O Máscara

Aprisionado (continuação - Livre)


♢♢♢

—Quem é você? - Adélia estava recuando discretamente, com uma intensidade de curiosidade sobressaindo seu medo.

Sua respiração escapava de seu corpo vagarosamente; suas mãos estavam frias e molhadas. Por mais que seu corpo gritasse medo, Adélia sentia uma curiosidade estranha dar-lhe a coragem necessária para ficar.

A figura em sua frente continuava imóvel, encarando-a fixamente.

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Rafael estava um tanto chocado por causa da reação dela. Ele, sinceramente, esperava que ela desmaiasse ou coisa do tipo. Mas lá estava ela, parada em sua frente de punhos fechados e o encarando com uma expressão de medo e curiosidade. Talvez ele estivesse mais assustado do que ela.

Mas, acima de seu próprio medo, ele estava encantado.

Fordy estava certo. Aquela cor definitivamente combinava com ela. Parecia que toda a luz dourada das chamas das velas se dobrava perante Adélia. Rafael tentou ao máximo desviar o olhar das curvas de sua cintura e do desenho de seu decote discreto. Até mesmo a curva de seu pescoço lhe proporcionava um estranho calor. Naquele mesmo momento, Adélia pôs uma de suas delicadas mãos sobre o peito, fazendo Rafael desviar o olhar do local para o seu rosto, que parecia ficar cada vez mais avermelhado.

Ele tentava ao máximo não vacilar com o peso da máscara que quase o obrigava a curvar os ombros na frente dela.

—Ei - Adélia o chamara atenção, levemente corada e muito desconfortável. - Eu lhe fiz uma pergunta… Quem é você?

A principio, Rafael estivera tão distraído na própria Adélia que mal se dera conta da pergunta que ela o fez primeiramente. Então ela não sabia quem ele era? Por quê não?

Tudo o que Rafael conseguia pensar era que Adam sequer tivera o trabalho de lhe “apresentar” a ela, ao contrario da última vez.

Provavelmente Fordy também não a comunicara a respeito. Uma onda crescente de calafrios na espinha o fazia ter vontade de retorcer-se.

Então ele mesmo teria que se apresentar a ela? Tudo bem… Exceto pelo fato de que nunca se apresentara a uma garota por si só, e estava tenso demais para pensar em como fazê-lo.

Num impulso de improviso, ele deu um passo a frente e caminhou em volta dela, escondendo as mãos atrás de si.

—Ora, não sabe mesmo quem eu sou? - Rosnou cinicamente, sorrindo ao ver Adélia encolher os ombros.

Sua voz parecia cada vez mais assustadora e alta à medida que Adélia ia ficando com mais medo. Ela podia senti-lo por cima do ombro, quando ouviu seus passos lentos cessarem atrás de si; mas o mais estranho daquilo tudo era ouvir sua respiração. Ela não sentia, ela ouvia o peito dele se inflar e expirar o ar por baixo da máscara, soando em um eco baixinho e assustador - semelhante à respiração de um predador que sabe como se esconder da presa.

Adélia engoliu em seco e fechou os olhos quando sentiu algo roçar em seu pescoço, quase desmaiando de alívio quando percebera que era apenas o colar. Ela imaginou como seria se ele a tocasse - se desmaiaria ou simplesmente sairia correndo.

—Você é… Um funcionário? - Perguntou, quebrando o silêncio. A verdade era que a pergunta dele havia pegado-a de surpresa. Ela deveria saber quem ele era? — Trabalha para o Adam?

Rafael sentiu vontade de rir. Até que estava se divertindo com a confusão da pobre garota.

—Tenho cara de funcionário?

—Bem… - Um segundo mais tarde, Adélia se dera conta de que ele provavelmente estava zombando dela. Tinha que estar, certo? — Eu não sei dizer, pela sua cara.

Seu coração quase parou quando ela observou-o respirar fundo e fechar as mãos enluvadas em punhos, na frente do corpo. Por um momento, Adélia considerou pedir desculpas, mas não o fez. Fosse quem fosse, ele não tinha o direito de zombar dela. Se é que estava zombando.

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—Se não vai me dizer quem é você, por que não começa me dizendo seu nome?

Aquele momento, com certeza, foi o qual o silêncio mais pesou para Adélia. Nervosamente, ela o observou apertar tanto os dedos das mãos que pôde ouvir o barulho do couro tencionando. Mas, quando ele relaxou, Adélia soltara a respiração que mal notara estar prendendo.

—Não era a minha intenção conhecê-la hoje, senhorita. E imagino que esteja igualmente infeliz com isso. - Ele respondeu; suas palavras surpreenderam Adélia. Igualmente infeliz? - Tentarei não levar o despreparo da senhorita como uma ofensa a minha pessoa. Imaginei que estivesse com os mais competentes funcionários a seu favor, mas vejo que fracassaram. - Aquilo fez Adélia virar-se para encará-lo; despreparo? Ele estava falando sério? - Contatarei o esforço da senhorita ao seu responsável e verei o que poderemos fazer a respeito.

Com isso, ele deu um passo à frente e caminhou tranquilamente em direção as escadas; mas, em um movimento extraordinariamente rápido e eficaz, Adélia conseguiu interceptá-lo com uma mão quase na altura de seu peito.

Rafael parou, tão surpreso que mal notara o olhar desdenhoso da moça. Por um momento, ele desejou poder tirar as luvas e corresponder ao toque dela, só por experiência.

Despreparo? - Ela vociferou, meio sussurrando, meio gritando. - O que isso significa?

Inicialmente, sua intenção era só uma brincadeira. Rafael estava se divertindo assustando-a; mas, ao ser encarando com a testa franzida e um olhar semicerrado, a brincadeira de repente pareceu não ter a menor graça.

—E o que quer dizer com responsáveis? - Adélia tinha a voz um pouco mais vacilante agora; ela imaginou seus pais recebendo uma reclamação dela, como se ela ainda estivesse no Instituto Florence. Uma saudade arrebatadora fez seus olhos lacrimejarem. - Está falando dos meus pais?

Rafael engoliu vagarosamente em seco, arrependendo-se por ter sido tão babaca. Fordy definitivamente iria incriminá-lo depois, quando perguntasse como fora o jantar. E, mesmo que mentisse, ele iria descobrir a verdade mais cedo ou mais tarde, com seu dom de descobrir as mentiras mais mentirosas de Rafael.

—O que você sabe sobre a minha família? - Era uma tentativa inútil, ela sabia. Mas à medida que o silêncio ia se alongando e a pele da palma da mão de Adélia ia esquentando em contato com ele, ela ficava mais nervosa e irritada.

Agora que tinha uma visão melhor de seu rosto, Adélia pôde observar melhor os traços da máscara. Ela totalmente lisa e polida, refletindo o rosto dela de forma assustadora. O formato dos lábios estava congelado em uma linha séria e perfeitamente desenhada - da mesma forma que o nariz. A máscara parecia tão perfeitamente no lugar que quase parecia ser parte dele, como uma pele ou coisa do tipo. Instintivamente, Adélia ergueu o braço e, leve e ousadamente, tocou-o com as pontas dos dedos, sentindo um calafrio quando sentiu o frio do metal irradiar-se por toda a sua mão.

Distraidamente, Adélia deixou que seus dedos deslizassem até os lábios, enquanto contornava o desenho. Ela afastou a mão rapidamente, enquanto sentia uma linha tênue se formar entre seu próprio rosto e a máscara. Era uma linha invisível, talvez até uma ilusão de Adélia; mas era tão real que ela quase podia sentir uma vibração emanar dela, como uma nota solitária de um violoncelo. Seus dedos voltaram à máscara, mas desta vez Adélia desviou os olhos para os olhos dele.

Mesmo sobre a quase escuridão do ambiente, Adélia pôde captar um estranho brilho prata-esverdeado vindo dos olhos dele. Ele estava olhando para ela o tempo todo, mas quando ela o encarou, ele desviara o olhar para baixo, como se encarasse a mão dela em sua máscara. Adélia podia ouvir a respiração dele soando devagar e pesadamente, como se ele estivesse tentando prendê-la.

Adélia moveu a mão para cima, ciente de que ele estava vigiando-a muito de perto. Sua intenção era tocar uma mecha pálida que sobressaía seu rosto, ao invés de estar presa como o restante dos fios que ela não conseguia identificar a cor; eram castanho-claro ou escuro? Loiros, talvez? Caramelados?

Em um movimento rápido, Rafael agarrou o punho de Adélia, fazendo-a saltar para trás de susto. Seus dedos vacilaram antes mesmo de tocarem a mecha.

Adélia tomou um susto tão grande que quase caíra para trás, com suas pernas bambas. Rafael rosnou baixinho, enquanto semicerrava os olhos. Ela havia conseguido tirá-lo do sério.

Antes mesmo que pudesse maltratá-la com suas palavras, o brilho que iluminou os olhos de Adélia o fez recuar com a cabeça para o lado. Seus lábios estavam boquiabertos, e seus olhos piscavam sem parar.

Instintivamente, Rafael soltou sua mão sem nenhuma delicadeza e recuou um passo, tenso.

—Seus olhos… - ela sussurrou, aproximando-se dele, como que para encará-lo mais de perto. - Espere… Seus olhos me são familiares ou… - Ela parou, engolindo em seco enquanto se dava conta de algo. - Você é filho de Adam… - Sua voz soou em tom de dúvida, mas aquilo deixou Rafael nervoso.

Nervoso e inseguro. Então ela sabia sobre ele mais do que ele esperava. Naquele momento, tudo o que Rafael conseguia imaginar era no modo horrível como seu pai se referiu dele para ela. Adam provavelmente fizera de Rafael uma pessoa horrível para Adélia. Mais horrível do que já era.

Mas, a pior parte, era o fato de que ele não podia negar. Ela iria descobrir a qualquer momento, certo? Ele teria que contar se fossem passar algum tempo juntos. Mas o olhar que ela lançava para ele naquele momento… Era um olhar incrédulo, frio e quase ameaçador.

—Isso não pode estar acontecendo… - ela murmurava, encarando-o. - Isso não pode ser real. Isso só pode ser um sonho. - Ela piscou, enquanto seu rosto se fechava em uma máscara sombria. - Então você… você é… amaldiçoado?

Aquela palavra… Vindo dela parecia mais dolorosa e infernal do que Rafael já ouvira. Ela a pronunciara de modo sutil, tímido e com o que parecia ser certeza - diferente do modo como estava acostumado. Quando seu pai o chamava assim, geralmente sua voz estava embargada de álcool ou fúria, nojo e ironia. Mas Adélia não usara nada disso, simplesmente… A pronunciara, sem desdém, sem ameaças. Talvez com incredulidade, mas não de modo o que o ferisse, certo?

Mas por que Rafael sentia que ela havia acabado de apunhalá-lo com uma espada? Por que agora se sentia ameaçado por uma garota? Não era como se ela estivesse ali para piorar as coisas…

—O que aconteceu com você? - Adélia se aproximou dele, nervosamente. No fundo, ela estava tentando ser solidária, mas quando ele rosnou para ela, tudo o que Adélia pôde fazer fora se afastar e prender a respiração.

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— Tenha uma boa noite, bela.

E, com isso, Rafael foi subindo degrau por degrau da escada, vagarosamente, sem sequer olhar para ela. Estava abalado demais para ir o mais depressa que conseguia.