O Renascer dos Saiyajins

Capítulo 4: Começa um novo treinamento!


No dia seguinte, Spark despertou cedo. Não conseguiu dormir por muito tempo, lembrando-se de tudo que passara um dia antes, toda a conversa com o Chanceler Kopf e depois com os membros do conselho Kelfo, que embora expressassem uma certa curiosidade quanto ao garoto, não pareciam muito satisfeitos com a sua presença em Himmel. Seus olhares eram idênticos ao olhar de Simon, leal guarda costas de Kopf e de todos os Saiyajins da Fortaleza que costumavam tratá-lo como escória. Como um hóspede mal-vindo ou um cachorro sem dono, era assim que Spark se sentia. Porém, o calor que era transmitido a ele por Lily e toda a atenção e dedicação que a garota lhe dava o deixava muito feliz, uma vez que nunca recebera nada parecido.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ao se levantar, Spark viu que ao lado de sua cama estava um prato com apenas migalhas de um delicioso pão que havia comido antes de se deitar. O recolheu, indo até a saída do quarto, porém fora interrompido por vozes que vinham da sala, como a de dois homens conversando. Uma parecia ser de um homem de idade mais avançada, enquanto a outra esbanjava vitalidade.

- Meu senhor, tem certeza que deseja isso mesmo? Ele é um Saiyajin, pelos deuses! E se ele aprender tudo que sabemos e eventualmente usar isto contra nós?

- Já chega Simon! Ele é de fato um Saiyajin, um Saiyajin que foi traído por seus próprios companheiros e que por pouco não morreu. Não haveria porque ele se rebelar contra nós, uma vez que o estamos acolhendo.

- Perdoe-me a audácia, senhor, mas o senhor está falando como se fosse um garoto! Não se esqueça da fama traiçoeira que acompanha os Saiyajins! Eles não se importam com nada, nem com ninguém!

- Eu conheço tais histórias, Simon. Melhor até que você, uma vez que fui eu que te contei tudo que você sabe. No entanto, este rapaz é diferente. Ele tem um bom coração e ao menos que eu não sentisse bondade nele, eu não iria deixar de ajudá-lo.

Spark sorriu consigo mesmo. De alguma forma havia ganhado a simpatia de Kopf e também sua confiança. O Saiyajin sentiu-se invadido por uma sensação de gratidão e felicidade, e em seus pensamentos jurou que nunca iria trair aquele voto de confiança que havia recebido do Chanceler.

Achando que já havia ouvido demais a conversa, Spark decidiu se revelar aos dois, passando com o prato numa mão e forçando um bocejo, enquanto esfregava os olhos com a mão que estava livre.

- Ah, bom dia meu rapaz! – saudou Kopf, sorrindo para Spark – Imagine que nós estávamos falando de você agora mesmo!

- Espero que estejam falando bem. – disparou o garoto, incapaz de conter um toque de ironia em sua voz que passou despercebido por Kopf, mas não por Simon.

- Sim, certamente! Escute meu jovem, queremos que nos acompanhe agora, você precisa conhecer uma pessoa muito importante, que vai lhe auxiliar em seu treinamento daqui para frente.

- O meu... treinamento? – Spark parecia surpreso com o que havia escutado.

- Sim, seu treinamento. Veja, você pertence à uma raça guerreira, que vive a vida para treinar e lutar... pensamos que sem isto, possivelmente sua vida se tornaria vazia e sem o menor sentido.

- Mas senhor... embora eu tenha concordado em ficar aqui por um tempo, meu lugar não é Himmel. Não pertenço a este mundo, as pessoas daqui possivelmente não seriam tão... compreensivas quanto o senhor, com relação a mim.

- Sim meu rapaz, eu ponderei isto... serei sincero com você, os outros membros do conselho sentem-se inseguros e violados pelo fato de termos um ser vivo e inteligente de outra espécie além da nossa aqui, em nossa cidade. Existem coisas em nosso Império, Spark, que conseguem me tirar extremamente do sério e uma delas é essa xenofobia, essa introspecção que os dirigentes sentem e impõem na cabeça das pessoas. Dentro de algum tempo, é capaz que todo o povo Kelfo pense como eles e isso seria horrível para nosso desenvolvimento. Precisamos estar em contato com outras raças inteligentes e, neste caso, me refiro aos Saiyajins.

- Então o senhor me dá ainda mais motivos para não querer permanecer aqui por muito tempo... – disse Spark, cabisbaixo.

- Tenha calma. Diga-me jovem Spark, se você for embora daqui, existe apenas um lugar para onde ir, a sua Fortaleza, correto?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Hum... sim.

- Mas se você apenas aparecer lá levianamente, é certo que o tal Asus tentará te matar de novo... e é aí que entra seu treinamento aqui em Himmel. Consegui lhe comprar um mês aqui em nossa cidade e nesse meio tempo, nós vamos te ajudar a aumentar bastante sua força, para que possa voltar para casa em segurança.

- Aumentar a minha força? O senhor acha mesmo possível? – Spark perguntou, incrédulo, lembrando-se vivamente de todas as vezes em que Lenia o olhava com um ar de fracasso pessoal, como se não conseguisse fazer o jovem Saiyajin se fortalecer.

- Há, há, meu rapaz... achar possível? Com certeza você vai aumentar muito seus poderes depois de conhecer quem eu quero lhe apresentar... O treinamento deste guerreiro é capaz de transformar qualquer um, não importa o quão fraco ele seja. E veja só, você não é exatamente o que eu chamaria de fraco... você tem um, digamos... potencial incrível.

Spark deixou o prato sobre a pia da cozinha, sentindo-se excitado com a notícia que iria treinar. Seu sangue de Saiyajin parecia borbulhar em suas veias, deixando-o eufórico e ansioso para começar aquele treino milagroso que iria aumentar suas forças em tão pouco tempo, mesmo que aquilo soasse impossível.

- Então, quando começaremos? – perguntou Spark, com um sorriso no rosto de excitação, que causou um ligeiro franzir nas sobrancelhas de Simon, que o Saiyajin notou mas não deu atenção.

- Bom, se você estiver disposto... agora mesmo. O homem que vai te treinar ficou muito ansioso para conhecê-lo e disse que era para levá-lo à sua presença o mais rápido possível. Então, deseja começar o treino agora, ou talvez você...

- Vamos lá senhor! Vamos agora mesmo!! Se tiver algo que eu possa fazer para me tornar mais forte, então com certeza eu irei fazer!

- Ora, ora, ora... então os boatos são verdadeiros... os Saiyajins adoram mesmo lutar! – Kopf sorriu com bondade, como de costume – Então vamos, vamos meu rapaz! Queria acompanhar-me, sim?

Os três direcionaram-se à saída da casa, porém Spark interrompeu sua caminhada de súbito, pedindo para que os outros dois esperassem um pouco. Foi correndo em seu quarto e passado menos de um segundo voltou novamente, sorrindo.

- Me desculpem, mas tinha algo que eu não poderia esquecer... vamos, agora sim estou pronto!

Os três se puseram a voar, Kopf e Simon indo em frente enquanto Spark os seguia de perto. Sua ansiedade passava de todos os limites. Quem era aquele que o tornaria um guerreiro poderoso? Será mesmo que onde Lenia havia fracassado, o misterioso guerreiro Kelfo iria trinfar? Estava tão absorto em seus pensamentos que esqueceu-se por completo de uma pequena dúvida que havia surgido em sua mente: o porque da ausência de Lily em sua própria casa, já pela manhã.

* * *

Àquilo estava errado, tinha de estar errado. O que teria acontecido? Lenia caminhava preocupadíssima pelos corredores da Fortaleza, já perdera as contas de quantas vezes fizera o mesmo percurso nos últimos quatro dias.

Sim... quatro dias e ainda nem notícias de Spark... Ele costuma sair sozinho para treinar, mas sempre volta cedo. No entanto, dessa vez ele saiu e até agora não voltou. Maldição, tem alguma coisa errada nisso aí, e eu suspeito de que o dedo de alguém esteja metido nessa história...

Lenia lembrou-se que, ainda durante a última noite que vira Spark pela última vez, ela havia flagrado o momento em que Asus e outros quatro Saiyajins saíram da Fortaleza, fazendo barulho como uma gangue de vândalos. Sentiu um mal presságio tomar conta de si mesma, e no momento em que foi se trocar para dormir, atingiu sem querer um delicado porta-retratos de vidro que mantinha junto à sua cama, que foi ao chão e partiu-se em mil pedaços. A imagem que antes era protegida pelo objeto de vidro mostrava uma Lenia de braços cruzados, insatisfeita, olhando para um jovem Spark de dez anos, que abria um grande sorriso. Ela saiu do quarto novamente, e ficou o resto daquela noite esperando seu aluno voltar, mas encontrou-se apenas com Asus e seus comparsas. O aluno de Tank não disse nada, apenas passou olhando-a com ares de desconfiança. Lenia prestou bastante atenção em todos eles, principalmente no rapaz alto que segurava o nariz quebrado e sangrando. Não tinha como provar nada, mas naquele instante ela teve certeza que seu aluno estava em perigo.

As noites que se sucederam não foram muito diferentes. Nada de Spark voltar para casa, nem uma notícia, nem mesmo um sinal. Os habitantes da Fortaleza nem ao menos sabiam informar quando o tinham visto pela última vez e era certeza que ele não pisava os pés lá dentro já ha um tempo. E Lenia sentia aquela desconfiança por Asus crescer cada dia mais, como um imenso monstro faminto e pronto para destruir a primeira coisa que visse pela frente. Cada vez que Lenia olhava para Asus, sentia o sangue ferver. Naquela manhã, enquanto tomava seu café no refeitório, perdera as estribeiras e terminou arremessando uma tigela do desjejum – uma espécie de mingau com todos os nutrientes que o corpo dos Saiyajins necessitava, como vitaminas e minerais, por exemplo - na parede quando o rapaz pôs os pés no recinto. Ambos se encararam por um tempo, os olhos de Lenia faiscando e a expressão de seu rosto era como o de um predador que pondera se aquele é o momento adequado para dar ou não o bote em sua presa. Asus sabia o quão poderosa era a instrutora de Spark e sabia muito bem que não seria uma coisa muito boa tê-la como inimiga, no entanto seu orgulho era tamanho que ele não se atrevia a demonstrar o medo que sentia só por aquele olhar. Seu rosto ficou levemente suado, no entanto ele devolveu o olhar na mesma intensidade.

Mas que moleque atrevido! Me olha como se fosse superior à mim, ah pequeno canalha! Se não fosse aluno de Tank eu já teria dado umas duas nele, para que ele se coloque em seu lugar. Ele tem agido estranho todas as vezes que passa por mim, ele tem que estar ligado ao desaparecimento de Spark!

Lenia foi trazida de volta de suas memórias ao chegar à uma das câmaras de treinamento com gravidade aumentada. Do grosso vidro da porta ela viu Gyules, o gordo atarracado tentando inutilmente fazer flexões de braço numa gravidade de 25 G. A cada tentativa ele caia no chão, e seu rosto demonstrava frustração pessoal. Juntando àquela cena ao grande hematoma roxo e inchado na lateral do rosto, Gyules acabava se tornando uma forma de vida digna de pena aos olhos de Lenia e ela pôde ter certeza de como seu pupilo desaparecido era superior.

Maldição... odeio ter de admitir isso mas... aquele molenga do Spark faz falta. Que ele nunca fique sabendo disso, claro.

A Saiyajin se deu conta de que já era hora do almoço no momento em que o sinal para que todos fossem ao refeitório tocou, ecoando pelas paredes de ferro e concreto daquele enorme bunker chamado apenas de “Fortaleza”. A passos curtos ela se dirigiu novamente ao local onde quase havia se engalfinhado com Asus pela manhã. Uma vez lá dentro, ela olhou para todos os rostos, numa pequena centelha de esperança de ver seu pupilo entre eles, comendo um enorme pernil, talvez, mas aquilo não aconteceu. Ao invés disso, viu Tank, que a convidou a sentar-se à mesa com ele.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ela atendeu ao chamado, caminhando lentamente até o seu amigo, que devorava um pedaço de carne do tamanho de um quadro de forma voraz, como se nunca tivesse visto comida na vida.

- Está uma delícia Lenia! Quer um pedaço? – Tank ofereceu, rasgando facilmente um pedaço de carne e oferecendo à mulher.

- Não, obrigada Tank... eu não estou com fome.

- Não está com... ah, entendi. Nem sinal do garoto ainda, não é? – o grande Saiyajin perguntou, fazendo uma breve pausa em sua comilança. – Não se preocupe Lenia, o garoto é um Saiyajin e foi treinado por você. Não tem porque você se preocupar, você pediu a ele resultados ou iria abandoná-lo. Ele deve estar por aí, se matando de tanto treinar e quando voltar vai estar mais forte. Acho que você está se preocupando de graça...

- Talvez você esteja certo, mas não consigo afastar a minha suspeita... dele.

Tank virou a cabeça, enquanto dava mais uma mordida em seu enorme bife após Lenia acenar com a cabeça e viu Asus adentrando o refeitório com seus comparsas. Dirk e Dieter vinham ladeando o aprendiz de Tank, enquanto que Klaus vinha atrás. Todos eles davam vivas em voz alta e eram cumprimentados pela maioria dos Saiyajins mais novos, uns pela mais pura admiração, outros por querer serem notados por aquele que era visto por quase todos na Fortaleza como o melhor candidato a se tornar o Super Saiyajin.

- Ah, Lenia... – Tank engoliu o seu pedaço de carne e após tomar um gole da bebida que acompanhava seu almoço, ele disse – Eu conheço bem o Asus. Ele tem um orgulho altíssimo, tem esse jeito problemático e tudo mais... mas chamar aquela gangue dele para arrebentar com o Spark... eu não sei, talvez seu orgulho não permitisse isso.

- Tank, não o defenda porque ele é seu protegido – a voz de Lenia soou sombria e seus olhos demonstraram um misto de raiva e frieza – Eu vi a hora que aqueles cinco partiram voando e quando retornaram à Fortaleza e quando retornaram, um deles estava até com o...

Espera um pouco! Cinco? Sim, foram cinco pessoas que partiram! Asus, o líder; Dirk, o guerreiro cego de um olho e de estatura média; Dieter, o homem alto e musculoso que voltou com o nariz quebrado; Klaus, o mais poderoso depois de Asus e que parece muito uma mulher com aquela trança e seus traços finos... e o outro era... é claro!!

Lenia levantou-se da mesa e deixou apressada o refeitório, deixando Tank com a clara expressão de estupefação e surpresa. Ela porém não perderia seu tempo ligando para o que os outros iriam achar de suas atitudes. Ela estava tão perto de encontrar a resposta que tanto queria, tão perto que sentia calafrios. Sabia que ele estava ali em algum lugar, pois não tinha o visto no refeitório. Onde era mesmo o lugar? Uma câmara de gravidade aumentada!

Ele ainda estava lá dentro, gordo, atarracado e com um grande hematoma no rosto, noentanto estava caído no chão, exausto. Lenia estendeu a mão para a porta e sem pensar duas vezes disparou uma poderosa rajada de energia, fazendo com que a mesma fosse reduzida à pó.

O estrondo fez com que toda a Fortaleza tremesse, não é nem preciso dizer que Gyules na mesma hora ficou de pé, enquanto que sem uma porta para lacrar o ambiente, agrande máquina simplesmente parava de funcionar. A instrutora Saiyajin caminhou a passos mais que firmes em direção à Gyules, segurando-o por sua roupa que usava por dentro da armadura e o erguendo mais de um metro acima do chão. Seu olhar era feroz como o de uma besta assassina e em sua mão que estava livre, Lenia concentrou outra pequena esfera de energia luminosa.

- Sem rodeios – ela começou, falando do mesmo jeito que quando estava no refeitório, com Tank – Onde é que está o Spark!?

- Spa-pa-park..?! E-eu não faço a menor idéia.. Le...

- MENTIROSO! Eu vi quando você saiu junto com o grupinho de meliantes que anda com Asus, e vi quando eles voltaram e você não estava presente!O grandalhão voltou com o nariz quebrado, o caolho estava coberto de queimaduras leves pelos braços, o afeminado com uma ferida no queixo e você, quando retorna, volta com a cara inchada!! E meu pupilo daquela noite pra cá simplesmente desaparece? É melhor você abrir seu bico, AGORA!

Lenia ergueu a mão que segurava a esfera de energia para bem perto do rosto de Gyules, que agora gritava involuntariamente, sentindo em seu rosto o calor que se desprendia da esfera luminosa agora a menos de um palmo de seu rosto.

- Senhora Lenia... por favor... entenda que se eu disser algo... eles vão me matar!!

- Se você não disser nada, eu vou te matar agora mesmo, seu verme covarde! Vamos, vou contar até três e se no dois você não estiver falando, sua cabeça vai virar patê de miolos!! UM!

- Aaahh! Por favor, por favor, por favor!!

- DOIS!! O tempo está se esgotando!!

- Asus! Asus e os outros, foram eles, foram eles! Eles cercaram Spark e decidiram dar uma surra nele! Eu fui o primeiro a querer atacar para poder me mostrar, mas acabei sendo derrotado num único golpe!! Mas os outros Saiyajins eram muito mais poderosos que eu e acabaram vencendo ele com facilidade! Asus queria se aproveitar do fato da cauda de Spark o drenar as forças e queria humilhá-lo, mostrar para ele que ele não poderia ser um adversário à altura!!

- A cauda...? – Lenia relaxou suas feições por um quarto de segundo, para contraí-las com ainda mais força – Como ele sabia da cauda de Spark!? Como ele poderia saber, isto era um segredo nosso!! Responda!!

- Aahh... fui eu!! Fui eu, eu ouvi quando a senhora deu aquele sermão no Spark! Meu alojamento fica perto do dele e eu não pude deixar de ouvir!! Me perdoe mestra Lenia, me perdoe, a idéia foi minha, mas eu não queria machucar ele muito, sabe, queria apenas que... que... ah não...não, por favor, por favor...!

- Morra seu inseto nojento!!

Lenia nunca havia sentido tantas emoções ao mesmo tempo. Asco, cólera, desprezo, agonia, tudo isto era transmitido pelo pequeno Saiyajin que estava literalmente em suas mãos. Sem ao menos pensar duas vezes, Lenia deu o comando mental para que a esfera de energia explodisse a cabeça de Gyules em mil pedaços, mas naquele exato momento, uma pesada mão masculina segurou seu pulso.

- Lenia! Pare com isso!

Tank estava lá no momento certo, o que serviu como freio para que Lenia não se tornasse uma assassina. Porém o clima tenso continuou.

- Tank,eu vou matar este verme, ele que entregou o Spark! Saia da frente, vou reduzi-lo à cinzas e em seguida pulverizá-lo à nível molecular!! Tank, saia da frente!!

- Lenia, acalme-se já! Eu ouvi tudo que ele disse também! Vim correndo para cá no momento que você explodiu a porta! Eu sabia que teria relação com você, você anda muito perturbada! Eu irei fazer perguntas à Asus, quero saber direito dos detalhes desta história!

- Não será necessário! Não quero saber de detalhes, nem quais artifícios sujos eles usaram contra meu pupilo, apenas desejo uma resposta... – ela desviou o olhar de Tank e o direcionou ao gorducho, ainda suspenso no ar – Spark está morto? Vocês mataram ele!?

- Eu não sei senhora Lenia, por tudo que você considera mais sagrado! Eu não sei!! Asus finalizou ele com um Big Bang Attack, mas não se deu o trabalho de ir checar o corpo, que voou muitos quilômetros de distância! Senhora, por favor, ainda existe uma chance dele estar vivo então por favor, não me mate, não me mate!!

- Você é mesmo um verme desprezível Gyules! Você treme de medo diante da morte porque é um fraco, um inútil, UM COVARDE!! Eu te odeio com todas as minhas forças e sugiro que você nunca mais, NUNCA MAIS CRUZE A MINHA FRENTE! Está me ouvindo!? Se você ousar me olhar nos olhos eu juro que eu...

- Lenia, já basta! Volte a si, Lenia!! Não ouviu o que ele disse!? Existe a chance de Spark ainda estar vivo!

A guerreira Saiyajin lentamente foi recobrando a calma e o auto-controle. Soltou a gola do colant escuro que Gyules usava por debaixo da armadura, o gorducho caiu no chão como uma fruta podre e lá permaneceu, trêmulo. Sabia que tinha escapado da morte por um triz e, se aproveitando do fato de nem Lenia ou Tank estarem olhando para ele, rastejou para fora da sala de gravidade, correndo o máximo que podia.

Tank a tocou no ombro, num gesto amigo. Queria que ela se acalmasse, que juntos pudessem resolver tudo de forma racional, como sempre fizeram no passar dos anos que lutaram juntos. Lenia no entanto estava trêmula, suada e ofegante. Seu coração estava disparado e sua mente perturbadíssima. Quase havia matado o garoto e sabia que aquilo poderia lhe acarretar ou um exílio permanente da Fortaleza ou mesmo uma pena de morte. Afinal, os Saiyajins eram guerreiros por vezes brutais, porém também precisavam ter leis ou tudo viraria uma bagunça.

Ela sentiu o sangue esfriar e seus olhos começaram a arder. Sentiu-os marejados. Lágrimas? Choro? Não, definitivamente, isso não! Não posso passar por esta vergonha! Nem quero que Tank me veja num momento de tamanha fraqueza!

Ela tirou a mão do seu amigo do ombro num movimento brusco, virando-lhe automaticamente as costas e começando uma caminhada lenta, de cabeça baixa.

- Lenia...

- Ao cair da noite... – ela disse, tentando esconder a voz que começava a embargar – Iremos eu, você e o pequeno rato até o lugar onde emboscaram o Spark e vamos procurar por pistas. Esteja livre e me encontre no terraço, combinado?

- Ah, sim! Espere Lenia, você...

- Estou ótima. Agora me deixe descansar um pouco... leve consigo aquele verme gordo e não se atrase.

* * *

Já passava do meio dia quando Kopf, Simon e Spark chegaram no local onde o Grande Mestre Kelfo habitava. Era no alto de uma longínqua montanha, num pico acima das nuvens, onde o ar era bastante rarefeito. O trio chegou lá voando, mas Spark pôde ver a maior escadaria de sua vida, que saia do pé da montanha indo até seu cume. O lugar também era diferente de onde ficava a cidade de Himmel: enquanto a capital do Império localizava-se numa área semelhante à uma floresta tropical, os presentes agora encontravam-se numa área fria e montanhosa. Havia muito verde e vegetação nativa, além de alguns animais típicos da região. Também haviam muitas montanhas e picos, além de pequenas aldeias Kelfo habitadas por camponeses.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

No alto daquela montanha havia um glorioso templo, com altíssimas paredes construídas puramente de pedras. O telhado elevava-se aos céus e o enorme portão de madeira possuía um curioso desenho que Spark nunca tinha visto antes: uma espécie de serpente escamosa, com garras e longos bigodes.

- No passado – começou Kopf, dirigindo-se à Spark – este templo foi construído para que nossos exércitos pudessem aqui ser treinados. Dizem as lendas que este lugar foi construído pelo árduo trabalho de um só homem, sem o auxílio da magia, que tinha que descer e subir estas escadas diariamente para recolher os blocos de pedra numa refinaria que funcionava no vilarejo abaixo da montanha. Este homem fez isso para agradar os deuses e como demonstrou ter uma fé inabalável e uma inigualável devoção, ele foi recompensado.

- Recompensado com o que? – perguntou Spark, sem tirar os olhos do desenho. No entanto , quem se adiantou em responder a pergunta foi Simon.

- Alguns dizem que este homem foi o primeiro a alcançar a imortalidade. Outros, que ele se tornou um deus e foi arrebatado de nós. De qualquer forma, este homem foi e ainda é um grande exemplo para nós, Kelfos, e tentamos diariamente trilhar caminhos parecidos, baseados em seus ensinamentos de humildade, perdão e amor universal. Mas não creio que alguém pertencente à raça de guerreiros mais cruéis de todo o universo possa entender estas palavras.

- Se engana... talvez eu consiga sim... – respondeu Spark, que sentia-se ofendido com aquelas espetadas que Simon lhe direcionava. Porque ele tinha que agir daquela forma? Spark não conseguia entender o que havia feito de errado, para ser tão detestado pelas pessoas.

- Bom, deixemos as histórias do passado de lado por um tempo. Vou avisar à ele que nós já chegamos. – Kopf disse, fechando os olhos e se concentrando por um tempo.

Houve silêncio por alguns segundos, quando os olhos daquela estranha serpente talhada na madeira brilharam em vermelho e os portões se abriram. Spark deu um salto para trás, assustado, afinal estava olhando aquela figura sem parar e agora, ela pareceu estar viva. No entanto, quando viu que aquilo não surpreendeu nem um pouco os dois Kelfos que acompanhava, sentiu-se ligeiramente constrangido consigo mesmo e os seguiu, templo à dentro.

No primeiro instante a pisar lá dentro, Spark sentiu que uma aura mística pairava naquele ambiente, e que era diferente de tudo que havia sentido em toda a sua vida. Estavam num pátio em frente ao prédio do templo. O chão era feito de pedras cortadas em paralelepípedos perfeitos, um ladeando o outro. Havia um caminho pavimentado principal que conduzia até o templo, feito unicamente de madeira e pedras. Ao longe, Spark pôde ouvir vozes de pessoas, como se treinassem. Ele acompanhou os dois Kelfos, que agora entravam no prédio. Lá dentro, as fontes de iluminação eram as velas. Haviam quadros e pergaminhos com inscrições que Spark não compreendia, e uma estátua de um ídolo sentado em posição de lótus, feita de ouro. Haviam crianças lá dentro, sentadas de olhos fechados fazendo objetos levitarem ou expandindo suas energias em forma de auras ou esferas reluzentes, que pareciam crescer um pouco mais à cada respiração. Todos ali pareciam respeitosamente poderosos aos olhos de Spark, ao mesmo tempo em que pareciam tão pacíficos, tão... inocentes. Havia uma beleza naquilo tudo, um sentimento que Spark não sabia explicar, mas que sentia claramente dentro de si. Mas nada se comparou com a visão dos guerreiros em treinamento.

Havia mais ou menos cinqüenta pessoas, todos seguindo os movimentos de um mestre, já velho, com cabelos e barba prateados, usando roupas brancas feitas daquele agradável tecido leve. Seus pés calçavam sapatilhas escuras que pareciam não pesar nada e nem atrapalhar nos movimentos. A fluidez e a perfeição com a qual o velho executava aqueles movimentos, bastante lentos, porém impecáveis era imitada por todos os demais, algo que lembrava uma bela coreografia aos olhos do Saiyajin. Tudo em perfeito sincronismo. Tudo bem executado aos mínimos detalhes.

- Senhor Kopf... é com eles que eu vou treinar? – perguntou Spark, que embora achasse aquilo tudo um tanto estranho, teve o leve pressentimento que aquele treino realmente lhe renderia bons frutos.

- Não com eles, Spark. Mas com o senhor de idade avançada que os conduz. Você poderia vagar por centenas de galáxias que talvez não encontrasse um professor melhor. Diante de você está, sem dúvidas, o guerreiro mais forte de todo o Universo. E quer saber de uma coisa? O mais belo neste guerreiro é o fato dele possuir tamanho poder, mas optar por não utilizá-lo. Praticar estas artes marciais não para subjugar adversários, mas para o próprio engrandecimento pessoal. É isso que o torna ainda mais forte, e valoroso também.

E qual a finalidade de possuir tanto poder e não usar? Tá aí, essa eu não consigo entender...

O trio andou até o velho senhor, que após terminar com seus movimentos e saudar seus alunos, dirigiu-se aos recém chegados.

- Chanceler Kopf. – disse ele, numa saudação respeitosa.

- Mestre Khan. – Kopf respondeu, devolvendo-lhe a saudação e baixando a própria cabeça, demonstrando que o velho mestre era superior a si próprio.

- Levante-se, meu caro.

- Passaram-se muitos anos, Mestre. Poder estar com o senhor aqui hoje... é uma honra.

- Não. A honra é minha. Você progrediu bastante em seus treinos e hoje é uma das pessoas mais respeitadas deste Império. Se alguém aqui está honrado em recebê-lo, este alguém sou eu.

- Estou sem palavras, Mestre. Obrigado, muito obrigado por suas palavras.

- Ora, se aquele não é o jovem Simon. Você me parece mais forte, rapaz. Venha, aproxime-se por um instante.

Simon obedeceu, parando diante do velho Mestre e demonstrando-lhe um imenso respeito e reverência, ajoelhou-se perante ele e beijou sua mão. Em seguida reergueu-se e o olhou nos olhos.

- Sim, sim... você progrediu bastante, desde quando deixou as montanhas. Fez um bom trabalho Simon, e se tornou um soldado cuja lealdade ao Império consegue superar qualquer coisa. E, imagino que aquele distinto jovem seja o Saiyajin de que me falou, Kopf.

- Sim, é ele. Spark, queira aproximar-se do Mestre Khan, sim?

Spark também aproximou-se e fez a saudação de reverência que os Saiyajins prestavam as seus superiores, ajoelhando-se no chão e levando a mão direita ao coração. O velho Mestre fez sinal para que se levantasse e o olhou nos olhos por um segundo. Assim como todos os Kelfos, parecia curioso com o jovem Saiyajin. Após estudá-lo por um momento, virou-se para Kopf.

- Interessante. Pois bem, velho amigo. Aceito treinar este garoto. Vejo que ele é exatamente aquilo que você disse que era. Será muito bom treinar este jovem.

Simon franziu as sobrancelhas por um instante. Exatamente aquilo que disse que era? O que eles querem dizer com isso?

Spark pareceu entender menos ainda que o soldado Kelfo, mas manteve-se quieto. Seria ele alguém tão especial aos olhos do Chanceler? O velho Mestre os conduziu até uma ante-sala atrás dele, cujas paredes eram feitas apenas de madeira. A iluminação era proveniente de velas, assim como no resto do templo. Havia uma cama, uma pequena mesa e um pergaminho aberto com um tinteiro e uma caneta de pena. Como de costume, Spark não compreendeu os garranchos ali escritos. O Mestre tocou o ombro de Spark, fazendo-o se virar.

- Vou te dizer agora o básico, rapaz. De hoje em diante, este será seu quarto. Você vai dormir aqui após seus treinos. Vai poder deixar o templo apenas quando terminar seu treinamento, ou quando eu te der uma ordem específica para ir fazer algo. Você tem um bom senso de obediência e respeito?

- Sim senhor. – ele respondeu, olhando o mestre nos olhos.

- Ótimo. Você irá treinar comigo, separado dos outros alunos. Eles estão num nível muito mais avançado de treinamento que o seu e você só iria atrapalhá-los.

- Senhor, eu não sou tão fraco quanto pareço e...

- Cale-se! Primeiramente, seja humilde o suficiente para aceitar o que eu estou dizendo. Eu não estou achando que você é inferior a eles. Eu tenho certeza disso, você ainda precisa de muito trabalho. Você é como um diamante bruto, que precisa ser lapidado e trabalhado a fim de que se torne uma pedra preciosa real. Você pode achar que tem grandes poderes, mas na verdade você está fraco e sem o menor controle da sua força interna. Você não sabe utilizar o Ki direito e isso só vai acarretar transtornos para você!

- Usar... o Ki? Como assim?

- Ao seu tempo, meu jovem, você saberá. Jovem Simon – o Mestre dirigiu-se ao soldado Kelfo, que de imediato respondeu – Você se importaria de deixar seu posto como soldado por um mês e ficar aqui, para treinar conosco? Este jovem vai precisar de auxílio em tempo integral e eu tenho meus outros discípulos para ensinar. O que me diz?

Não agradava a Simon ter que passar um mês junto à Spark, porém a oferta estava sendo oferecida pelo Grande Mestre Khan e aquilo para ele seria uma imensa honra. Prontamente aceitou o pedido, tentando não pensar no jovem Saiyajin ao seu lado.

- Excelente! Então começaremos todos nós juntos durante a tarde. Terminarei o treino de meus discípulos e em seguida irei ao encontro de vocês dois. Por enquanto, recomendo que vocês dois comecem a se aquecer, pois quando começar já chegarei pegando pesado. Tanto você, Simon, quanto o Chanceler Kopf já treinaram comigo no passado e sabem como eu sou. Agora vão andando, que eu e meu velho amigo temos assuntos a conversar.

Os dois concordaram com um aceno de cabeça e se dirigiram ao lado de fora do quarto, enquanto os discípulos do Mestre Khan continuavam a treinar, golpeando o ar e pisando o chão com muita força, fazendo o solo tremer a cada golpe.