O Olimpo em Guerra

A Imperatriz do Olimpo afirma sua autoridade


Apolo parece deslizar rapidamente pelos belíssimos jardins. Tem uma expressão tensa. À sua frente surge o imponente palácio imperial de Zeus, o mais belo dos palácios e templos do Olimpo. Na enorme escadaria frontal está Artemis, parada, como se o aguardasse.

—_Apolo...

—_Você me decepcionou, Artemis... Diz, secamente, Apolo, direcionando o olhar para o chão.

Artemis abaixa o olhar, como se sentisse um certo constrangimento.

—_Mas isso agora não importa. Diz Apolo, fuzilando com o olhar o enorme portal acima das escadarias. __Ela terá que se explicar, terá que se explicar muito bem, pelo que fez.

Apolo sobe as escadarias, Artemis segue atrás. Ao se aproximarem do portal, os dois guardiões de Zeus, com suas belas armaduras reluzentes em tons de marfim e ouro e suas longas lanças, se perfilam em posição de sentido. O enorme portal se move sozinho, como se reagisse à aproximação dos dois deuses. Apolo e Artemis vão deslizando pelo quase interminável corredor que leva ao salão imperial. Outro portal com mais duas sentinelas se abre. Apolo e Artemis avançam pelo inebriante salão, adornado com colunas gigantescas e de um branco que quase chega a ofuscar a vista de quem as contempla. No fim podem ser vistos os dois imponentes tronos imperiais.

—_Não tinha o direito de interferir, Hera! Diz Apolo em tom desafiador, demonstrando profunda irritação.

—_Não se dirija à imperatriz do Olimpo sem antes curvar-se respeitosamente, seu insolente! Hera não se deixa intimidar.

Apolo faz uma reverência contrariado. Artemis curva-se demonstrando mais respeito. Em seguida, Apolo retoma o diálogo ainda em um tom desafiador.

—_Eu estava a ponto de punir aqueles dois, principalmente aquele inseto humano. Por que interferiu, Hera? Por que???

—_Nem você, nem Artemis, ou qualquer outro deus do Panteão tem autoridade para punir Athena e seus cavaleiros sem a permissão de Zeus! E vc sabe muito bem disso, Apolo. Quem merece punição é você!

—_Eu não acredito. Como vc pode defender Athena e seus cavaleiros? Se levantaram contra Poseidon e Hades!

—_Se levantaram contra Poseidon e Hades porque Athena é a guardiã da Terra e dos humanos perante o Panteão! Incumbência esta que lhe foi dada pelo próprio Zeus!

—_Zeus! Zeus... vc diz. Onde está Zeus, afinal?? Já fazem séculos que partiu para um lugar ermo no Cosmos. Pode-se acreditar que talvez nem retorne!

—_Cale-se, Apolo! Hera bate com a mão no braço do trono. __Zeus partiu com Hermes para averiguar uma estranha energia agressiva nos confins do Universo. Disse que retornaria. Se disse então retornará, ainda que demore. E conferiu-me autoridade para governar o Olimpo durante sua ausência. E você, e qualquer outro deus do Panteão, vão se curvar a esta autoridade! Hera se destempera e fica de pé ao proferir essas palavras. __E se ousarem me desafiar vão arcar com as conseqüências, e você sabe quais são elas!

Artemis observa o ríspido diálogo com uma expressão de medo e com visível desconforto, mas não se pronuncia. Então os 3 percebem que no lado oposto do salão, o enorme portal se move, indicando a presença de mais alguém. Passos fortes e de sons metálicos são ouvidos até que uma imponente figura, trajando uma impressionante armadura vermelha e apoiando um elmo de mesma tonalidade em um dos braços aproxima-se do trono e faz uma reverência.

—_Imperatriz Hera, mandou que viesse à sua presença? A que devo a honra?

—_Não se faça de tolo, Ares, você sabe porque o convoquei. Você e estes dois são cúmplices nos últimos acontecimentos que se referem a Athena e à Terra.

—_Ora, minha imperatriz, eu jamais subestimaria sua perspicácia. Não, jamais. Podia-se perceber um certo tom de deboche nas palavras de Ares.

—_Não me subestime mesmo, Ares. A ausência de Zeus não me faz indefesa, nem mesmo diante de você. Se quiser apostar nisso, garanto-lhe, vai
se arrepender
.

—_Mas minha imperatriz, vc se equivoca a meu respeito. Minhas ações
são sempre no sentido de ajudá-la na difícil tarefa de governar o Olimpo...


Apolo e Artemis percebem o sarcasmo nas palavras de Ares, mas devido à extrema irritação de Hera, se fazem de desentendidos.

Apolo então pergunta a Hera: __ Hera, o que vc fez com Athena e aquele cavaleiro? Você os teletransportou no momento em que eu ia destruí-los. Não consigo rastrear seus cosmos. Para onde os enviou, Hera?

—_Isso a partir de agora não lhe diz respeito, Apolo. Escutem bem voces 3, eu não vou repetir. Enquanto Zeus não retornar ao Olimpo, não haverá qualquer tipo de punição à Terra e aos humanos. Não por parte de olimpianos. Se Athena, a Terra e a espécie humana merecem algum tipo de punição, isso será decidido apenas pelo Imperador do Olimpo, Zeus, e mais ninguém! Além disso, não pensem que não estou a par do que vcs fizeram com as almas daqueles cavaleiros de ouro!

—_Pretende libertá-los também, Hera?
Pergunta Artemis.

Hera, parecendo um pouco extenuada com a discussão, senta-se novamente no trono, respira profundamente e diz: __Ainda não sei. Talvez por ora seria melhor que permaneçam como estão, para evitar que nos causem problemas...mais tarde decidirei o que fazer. Bem, já não tenho mais nada a lhes dizer. Agora vão, retirem-se, tenho outros assuntos a tratar. Hera faz um gesto com a mão para que se retirem, expressando um ar de aborrecimento e sem lhes dirigir o olhar.

Os 3 olimpianos fazem uma reverência, em silêncio, à imperatriz e se dirigem ao portal do salão.

Após deixarem o recinto, Hera diz:__Pode sair agora, Afrodite.

De trás do trono, onde se localiza uma enorme e bela cortina dourada, Afrodite aparece. __Ainda bem que se foram, Hera, Mantive minha cosmo-energia em um nivel imperceptível, para que não percebessem minha presença, mas não sei quanto tempo mais conseguira me manter assim...

Hera demonstra uma expressão de cansaço e preocupação:__Não sei quanto tempo mais poderei aguentar, Afrodite. Apolo e Ares não esperarão muito mais pela volta de Zeus. Artemis sei que age influenciada pelos dois, mas tenho certeza que, mais cedo ou mais tarde, cada um daqueles dois tentará, a seu modo, se apossar do trono de Zeus...tento demonstrar firmeza, mas a verdade é que não há, no momento, forças no Olimpo capazes de fazer frente a Apolo ou a Ares...Hades teve seu corpo destruido por Athena, e mesmo assim eu jamais pensaria em recorrer a ele... Poseidon tem seu espírito selado, também por Athena...foi o que aqueles dois conseguiram por desobedecerem a Zeus e ambicionarem destruir Athena e a Terra...

—_Agora, após ouvir seu diálogo com eles, entendo porque vc está preocupada. Diz Afrodite. __ Se ao menos Zeus e Hermes retornassem logo....

—_Quero lhe agradecer por me ajudar a colocar Athena e aquele cavaleiro a salvo de Apolo....Diz Hera.

—_Tirei-lhes boa parte da memória e os coloquei em uma região erma, rural, na Terra. Dei-lhes uma falsa memória para pensarem que são pessoas com outro passado. Assim não terão motivos para elevar seus cosmos, atraindo a atenção de Apolo e Artemis. Mas não sei se isso durará por muito tempo... afinal Athena é uma deusa e tem grande poder, a qualquer momento seu cosmos pode anular o meu e recuperar sua memória...

—_De qualquer forma assim ganhamos um pouco mais de tempo para pensar no que fazer nesta situação tensa, Afrodite. Temos que garantir a lealdade de Hefestos, Ceres e até mesmo dele...Heracles....

—_Deixe Hefestos comigo, eu o convencerei a manter lealdade a vc, Hera...sobre Heracles...sei que a lembrança dele a incomoda, mas vc precisa deixar essa amargura de lado, mesmo porque vamos precisar de toda ajuda que conseguirmos reunir...

—_Eu sei, Afrodite, obrigada por sua ajuda, quando Zeus retornar, eu não esquecerei da sua lealdade...

As duas deusas seguram as mãos uma da outra.

No lado de fora do Palácios de Zeus, nos caminhos que serpenteiam pelos
belos jardins e gramados do Olimpo, Apolo, Ares e Artemis confabulam.

—_Hera está desorientada. Não tem condições de ocupar o trono. Diz Ares.

—_Escute, Ares... Diz Apolo. __O fato de queremos punir Athena e os humanos não quer dizer que podemos fazer uma rebelião contra Hera. Isso seria se rebelar contra o próprio Zeus.

—_Ohhh, está com medo, Apolo? Tem medo que outro humano acerte o seu belo rosto? Diz Ares, com um tom de escárnio.

—_O que??? Reage Apolo com indignação.—_Não me provoque Ares. Se quiser lhe dou a chance de tentar acertar o meu "belo rosto", se quiser mesmo tentar a sorte!

Artemis intervem: __Parem com isso vcs dois.

—_E vc, Artemis... Diz Ares. __O máximo que conseguiu foi perder 3 guerreiros. E ainda foi traida por aquele humano no qual depositava o seu afeto. Fossem meus bersekers a lutar e todos aqueles cavaleiros, e mesmo Athena, estariam destruidos agora.

Artemis se revolta: __Por que nos provoca, Ares? Quer que fiquemos em lados opostos? Se é o que quer... vamos fazer sua vontade.

—_Vc fala muito, Ares, mas até agora fez muito pouco. Rebate Apolo. __Não se esqueça que Athena já o derrrotou, e a seus bersekers, no passado!

Ares muda de tom. __ Me perdoem meus amigos, é que estou ansioso para fazer justiça em relação a Athena e a seu exército de insetos humanos. Acho que estamos nervosos devido às atitudes de Hera.

Apolo e Artemis olham para Ares com um olhar desconfiado, ainda sentindo sarcasmo e falsidade em suas palavras

Ares continua: __Precisamos esfriar a cabeça. Mais uma vez perdoem as minhas palavras impensadas, não quis ofendê-los. Se me permitem, vou retirar-me a meus aposentos. Apolo...Artemis....

Ares faz uma pequena reverência com a cabeça e em seguida se afasta, andando em direção a seu templo e palácio no Olimpo.

—_Nunca confiei nessa serpente... Diz Artemis para Apolo.

—_É evidente que ele ambiciona ocupar o trono de Zeus. Diz Apolo. __ Mas se alguém tiver que suceder Zeus, serei eu.

—_Você também alimenta esse desejo, Apolo??? Surpreende-se Artemis.

—_Não é isso, Artemis. Quero dizer que se Ares começar uma rebelião, eu o impedirei. Mas não pretendo destronar Hera.

Ares anda em direção a seu palácio envolto em seus pensamentos: __Aqueles dois idiotas. Não passam de um estorvo para mim. Nem mesmo uma simples tarefa, a de punir Athena e seus soldadinhos, foram capazes de realizar. Isso com Athena dispondo praticamente apenas de seus cavaleiros de bronze. Tenho que prosseguir com meus planos sozinho. Afinal não há ninguém no Olimpo capaz de rivalizar com meu poder, nem mesmo Apolo. Com Hades fora do caminho, somente... "ele" ... poderia me atrapalhar. Mas com seu espírito selado não pode fazer muita coisa no momento... Ao pensar isso, Ares dirige o olhar para um dos Palácios do Olimpo.

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Em uma das belas ilhas gregas do Mediterrâneo, nos jardins de um Palácio, uma seleta platéia aplaude entusiasticamente um músico, ao fim de um recital.

O anfitrião toma o microfone : __Senhoras e senhores, meus amigos, a Fundação Solo agradece a sua presença e colaboração. Com a arrecadação deste recital podemos manter em funcionamento os vários trabalhos levados a cabo pela Fundação. Como sabem, mantemos asilos para idosos, orfanatos, hospitais...mas é claro que devemos também agradecer e muito a este gênio da flauta, que generosamente corre a Europa fazendo recitais beneficientes como este. Vamos aplaudir novamente... Sorento!

Uma nova e vibrante salva de palmas.

Julian Solo passa o microfone para Sorento

—_Senhoras e senhores, quero agradecer vossa generosidade, colaborando com os trabalhos da Fundação. Da minha parte considero um prazer e um privilégio poder colocar a minha arte a serviço dos mais necessitados. Sempre que for convocado pelo senhor Solo, darei esses recitais. Espero também sempre poder contar com a presença dos senhores na platéia. Obrigado.

Mais uma salva de palmas e Julian Solo retoma o microfone: __Meus amigos, se dirijam por favor ao salão principal do palácio onde serviremos um coquetel.

—_Vc esteve soberbo esta noite, Sorento. Um verdadeiro virtuose. Diz Julian a Sorento, em particular.

—_Obrigado senhor Solo, Como disse, pode sempre contar comigo para ajudar os trabalhos da Fundação.

As pessoas cercam Solo e Sorento, que atendem a todos com simpatia. Cada um acaba conversando com um grupo diferente de pessoas ainda nos jardins.

—_O senhor toca divinamente senhor Sorento. Jamais ouvi um flautista tão talentoso.

—_Bondade sua, Baronesa. O importante é que assim podemos ajudar a muitas pessoas necessitadas.

—_Sorento!!!!

Sorento se assusta com a forte voz que ecoa em sua mente, de modo repentino. Seu olhar procura Julian Solo. Mas Julian está conversando normalmente com outro grupo de pessoas. O rosto de Sorento toma uma expressão de surpresa e temor. Ele pensa: __Mas como é possível??? Tenho certeza que ouvi a voz do Imperador Poseidon. Mas ele sempre fala através do Senho Solo. Mas o Senhor Solo conversa normalmente com aquelas pessoas.

—_Sorento!!!

Novamente a voz de Poseidon ecoa em sua mente.—_O-o que está acontecendo??? Pensa. Seu rosto fica pálido.

—_Algum problema, Senhor Sorento? Está pálido e com uma expressão assustada...

—_N-não, baronesa, e-está tudo bem. Se me permitem, preciso dar alguns telefonemas urgentes, mas retornarei em seguida.

Sorento entra no Palácio de Julian e se dirige, um pouco perturbado, a um quarto isolado, tentado entender o que se passa. Abre as cortinas e os vidros de uma porta que dá para uma pequena varanda. Respira um pouco de ar fresco e contempla o belo luar.

—_O que o Imperador Poseidon está querendo me dizer? Por que não fala através de Julian Solo, como sempre fez?

Sorento volta para dentro do quarto.

—_Não estou ouvindo mais aquele chamado. Por que Poseidon não se manifesta agora, que estou sozinho?

—_Olá meu general, senti saudades...

Sorento ouve a suave voz feminina, que lhe parece familiar. Se volta para a varanda e vê, iluminada pelo luar prateado, sentada na sacada da varanda, adornada com escamas dos marinas, a bela mulher loura e de profundos olhos azuis.

—_Thetis!!! Sorento se alegra. __Não poderia haver melhor hora para vc aparecer, eu...

—_Ouviu o chamado de nosso Imperador, não? É por isso que vim, meu general...

—_M-mas por que Poseidon não...vc sabe...

—_Nosso Imperador não vai mais utilizar-se de um hospedeiro. Ele quer que seu espírito retorne a seu corpo verdadeiro, que descansa no Olimpo.

—_Como vc sabe, Thetis?

—_Ora meu general, sou a mensageira do Imperador. Por isso reassumi minha forma humana.

—_Thetis... vc... quase me esqueci do quanto é bela...

Thetis abaixa o olhar ruborizada, depois se recompõe. __General Sorento, devemos ir ao Santuário de Athena. Lá repousa, em uma urna, o espírito do Imperador Poseidon, preso pelo selo de Athena. Devemos libertá-lo.

—_ O santuário de Athena...

—_Sim, por isso lhe trouxe isto. Thetis aponta para um objeto brilhante colocado no chão da varanda.

—_Minhas escamas. Sorento eleva um pouco seu cosmos e as escamas cobrem suavemente seu corpo. __Confesso que às vezes senti falta do meu traje de batalha. Sabe onde estâo as escamas dos outros generais?

—_Após a destruição dos pilares pelos cavaleiros de Athena, as escamas ficaram no fundo do oceano. Mas eu as recolhi. Estão em uma caverna submarina, no Mediterrâneo, à espera de que Nosso Imperador reconstrua seus domínios na Terra.

Neste momento Sorento e Thetis ouvem passos no corredor, se aproximando.

—_Vamos Thetis.

Sorento e Thetis saem pela janela e somem na noite. Então a porta do quarto se abre e Julian Solo entra.

—_Sorento, vc está bem? Disseram que vc parecia não estar se sentind... Sorento??

Julian vê o quarto vazio e a porta da varanda aberta. Uma suave brisa movimenta as cortinas. Julian vai para a varanda e contempla a noite enluarada.

—_Sorento...