Ausente

Foi assustador no começo sim, eu achei que não estava pronta, que o meu mundo ia mudar e cair em cima da minha cabeça, é louco pensar que há um ser dentro de mim, dependendo de mim para continuar vivo e que vai depender a vida toda, assim como eu dependia dos meus pais… Mais louco ainda é eu estar amando este pequeno ser desde o instante em que escolhi o nome, e desde então comecei a conversar com ela, mesmo depois do susto, das lágrimas, das dúvidas, dos medos, depois de algum tempo isso passou e eu sinto um amor imenso sem ao menos saber como ela é,sem nunca ter visto, sem nunca ter sentido, só saber que está ali, que já me ama, e o melhor de tudo ela é minha...
E nove meses depois ela finalmente chegou, e eu finalmente pude tocar e acariciar aquele ser que carreguei por tanto tempo dentro de mim, tão pequena, tão delicada.

— Como eu pude ao menos pensar em te tirar de mim? Você é tão perfeita, é como meu oxigênio, eu necessito de você para estar aqui, minha pequena Sophie.

Adimirava e analisava cada detalhe do seu delicado rosto, como se fosse um sonho, como se algum dia eu fosse perdê-la, mas no fundo eu sabia que ela sempre seria minha, eu sempre estaria aqui por ela e ela por mim.

O tempo foi passando, minha Sophie já dava seus primeiros passos, mas Jacob não estava aqui no momento, ele estava trabalhando tanto ainda na tentativa de deixar seu pai contente, nós mal nos víamos, ele não tinha mas tempo nem para a nossa filha, era como uma visita, ele só chegava e dormia, não tomava café com a gente, e Sophie crescia cada vez mais sem a presença do pai.
(...)
Sophie tinha acabado de completar seus 2 anos, e Jacob juntamente com seu pai decidiram que ela deveria ter uma babá, por que eu deveria voltar a trabalhar.

— Renesmee, só assim nós teremos tempo para nós mesmos, nós sabíamos que seria difícil ter uma criança mas isso está tomando todo o nosso tempo...

— Não Jacob, o seu pai está tomando todo o seu tempo, você não para mais em casa, não culpe a Sophie pela sua ausência nas nossas vidas, olha pra ela, é só um bebê agora, mas o que acha que ela vai responder quando for a escola e alguém perguntar qual foi o seu melhor momento com o seu pai? Você prometeu que nós faríamos isso juntos, prometeu que estaria aqui, mas...

— Olha, eu sei o que eu disse, e eu sinto muito, eu tenho trabalhado muito esses tempos mas eu faço de tudo para que não falte nada para vocês duas, e é isso que eu quero que você entenda, eu preciso de ajuda entende? Pra pagar as contas e todo o resto, eu preciso que você trabalhe também. - Ele disse e eu fiquei em silêncio por um minuto.

— Eu só consigo me perguntar onde está o Jacob que eu conheci, o homem que disse que estaria tudo bem, que estaria aqui, e agora eu tenho que fazer o papel de mãe e pai dessa criança, e se eu começar a trabalhar? E se eu tiver a mesma rotina que a sua, quando eu vou ser mãe? Quando eu vou estar com ela e leva-la ao parque, contar histórias e apenas olhá-la enquanto dorme, cada momento Jacob, momentos que você não esteve aqui. - Eu disse e dessa vez ele ficou em silêncio. - Você não entende não é? Eu quero e tenho sido pra ela a mãe que a vida me tirou, e eu queria que você fosse tudo o que o seu pai não é mas infelizmente está ficando cada vez mais difícil acreditar nisso. - Olhei pro lado e vi Sophie apenas brincando com algumas bonecas que estavam ao seu redor dentro do berço. -Olha pra ela Jacob, não é o ser mais lindo que você já viu? - Ele acariciou a cabeça dela. - Ela é nossa Jake, só você não vê isso, porque parece que está cada vez mais difícil você enxergar as coisas mais importantes da sua vida e eu não estou falando só da Sophie. - Disse e sai do quarto da Sophie deixando os dois a sós.
(...)
Tomei um banho e me deitei na tentativa de pensar sobre o trabalho, sei que ele precisa de ajuda e entendo isso, mas eu só tenho medo de acabar sendo ausente para ela e o pior, nem perceber isso. Adormeci antes que Jacob viesse pro nosso quarto, nós já nem éramos mas um casal direito, não conversávamos, não fazíamos amor, nós nem olhávamos um pro outro, estava ficando cada vez mais difícil.
Acordei antes dele, para pelo menos o ver antes de ir trabalhar e poder contar a minha decisão, desci e fiz um café da manhã especialmente para ele na tentativa de melhor a nossa relação. Quando ele finalmente desceu, parecia agitado a ponto de nem falar comigo.
— Bom dia amor. - Disse e ele me olhou por cima do celular, ele estava digitando rápido e parecia ser algo importante pois estava tomando toda a atenção dele.
— Bom dia. - Respondeu friamente, meu coração gelou nesse momento.
— Da pra me olhar por um instante? - Disse mas ele continuou concentrado então eu tomei o celular das suas mãos. - Presta atenção Jacob, eu só estou aqui ainda porque eu realmente amo você e por causa da Sophie, por que eu não tenho que aguentar isso OK? Você é o meu marido então é bom começar a agir como tal por que eu já estou cansada de ser ignorada. - Disse e ele me olhou sério.
— Me desculpe, é que eu estou atrasado e estou tentando desmarcar algumas reuniões então você pode me devolver o meu celular? - Disse e eu neguei com a cabeça.
— Não até eu te dizer o que eu resolvi. - Ele me olhou concentrado. - Eu aceito que o seu pai contrate uma babá porém, eu vou acompanhá-la por pelo menos algumas semanas até eu ter certeza de que posso confiar deixar a Sophie com ela OK? Então eu volto a trabalhar em algo que não me tome tanto tempo. - Disse e então ele sorriu.
— Até que enfim algo positivo no dia de hoje.- ele se levantou e me beijou, não um selinho qualquer, um beijo intenso, e foi como se o meu Jacob tivesse voltando, até que o seu celular apitou e ele tomou das minhas mãos e foi embora. Subi as escadas e fui em direção ao quarto da Sophie, que já estava acordada brincando com seus ursos.
— Bom dia meu amor. - Disse e a tirei do berço, dei seu café e levei até a sala. Passei a manhã inteira observando como ela era linda enquanto brincava, talvez tivesse sido uma das únicas coisas boas que Jacob fez por mim, me dar a Sophie.
Peguei ela no colo, ela sorria pra mim parecia encantada pelo o que via.
— Tá difícil filha, mas no fundo eu sei, se nos meus braços você estiver eu durmo em paz e enfrento tudo o que vier.

Continua...