O Máscara

De volta ao passado


Adélia investigou,mais uma vez, o rosto do pai, que tinha uma mancha muito escura abaixo do olho esquerdo e o lábio inferior com uma listra vermelha, um tanto inchada. Seu peito doeu instantaneamente, como se aqueles machucados estivessem em sua pele.

Ao ver os olhos dela se encherem de água, Thiago tocou-lhe o rosto, xingando-se internamente por ter aparecido daquela forma. Mas o que ele poderia fazer? Não havia nada a seu alcance que tirasse aqueles hematomas horríveis de sua pele de uma hora para outra – exceto maquiagem, e aquela ideia nem lhe passara pela mente. Ao ver a expressão de mágoa contida de Adélia, ele perguntou-se o quão horrível deveria estar.

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–Você está bem? – Ele perguntou,pela milionésima vez, com uma preocupação mal contida em sua voz.

Ela assentiu, enquanto ainda o encarava, aflita.

Ambos estavam abraçados, sentados no sofá de casa. O espaço, antes vazio, parecia mais quente e aconchegante depois que seus pais voltaram. Depois do jantar,a pequena família resolvera se sentar juntos para ver um pouco de televisão, como de costume. Thiago até fizera um pequeno resumo do que acontecera – isto é, de como um carro com um motorista desgovernado o pegara bem na hora em que seus amigos estavam indo embora – para Adélia, que ouvia atentamente cada palavra.

Adélia respirou fundo, enquanto um bolo de palavras se formava em sua garganta. Ela queria lhe dizer que o amava, e que tinha uma vontade arrebatadora de protegê-lo de todo o mal do mundo, que nunca o abandonaria e que sempre, sempre iria estar ao seu lado. Ela queria também lhe agradecer por ser o pai maravilhoso que era – e dizer o mesmo para sua mãe, que também tinha um lugar mais que especial no coração dela. Queria abraçar ambos para poder decretar sua felicidade por ser filha deles.

Mas não conseguia. Estava eufórica demais para pôr os pensamentos em ordem.

Suzane, Adélia e Thiago estavam reunidos em silêncio no sofá de três lugares do apartamento da família, assistindo a uma partida de basquete – coisa que nenhum dos três admirava. Adélia encarou discretamente o rosto da mãe, que parecia estar cansado. Seus olhos azuis estavam inchados e vermelhos, como se tivesse chorado muito. Os cabelos loiros estavam amarrotados de qualquer jeito em um coque, e seus lábios delicados e rosados estavam entre os dentes, que ela mordia com força. Seu pai parecia estar tentando conter a agitação balançando freneticamente a perna direita, mas Adélia não conseguia dizer se seu rosto estava contorcido de nervoso ou de dor.

O clima ali parecia estar carregado de nervosismo e estresse por parte de ambos, e Adélia pensava que fosse por causa do acidente. Mas havia um vozinha, bem no fundo de sua mente, que lhe dizia que havia algo mais. Algo que seus pais tentavam esconder.

Ela limpou a garganta, tentando pensar em algo que os distraísse daquele clima.

–Então... – Ela começou, se ajeitando no sofá, como se aquilo fosse ajudá-la a pensar melhor. –Quem era aquele homem que esteve aqui hoje, papai?

Ela observou a troca de olhares entre seus pais, enquanto esperava a resposta de algum dos dois. Ela também notou um misto de preocupação e surpresa entre eles.

–É só um conhecido nosso – Suzane respondeu, desdenhosa. – E é dono desse prédio.

–E o que ele queria aqui? – Adélia franziu a testa.

–Ele não queria nada, Adélia. Por favor, esqueça-o!

Thiago lançou um olhar de censura para sua esposa, depois de ouvir o tom rude que usara.

Ela estava estressada, com medo e receosa – e ele também estava – mas aquilo não era culpa de Adélia. Ela não conseguia lidar com sentimentos como aqueles. É claro que ela já conhecia o sentimento de perda, como quando perdera tudo o que tinha no passado; mas nenhum outro sentimento de perda poderia ser comparado com a perda de um filho. E aquele era o sentimento que Suzane jamais conseguiria descrever.

–Ele me conhecia... – Falou Adélia, mais para si mesma do que para os outros. – Ele sabia meu nome.

Thiago encarou Suzane, que olhava fixamente para a televisão. Ele viu apenas uma lágrima deslizar por sua bochecha, enquanto ela mordia a parte de dentro da bochecha.

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–Estou cansado disso! – Ele disse, levantando-se exasperadamente do sofá. Sua cabeça soltara um latejo que quase o fizera voltar e sentar-se, mas Thiago o ignorou com determinação. De repente, tudo ficara mais agitado ao redor.

As duas sentadas no sofá o encararam com surpresa. Ele encaminhou-se até as escadas e, segurando firmemente no corrimão, subiu-as a passos pesados e apressados, apesar das pontadas doloridas em sua barriga.

–O que está acontecendo? – Perguntou Adélia, um tanto confusa e assustada com a reação exasperada do pai. Ela encarou a mãe, que enxugava rapidamente as lágrimas que caíam de seus olhos sucessivamente. – Você está chorando?

Adélia prendeu o fôlego enquanto se aproximava da mãe. Ela não conseguia entender o motivo que levara seus pais a reagirem de tal forma; mas também temia perguntar. Ela passou os braços pelos ombros da mãe, sentindo seu peito doer à medida que ela soluçava com mais força.

–Mãe, por favor, me diga o que está acontecendo. – Ela suplicou, ainda que um pouco receosa.

–Sinto... Muito... – Ela gemeu, puxando Adélia para mais perto de seu corpo para abraçá-la. –Nós... Eu... Falhei...

Adélia a abraçou mais apertado, sentindo seus olhos arderem.

–Não, mamãe, você não falhou. – Ela se apressou em dizer, antes que sua garganta se fechasse de vez. – Você é ótima. É perfeita...

–Ah, Adélia... – Suzane afastou-se dela para encarar seus olhos dourados. Sua filha parecia à beira das lágrimas. – Como pode ser tão... Ingênua?

Adélia se afastou um pouco, como se tivesse sido empurrada por uma mão invisível.

Ela nunca achara que ingênua fosse uma ofensa, mas a forma como sua mãe pronunciara, com um misto de ceticismo e raiva, a ofendera.

–Mãe, eu não... - Ela queria se defender, mas não sabia como fazê-lo. Talvez sua mãe tivesse razão; talvez Adélia fosse realmente ingênua demais entender o que se passava ali.

Suzane estava prestes a dizer algo quando foi interrompida por Thiago, que descia as escadas rapidamente. Ele parecia ter uma pasta de papéis nas mãos, o que só aumentou a curiosidade de Adélia. Ao chegar ao centro da sala, ele jogou a pasta cor de marfim na mesa de centro; o barulho daquelas folhas de papel caindo fez o coração de Adélia bater mais forte.

–Não sei por onde começar... – Thiago murmurou, andando de um lado para o outro, freneticamente.

–Não faça isso. – Suzane encarou o marido ferozmente, sentindo sua pulsação aumentar a cada batida de seu coração. – Não agora.

–E quando devemos fazer, hein? – Thiago disse, aumentando o tom de voz. Ele parou e abriu os braços em frente à mulher, exasperado. Sua cabeça latejava de dor, mas ele estava agitado demais para parar naquele momento.

–Esse não é o momento certo, Thiago! Não seja idiota – Vociferou Suzane, levantando-se para ficar cara a cara com o marido. – O que você tem na cabeça? Está louco?

– E quando será o momento certo? – Ele vociferou de volta, ficando cada vez mais agitado. Ele quase podia ouvir o barulho do sangue pulsando em seus ouvidos. – Ele vai pegá-la de qualquer jeito, porra! E só temos dois dias, dois dias...

Adélia cobriu a boca com as mãos trêmulas.

Seus pais estavam brigando. Em sua frente. E ela não fazia à menor ideia do que fazer. Talvez ela devesse se retirar, ir para o seu quarto e esperar ate que tudo ficasse mais calmo para poder voltar e tentar entender do que eles estavam falando. Mas ela estava petrificada; chocada com a agressividade que ambos mostravam um para o outro em forma de palavras. Eles nunca brigavam tão... furiosamente na frente dela assim. Eles pareciam tão furiosos com eles mesmos que pareciam que tinham esquecido que ela estava ali, sentada e assustada, assistindo-os.

–Não é assim que as coisas têm de acontecer, Thiago! – Suzane gritou, agarrando os próprios cabelos com força, como se quisesse arrancá-los. - Sabe o quão difícil será para ela ouvir dessa forma?

–Será difícil de todas as formas, Suzane! – Thiago se afastou da esposa, cobrindo o rosto com as mãos e fazendo com que uma pontada de dor em seu olho o fizesse gemer. Ele respirou fundo e pôs a mão no peito, que subia e descia freneticamente. Seu coração batia e doía de fúria, obrigando-o a contar até vinte para se acalmar. – Nós temos que contar para ela, Suzane. Temos que... Prepará-la para o que está por vir.

–Contar o quê? – Adélia perguntou de mansinho, levantando-se do sofá para encará-los.

Um silêncio caiu sobre a família naquele momento. Adélia encarava os pais, esperando pela resposta. Seu coração batia com força em seu peito, como se quisesse arrombá-lo e fugir. Suas mãos estavam suadas e frias de nervosismo.

Suzane encarou o marido, que também a encarava de olhos arregalados. De repente, ambos sentiram um peso enorme dentro do peito. Era como se tudo tivesse desabado dentro de si, fazendo com que ambos ficassem sem reação. Por uma fração de segundos, Suzane achou que fosse desmaiar.

Uma dor insuportável tomou conta do peito de Thiago, muito maior do que as dores que sentia nas costas, na barriga e no rosto. Como um lampejo, ele se lembrou da caixinha de remédio que o médico lhe deu, censurando-se internamente por não tê-lo tomado.

–Pai? - Adélia virou-se para ele, para encará-lo. – O que vocês têm para me contar?

–Não é nada, querida. – Suzane interveio. Ela se aproximou da filha e agarrou-lhe as mãos trêmulas. Depois, depositou um beijo em cada bochecha dela. – Vá para a cama e descanse...

–Ah, por favor, Suzane! – Thiago vociferou. – Chega de esconder coisas! Ela merece saber agora.

–Você sabe muito bem onde a sua precipitação nos levou, Thiago! – Suzane afastou-se da filha e se voltou para o marido. – Pare de agir como se pudesse controlar tudo...

–Parem de brigar, por favor! – Adélia estava tão surpresa quanto seus pais, por ter erguido a voz aquele ponto. Mas estava cansada de tudo aquilo, e à medida que eles falavam sobre contá-la ou não contá-la a estava deixando mais ansiosa e estressada. – O que querem me contar?

Thiago e Suzane se entreolharam, um esperando pelo outro.

–Bom, não sei por onde começar...

–E ainda assim você quer fazer isso hoje! – Suzane interrompeu Thiago, exasperada. – Francamente, Thiago.

–Suzane! – Thiago a censurou, deixando-a ainda mais furiosa. – Adélia, há uma história muito longa para lhe contar, mas preciso que me prometa uma coisa. – Ele suplicou, encarando-a intensamente. Adélia assentiu, desviando o olhar para seus pés descalços. – Prometa que, independentemente do que você descobrir agora, você jamais irá escolher fugir.

Adélia franziu o cenho, confusa.

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–Por quê?

–Porque a fuga é algo para covardes. – Ele disse, arrastando-se até sua poltrona, para se sentar.

– E se eu não tiver escolha? – Adélia sentou-se também, sentindo suas pernas tremerem ao descansarem.

–Você vai ter. – Ele disse, encarando-a. – E, se você não achá-la, crie outra. Mas não fuga, não escolha o caminho mais fácil e, acima de tudo, seja orgulhosa.

Orgulhosa? – Ela perguntou, confusa. – Pensei que isso fosse algo ruim.

–Não, não é. – Thiago soltou uma risada amarga. – Você vai descobrir que o orgulho funciona como uma armadura para nós. Ele impede que tomemos caminhos que sabemos que não conseguiremos seguir até o fim, além de nos manter em nossa zona adequada de vida.

–Mas pai...

–Por favor, só prometa querida. – Thiago a encarou, esperando um “sim” concedido. – Bom, agora vem à parte difícil. – Ele encarou Suzane, em busca de apoio, mas ela estava sentada ao pé da escada, recusando-se a encará-los. Thiago queria muito o apoio de sua esposa naquele momento tão difícil, como tinham planejado. Mas também sabia que, se tentasse convencê-la outra vez, iriam acabar brigando e piorando as coisas. – Adélia, nós não somos bem como você nos imagina. – Ele fechou os olhos, sentindo algumas das lembranças do passado voltar nitidamente à sua mente. – Nós, eu e Suzane, fizemos algo muito errado no passado. E isso nos trouxe conseqüências desastrosas.

Ele fez uma pausa para organizar os pensamentos. Queria contar logo sobre o Acordo e acabar logo com aquilo tudo, mas sabia que ela precisava entender os motivos primeiro, para o caso de haver alguma chance de perdoá-los.

–Nós fizemos um acordo com um homem... – Ele disse, engasgando-se nas próprias palavras. – Nós adotamos você depois e... – Ele se interrompeu.

–Pai, não estou entendo. – Adélia murmurou, calmamente. – Do que está falando? Que acordo foi esse?

–Ah, Suzane... – Ele gemeu, sentindo uma dor tomar conta de seu peito. – Eu preciso de você. Por favor, não consigo fazer isto sozinho.

Lentamente, Suzane levantou-se das escadas e caminhou até o meio da sala, com os olhos fixos no chão. Ela estava magoada, mas algo na forma como seu marido a chamara a fizera recobrar no momento. Ela queria ajudá-lo; também queria contar tudo à Adélia, mas estava morrendo de medo.

Ela tinha medo de nunca ser perdoada por Adélia, mas, seu maior medo era, com toda certeza, era ser odiada por ela.

O ódio era algo muito pesado, muito sombrio e demoníaco para um coração tão ingênuo como o de Adélia. E ela temia mais do que tudo provocá-lo.

Ela sentou-se ao lado do marido, segurando a mão que ele lhe oferecia com toda a força que lhe restara.

–Seu pai e eu éramos jovens muito rebeldes antes de você nascer. – Ela começou. – Nós nos conhecemos graças aos nossos pais, quando tínhamos quase a mesma idade que você.

Ela lembrou-se, de repente, de estar sentada em uma mesa de jantar ricamente posta, e de ver seu pai se aproximar com um homem mais velho, uma mulher e um garoto que aparentava ter a mesma idade dela. Ele era muito bonito e charmoso, mas ao mesmo tempo discreto e quieto. Aquilo irritou profundamente Suzane – que se considerava uma garota rebelde e extravagante. Ela não gostou quando seus pais os obrigaram a jantarem juntos, só por causa dos negócios de família. A partir daquele dia, Suzane começara a odiar apenas duas pessoas na vida: seu pai, Castelle e Thiago, o filho do Sr.Jamie Moretz.

–Nossos pais eram os piores pais do mundo. – Thiago completou. – Eles nos obrigaram a ficarmos juntos durante vários anos, e até arranjaram um casamento para nós, só para que seus negócios se saíssem bem na mídia. Eles não se importavam nem um pouco com nossos sentimentos.

–Não entendo – Adélia interveio. – Como isso pode ser ruim? Quero dizer, vocês se amam agora, não é? Isso não deveria ficar no passado?

–As coisas nem sempre foram assim, querida. – Suzane respondeu, trocando olhares com Thiago. – Eu odiei tudo no começo. Eu odiava Thiago e sua família, odiava a minha família por me obrigar a fazer aquilo... – Ela fez uma pausa, antes de relevar a próxima confissão. – Eu estava cegamente apaixonada por outro homem. Mais velho do que eu, porém mais poderoso do que se possa imaginar.

Ao notar o olhar aflito de Thiago ao contar aquele detalhe assombroso de sua vida, ela sentiu vontade de abraçá-lo e lhe dizer que não era apenas apaixonada por ele, mas que o amava agora.

Ela lembrou-se de um homem alto, de cabelos grisalhos e olhos verdes intensos.Ele parecia ter por volta de quarenta anos na época. Suzane fechou os olhos, sentindo seu peito doer de ódio ao lembrar-se da própria tolice de acreditar que um homem poderoso como Adam iria se comprometer seriamente com uma adolescente rebelde – mesmo que essa adolescente fosse a filha de um dos empresários mais poderosos do país.

–Eu era uma tola; acreditei cegamente que ele retribuísse os meus sentimentos. – Ela fungou, sentindo uma vontade arrebatadora de esconder-se. Mas precisava continuar. – Ele mentia o tempo todo. Era um interesseiro e egoísta, mas por dentro... – Ela respirou fundo. – Ele é um monstro. Era sombrio...Praticamente um demônio.

Dito isto, um silêncio se instalou na sala.

Adélia encarava as mãos entrelaçadas de seus pais, enquanto tentava assimilar tudo o que ouvira até agora.

Então seus pais não se amavam desde o começo?

Bom, até ali, era algo normal.

Seus pais os obrigaram a ficarem juntos quando eram jovens; no início, houver, por parte de ambos, uma rejeição.

Mas agora eles se amam, e está tudo bem – Adélia pensou, dando-se conta do alívio que sentiu ao soltar o ar preso na garganta.

–Então... – Ela começou. – Vocês foram obrigados a se casarem, apesar de que não gostavam um do outro no começo. – Seus pais assentiram, e ela continuou: - Mas vocês se amam agora. E está tudo bem... – Ao encarar as expressões de exaustão dos pais, Adélia se apressou em completar: - Não é?

Thiago e Suzane se entreolharam, ambos sentindo o peso da próxima confissão.

–Agora vem à parte difícil, não é? – Suzane virou-se para o marido, para encarar a expressão dele se fechar. Thiago apenas assentiu, engolindo em seco e apertando com mais força a mão de sua esposa. – Adélia, agora vem à parte difícil.

Adélia assentiu, sentindo um frio na espinha. Uma ansiedade tomou conta dela, fazendo com que um pingo de suor deslizasse por sua testa franzida.

–O homem a quem eu era apaixonada, - disse Suzane – se chama Adam. Você o conheceu hoje cedo, não foi?

Adélia recostou-se no sofá, chocada. A lembrança daquele homem que a cumprimentara na calçada naquele dia encheu sua mente. Ao recordar do quanto ficara encantada ao conhecê-lo, seu estomago embrulhou muito mais. De repente, ela sentia-se muito envergonhada por tê-lo achado charmoso e bonito.

– Ele é um sujeito muito inteligente... E isso o torna mais perigoso ainda. – Thiago fechou os olhos, quando uma enxurrada de lembranças inundou sua mente. Todas aquelas lembranças despertavam seu lado mais obscuro – o qual ele lutara para esconder de sua filha. Expô-lo naquele momento estava se tornando a coisa mais difícil do que ele imaginara. Ao encarar sua esposa, ele pôde ver o quanto ela sofria também.

Suzane sentia um embrulho no estômago. Era como se houvesse uma pedra presa em sua garganta, que a impedia de falar. Ela não queria deixar seu marido sozinho, tendo que carregar toda aquela responsabilidade nas costas sem ela. Mas, por mais que tentasse naquele momento, ela não conseguiria dizer uma palavra sem gaguejar. Ela já estava tremendo e suando, e a expectativa de ter que contar o que estava por vir só a fazia ter vontade de chorar, mas essa era a última coisa que queria.

–Não entendo... – Disse Adélia, franzindo a testa. – Como Adam pode ser tão perigoso? O que ele fez de errado?

Suzane respirou fundo e foi em direção à filha. Ela sentou-se bem próxima de Adélia e agarrou suas mãos.

–Ele nos traiu, Adélia. – Ela disse, baixinho. – Ele vai destruir nossa família. Vai tirar você de nós e... – Suzane parou rispidamente. Ela saíra atropelando as palavras, falando velozmente. Queria que saísse tudo de uma vez só, para poupar-se do sofrimento.

O quê? – Adélia sussurrou, assustada. – Me...tirar de vocês? Por que ele faria isso?

–Por que devemos isso a ele. – Thiago disse, evitando os olhos arregalados e assustados de sua filha. – Por que nós... Por que... – Ele não conseguia explicar o porquê. Seus pensamentos estavam fora de ordem, e ele não conseguia pensar em mais nada de forma coerente.

Devem? – Adélia sussurrou, encarando sua mãe, que a olhava fixamente. – Como assim me devem a ele?

–No passado... – Suzane começou, escolhendo cuidadosamente cada palavra que usaria a seguir. – Lembra quando eu disse que nossos pais haviam nos obrigado a ficarmos juntos por causa dos negócios deles? – Adélia assentiu vagarosamente. – Bom, nós passamos a odiá-los por isso. – Suzane pausou, respirando fundo. Ela analisou atentamente o desconforto de Adélia aumentar a cada palavra que dizia. – Eu contei isso para Adam um dia, e ele se mostrou muito prestativo depois disso.

Suzane lembrou-se daquele dia.

Sua família e a de Thiago haviam acabado de jantarem juntas, e enquanto todos conversavam na sala de estar da mansão onde morava, ela teve tempo de se retirar. Suzane havia saído um tempo depois, para encontrar-se com Adam em uma casa noturna onde ele costumava freqüentar – e onde ambos se conheceram.

Naquele dia em especial, Suzane estava cega de raiva de seus pais – e, no fundo, ela sabia também que Thiago estava – pois, durante o jantar, o assunto fora a possibilidade de um casamento para os dois “apaixonados”. Aquilo a havia esgotado toda a sua paciência. Ela suportara durante tempos ter que se mostrar uma garota boba diante de seus pais e os pais de Thiago; tivera até que se comportar melhor, mudar suas roupas e seu cabelo. Ela fingia ser meiga, apaixonada e até ingênua; com Thiago não era o contrário. Ele não suportava as ideias que seus pais tinham para mantê-los próximos, e modo como ambos o vigiavam para ver se estava sendo um bom cavalheiro. Ele não estava apaixonado por Suzane, claro; e sabia que nem ela estava por ele. E a ideia de terem que namorar durante certo tempo era até suportável levando em consideração um casamento.

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No momento em que seus pais tocaram no assunto durante o jantar, ele pôde observar atentamente a reação de Suzane. Depois de passarem tanto tempo juntos, ele aprendera a lidar com ela e seu mau humor muito bem. Até conseguia ler suas expressões e, naquele momento, ele sabia que por trás daquele sorrisinho estampado em seu rosto, havia um coração ardendo em fúria. Ele próprio sentia o mesmo.

Suzane teve vontade de gritar com seus pais, e de acusar ele por serem tão cegos e egoístas. Não era óbvio que ela e Thiago não se amavam? Como eles não conseguiam entender aquilo? Como conseguiam ver apenas si próprios e esquecer-se dos filhos, que sofriam para que eles tivessem o que queriam?

–O que aconteceu? – Adélia perguntou, de mansinho, como se estivesse com medo.

–Eu contei para ele que odiava meu pai por ser tão egoísta e minha mãe, por ser tão tola para segui-lo cegamente. – Suzane disse, lançando um olhar por cima do ombro para o marido, que a ouvia atentamente. – Disse que Thiago também odiava os pais dele. Disse que queria acabar com aquilo, que queria fugir daquele mundo...

Adélia assentiu.

Por um instante, ela compreendera o que sua mãe queria lhe dizer. Ela não queria casar com seu pai, pois não gostava dele na época, e culpava seus pais por aquilo. Sua mãe tinha o direito de sentir-se incomodada com tudo aquilo, mas...

–Por que não contou para seus pais que você não estava feliz? – Adélia segurou carinhosamente as mãos de sua mãe.

Suzane riu amargamente.

–Eu tentei,Adélia. Quando eles deram a ideia de um casamento, eu protestei. Me recusei a participar daquilo, falei a verdade para eles. Falei que estava apaixonada por outra pessoa, disse que estava infeliz, mas... – Ela suspirou, recordando-se vagamente das expressões de horror de seus pais ao ouvirem a verdade.

–Mas o quê,mamãe?

Suzane balançou a cabeça, como que para reorganizar seus pensamentos conflituosos.

–Eles não me ouviram. – Ela disse, sentindo um sentimento de raiva dominá-la. – Lembro de ouvir meu pai dizer que eu estava confusa demais, e que era normal ser um pouco insegura em um relacionamento. Mas o problema era que tudo aquilo era muito mais que um simples relacionamento. Era ganância. Tudo aquilo havia se tornado uma máfia entre famílias. Tudo se resumia em poder e dinheiro.

Adélia não pôde evitar ficar de queixo caído. A forma como sua mãe lhe explicava como eram seus avós de verdade a chocara. Ela sempre acreditara que eles eram pessoas comuns, de origem simples e trabalhadora – como sua mãe mesmo dizia. Ela nunca os conheceu, pois Suzane disse que seus pais estavam mortos e os de Thiago moravam muito longe para visitá-los.

Mas era incapaz de imaginar que seus avós eram mafiosos insensíveis, que fizera seus pais sofrerem tanto por puro egoísmo.

–Espere... – Ela disse. – Mas você me disse que eles eram pessoas comuns, e que haviam morrido...

– Sim, eu disse isso. – Suzane sentiu um calafrio. Adélia havia começado a questionar suas verdades, e aquele momento estava começando a se tornar um dos futuros pesadelos dela. – Disse que seu avô morrera em um acidente de carro, e que sua avó morrera anos depois, de uma doença. Mas eu menti sim, Adélia. Menti por que não queria que você soubesse das coisas... horríveis que aconteceu de verdade.

Adélia assentiu.

Sua mãe mentira para protegê-la? Tudo bem, ela pensou, também mentiria para protegê-la, se necessário.

–Mas o que aconteceu de verdade com eles?

Suzane recostou em seu assento, sentindo seu peito doer. Aquela era o momento em que ela iria revelar quem realmente era. Era o momento em que perderia Adélia para sempre.

Ela mal conseguia respirar, quanto mais continuar a falar tudo o que ainda tinha para dizer.

–Adélia,quero que você saiba que eu fiz isso por que eu estava cega. Eu estava fora de mim e estava muito magoada e... – Suzane se interrompeu. Ela havia perdido o controle de si mesma naquele momento apavorante, e mal sabia o que disse ou o que deveria ter dito.

–Mãe... – Adélia murmurou,trêmula. – Do que você está falando?

–Os seus avós foram vítimas de um assassinato, Adélia. – Thiago disse, mais sério do que esperava. – E a culpa foi nossa.

Adélia encarou a mãe, que se encolhia no seu lugar. Suzane parecia estar com frio, pois abraçava o próprio corpo como se fosse a única coisa que pudesse mantê-la ali. Ela não conseguia encarar Adélia, que tinha uma expressão de choque congelada.

Eu estava cega, sua mãe dissera, eu estava magoada...

Ela queria dizer alguma coisa, mas nada lhe vinha à mente naquele momento. Ela só pensava em como sua mãe parecia frágil naquele momento, enquanto raciocinava ainda mais sobre o que seu pai acabara de dizer.

–Eu não... Não posso acreditar. – Adélia mudou de posição no sofá, virando-se para frente e encarando a televisão desligada. Ela tremia ainda mais, e seu coração estava frenético em seu peito. – Meus avós foram mortos...

Ela encarou Suzane, que continuava encolhida em seu lugar enquanto apertava ainda mais os braços em volta de si mesma.

–Como... Como aconteceu? – Adélia perguntou, dessa vez encarando seu pai.

Thiago observava a reação da filha atentamente. Ela não parecia com raiva, nem que estava prestes a explodir; ao contrário. Adélia parecia estar se controlando muito bem, mantendo a respiração calma e evitando encará-los o máximo possível. Mas, mesmo diante daquilo tudo, ela ainda parecia confusa e cética.

– Adélia... – Thiago sussurrou, sentindo sua consciência ficando ainda mais pesada. – Não fomos nós que os matamos.

Adélia soltou um suspiro de alívio que a surpreendera. Ela nunca sentira tanto alívio ao ouvir seu pai dizer qualquer outra palavra como sentira naquele momento. Mas então ela se deu conta de uma coisa tremendamente assustadora: como saber se aquilo era verdade? Como saber se poderia confiar neles agora?

Ela apenas lançou um olhar significativo ao pai.

Thiago quase podia ver o ceticismo transbordar de Adélia.

–Adam insistiu em me conhecer quando Suzane se confessou com ele. – Thiago engoliu em seco. – Eu aceitei, claro. Suzane já havia me contado a verdade sobre eles há um tempo, e eu não ligara muito para ele na época. Mas então, um tempo depois de nos conhecemos, nós três nos tornamos um trio de amigos. – Thiago lançou um olhar de soslaio para Suzane, que o observava atentamente. Ele assentiu para ela, como que para lhe pedir autorização para continuar. – Adam era praticamente o nosso líder, já que éramos apenas adolescentes e ele era um adulto experiente. No início, ele disse que queria nos ajudar a lidar com a situação, e nós acreditamos cegamente nele, já que se mostrava muito inteligente e capaz.

Thiago parou de falar para apenas manter os pensamentos em linha.

Ele lembrava-se claramente de sua tolice em admirar – e praticamente adorar – Adam. Mas como se culpar? Adam era um homem poderoso, inteligente e atento. Ele tinha bons conselhos, sempre ouvia atentamente o que Thiago lhe dizia e sempre parecia interessado nele. Ele sabia que Suzane e Adam tinham um relacionamento, mas o modo como ele cuidava de ambos quando estavam reunidos era como se ele fosse um irmão mais velho que Thiago sempre quisera ser.

Para Suzane, Adam era o cara perfeito. Além de lindo, era completamente sincero com ela, e sempre lhe dizia o que era o certo e o errado. Ela lembrava-se de cada momento em que passaram juntos em sua casa, da forma carinhosa que ele a tratava e das palavras enganosamente doces e gentis. Se alguém a tivesse dito que ele estava se aproveitando da ingenuidade dela naqueles momentos, ela certamente não teria acreditado.

–Ele fora como um irmão para mim. – Thiago confessou, sentindo repulsa das lembranças que tinha de como admirava Adam. – Era admirável o modo como ele sempre parecia saber o que era certo. Ele sempre sabia o que dizer, como fazer... – Thiago teve uma vontade arrebatadora de socar algo, mas decidiu que não adiantaria nada perder o controle naquele momento. – Ele entrou em nossas cabeças sem que nós percebêssemos. Ele nos manipulou, nos traiu... Ele nos usou, Adélia. Mas a pior parte... – Ele engoliu em seco. – A pior parte é saber que tínhamos total noção do que estávamos fazendo, mas mesmo assim fizemos a escolha errada.

Adélia franziu a testa mas não disse nada. Não tinha nada a dizer em relação ao que seus pais já haviam confessado para ela. Talvez nem quisesse saber de mais nada. De repente, ela se dera conta de que era tudo uma mentira. Todas as histórias que seus pais a haviam contado sobre como se conheceram, seus avós, e tudo mais... Era tudo uma dolorosa mentira. Ela sentia-se... Pesada. Seu coração doía a cada batida, e sua mente borbulhava do que parecia ser raiva.

Ela nunca tivera raiva dos pais antes, mas naquele momento, ela não conseguia evitá-la. Seus pais mentiram para ela durante sua vida toda ali, enquanto ela fora tola demais, ingênua demais para acreditar em tudo.

Ela queria correr para seu quarto e dar basta naquilo tudo.Mas algo dentro dela pedia para ficar até o final. Pedia que ela ouvisse tudo atentamente, antes de se precipitar.

–O que vocês estavam...Fazendo? – Ela perguntou, sem nenhuma timidez ou receio. Ela sentia uma pontada de medo da resposta, dado ao que já descobrira sobre a morte de seus avós. – O que vocês escolheram?

Thiago semicerrou os olhos, enquanto encarava seus pés.

–Nós escolhemos Adam.

Um silêncio se instalou entre os três.

Suzane mal podia acreditar que aquele momento havia chegado, que estava finalmente contando todas as verdades a Adélia. Thiago mal conseguia processar o que se passava em sua mente, e Adélia só conseguia tentar entender o que o pai acabara de lhe dizer.

– O que isso significa? – Ela perguntou, finalmente.

–Significa, - Suzane interveio – que nós nos tornamos escravos dele. Nós nos tornamos marionetes de Adam, e ainda somos até hoje. Talvez nunca deixemos de ser. – Ela completou, baixinho.

–Escravos? – Adélia perguntou, cética.

–Sim. – Thiago assentiu. – Adélia, o que vou lhe contar agora... É a pior parte da história. Então preciso que ouça atentamente cada palavra, tudo bem? – Thiago pediu, enquanto Adélia mal conseguia falar. Um bolo se formara em sua garganta, impossibilitando que qualquer palavra saísse de sua boca.

Suzane e Thiago agora encaravam atentamente sua filha, que parecia estar pronta para o que estava por vir.

–Nós traímos nossas famílias por que Adam disse que era o certo. – Thiago começou. – Eles não eram apenas empresários de grandes empresas. Ele havia subido ao topo de um jeito perigoso e fora da lei. Adam sabia disso tudo, e ele nos dizia que, se quiséssemos ser felizes, tínhamos que acabar com aquilo. – Ele respirou fundo. – Nós éramos a ponte que ligava as duas famílias. Meu pai procurava novos negócios, e o pai de Suzane era um mafioso bem conhecido. Então nossos pais tiveram a ideia de nos juntar para que parecesse que estávamos envolvidos apenas na forma de família, e não em negócios.

Negócios, essa palavra ricocheteou na cabeça de Adélia. Tudo aquilo por causa de negócios.

–Adélia, nossos pais foram mortos por outros mafiosos por nossa causa. – Adélia sentiu-se superficial. Como se tudo o que houvesse dentro dela tivesse deixado de existir, deixando apenas sua expressão impassível e sua postura ereta ao ouvir aquilo de seu pai. – Nós os entregamos. Adam nos forneceu todos os dados, as provas das fachadas dos nossos pais para conseguir mais dinheiro, as dívidas... Tudo o que os comprometia. – Thiago retorceu os próprios dedos de nervoso, enquanto limpava a garganta. – Ele nos apoiou e nos ajudou a passarmos transparentes diante dessa história. Era como se fossemos vítimas para a polícia. Como se fossemos os inocentes, que foram usados para os crimes dos nossos pais.

–O que aconteceu com Adam? – Adélia perguntou, seriamente.

–Ele nos protegeu, mas se manteve fora do alcance da policia. Ele era um amigo da família de Suzane que só aparecia em festas e coisas do tipo, então não gerou muita desconfiança, mesmo depois que se oferecera a nos abrigar em sua casa. –Thiago esfregou os olhos, sentindo uma dor quase insuportável em seu olho roxo. – Ele conseguiu passar despercebido nessa história. Ninguém desconfiava de nada, só viam o bom amigo da família de Suzane querendo ser prestativo com o casal de órfãos.

–As pessoas só enxergam o que acham ser verdade e isso às tornam tolas. – Suzane disse, encarando Adélia. – Nós fomos tolos e acreditamos que poderíamos ser felizes machucando as pessoas que mais amávamos.

Adélia assentiu como se tivesse entendido, mas não tinha nada a declarar. Mas então lembrou-se de algo, e não pôde evitar falar.

–Você disse que ele me tiraria de vocês. – Ela apontou para Suzane, que engoliu em seco. Adélia hesitou antes de continuar, pois já temia a resposta. – O que isso significa?

Nós nos tornamos marionetes de Adam, e ainda somos até hoje. Talvez nunca deixemos de ser – sua mãe dissera. E se Adam tivesse sob controle de seus pais...Certamente ele tinha algum plano para Adélia também.

Thiago e Suzane se entreolharam.

Então era isso. Não podiam mais voltar trás. Eles tinham que contar tudo naquele momento.

Thiago respirou fundo e levantou-se de sua poltrona para pegar os papéis na mesinha de centro. Ele o segurou firmemente, quase os amassando.

–Significa que nós... – Ele relutou. – Nós nos tornamos as piores pessoas do mundo.

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–Não entendo. – Adélia maneou com a cabeça,confusa.

Suzane respirou fundo, enquanto tentava não chorar naquele momento.

Thiago parou diante de Adélia, com os papéis presos entre os dedos trêmulos e, enquanto a encarava, disse o mais claramente que podia:

–Ele nos obrigou a adotar você,Adélia. – Adélia prendeu a respiração, tensa, enquanto uma dor sufocante tomava conta de seu peito. – Ele nos obrigou a criar você... Para que você cumpra uma maldição. É o que chamamos de O Acordo.