento, ele sentia a magia percorrendo por todos os seus músculos.

A chuva ficava mais forte e mais forte. Nesse momento, as pessoas que não conseguiram se esquivar para uma cobertura a tempo, aceitavam de bom grado a água escorrendo pela pele e encharcando as roupas como se fosse algo tão inevitável como a própria Morte.

O garoto e a garota eram espécimes diferentes e curiosas. Não mergulharam na chuva como a inevitabilidade de algo como a morte. Eles a abraçaram como a vida e a liberdade provavelmente inevitáveis. Esse era um dos motivos na qual Arthur resolvera estar fazendo aquilo.

A chuva caía bem mais forte agora, enquanto o helicóptero da TV de notícias continuava a sobrevoar no alto do tumulto que começava a se desenvolver lá embaixo. A quantidade de água já seria capaz de inundar muitas ruas, mas ainda assim, não era o suficiente.

Pedras ainda cairiam do céu.

Aquilo era absolutamente um completo desastre.

A visão de quando dirigia pela estrada com um batalhão de carros e até mesmo um helicóptero da Cavalaria logo atrás dela voltou com um sonho há muito tempo sonhado que, embora não houvesse um helicóptero dessa vez, havia terrivelmente se tornado realidade, com um pequeno detalhe importante que deveria ser ressaltado.

— Eles tem um lança-mísseis. - disse Minerva.

Bernard continuou com os olhos focados na rua, andando em alta velocidade quanto os carros e suas sirenes seguiam atrás.

— O que? - indagou ele, enquanto Minerva olhava pelo retrovisor. Na imagem pequena, um homem estava com o corpo, até a cintura, para fora do carro, com algo comprido no ombro, de forma instável. Pela posição com que ele segurava aquilo, só podia ser uma coisa.

— Desvia! Desvia! - Minerva ficou desesperada, com medo de Bernard que Bernard não acabasse reagindo imediatamente, e se lançou no volante, girando ele violentamente, jogando os dois subitamente para o lado contrário, no interior do veículo, enquanto a lataria passava raspando e soltando faísca em uns três carros estacionados do lado, que reagiram com seus alarmes. Em seguida, veio o estrondo. Um barulho alto e ensurdecedor, na companhia do calor laranja e vermelho de uma explosão que fizeram seus ossos tremeres.

Minerva ficou atônita, com os olhos arregalados. Bernard parecia igualmente perplexo. Entretanto, não haviam tanto tempo para permanecerem surpresos.

— O portal está logo ali na frente! - disse Minerva, dando uma olhada de relance novamente pelo retrovisor. - Ah, droga. Vai! Vai!

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Bernard pisou ainda mais no acelerador e trocou de marcha. Por que demônios estavam usando de tudo para pegá-los? Espera aí. Bernard estava indo rápido demais. Muito rápido. A loja estava a menos de cem metros de distância. Duvidava muito que ele iria se ocupar tentando estacionar corretamente ao lado da calçada. Minerva nem sequer ousou perguntar o que ele estava fazendo. Devia muito bem já saber a resposta.

Bernard girou mais uma vez o volante para o lado e a explosão aconteceu bem na frente deles, um pouco mais na esquerda, na qual eles tiveram de desviar para o lado oposto, passando pela cortina de calor e fumaça que ocultou a visão por um instante. Bernard girou o volante para os dois lados, perdendo o controle do carro. Ainda indo rápido demais.

Minerva se encolheu, como se fosse algo obviamente inevitável, o que realmente era. Sentiu o arranque do pulo do carro, irrompendo pela calçada, para dentro da loja, quebrando todo o vidro da frente e o dos potes de doces diversos, que se espalharam pelo capô.

Os dois ficaram desnorteados com o impacto, embora o cinto de segurança tivesse feito bem o seu trabalho de impedir que ambos de projetassem para a frente em uma velocidade repentina de noventa quilômetros por hora, mas isso teve o preço que lhes fizera doer os ossos e os músculos do ombro à barriga.

Os dois saíram do carro cambaleantes, forçando a porta abrir em meio às montanhas de balas, chicletes e paçocas.

— Precisamos ir logo! - disse Minerva, saindo e correndo para a entrada atrás do balcão. A jovem atendente estava lá, se levantando assustada.

— O que está acontecend...

A atendente foi interrompida, sendo puxada pelo braço, para dentro da entrada com uma placa que sinalizava que só era permitida a entrada de pessoas autorizadas.

— Não temos tempo. - disse Minerva.

— QUE?

Eles chegaram na porta e Minerva tocou na maçaneta, desejando que a passagem se abrisse para a casa de campo, do outro lado do mundo.

— PRECISAMOS IR AGORA! - gritou Bernard atrás, empurrando as duas na sua frente. O som de mais um tiro sendo disparado pela RPG pode ser ouvido. Eles cambalearam um em cima do outro e se esgueiraram para dentro, fechando a porta milésimos depois de ouvir todo o lugar se explodindo em fogo e escombros, que foi imediatamente cortado, como se tivesse colocado um filme de ação no mudo.

Os três olharam em volta. Aparentemente estavam seguros, mas havia um problema bastante sério. A porta do outro lado e, consequentemente, o portal, havia sido permanentemente destruído junto com a loja inteira.

Katy estava bem no meio da multidão agitada que se esbarrava nela enquanto uma chuva forte caía do céu. Sons altos de explosões puderam ser ouvidos e ela ficou preocupada, embora aquilo pudesse ter sido considerado mais como um aviso, para que as outras pessoas saíssem logo dali. Elas não paravam de se chocar contra Katy. Aquele era o momento perfeito para se aproximar do palco. O papelzinho recém escrito havia um leve volume em seu bolso, como se estivesse carregando uma bomba relógio. Ela não acreditava que iria fazer aquilo, mas podia ser necessário. No outro bolso, um volume um pouco maior. Katy tinha de confiar em si mesma e essa confiança deveria ser o suficiente para que ela não acabasse se matando.

— Por que ele ainda está dormindo?

Annie havia colocado o irmão desacordado no banco de trás. Depois que acordara de sua visão, resolvera colocar o irmão ali, já que deveria ser bem mais agradável que dormir em cima do volante. Velho Doug, o hospedeiro dos Sonhos, pareceu pensativo, do lado de fora do carro, lhe fazendo companhia, mas não muito surpreso.

— Ele não está mais nesse mundo. - disse ele simplesmente. Annie lhe lançou um olhar bravo. - Quer dizer, ele está no Mundo dos Espíritos.

— O que? - disse Annie. - Ah, não me diga. Por que você enviou ele para lá?

— Ele tem uma missão especial, assim como todos nós. - disse Doug. Annie se sentia estúpida por não saber exatamente o que um hospedeiro dos sonhos poderia fazer. - Você deu início à segunda fase de uma grande revolução e seu irmão apenas está levando isso em diante.

Annie avançou sobre o velho e o agarrou pela camiseta de gola.

— O que você está planejando? - perguntou ela

Velho Doug soltou mais uma de suas risadas secas.

— Me diga você, hospedeira. Você que pode prever o futuro.

Doug estalou os dedos e todo o cenário pareceu se dissolver. Quando tudo se recompôs novamente, velho Doug não estava mais lá, como se estivesse sido apenas o reflexo de um sonho. Entretanto, tudo parecia estar como antes. Seu irmão continuava dormindo no banco de trás.

— Kurt! - ela cutucou ele. - Kurt, acorda!

Annie imaginou a respeito do que aquilo poderia significar. Ela não estava mais naquele mundo, foi o que o velho disse.

Ele está no mundo dos espíritos.

Quando Igor e Renata confiaram no espírito das Portas para enviá-los a algum lugar aleatório ao redor do mundo, Igor podia ter imaginado que eles que eles apareceriam em um abismo ou em um lugar do tipo. Algo bastante desagradável, certamente, mas não tanto quanto aparecer nos destroços de uma construção subterrânea vigiado pelo espírito Guardião em pessoa.

— Estamos no mundo espiritual? - perguntara Igor à Renata, como se o espírito diante deles não estivesse ali.

— Claro que não idiotas. - respondeu o espírito. Ele era grande e usava uma típica roupa de batalha dos Solari de mais de duzentos anos atrás, ornamentada com ouro prata, com tiras de tecido amarelas e brancas, além de uma enorme lança bastante desafiadora. - Aqui é o mundo mortal, mas eu consigo viver aqui por causa da força mágica desse lugar. Nunca pensei que poderia receber algum visitante, embora isso certamente deveria ter sido profetizado por algum outro espírito com tal capacidade.

Renata e Igor tinham surgido através de uma porta que mal parecia uma porta, na verdade, por ser bastante velha e só se abrir para o lado de dentro, já que o lado de fora aparentemente estava enterrado. Não parecia algo que um dia havia sido enfeitiçado pelo hospedeiro dos Portões. Ao redor, era tudo bastante escuro, mas havia tochas, certamente mágicas, cravadas nas paredes e o fogo crepitava, iluminando os escombros de pedra bege. Eles haviam andado pelos corredores, onde plantas estranhas cresciam nas rachaduras por toda parte, e haviam parado exatamente em um grande salão circular, na qual metade havia desabado. E lá estava o espírito, em pé como se os estivesse esperando durante séculos ou talvez mais do que isso. Logo atrás dele havia uma pirâmide formada de gelo escuro, como uma espécie de estalactite grossa e de cabeça para baixo. Dentro da pirâmide, parecia haver um pequeno objeto que tinha sua aparência destorcida.

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— Quem são vocês, visitantes? - perguntou o espírito gigante, se ajoelhando para observá-los mais de perto. O salão conseguia ser ainda maior.

— Somos Igor e Renata. Hospedeiros. - disse Igor, depois de alguns segundos. - Viemos parar aqui por causa de um portal. Quem é você e... Hum... Que lugar é esse?

— Há. - o espírito se levantou e começou a andar ao redor do salão. A estalactite gélida permanecia lá, bastante sugestiva. Obviamente tinha alguma magia por ali, já que ela não derretia. Uma magia que certamente tinha algo a mais do que impedir que o gelo se transformasse em água. - Eu sou Alghar Di Sawf, o espírito Guardião. E estamos no Conselho da Magia, é claro.

Igor e Renata se entreolharam. O conselho havia sido desfeito há mais de sessenta anos. O que ele estava falando?

— Não se preocupem. - disse ele, notando a curiosidade dos dois. - Creio que tem muitas perguntas, mas acho que devo explicar tudo a vocês. - Ele se endireitou e esboçou um sorriso. Igor e Renata se entreolharam. - Eu fui designado a ficar nesse lugar para guardar o Selo de todos os Selos, que foi trancado logo antes de começar a Grande Guerra. O Conselho da Magia, vendo uma guerra estourar entre as nações, decidiu banir permanentemente a capacidade dos hospedeiros de quebrarem seu selos e aqui que todos eles estão sendo mantidos. - Igor e Renata observaram atentamente o objeto preso no gelo. Parecia como uma chave. A ideia da chave da Vingança passou pela mente deles, embora deveriam ser coisas bem diferente.s

— Você quer dizer aquilo? - apontou Renata.

— Exatamente. - respondeu o espírito.

— Eu ouvi falar desses selos. - disse Igor. - Fala deles nos livros de Teceu, mas parece mais algo como uma magia.

— Ah, não. - disse Alghar. - Não exatamente. Claro que não. Os selos são nada menos que o maior poder que um hospedeiro é capaz de invocar. Diferente das relíquias, escondidas ao redor do mundo, um selo só pode ser quebrado pelo hospedeiro referente a tal espírito. Naturalmente pertencem a esses hospedeiros. - ele observou os visitantes enquanto circulava pelo salão. - Os hospedeiros são como receptáculos para o poder de um espírito. Os selos são como uma porta que, se fossem abertas, podem permitir a passagem do espírito e de todo o seu poder para o mundo material, sob o comando do hospedeiro. Acho que vocês entenderam.

Igor entendeu o que ele quis dizer. Os selos podiam invocar seus espíritos patronos e aumentar ainda mais seus poderes. Era algo fantástico.

— Por isso os selos foram bloqueados? - perguntou Renata. - Os ministros viram que uma grande guerra iria acontecer e como não queriam que os hospedeiros tivessem tal capacidade de destruição, eles bloquearam todos os selos?

— Bom, exatamente. - disse o Guardião, pensativo. - E como ninguém veio libertar os selos, eles ainda permanecem trancados desde aqueles dias. Não seria agradável, na época, ter uma guerra acontecendo com o poder máximo dos espíritos nas mãos de humanos. Ah, não seria nem um pouco bom para a humanidade. - O espírito se inclinou para perto deles, observando atentamente com olhos brilhantes. - A pergunta obvia que eu quero fazer é: O que vocês pretendem fazer aqui?

Renata e Igor se olharam novamente. Igor, por ser o hospedeiro da mente, parecia captar o que ela queria lhe dizer. O próprio espírito estava sugerindo aquilo afinal, e realmente seria algo que poderia ajudar não só Andrea, mas todos os hospedeiros ao redor do mundo a se reerguerem diante de uma revolução.

— Viemos aqui libertar o Selo de todos os Selos. - disseram os dois em uníssono. O guardião se sobressaltou.

— Seria um prazer entregar ele. - Alghar riu. - Estou do lado dos hospedeiros, na verdade, mas o código do guardião não aprova muito esse tipo de coisa. Ah, não. Claro que não.

— O que você quer dizer? - perguntou Renata.

Alghar Di Sawf se ergueu e se posicionou entre os hospedeiros e o Selo atrás dele, congelado em magia negra. Ergueu a lança e apontou para eles.

— Vocês terão que me vencer, é claro. Ao contrário, serão mortos.

Um trovão cruzou pelo céu carregado de nuvens escuras. Será que os deuses e os espíritos estavam lá? Observando, de algum lugar, as coisas que aconteciam naquele tão interessante planeta com o nome da união da Terra e do Céu? Talvez isso fosse provável. Andrea duvidaria que eles fossem perder aquele momento.

Aquila observava tudo do céu. Ninguém prestava muita atenção na águia. As pessoas estavam correndo, para todos os lados. A roupa de Andrea já estava completamente encharcada e constantemente pedaços gélidos de um tamanho consideravelmente grande caíam em sua cabeça.

Andrea pôde ver Katy andando em direção ao palco. Se a sorte estivessem ao favor deles, tudo daria certo. O papel que ela guardava no bolso era perigoso, mas Andrea a convencera de que tudo sairia bem. Confiava nela.

Por outro lado, parecia que Arthur iria ter problemas. O helicóptero de notícias focou nele por um momento. Homens armados entraram correndo no prédio e foram subindo os andares, sem que o hospedeiro percebesse. Seria surpreendido em breve, mas ele conseguiria dar conta. Ele não era estúpido. E, além disso, Andrea também tinha assuntos a tratar. A palavra poder ardeu em seu braço e transmitiu força para o corpo.

A observadora caminhou rapidamente por entre a multidão, empurrando todos aqueles que não se desviavam dela. Sig havia parado o seu discurso, com o desenrolar do caos, e parecia conversar com um grupo de homens, certamente discutindo o que poderiam fazer, apontando para o prédio onde Arthur estava e depois para os prisioneiros.

Um grupo de guardas estava formado logo adiante, como se esperasse acalmar toda aquela gente desesperada, levantando ambas as mãos, na tentativa de os guiar. Estúpidos.

— Vamos, Aquila.

A águia ouviu mentalmente ser chamada e seguiu na direção que Andrea desejou que ela fosse, se materializando poucos metros acima de sua cabeça, com as penas agora na sua cor original: prata e azul escuro; na companhia de um grande chiado que fez todos estremecerem e tropeçarem para trás, surpresos e assustados. Alguns gritaram a abriram espaço. Apenas Andrea ficou lá, parada, com sua águia, observando os policiais atônitos.

Mas não teve tempo para permanecerem surpresos. Um trovão cruzou o céu novamaente. Andrea viu. Aquila viu. E se as duas viram, poderiam criar tal ilusão. Era a hospedeira da Observadora. Poderia fazer com que eles a observassem do modo que desejasse, desde que o tenha visto. Então, em uma explosão. Águia e hospedeira assumiram a forma tremeluzente de centenas de trovões. Era apenas uma ilusão, mas eles não sabiam disso.

As duas avançaram para a luta como duas filhas de Além-Céu.

...

Kurt imaginou que aquilo tudo não se passava de um sonho, quando se deparou com o espírito de uma mulher flutuante completamente tatuada, o que de certa forma confirmou as suas dúvidas.

Não sabia exatamente como tudo aconteceu. Num segundo, ele estava dirigindo, até que o sono o invadira e “Paf!”, desmaiara de súbito. Não fazia ideia de quanto tempo poderia ter se passado do momento em que desmaiou em um mundo e acordou no outro. Poderia ter sido meros segundos ou talvez anos depois, que ele ainda não saberia.

Kurt apareceu em uma estrada de pedra totalmente alinhada, que seguia adiante para trás de uma colina. O céu era limpidamente azul e as nuvens tinham formas sólidas como animais e outros tipos de coisa, bem nitidamente. Uma vez sua irmã Annie lhe contara a respeito da previsão do futuro com base nas formas das nuvens. Ela havia dito que todos os filhos do tempo possuíam uma forma única e diferente de desvendar o futuro, e imaginou o que uma caveira poderia significar. Notavelmente, não deveria ser coisa boa.

Como se fosse por instinto, Kurt começou a andar pela estrada. Era o único caminho na qual ele poderia ir. Ele caminhou para os limites da estrada, onde havia uma amurada esculpida de pequenas colunas, e olhou para baixo. Ele estava em uma montanha, não muito alta, e um vale verde com plantas e animais esquisitos se estendia lá embaixo. Por algum motivo, ele sabia onde estava, mas isso não fazia nenhum sentido. Ele estava com um péssimo pressentimento em fazer um tour pelo mundo espiritual, na qual ele nunca pensou que fosse realmente possível, já que Kurt não era nenhum hospedeiro ou esse tipo de coisa, ainda mais com aquela nuvem ameaçadora que já se desfazia para assumir a forma de alguma outra coisa que ele resolveu não prestar tanta atenção, já que poderia acabar ficando maluco com isso.

Quando chegou no ponto mais alto da estrada, Kurt vira uma grande passagem delimitada por dois totens, com dezenas de símbolos gravados em cada um deles. Reconheceu alguns. Símbolos de proteção, pensou. Por que havia símbolos de proteção no mundo espiritual?

Continuou andando até que a estrada deu lugar para um imenso jardim com a mistura de um ateliê de arte, como uma enorme praça, formada por inúmeras plataformas circulares de jardins suspensos. Plantas estranhas se desprendiam das paredes e pássaros voavam por ali. Parecia que tudo havia sido incrivelmente pintado a mão. Havia totens em cada lugar e inúmeras telas gigantes pintura com desenhos semelhantes em cores distintas. Cada um com símbolos estranhos e diferentes que Kurt não sabia o significado.

— Mas que absurdo é esse? - Kurt se virou e se deparou com uma mulher incrivelmente alta. Sua pele deveria ser banca, mas usava uma quantidade infinita de tatuagens de símbolos diversos espalhados pelo corpo. Um estilo bastante interessante, Kurt teve de concordar. A mulher usava uma roupa de frio, embora Kurt não parecesse notar muito a temperatura por ali, com touca e cachecol roxos em conjunto com uma blusa de manga que ia até a altura dos cotovelos. A mulher pareceu observá-lo de cima a baixo. - Hm… Não recebo muitos visitantes por aqui. - disse a mulher. - A maioria dos outros espíritos tem medo da minha presença. A quem devo a honra de tal visita?

— Ah, desculpe. - disse ele. - Sou Kurt e, bom, não sou exatamente um espírito.

A mulher se aproximou para perto dele, flutuando, e começou a examiná-lo.

— Ah, fascinante. - disse ela, com as mãos entrelaçadas. - Muito fascinante. Ah, a quanto tempo não recebo uma visita dessa.. Bom, acho que desde que meu pai, Kusmu, mais conhecido como Cosmos, por vocês, humanos, me pediu para escreveu um livro para ele com todos os símbolos que poderiam ser usados para subjugar nossa própria espécie... Acredita que ele entregou todos os nossos segredos para um humano que se tornou o primeiro hospedeiro? - ela se ergueu no ar e colocou a mão no queixo. - Nossa, isso deve ter sido há muito tempo, acho que há uns três mil anos, mas deixa isso para lá. Onde estão os meus modos. Sou Ramza Hum, o espírito dos Símbolos, filha do filho do Tempo e do Espaço. Aquela que Organiza a Balança do Equilíbrio Entre Todas as Coisas. Muito prazer.

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Kurt pareceu ficar alguns segundos congelado antes de responder. Aquela mulher não parava de encará-lo. Não sabia se olhava para os olhos dela ou para as tatuagens.

— Hã, sou Kurt, filho de humanos, irmão da hospedeira do terceiro filho do deus do tempo.

Ramza se ergueu no ar acima dele.

— Ah, que incrível, filho de humanos. - disse ela. - Bom, o que veio fazer por aqui?

Kurt começou a pensar. Ele odiava ficar sem respostas para alguma coisa e levar tempo pensando em uma. Era altamente constrangedor. Entretanto, aquela mulher não parava de olhá-lo fixamente, como se estivesse com alguma doença relacionada a dilatação do tempo ou coisa parecida. Isso o deixou um pouco mais aliviado, porém não menos nervoso.

— Você é o espírito dos Símbolos, não é?

— Isso mesmo, querido. - respondeu ela.

— Preciso que você me faça um favor. Um favor bem grande.

Ramza passou a dar voltas no ar.

— Hum… Muito interessante. E que tipo de favor seria esse? - ela parou a centímetros do rosto dele e começou a diminuir de tamanho, a fim de se parecer como uma humana comum, e não como uma gigante de três metros.

Kurt olhou para a mulher e se encheu de confiança.

— Eu quero que você desative temporariamente o efeito de todos os símbolos de proteção do mundo mortal.

Katy estava como no dia em que saíra de casa pela primeira vez, embora houvesse muita coisa de diferente entre as duas ocasiões. Ela chegou no palco e subiu facilmente a madeira, na extremidade direita, se apoiando em uma das caixas de som que não parecia mais funcionar por causa da chuva. Os técnicos deveriam ter saído correndo.

A garota se ergueu no palco e ficou ali, parada, observando. Ao longo dele, Rose, Garret e Chris estavam presos. Ah, Chris. Os dois se entreolharam e o garoto ousou esboçar um sorriso ao vê-la. Uma explosão de sentimentos a invadiu. Queria libertá-lo dali. Queria trazê-lo para casa e arrumar roupas novas para ele. Queria fazer uma pizza e conversar com ele sobre o mundo, sentados no sofá, enrolados nos cobertores...

Entretanto, o garoto não era o único que a olhava.

Do outro lado do palco, Sig a encarava. Com um gesto, dispensara seus homens e se virava para encará-la, embora um deles ainda permanecesse ali, um pouco mais distante. Os olhos de Sig pareciam arder, vermelhos como o sangue. A expressão de fúria era notável, mas Katy não se deixou abalar.

Ali estavam os dois, se encarando, na frente dos três prisioneiros, em cima do palco, para que os deuses e o mundo pudessem ver. De um lado, Katy, hospedeira das Palavras e da Escrita, aprisionada durante toda a sua vida em uma casa, nunca conhecera seus pai verdadeiros e tinha uma enorme responsabilidade em meio ao novo mundo que descobrira recentemente. Do outro, Sig, líder da Cavalaria, O Caçador de Olhos.

— É realmente um prazer reencontrá-la. - gritou Sig por cima do som da chuva.

Do bolso, daquele que não tinha o papelzinho secreto, mas o outro pequeno volume, Katy retirou um batom vermelho e brilhante. Rose não deveria se incomodar de que ela o usasse ali agora. O batom que ela furtara. Sentiu os olhos de Si, mas ele não esboçou um sorriso. Não achava que ela estivesse brincando. Ele mesmo sabia de seu poder. Katy não entendeu como havia reencontrado ele antes, mas ignorou isso.

Ergueu o batom e começou a escrever… No ar. Ah, sua magia tinha tantas possibilidades. Escreveu tranquilamente as letras, enquanto Sig observava, atento e curioso.

Katy esboçou um sorriso hediondo.

— Ah, o prazer é todo meu. - gritou ela.

“DESTRUIR.”

As letras flutuaram como porpurina vermelha diante de si. Katy cortou o ar com o batom e as palavras saltaram e dispararam, como se fossem, palavras sólidas. Elas seguiram rápidas na direção do caçador de olhos, mas ele foi esperto o suficiente para dar uma evasiva para o lado quando o chão a seus pés explodiu em lascas de madeira que se espalharam à metros ao céu. As tábuas grossas saíram do chão e se quebraram em uma nuvens de pó e fumaça.

Sig se reergueu lentamente do chão, calmo, arrumando o paletó, imediatamente avançando na direção da garota, com as mãos erguidas. Katy ergueu o batom e as letras flutuaram novamente no ar...