O Preço da Honra

Oportunistas


Emma levantou-se, tentando ver algo fora da escotilha onde Benjamin caíra, mas era quase impossível. Ela só ouvia ordens sendo berradas para os marujos, que corriam de lá para cá com mosquetes e munição, passos apressados ecoando em meio a tantas explosões e gritos. Haviam esquecido completamente da prisioneira ali embaixo.

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Mais disparos pesados atingiram o navio, e Akwe batia as asas, tentando equilibrar-se. O navio era grande e tinha um poder de fogo avassalador, pelo que ela pudera ver de fora, mas Emma não sabia se aguentaria, ou se ela escaparia de uma bala que pudesse vir naquela direção. Ela tinha de fazer algo. E rápido.

Olhou desesperadamente à volta; era um depósito, tinha de haver algo ali que ela pudesse utilizar nas correntes. Foi quando, para seu alívio, viu um machado deslizando no chão junto com a oscilação do navio. A adrenalina ajudara Emma a ignorar a dor e esticar-se para tentar alcançar a arma, mas estava longe.

— Akwe – chamou, apontando para o machado. – Pegue, ali!

Akwe girou a cabeça e voou até lá, mas o que trouxe de volta foi uma vassoura velha.

— Não, Akwe! Não...

Outra saraivada de balas de canhão foi disparada, e uma delas abriu um buraco de um metro de diâmetro bem ao lado de Emma, que caiu para o lado, sentindo o cheiro de pólvora e madeira queimadas. A assassina ficou coberta em destroços e um pouco de pó, mas conseguiu se levantar para ver Akwe trazer o machado e largar em frente a ela.

Emma utilizou suas forças remanescentes para erguer o utensílio e o bater com força na madeira onde se encontrava o elo que prendia o resto das correntes. Foi derrubada por impactos próximos demais duas ou três vezes antes que conseguisse soltar-se do chão.

Apesar de os grilhões ainda estarem presos em seus tornozelos e mãos, estavam separados por um comprimento que permitira a ela correr até a escotilha. Akwe planou e pousou em seu ombro. Emma sentiu as garras afiadas em sua pele, mas pouco importava. Ela só queria sair dali. Deu um pulo e agarrou as bordas do buraco que levava para o andar de cima.

Quando Emma chegou, ofegante, ao deque superior do navio, tudo estava pior que imaginava. Ela esperava, bem no fundo, que talvez fosse o Aquila que os atacasse, seus tripulantes procurando por ela. Mas não havia forma possível de Connor saber que ela estava ali, onde quer que ele estivesse.

Mas ao invés da imponente forma marrom de velas brancas e vermelhas do Aquila, era uma corajosa fragata que disparava os canhões. Emma demorou um segundo para digerir o espetáculo de explosões, tiros e mortes que se desenrolava à sua volta. Alguns homens apoiavam suas armas na balaustrada e atiravam, apenas para ser mortos pelo fogo inimigo que retornava. Outros tentavam livrar-se dos ganchos que prendiam um navio em outro, impedindo que escapassem. O navio onde Emma estava, cujo nome não sabia, apesar de todo o dano, tentava manter-se no curso para fugir dos morteiros que insistiam em acender o navio em chamas.

Todos que corriam pelo convés, tentando se proteger, pareciam ignorar a presença dela ali, provavelmente esperando que ela fosse atingida por algum dos disparos. Mas o que fez Emma desequilibrar-se e fazer Akwe segurar-se com mais força ainda no ombro dela foi o impacto dos cascos dos dois navios. A tripulação inimiga estava prestes a abordar.

— Os puxem para sua perdição, marujos! – gritou uma voz imponente e autoritária em meio à bagunça, que soava ser o capitão.

Emma virou-se para ver a quem pertencia aquela voz que comandara. O homem estava pendurado nos cordames cruzados de seu navio, apontando uma grande espada de ouro para o céu. Emma não pôde ver muitos detalhes de seu rosto em meio à fumaça dos canhões, mas viu bem quando os olhos verde-esmeralda a olharam de volta bem na hora.

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Os piratas pularam para o deque, visando saquear e matar quem quer que entrasse em seu caminho, e Emma, já em uma desvantagem absurda, não iria ficar ali para ser morta também. Aproveitou a distração de todos e correu para a proa do navio. Sua única saída era pular na água e tentar não morrer afogada.

Emma correu pelo mastro horizontal acima da carranca do navio e assim que saltou, Akwe alçou voo. Emma caiu na água e sentiu a pressão envolve-la. No desespero, apenas havia se esquecido que seus pulsos e braços ainda estavam acorrentados.

A água fria ensopou suas roupas e Emma começou a se debater, chutando e tentando lançar-se para cima. A vontade de respirar a matava; conseguia ver a superfície cintilante logo acima, mas parecia longe demais. Passados alguns segundos, sentiu sua visão começar a embaçar ainda mais, e suas pernas lentamente pararam de lutar.

Mas algo se agarrou a sua cintura, e começou a puxá-la para cima. Emma tentou olhar, mas não conseguiu distinguir a forma de preto que a segurava. Apenas quando atingiram a superfície e Emma tossiu a água para fora pôde ver que estava sendo levada para o a Fragata dos piratas.

— Parar abordagem! – gritou o salvador de Emma, e pela voz viu que era o capitão. – Os deixem ir, não possuem nada que queremos.

Emma ainda tossia a água do mar para fora de seus pulmões enquanto uma corda era jogada pelos tripulantes e o capitão pisava no pequeno laço na ponta e a colocava sobre seu ombro. Foram puxados para cima por cinco homens ou mais.

Quando Emma tomou noção do que estava acontecendo, saindo de seu pequeno transe, debateu-se, caindo do ombro do capitão para o chão de madeira. Levantou-se rapidamente, olhando para os homens que se juntavam para ver do se se tratava, e moveu a mão para a cintura, procurando por uma espada que não estava ali.

Akwe, que provavelmente sobrevoava o local, desceu de seu voo e pousou novamente no ombro de Emma, que pingava. Sua blusa fina estava ensopada, deixando-a transparente. E ela estava cercava por homens. Abraçou-se, corando e tremendo de frio. Seu cabelo, agora um tom mais escuro, caía, molhado, em suas costas e ombros.

— Aqui – o capitão tirou seu sobretudo de couro e se aproximou. Ficou apenas com as calças e botas pretas e uma blusa de linho branca aberta, revelando uma parte de seu peito tatuado. Correntes de ouro pendiam de seu pescoço. – Voltem às suas tarefas, homens, não há nada para ver aqui.

Os marujos rapidamente seguiram as ordens, dissipando-se e Emma pôde dar uma boa olhada nele, finalmente. Era incrivelmente belo, para um pirata. Tinha cabelos curtos e negros e os olhos verdes eram emoldurados por sobrancelhas e cílios marcantes e igualmente escuros. Uma barba curta cobria quase toda a parte de baixo de seu rosto.

Akwe gritou e abriu as asas enormes. O capitão recuou.

Emma adiantou um passo e pegou o casaco, vestindo-o.

— Obrigada – sentiu o calor leve e lentamente se espalhar de novo por seu corpo. – Agora, por que me salvou? Você nem mesmo me conhece.

— Bem, você não parecia ser parte da tripulação daquele navio, se é que me entende – seus olhos desviaram-se para as correntes. – Achou mesmo que iria sobreviver com essas correntes?

Emma estreitou os olhos, intrigada por aquele cavalheiro.

— Você é um pirata – disse ela. – Desde quando salva donzelas em perigo? – Emma corrigiu: – Não que eu seja uma.

— Não somos piratas – discordou. – Somos oportunistas, e tomamos dos ingleses o que eles já têm demais. Com esse sotaque, você claramente é daquelas terras. Devo jogá-la de volta no mar?

Emma deu uma risada sarcástica, erguendo uma sobrancelha.

— Não se preocupe – garantiu. – Não sou mais bajuladora do rei que você. Estou do seu lado, se é isso o que está se perguntando. Emma Pierce – apresentou-se, estendendo a mão machucada e ainda um pouco trêmula.

O capitão sorriu.

— Uma desertora da bandeira Britânica, em? – respondeu, apertando a mão de Emma. Ele a segurou com delicadeza, observando as correntes e os machucados nos braços. – Nesse caso, seja bem vinda ao Mockingjay. Sou James Thatch. Parece que não vou me arrepender de ter abortado o saque para resgatá-la. Me parece também que você passou por bons bocados, Srta. Pierce.

— Todos temos dias ruins – disse, dissipando o assunto e puxando sua mão de volta devagar.

Ele sorriu e cruzou os braços, observando seu navio, como se o contemplasse. Os tripulantes haviam feito o que ele mandara. Alguns agora livravam o convés dos restos de madeira partida, outros içavam as velas para remenda-las. Então, James indicou sua cabine com um movimento de cabeça, que ficava abaixo do leme, assim como no Aquila.

— Vamos, vou te ajudar com estas correntes.

Emma começou a segui-lo, mas virou-se para o horizonte do mar, para o leste. O navio onde estivera presa agora desaparecia ao longe, ansioso para fugir dali, com alguns mastros quebrados e depósitos em chamas. Perguntou-se se Benjamin estaria bem. Imaginou que não fossem dar pela falta dela até que aportassem em águas Inglesas. Daí, então, já seria tarde demais.

— É um pássaro e tanto que você tem, Srta. Pierce – James comentou enquanto jogava as correntes que outrora prendiam as botas de Emma para um canto. – Como o conseguiu?

Emma admirou Akwe com um sorriso, que estava limpando suas penas, empoleirada no encosto da cadeira de James, atrás de uma escrivaninha de madeira maciça. A assassina estava sentada em um pequeno banco acolchoado enquanto James trabalhava em suas mãos.

— Digamos que foi em benefício mútuo – respondeu Emma. – Sabe, James... ainda não estou completamente certa de que posso confiar em você.

Ele ergueu os olhos para ela. Emma conseguiu ver-se refletida no verde. Então, deu um sorriso torto.

— O que mais quer que eu faça? – Ele indicou Emma e suas correntes.

Emma riu. Era uma sensação boa, e não fazia há tempos. Observou o casaco de James em volta de seus ombros e as mãos do homem enquanto ele tentava abrir um dos últimos quatro grilhões que prendiam os pulsos e antebraços de Emma com pequenas ferramentas. Viu também as roupas secas que ele a oferecera em cima da mesa. Clamava ser de uma... visitante que ele tivera há alguns meses e que teve de sair correndo apenas em suas roupas de baixo.

No entanto, Emma não crucificava a si mesma por ter tanta hesitação. Ela aprendera do modo mais duro que nada é o que parece. Sempre há algo escondido atrás de um sorriso, aperto de mãos ou mesmo em um mero olhar. Ela tinha problemas de confiança depois de Thomas – ou Rufus; já não importava mais. Mas algo a dizia que ela poderia confiar em James. Não se sentira daquela forma quando conheceu Thomas, e não sabia bem o que era; talvez algo em sua voz, ou em seus olhos que pareciam pedras de jade.

— Não posso forçá-la a confiar em mim, mas há algum motivo para tanta hesitação em fazê-lo? – perguntou ele.

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— Se conhecesse um pouco de minha história, não estaria surpreso. Para os tempos em que vivemos é difícil achar alguém que esteja disposto a fazer o bem. Há muita ganância, e ódio.

— Bem – a algema estalou e abriu-se, e James começou a trabalhar na próxima. – Sou ganancioso, não posso negar. Mas luto contra os ingleses tentando em tornar esta uma nação unida e livre. Não é possível que você nunca conheceu homens bons em sua vida.

— Sim, claro que sim – Emma conseguiu pensar em alguns.

— O mínimo que merecemos é uma chance de provar, Srta. Pierce.

— Estou lhe dando esta chance, espero que não me arrependa. Eu agradeço, sinceramente. Por favor, me chame de Emma.

— Você também não é uma pessoa ruim, Emma, posso ver em seus olhos. Você já passou por muito sofrimento.

Emma desviou o olhar para a estante de livros empoeirados. Nada respondeu, pois não sabia como fazê-lo. Perguntou-se se todos quem conhecia eram apenas bons em ler as expressões das pessoas ou se ela era realmente um livro aberto.

— E admito – revelou, rindo. – Fiquei com pena de uma pobre coitada que não sabia nadar pulando no mar congelante de inverno com grilhões em suas pernas.

Emma fechou os olhos e não conteve mais uma risada.

— Foi tão ridículo assim?

— Você não faz ideia.

Silenciaram-se por um segundo.

— O que estava fazendo naquele navio? – perguntou casualmente em um tom calmo.

— Eu... estava atrás de um dos homens ruins, e acabei sendo pega.

James já trabalhava no último grilhão, no pulso esquerdo. Emma girou o outro pulso, massageando e deliciando-se com a sensação de estar sem algemas novamente. Mas agora nada ocupava o espaço vazio de suas lâminas ocultas. Seu corpo ainda estava dolorido e, agora sem tanta adrenalina, sentia-se cansada de novo, e a dor corporal lentamente retornava.

— Eu não diria que você era uma justiceira ou algo assim.

Emma riu novamente.

— Nunca havia pensado desta forma. Não estou em... meu estado atual, com minhas armas, e vestes. Se fosse o caso, você saberia na mesma hora.

— Eu devo ter medo de você?

Benjamin Franklin perguntara a mesma coisa.

— Não – ela o encarou com uma sobrancelha erguida. – Você clama ser um dos bons, não é mesmo?

Foi a vez de James rir, e ele jogou a última algema ao chão. Emma massageou os pulsos vermelhos.

— Dou-lhe minha palavra. Acredito que vá continuar em sua busca por este... homem ruim? – perguntou James, dando a volta em sua mesa e guardando suas ferramentas metálicas em uma das gavetas.

— Eu tenho de continuar – Emma se levantou, retirando o casaco de James e o devolvendo a seu dono. Pegou a pilha de roupas na mesa. – O destino de todos estará em perigo se eu não o fizer.

James pareceu surpreso, e acariciou a cabeça de Akwe, que aceitou o afago. Mas ele queria se sentar em sua cadeira, então Emma esticou o braço e a chamou. A águia planou para o ombro de Emma, dando espaço para que ele pudesse se sentar. Recostou em sua cadeira, vestindo o casaco de volta e colocando os pés em cima da mesa.

— Parece sério.

— E é – confirmou Emma, colocando Akwe em cima de um suporte de armas. Ainda não estava forte o suficiente para carrega-la por muito tempo. – Por isso... Preciso de uma carona de volta ao continente. Se não for pedir demais.

James se levantou e se apoiou sobre os mapas abertos em sua mesa.

— A não ser que você queira ir nadando para terra – zombou. – Você é uma pessoa boa, Emma. Onde quiser, eu e meus homens a deixaremos lá.

Emma sorriu afetivamente; sentia-se surpresa pela gentileza de James, e sentira-se do mesmo jeito quando Benjamin quis ajuda-la no barco. Não tinha certeza se eles eram apenas joias raras e ela havia sido extremamente sortuda em esbarrar neles, ou se fora tratada tão mal durante sua vida inteira que se esqueceu de que, há sim, o bem.

James esperava uma resposta.

— Onde estamos, exatamente? – perguntou ela, aproximando-se dos mapas. Eram idênticos aos de Connor, mostrando a costa leste do país.

— Aqui – James colocou um dos dedos cheios de anéis no mapa, num ponto entre Boston e Nova York. – Mandei seguirem para o sul no caso de algum outro navio querer nos perseguir. Há frotas Inglesas por toda parte, como você deve imaginar. Posso voltar e deixa-la em Boston, mas há uma tempestade chegando e pode demorar, ou seguir em frente e deixa-la em Nova York.

Emma contorceu os lábios, pensando. Ela era procurada em ambas as cidades, e não seria uma boa ideia aparecer em nenhuma. Eberus, Haytham e os outros estariam em Boston e não poderiam vê-la em nenhuma hipótese. Emma finalmente estava com a pequena vantagem de acreditarem que ela agora estava em um navio para Londres, não poderia perder aquilo. A esperança voltara a seu coração, afinal, e graças a James que, devido a uma benção divina, decidira atacar o navio onde Emma estava, bem naquele exato momento, e a salvara de uma morte certa.

— Há uma terceira opção? – pediu ela. – Não sou exatamente bem vinda em nenhum destes lugares. Qualquer lugar da fronteira, eu consigo me virar. Preciso ir para o norte de Boston, estou ficando aqui – Emma apontou a localização da fazenda Davenport, reconhecendo a baía onde o Aquila geralmente ficava ancorado.

James pensou por um momento, os olhos concentrados estudando um mapa, tentando lembrar-se de alguma rota alternativa. Pareceu ter chegado a alguma solução.

— Há uma fazenda de ovelhas bem aqui – o capitão mostrou o lugar no mapa, bem acima de uma península longa que invadia o oceano bem acima de Nova York. – Fica a algumas horas a cavalo de Boston, mas você pode dar a volta na cidade pela fronteira se conseguir uma montaria. Se não estou enganado, há uma vila perto da fazenda, e então é só seguir por aqui.

— Certo. E estamos perto desta fazenda? Não quero ser um fardo.

— Somos amigos, Emma – James levantou-se. – Não se preocupe.

— Amigos, é?

— Algumas amizades são instantâneas – disse, abrindo a porta de sua cabine e parando para sorrir. – Acho que temos muito em comum. E qualquer amigo deste país é meu amigo. Troque-se enquanto mudo o curso do navio. Em duas horas estaremos lá.

Enquanto se trocava, Emma olhou seu corpo despido no espelho. Todo o comprimento de seus braços em um dia ou dois ficaria cheio de cicatrizes e marcas. Mas elas lembrariam a Emma seu ódio e sua missão. Ela ficaria bem. Se sobrevivera nos últimos dias, o que qualquer um julgaria uma grande onda de sorte, ela ficaria bem na fronteira. Claro, ela tinha medo de fazer suposições, já que nunca sabia o que esperar. Mas ela tinha de tentar mais uma vez.

As roupas oferecidas a Emma por James serviram perfeitamente; novas calças pretas de algodão, um corpete de couro e, por baixo, uma blusa de linho vinho escuro, parecida com a sua antiga, a qual jogara fora juntamente com a calça por estarem cheias de rasgos e queimados. Sentiu falta de seu robe, e perguntou-se se voltaria a vê-lo.

Emma ficou no deque superior, apoiada à balaustrada de madeira polida assim como fazia no Aquila, sentindo o vento frio pinicar sua pele. Observando os pinheiros que decoravam os penhascos do continente, pensando em assuntos variados, e no que pareceu pouco tempo, o Mockingjay estava aportando num píer simples que se estendia para o mar. Dali, Emma podia ver a fumaça de uma chaminé.

James ficou de braços cruzados, em pé na balaustrada, olhando com uma sobrancelha erguida enquanto Emma descia a rampa em direção ao píer. Emma virou-se para ele. Ele era como a visão dos piratas que um dia, anos antes, assolaram e assombravam as águas caribenhas, com seus brincos e anéis de ouro e cabelos negros.

— Obrigada, James – Emma agradeceu. – Por tudo. Espero que tudo vá bem em sua missão de livrar os oceanos coloniais dos navios Ingleses. Desejo-te sorte e ventos favoráveis.

— Boa sorte também, Emma, o que quer que seja a sua missão.

— Algum dia te conto, sobre uma garrafa de rum – Emma sorriu. – Se precisar de mim, para qualquer coisa, sabe onde me encontrar. Estou em dívida eterna com você.

— Não vou me esquecer.

Emma assentiu e seguiu em frente, suas botas batendo no píer e seus passos ecoando, misturando-se ao som de James gritando ordens para seus marujos novamente. Andou furtivamente pela floresta que formava-se logo à frente, perto da casa, e não olhou para trás.