Jennifer estava desolada no hall do prédio. Ainda rolavam lágrimas pelo seu rosto e todo o seu corpo tremia.

– Srta. Regnard, você deve deixar as informações penetrarem na sua mente, senão nunca poderá ver a verdade. – o senhor que ainda estava na poltrona falou com uma voz suave.

- O-o que? – ela gaguejou se aproximando.

Ele ergueu a cabeça e Jennifer pode notar que ele era cego, com os olhos totalmente brancos.

– Eu disse que você tem que deixar as informações penetrarem na sua mente, por que só assim, você pode enxergar a verdade. – ele repetiu cuidadoso.

- Co-omo o senhor sabe o meu nome? -ela perguntou ignorando o comentário da figura peculiar a sua frente.

- Como a senhorita sabe que eu sei o seu nome? – ele retrucou divertindo-se.

- O senhor disse “Srta. Regnard’! – Jennifer exclamou inconformada.

Ela se aproximou um pouco mais, imaginando que o senhor fosse surdo ou caduco. Como tinha experiências com o seu avô, ajoelhou-se e mirou nos olhos cegos do senhor e esperou uma resposta pacientemente.

- Oh, então eu adivinhei? – ele perguntou abrindo um sorriso.

A garota o fitou incrédula, ele definitivamente sabia de alguma coisa.

- Sim, engraçado, não? Qual é o seu nome? – ela perguntou gentilmente enxugando as lágrimas.

- Meu nome não é importante, o seu que é, Jennifer Regnard. – o misterioso senhor respondeu ainda sorrindo.

- Certo, tenho certeza que sim. – ela sorriu nervosa. – A sua adivinhação é impressionante, como a adquiriu?

Jennifer sabia que ele não era uma pessoa comum, ninguém era capaz de adivinhar seu nome e sobrenome, ainda mais sendo cego. Aquilo era demais para ela, depois de todas as informações que recebeu, não conseguia conciliar tantas coisas bizarras ao mesmo tempo.

- Adivinhei de novo?! Estou ficando bom nisso! – o homem exclamou estusiasmado. Certamente estava se divertindo.

- Sim, o senhor é ótimo… Mas escuta, como… ?

- Jenny! – Jude berrou saindo do elevador.

Ela se virou e o encarou com uma expressão indecifrável.

- Eu não quero falar com você. – ela informou. - E se você me chamar de “Jenny” de novo eu te mato.

Depois, a garota andou com passos largos para a saída do prédio, e não hesitou em ir em frente, sem olhar para trás.

- Garotinha difícil essa, hein? – o senhor na poltrona falou, virando-se para Jude.

- Você nem imagina… - ele respondeu coçando a nuca. - Que raios de forma é essa, Michael?

- Eu estava entediado. – Michael explicou espreguiçando-se. Em segundos, o velho corcunda havia se transformado em um jovem moreno e alto. – Você explicou tudo para ela?

- Não consegui. Ela tem um temperamento… Forte. – Jude falou sorrindo.

Os dois riram e sentaram nas poltronas que havia no hall.

- Sabe, você devia estar a protegendo agora. – o moreno constou. – Eu conseguiria entrar na mente dela facilmente.

– Tente. – Jude o provocou com um sorriso maligno.

Michael sabia muito bem com o que estava lidando, então apenas deu um sorrisinho forçado e rencostou na poltrona, relaxado.

- Não, eu não quero te machucar nem nada. – falou com um sorriso zombateio.

O loiro jogou a cabeça para trás e gargalhou. Falar com Michael realmente o animava.

- Sim, claro. – respondeu irônico. – Odeio admitir, mas você está certo, eu preciso ir… Agora que ela sabe da verdade, provavelmente fará alguma coisa estúpida.

– Provavelmente. – o outro concordou sorrindo. – Espere, o que você disse sobre… Nós? – perguntou quando Jude já estava prestes a se transformar.

- Eu disse que eu sou o único metamorfo vivo. – ele murmurou desconfortável.

- Hm… Mentir só vai piorar as coisas, sabe?

- Michael, aprenda uma coisa, a mentira só é mentira quando alguém descobre. – Jude falou sorrindo antes de se transformar em uma pequena pomba branca.

- Cara, uma pomba branca? – Michael perguntou começando a gargalhar, levando várias bicadas na cabeça pelo amigo que fingia-se ofendido.

A pomba branca voou pela rua, procurando o rosto familiar de Jennifer, que já estava perto de sua própria casa.

A garota estava andando lentamente e cabisbaixa, desejando mais do que tudo que as coisas fossem diferentes e que ela não estivesse envolvida em tudo aquilo. Percebeu, enfim, que talvez sua vida não fosse tão ruim como achava outrora, cuidar de seu avô certamente lhe parecia uma opção mais confortante.

Chegou em casa e se surpreendeu com William sentado nas escadas que ficavam antes da porta.

- Oi Jen… - ele falou com a voz falha.

Jennifer o olhou e imediatamente começou a rir.

- Você é um idiota. Sabia que ia dar pra trás. – afirmou entre as risadas.

– Eu… Como assim?

- Sabe, sobre a carta. Com certeza você mudaria de idéia, te conheço o suficiente pra saber que você adora uma aventura. – Jen explicou sorrindo. O alívio tomou conta dela naquela hora e todas as preocupações que adquiriu no caminho para casa, pareciam sumir pouco a pouco. Esse era o efeito “Will” nela.

Ele piscou várias vezes sem entender.

- Eu estava falando sério na carta. Eu realmente não quero me envolver nessa loucura, é só que… - Will começou baixando a cabeça.

A amiga sentou-se do lado dele e o envolveu em um abraço de lado.

- Escuta. Eu não me importo se você não quiser saber de mais nada… Obrigada por estar aqui e ainda ser meu amigo. – sussurrou.

- Jen… Eu… - ele suspirou tentando achar forças. – Preciso te falar uma coisa.

Ela o fitou preocupada e esperou. Will estava prestes a falar quando uma pomba branca pousou entre eles, que logo se transformou em Jude.

- Jen! Eu bolei um plano para resgatar o seu avô sem te levar! – ele exclamou eufórico.

Ela, que havia pulado de susto com o surgimento repentino do amigo, olhou para os lados para ver se nenhuma outra pessoa havia visto aquilo.

- UAU! – Will berrou levantando-se. – O que é você?!

- Sou um metamorfo, posso me transformar em qualquer ser vivo. – Jude respondeu indiferente, deixando o outro mais incrédulo ainda. – Você tem que me escutar Jen, se eu não for resgatar o Phillipe, as coisas vão ficar feias por aqui, e já que você não quer mais respostas, eu preciso de sua ajuda e…

- Espera. O QUE?! – o moreno perguntou inconformado. – Você pode se transformar em qualquer coisa?!

Jude revirou os olhos e acenou de leve com a cabeça tornando o olhar para Jennifer, que estava tentando absorver as informações.

- Jude, eu faria tudo para resgatar o meu avô e você sabe disso. – afirmou. – Mas eu preciso saber de várias coisas primeiro. Eu sei que fui precipitada ao sair do seu apartamento daquele jeito, eu estava nervosa, me desculpa…

- Cara. Isso é impossível, você pode se transformar em um dragão?! – Will perguntou maravilhado, ignorando completamente as outras coisas faladas. O “poder” de Jude era a única coisa que ocupava a sua mente no momento.

- Não, porque obviamente dragões não existem. Agora você poderia ficar quieto? – Jude pediu o olhando com impaciência. – Tudo bem Jen, eu respondo o que você quiser, mas temos que ser breves, os Cavaleiros não o manterão na mansão por muito tempo.

Wiliam estava tão envolvido com suas teorias de transformações, que nada do que os dois diziam o afetava, então nem percebeu quando entraram e ficou sozinho na escada.

– O que é um Espectro? – ela perguntou assim que os dois se aconchegaram na sala.

– Não acho que essa seja uma pergunta relevante, temos que ir Jen… - Jude falou ansioso.

- Só me responda, você mesmo disse que eu preciso saber dos perigos que estou correndo.

O loiro a olhou derrotado e respondeu contra a sua vontade:

- São como fantasmas. Quando alguém morre, seu espírito vai para algum lugar, mas alguns, por alguma razão, ficam presos na terra. Quando estes perdem toda a sua luz, no sentido de bondade, viram Espectros. Assim, perdem toda a sua memória de vida e tornam-se prisioneiros de sua situação. Eles se alimentam da luz, esperando adquirir sua “bondade” de volta.

Jennifer lembrou-se de Alexander, o espectro que conheceu quando perdeu seu avô. Ele parecia ter uma boa memória.

- Mas… O daquele lugar escuro sabia seu nome e estava cheio de queimaduras.

- Isso porque os Cavaleiros, como meio de conseguir a lealdade dos Espectros, oferecem a memória deles de volta. E eles sempre aparecem da forma que morreram, provavelmente o da mansão morreu queimado. – Jude explicou rapidamente.

Jennifer suspirou, nunca imaginaria tanta crueldade junta. Os Cavaleiros eram abomináveis.

- Mansão… ?

- Sim, aquele lugar escuro para o qual você foi teletransportada era a mansão de um dos líderes dos Cavaleiros.

- Certo.

Jude notou que Jennifer estava sendo muito mais racional e compreensiva naquela hora do que anteriormente em sua casa.

– Você disse que eles estão mantendo meu avô de isca, pra me atrairem, né? – ela analisou. – Então por que meu avô disse que eles o queriam e não a mim para Alexander?

Jude a olhou estupefato. Piscou várias vezes e finalmente entendeu o que ela queria dizer. Suspirou pesadamente e mediu as palavras que diria, finalmente ela entenderia que a culpa da destruição de sua casa e do desaparecimento de seu avô era dele.

- Jennifer, aquele não era o seu avô. Era eu. – ele começou cabisbaixo. – Depois que eu supostamente fui derrotado por Alexander, me transformei no seu avô e falei para o Espectro ir consultar seu chefe para ter uma brecha e te tirar de lá. Assim que você saiu, ele voltou dizendo que queriam você e eu disse que, de algum jeito, você tinha escapado. Eles ficaram bravos e resolveram sequestrar seu avô para te atrair.

“Lógico que eu não deixei que me pegassem e consegui fugir, mas não fazia idéia que iriam até a sua casa e… “

Ele fitou o chão e calou-se. A culpa e arrependimento o tomou novamente.

– Me desculpe. – pediu mais uma vez.

- Ah… Eu… Entendo. – ela falou com a voz falha e as lágrimas vindo. – Não precisa se preocupar, você só estava tentando me proteger.

Jennifer levou as mangas aos olhos e os enxugou levemente.

– Qual é o plano? – Will perguntou entrando na sala. Ele havia ouvido a última parte do corredor e, movido pela emoção da amiga, resolveu se envolver.

A garota ergueu a cabeça e esboçou um sorriso torto.

- Mudou de idéia novamente? – perguntou esperançosa.

- Eu prometi, fazer o que. – Will respondeu com a mão na nuca.

Jude fitou-o e sorriu em seguida, talvez ele lhe fosse útil.

- É o seguinte… - ele começou chamando a atenção dos jovens a sua frente.

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