O Portal

A Floresta Desconhecida


Danna olhou a sua volta procurando algo conhecido para guiar-se. Não fazia ideia de onde estava. Tudo o que via era uma região densamente arborizada. Falmouth não tem tantas árvores, pensava ela, principalmente destas espécies. Virou-se imediatamente para trás, procurando os arbustos que entrara, mas não havia absolutamente nada de arbustos, nem trilha, nem coisa alguma do que havia achado há um momento antes.

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— Isso é uma miragem ou encantamento... Não pode ser possível! - exclamou.

A bruxa começou a andar pela floresta, procurando os tais arbustos. O local tinha muitas árvores espaçadas, onde dava para andar e suspeitava estar num local habitado. Somente neste momento notou que o local estava ensolarado e, pela posição do sol, devia ser mais ou menos dez horas da manhã. Olhou as horas em seu relógio: sete e meia.

— Pelas Barbas de Merlin! O que está havendo!?

Parou, e pensou em andar para o norte, já que estava vendo a posição do sol de onde estava. Danna caminhou numa linha quase reta e, como não havia nenhum local que pudesse realmente retornar após sua caminhada, não marcou uma trilha por onde andava.

Andou por cerca de uma hora e estava cansando-se. Sentia fome, sede e não achava nenhuma pista de onde pudesse estar. Começou a procurar raízes, ervas, frutas e água na mata. O local era estupidamente lindo: árvores altas com folhas bem verdes, assim como a grama: pareciam até ter vida! Infelizmente, Danna não enxergava a beleza assim como podemos imaginar pois estava num estado totalmente desconfortável. Decidiu tirar os sapatos boneca de salto baixo e andar descalça.

Para sua surpresa, parecia saber finalmente para onde seguir, como se seus pés tivessem conectados com terra em que pisava. Seu caminho, que era para o norte, começou a desviar levemente para o nordeste. Parou após 10 minutos, quando achou uma alta macieira, com belas frutas avermelhadas. Sacou sua varinha para buscar magicamente uma fruta.

— Accio - murmurou ela. Não tendo efeito algum, repetiu novamente, e mais uma vez. Danna encostou-se na macieira e deslizou até sentar-se. Cobriu seu rosto com as mãos e começou a chorar baixinho.

Tirou as mãos do rosto vagarosamente quando escutou um barulho na floresta. Afinal, era realmente um local habitado! Contudo, não sabia se quem estava se movendo pela floresta a ajudaria. Guardou sua varinha cuidadosamente e ficou atenta a qualquer coisa que pudesse acontecer. Apertou seus dedos nas cascas da árvore em que estava encostada e esperou o barulho se aproximar.

Repentinamente, dois esquilos saíram da mata. Danna relaxou os ombros e limpou suas lágrimas. Eram apenas esquilos, não fariam mal a ela.

— Quem és tu e porque andas por estas terras? - perguntou o esquilo da direita. A bruxa espantou-se, mas como havia visto uma cena semelhante no dia anterior, ela não deixou transparecer sua surpresa.

— Sou Danna Shacklebolt, entrei por uns arbustos e não os encontrei de volta. Estou perdida... Podes me ajudar? - os esquilos entreolharam-se. Foi aí que Danna notou que eram muito maiores que os esquilos que conhecia: seus pêlos eram mais brilhosos, seu tamanho era quase duas vezes maior e ainda eram falantes. Pensou em perguntar se eram animagos, mas conteve-se com medo deles não darem a ajuda necessária a ela.

— Danna, uma filha de Eva, perdida? Como achou Nárnia? - Filha de Eva... Nárnia... aquelas palavras vindo novamente...

— Eu estava andando próximo a minha casa, numa estação de trem, quando vi uma trilha de arbustos. Parei aqui e não acho forma alguma de voltar. Estou procurando alimentos e um local para passar a noite.

Os esquilos estavam desconfiados, mas olharam o estado da moça. Era certo que não pertencia àquele lugar: nunca haviam visto uma saia tão rente ao corpo. E até os joelhos!? E um casaco cinza esquisito para uma moça daquela... Era jovem, bonita... Sem contar que estava com uma aparência cansada: tinha gotas de suor em seu rosto. Deve ter caminhado à beça pela floresta. O esquilo da esquerda, dispôs a ajudar: subiu na alta macieira, sem a menor cerimônia e trouxe-lhe uma maçã. O outro esquilo cruzou os braços e emburrou-se com o primeiro, mas este via que a moça comia a maçã tão rápido, que voltou pro alto para buscar mais.

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Danna não sabia se era a fome que estava sentindo ou se realmente aquela maçã estava deliciosamente suculenta e doce. Ao menos, as duas maçãs saciou parcialmente sua fome, e pode pensar o que faria após isso.

— Muito obrigada, esquilo.

— Me chame de Teko.

— Tudo bem, Sr. Teko. Poderia me orientar onde deve ter água fresca para matar minha sede?

— Eu lhe mostrarei, Sra. Danna.

Teko foi mais ao nordeste, seguido de Danna e o outro esquilo emburrado, que não fez questão de se apresentar a bruxa. Ela não incomodou-se com isso: somente pelo fato de encontrar ajuda e conseguir comer, já era um grande alívio. Agora teria ainda água fresca! Estava eufórica.

Chegaram num riacho, com uma água cristalina na qual via-se o fundo dele. Era o riacho mais bonito que já havia visto! Instantaneamente, Danna ajoelhou-se e pegou um pouco de água com as mãos. Fresca, limpa! Nem os melhores lugares de Londres havia uma água tão boa. Deixou-se cair na grama esticando braços e pernas.

Os esquilos observavam-na, enquanto discutiam baixinho:

— Nem sabes de onde ela veio! Vai que é nossa inimiga?

— Lero, ela estava cansada. Olha como ela se porta...

— Tu não sabes de onde ela veio!

— Não importa! Tu vistes como ela comeu a maçã? Levarei a moça para Vossas Majestades.

— Eles não estão em Cair Paravel!

— Não, mas voltarão!

— Imagine Rainha Susana vendo essa moça?

— Imagino que ela ficará feliz de ter uma amiga.

— Teko, tu és muito inocente! Vais sozinho com ela! Recuso-me a ajudar.

— Não precisas ir, se não desejares.

Lero nem pensou duas vezes: virou as costas para Teko e sumiu da floresta. Danna tinha ouvido a conversa toda, mas resolveu não interromper a discussão dos dois animais. Levantou seu corpo e apoiou no braço esquerdo somente quando Lero os deixou à beira do rio, sozinhos.

— Creio que ele não gosta de mim, não?

— Não gosta, porque tu és filha de Eva... Ele não confia além de Vossas Majestades.

— Quem seriam?

— O Grande Rei Pedro, o Magnífico; Rainha Susana, a Gentil; Rei Edmundo, o Justo; Rainha Lúcia, a Destemida.

— Dois reis e duas rainhas para governar? Estranho...

— Faz parte da nossa profecia, há muito tempo! Quando Rainha Lúcia ainda era uma criança!

— Oh! - admirou-se Danna.

— Estou a levar-te a Cair Paravel.

— O que seria?

— Um castelo que dá para o mar, junto da foz desse rio, e é a nossa capital.

— Entendi... Então verei Vossas Majestades?

— Ainda não... Grande Rei Pedro demorará para chegar, está no norte. As Vossas Majestades estão em Arquelândia... Mas acredito que chegarão em breve!

Danna estava ansiosa para conhecer tais reis de quem tanto Teko falava. Seguia conversando com o esquilo e percebeu que ele acompanhava o caminho do rio. Viu veados, cavalos, coelhos, ouriços, todos falantes. A magia estava no lugar por completo, parecia um sonho de tão bonito. Danna teve que assimilar tudo que viu por todas estas horas que se passaram. Arriscou-se a perguntar:

— E você conhece Aslam? - Teko estremeceu e endireitou-se.

— Ele não aparece há anos. É uma lenda de Nárnia!

Como Teko não sabia, ela não precisava preocupar-se. Andaram em silêncio o restante do caminho, pararam num local em que havia uma pedra imensa rachada, em volta, demais pedras. No centro, um portal de pedra.

— Vamos descansar aqui. Amanhã retornaremos nosso caminho a Cair Paravel.

Teko e Danna improvisaram uma fogueira com os galhos e dormiram na grama. Danna cobriu-se com o seu blazer cinza, já todo sujo, mas ela nem se importava. Comeram raízes antes de dormir.

Danna acordou com a luz do sol e olhou a sua volta. Esfregou os olhos e não acreditava no que estava acontecendo: Teko não estava mais lá.