O Piano

O meu pianista


“Acredito de verdade que, se transformassem todos os pianos do mundo em lenha para queimar, ele se atiraria no topo da fogueira. (...) No entanto, eu sei que ele é o gênio, que ele pode pegar os Études de Chopin e acrescentar um toque de mágica, uma faísca que os torna definitivamente seus. (...)Tenho certeza de que minha habilidade ao piano progrediu ainda mais por causa dele. E eu o adoro. Ele é meu piano. Ele é minha fogueira. E, se ele não estivesse mais aqui, eu me jogaria sobre aquele fogo de bom grado." – A casa das Orquídeas Lucinda Riley.

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– Você está se sentindo bem?

A voz de Jean me lembrou que ainda estávamos no restaurante. Minha cabeça doía e eu nunca estive tão enganada em toda minha vida. Nunca estive tão errada e longe. Eu estava longe dele porque achei que isso seria melhor para mim, para nós. Eu nunca imaginei a profundidade das coisas. Na verdade esse tempo todo eu achei que o estava poupando de tantas coisas.

– Bella querida você está pálida...

– Eu o magoei. Eu fui embora Jean... sem avisar ou fazer qualquer menção de que iria voltar...

– Pelo amor de Deus querida se acalme.

– Eu...

Então eu toquei na minha barriga. O bebê mexeu como se falasse para mim que queria Edward como eu queria naquele momento.

– Eu não contei a ele. E tenho tanto medo da reação dele...

E eu chorei. Lágrimas desciam pelo meu rosto. Eu tinha feito tudo tão errado. Eu fui embora. Eu o deixei.

– Bella querida por favor...isso não faz bem para o bebê...

– Ele está...com raiva de mim... e se não estiver....

– Bella se você não se acalmar eu vou chamar um médico ou algo assim...

A preocupação de Jean me fez tentar me acalmar. Ele fez um gesto e o garçom se aproximou.

– Uma água com açúcar, por favor. Rápido.

– Eu estou... bem...

– Calma querida, ninguém te odeia. Pelo amor de Deus. Ele te ama mais que a vida dele.

– Eu não contei do bebê...

O garçom voltou com água e eu bebi tudo pensando em como eu havia me engando achando que longe eu iria causar menos problemas para Edward. Eu bebi sem muita esperança de me acalmar, pedi para Jean me acompanhar até o quarto e ele não entrou, só disse que iria resolver algumas coisas e passava mais tarde para me ver. Peguei um foto minha e de Edward em Nova York, estávamos rindo e sorridentes. A vida ali era perfeita e o mundo era todo nosso. Talvez se eu houvesse ficado as coisas seriam ainda assim, mas Jacob não iria desistir e eu não queria brigar com Edward por causa de Jacob.

– Bebê... desculpa a mamãe...

Eu deite no quarto imaginando o que Edward guardava no escritório de Paris. Eu não tinha feito tantas coisas como ele. Não havia gravado um CD, participado da trilha sonora de nenhum filme, viajado pelo mundo ou até mesmo conhecido tantas pessoas. Eu tinha feito algumas apresentações, feito a rota mais segura possível e não me envolvi com mais ninguém do que Rose ou Jasper nos últimos anos. Eu desenvolvi uma espécie de medo, medo de tudo e sempre evitei pensar nisso, mas agora eu sabia como esse medo me prejudicou a ponto de perder realmente tudo de bom que havia acontecido na minha vida nos últimos anos.

Quando me deitei eu constatei que o vazio que sempre senti e estava sentindo era falta de Edward, eu estava apenas abrindo e fechando meus olhos nos últimos meses como fiz nos últimos anos. Eu estava incompleta e mais insegura do que jamais estive. Com ele eu tinha confiança de ser o que quisesse ser porque ele me dava isso, com ele eu tinha algo mais do que um simples acordo de cavalheiros. Com ele a vida era vivida em todo seu esplendor, nunca era apenas uma refeição ou uma conversa, era uma reflexão profunda de tudo porque ele era assim intenso e profundo em tudo que fazia.

Eu desejei que meu filho tivesse essa característica, que ele fosse ousado e talentoso no que escolhesse fazer. Eu percebi que eu e Edward éramos uma dupla perfeita, as teclas pretas e brancas que quando em harmonia faziam tudo lindo e perfeito. Eu compreendi também que afastei a música de mim como Edward porque ela era Edward e ouvi-la traria mais lembranças do que meu corpo poderia aguentar. E por fim, pensei no sol. Ele era o verão e a primavera, era a alegria e a vida. Edward iluminava qualquer ambiente com apenas seu sorriso, nunca pensei que gostasse tanto disso como estava gostando. Eu queria saber como era a primavera em Paris, o verão em Londres e simplesmente apreciar cada mudança com ele. Lembrei da casa de Paris e pensei que se não fosse meus atos poderíamos estar desfrutando disso agora. O sono veio e mais uma vez eu me rendi sem muitas escolhas.

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Então a música recomeçou. Eu não sabia quando ela tinha terminado, mas ela recomeçou. Concerto para piano nº 3 de Rachmaninov, eu amava certas partes dessa linda composição e me imaginei tocando ela, meus dedos mexeram automaticamente e um pequeno sorriso saiu sem ao menos eu me dar conta. Abri meus olhos e a música continuava. Olhei minhas roupas, eu não as troquei, mas estava com uma camisola rosa de cetim que tinha comprado um pouco antes de toda essa loucura. A música me chamava, eu amava acordar com música e levantei sabendo que Edward estava na sala que havia do lado de fora do meu quarto.

Quando abri a porta a mesa estava lindamente posta, uma café da manhã maravilhoso e o cheiro me deixou com muita fome. Eu olhei ao redor e vi Edward tocando ainda no piano que tinha no quarto. Ele estava um pouco mais magro, um pouco mais sofrido e de olhos fechados tocando a música. Eu não sabia o que dizer. A música parou e ele olhou para mim, tinha um ar preocupado e bateu no banco me chamando, eu fui em passos lentos demais.

– Como você está? – ele perguntou quando eu sentei e as lágrimas caiam de meu rosto num misto de saudade e de arrependimento. Eu o amava tanto e fiz algo imperdoável.

– Me desculpa... por favor...

Edward me abraçou e respirou fundo com o nariz em meus cabelos. Era um gesto tão bom e maravilhoso. Eu me rendi as sensações de segurança, carinho e amor que aquilo me trazia, o buraco não existindo mais.

– Edward... por favor..

– Acabou. Estamos aqui.

– Eu não queria mais Jacob entre nós... isso vai durar entende?

Ele colocou a mão em meu rosto e me guiou até seus olhos. O verde de seus olhos me olhando profundamente.

– Me promete nunca mais fazer isso. – era uma súplica.

– Nunca mais. Eu não consigo. Não tenho mais forças para ficar longe de você.

– Então fique comigo.

E ele me beijou. Nos beijamos. Um beijo calmo, saboreamos cada parte de nossas bocas como se quiséssemos relembrar de cada movimento e cada pedaço.

– Eu te amo.

– Eu sempre te amei Isabella.

–Você sempre soube... por que nunca me disse?

Ele deu aquele sorriso. Sorriso lindo.

– Eu queria que você me amasse não porque eu era o menino, mas porque eu era o homem que sempre sonhou. Eu queria ser aquele que marcaria sua vida, realizaria seus desejos, faria você esquecer suas dores e que a teria para sempre ao seu lado. Eu queria que fizéssemos nossas lembranças baseadas no presente e não no passado.

– Eu acho que sempre te amei, sempre esperei por você... ou procurei...

– Eu sempre esperei, me doeu ver que Jacob Black conseguiu chegar primeiro. Me doeu quando eu percebi que ele apenas jogou com você e seus sonhos, me doeu quando você perdeu o bebê...

Foi então que eu coloquei a mão na barriga. Edward sorriu e pôs sua mão por cima da minha.

– Você já sabia.

– Eu.. nunca nos protegemos. Eu desconfiava, mas você nunca disse nada. Quando fui trocar sua roupa eu vi e fiquei admirando a barriga, nosso filho Bella. Nosso filho.

– Ou filha.

– Vou te contar um segredo. – eu ri com a expressão dele. – Ele me contou essa manhã que é um menino. Para ajudar a tomar conta das próximas meninas que virão.

E então eu gargalhei, simples e fácil como respirar. Edward riu comigo e passou a mão pela barriga admirando ela mais uma vez.

– Vamos tomar café, o pequeno está com fome.

– E você precisa me explicar como entrou aqui. – me fingi de séria e ele sorriu torto.

– Ora senhora Cullen não reconhece seu marido?

Sim, quando mudei meu nome eu coloquei o Cullen. Edward é claro se aproveitou maravilhosamente desse fato. Edward me ajudou a levantar, fomos para a mesa e sentei em seu colo recebendo um pouco de tudo que havia ali.

– Não consigo mais comer nada! – disse rindo.

– Tome um chá, isso nunca é demais.

– Já tomei...

– Então vamos para a cama... dormiu o suficiente?

– Acho que sim. Não me sinto cansada.

– E tem ido ao médico? Está tudo bem com você e o bebê?

– Tem uma médica americana muito boa e os exames apesar de algumas taxas estão normais.

Edward tinha os olhos preocupados agora.

– Quais taxas Bella?

– Eu desenvolvi uma anemia por conta dos enjoos constantes...

– Meu Deus... Bella você está bem mesmo?

– Sim, estou conseguindo me recuperar, mas foi um começo estressante. Eu tinha acabado de chegar, descobri que estava grávida e isso e me deixou surpresa demais e triste por estar longe de tudo. Os enjoos não me deixavam comer direito e eu acabei perdendo peso.

Eu podia ver a preocupação dele aumentar em cada palavra, eu não queria ele assim.

– Edward estamos controlando tudo com remédios e vou fazer novos exames semana que vem. Ela está confiante na melhora.

– Bella nunca mais faça isso comigo, seu tipo de sangue não é tão compatível assim. Precisa se cuidar.

– Como... como sabe disso?

– Jean me contou quando perdeu o primeiro bebê que precisou de uma doação de sangue e seu sangue não é tão fácil, demorou um dia para acharem alguém compatível.

– Foi...

– Emmett foi o doador.

– Ele...

– Eu o fiz voar a noite toda para chegar a tempo e doar sangue para você no hospital. Eu tive tanto medo naquela noite, medo de não melhorar...

– Edward você estava lá. – constatei surpresa.

– No hospital? Sim. Eu estava com Jean em uma sala privada. Na verdade quando a notícia foi dada, eu estava perto dele. Por isso...

– Meu Deus, você salvou. Sem o sangue...

– Eu só tornei isso mais rápido porque meu irmão tinha o seu tipo de sangue. O banco de sangue estava baixo por conta de um acidente rodoviário..

Eu não quis mais ouvir, eu o beijei. Não tinha mais nada a ser dito ou revelado. O meu lugar sempre foi ao lado dele. O meu menino, meu homem, meu amante. O meu pianista.