O Maior Amor

Um Amor Além de Nós (parte IV - Final)


Sorrisos e olhares de alegria. Vendo-os assim, parecem todos crianças brincando nas águas do rio. Seria impossível não sorrir, é de fato uma linda lembrança a ser guardada em minha memória e em meu coração. Que alegria é para uma mãe ver seus filhos encontrarem o amor e vivê-lo de forma tão bela e pura. Assim aconteceu com Moisés, Hadany, Tany, Héber e até mesmo Mayra. Cada um deles encontrou alguém para dividir sua vida, dividir suas alegrias, bons e maus momentos, para amar e ser amado. Assim como eu encontrei Hur. Ele foi e sempre será aquele que me completa, aquele a quem eu pertenço. Seus braços envolviam meu corpo e ali eu me sintia segura, seus olhos me transmitiam calma em meio as tempestades. Tudo o que vivemos juntos quase não me permite lembrar que algum dia eu o olhei apenas como um bom amigo. Uma fiel e sincera amizade que se transformou em verdadeiro amor. E quando aconteceu, nada pode deter tal sentimento. Me sinto como se houvesse amado Hur a minha vida inteira. Ainda hoje, dois anos após sua partida, eu o amo como no primeiro dia. Sua ausência é um fato, eu sei. Mas, nunca me senti sozinha desde que ele se foi. De alguma forma, ele está sempre comigo.

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Flash back on

—Vocês são a melhor parte de mim, os maiores presentes que sua mãe me deu. Serão sempre minhas meninas e meu menino. — Ele sorri ao olhar para os filhos. — Eu os amei quando ainda estavam no ventre de sua mãe, me deixei emocionar na primeira vez que os carreguei em meus braços. Sempre serei grato a Deus por ter me dado o privilégio de ser pai de vocês.

—Somos nós quem devemos agradecer a Deus pelo homem que nos deu para chamarmos de pai. — Hadany diz com voz embargada.

—O senhor nos dedicou os melhores anos de sua vida, nos ensinou tanto e acima de tudo nos amou incondicionalmente. — Tany sorri, embora seus olhos estejam marejados por lágrimas. — Temos orgulho de ser seus filhos, pai.

—Espero um dia ser como o senhor, meu pai. — Héber fala ao segurar a mão de seu pai.

—Você será muito melhor que eu, meu filho. — Hur sorri, fazendo por onde segurar as mãos dos três filhos entre as suas. — Vocês são da Tribo de Judá, têm sangue de leão nas veias. Sejam fortes como o símbolo de nosso estandarte, cuidem uns dos outros e mantenham a nobreza que eu sei que existe no coração de cada um.

—Tem a nossa palavra de que assim será. — Hadany afirma e posso ver seus olhos azuis úmidos pelas lágrimas. — Nós te amamos, pai.

—Eu também amo vocês, sempre amarei. — Ele lhes sorri mais uma vez, antes de dirigir seu olhar em minha direção. — Podem me deixar a sós com sua mãe?

Eu observava tudo em silêncio, não desejava sequer me aproximar para não correr o risco de desabar em lágrimas. Mas diante do pedido de Hur, nossos filhos fazem menção de se retirar. Hadany é a primeira a se aproximar do pai e pedir-lhe a bênção, seguida por Tany e Héber que fazem os mesmo. Hur abençoa cada um deles, dando-lhes um beijo na testa em seguida. Logo os três deixam o quarto e ficamos apenas meu marido e eu. Sento-me a seu lado, tomando sua mão esquerda e segurando-a junto a mim.

—Meu amor... — Falo carinhosamente. — Meu grande amor.

—Minha amada princesa, amor de toda a minha vida. — Sorri ao olhar em meus olhos, que deixam minhas lágrimas escaparem mesmo que eu não queira. — Obrigado por cada um dos dias destes muitos anos que vivemos juntos, Henutmire.

—Você me tornou uma mulher verdadeiramente amada, me tornou mãe. — Me esforço para lhe sorrir. — Sou eu quem devo agradecer.

—Não chore, meu amor. — Ele diz ao limpar as lágrimas de meu rosto.

—Como eu vou viver sem você, Hur? Sem ter seu olhar para me entender, sem ter seu abraço para me confortar? — Pergunto mesmo sabendo que não há resposta. — Eu não quero que vá onde não posso te seguir.

—Não te deixarei sozinha, meu amor. Eu ainda irei te abraçar todas as manhãs quando acordar, mesmo que não possa me ver. — Fala. — Sempre que olhar para o céu estarei sorrindo para você.

—Seria errado pedir a Deus que me deixe ir com você? — Pergunto com voz falha.

—O Senhor sabe a hora de cada um. Nem antes, nem depois. — Responde. — Se estou indo primeiro é porque você ainda tem algo a fazer aqui.

—Eu não quero te dizer adeus. — Falo, novamente me entregando as lágrimas.

—Não é um adeus, é apenas um até breve. — Ele diz e faz por onde me envolver em seus braços. Repouso minha cabeça em seu peito, conseguindo escutar as batidas fracas de seu coração. — Iremos nos ver novamente e então será para sempre.

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—Para sempre. — Repito cada vez mais entregue ao que sei ser o último abraço que recebo de meu marido. — Nada do que sou e do que vivi existiria sem você, meu amor. Obrigada por trazer a minha vida tudo o que um dia eu sonhei ter.

—Tudo o que sempre quis foi te fazer feliz, cuidar de você e te amar como sempre mereceu. — Sua mão acaricia meu rosto tão levemente que chega a ser difícil de sentir. — O mérito maior é seu por ter me permitido ser para você tudo o que sempre desejei.

—O nosso amor não acaba aqui, não é?

—Não, e muito menos quando seus olhos contemplarem este mundo pela última vez. — Sua resposta me faz levantar a cabeça para olhar seu rosto. — Nosso amor é além de nós mesmos, está em cada um de nossos filhos, em nossos netos. — Ele sorri. — Nosso amor nunca acabará, Henutmire. Ele será eterno.

—Eu te amo. — Falo com doçura. — Eu sempre te amarei.

—Eu também te amo. — Fala. — Meu amor será sempre, sempre seu.

Uno meus lábios aos de meu marido. O que tanto temi acontece exatamente agora. Um último beijo, com amargo sabor de despedida. Hur está partindo para junto de Deus e não há nada que eu possa fazer. Só me cabe aceitar, querendo ou não. O homem com quem partilhei minha vida, o homem que eu amo, vai partir e eu ficarei. Jamais imaginei dor maior do que esta, jamais quis sentí-la também.

—Fica comigo até eu pegar no sono? — Ele pede, quando nossos lábios se separam. Não consigo conter minhas lágrimas diante do pedido de meu marido por saber que, quando pegar no sono, não irá mais abrir seus olhos.

—Claro, meu amor. — Deito-me a seu lado, repousando minha cabeça em seu peito como antes. Hur envolve seu braço direiro ao meu redor, entrelaçando sua mão esquerda com a minha. Choro em silêncio para que ele não perceba. Não desejo outro som a não ser as batidas do coração de Hur, mesmo que as esteja ouvindo pela última vez.

Flash back off

Eu pude ouvir seu coração parar de bater. Naquele momento, foi como se o meu próprio coração parasse também. Quando voltei meu olhar para seu rosto, vi seus olhos fechados e sua expressão serena e tranquila, como quem estava entregue a um doce e calmo sono. Eu estive com Hur em seu último momento, foi para mim o seu último abraço e foram os meus olhos que ele viu antes que os seus se fechassem para sempre. Dias eu passei reclusa em meu quarto, tendo meus pensamentos totalmente voltados para o que nunca mais teria. Eu nunca mais sentiria o carinho de seu beijo, o aconchego e a segurança de seu abraço, a alegria de seu sorriso. Era como se eu não pertencesse a nenhum lugar sem Hur ao meu lado. Diante de minha família e amigos, eu demonstrava firmeza. Mas, quando estava sozinha, sofria intensamente a dor do luto. Demorou algum tempo para que eu viesse a compreender que a morte não havia decretado o fim. De fato não era um adeus, pois o nosso amor nos uniu para sempre, para toda a eternidade. O amor que Hur e eu vivemos escapa a qualquer entendimento. Somente o Senhor para colocar em nós um sentimento tão sublime e puro, que beira a perfeição. Foi Deus quem fez Hur para mim, e me fez para ele.

Sinto meus olhos pesarem, mostrando que o sono me toma aos poucos. Ajeito algumas das almofadas que foram trazidas por Tany e repouso minha cabeça sobre elas. Sorrio ao olhar novamente para minha família nas águas do rio. Curiosamente, os três casais se beijam aos mesmo tempo enquanto Mayra e as três crianças escondem seus olhos entre as mãos para não verem, o que me faz rir. Se há algo que agradeço a Deus todos os dias é pela família que me concedeu o privilégio de ter. Um bocejo escapa de minha boca e suspiro profundamente, deixando que meus olhos se fechem aos poucos.

Meu corpo é tomado por tamanha leveza que chego a pensar que poderei voar com o menor toque do vento. Sinto-me como jamais antes me senti, o que me assusta. Abro meus olhos e então me vejo de pé, vestida de trajes que eu não estava usando. Deslizo minhas mãos pelo tecido macio do vestido de cor azul tão clara que remete a pureza da cor branca. Ao olhar para a frente, ainda vejo meus filhos e netos nas águas do rio, mas eles não parecem me ver. Vejo uma mulher repousa em almofadas, adormecida. A expressão serena em seu rosto me chama a atenção. Me aproximo dela, logo me dando conta de que a mulher sou eu. Mas, como eu posso estar ali, entregue ao sono, se também estou de pé e igualmente desperta?

—Não tenha medo. — Uma voz fala com ternura. Um tom de voz muito bem conhecido por mim e que há muito não ouço.

—Hur? — Indago assim que me viro em direção a voz que falava e me deparo com meu marido. Assustada, recuo ao dar um passo para trás.

—Não tenha medo. — Repete ao me sorrir.

—Isto é um sonho? — Pergunto. — Uma espécie de visão?

—Talvez as duas coisas. — Responde ao me estender suas mãos. Me aproximo cautelosa até conseguir tocá-las, até perder completamente o medo e abraçar meu marido com todas as minhas forças. — Como isso é possível?

—Para o amor não há impossíveis. — Ele diz ao olhar em meus olhos.

—Se isso é um sonho, não quero acordar. — Falo com um largo sorriso.

—Será para sempre, meu amor. — Afirma ao beijar meus lábios suavemente. — Para sempre.

Hur acaricia meus cabelos como sempre costumava fazer. Só então percebo que meus fios ondulados, soltos, são novamente dourados como raios de sol. Ao me ver refletida nos olhos de meu marido, noto que meu rosto não carrega mais as marcas do tempo, bem como o rosto de Hur, que com uma barba bem feita deixa ainda mais em evidência seu tão belo sorriso.

—Não sabe como sinto sua falta. — Falo carinhosa ao repousar minha cabeça em seu ombro, fazendo com que ele me envolva em um abraço.

—Não sentirá mais. — Fala e eu o olho sem compreender. — Eu vim buscar você, Henutmire.

—Me buscar? — Indago, finalmente me dando conta do que está acontecendo.

—Ficaremos juntos agora, por toda a eternidade. — Ele sorri. — Mas, não aqui.

—Então, esta é a última visão que terei deles? — Questiono ao olhar para minha família.

—Você agora irá vê-los de outro lugar. — Hur responde com doçura ao também olhá-los. — Cada um deles tem um pouco de nós em sua vida.

—Além de meus olhos, elas herdaram muito de mim, de minha essência. Já ele possui meus olhos, mas em personalidade é como você. — Falo sobre nossos filhos.

—Nossos filhos e netos representam tudo o que vivemos, o nosso amor vive em cada um deles. — Ele me olha. — Nosso sangue não irá desaparecer, assim como nossos nomes. Seremos lembrados por gerações, Henutmire.

—Nós unimos o sangue real do Egito com o sangue da tribo de Judá. — Suspiro, sorrindo. — Acha que permanecerá assim?

—Tenho certeza que sim. — Hur toma minha mão esquerda, depositando um beijo sobre ela. — Está pronta?

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—Para tudo, desde que você esteja comigo. — Respondo.

Olho uma última vez para meus filhos, meus netos, meus genros e minha nora. Minha família... Em meu coração, um abraço de despedida é dado em cada um deles. Sei que ficarão bem, que irão cuidar uns dos outros e se consolar após minha partida. Me surpreendo ao notar que Ágata me olha fixamente, com um amplo sorriso nos lábios, acenando para mim. Nenhum dos outros faz isso. Será possível que somente ela está me vendo? Sem me importar com tal coisa, dou lhe também um sorriso, acenando-lhe de volta. Então, volto minhas atenções para Hur, segurando firmemente em sua mão. Logo passamos a caminhar juntos, cada passo nos distancia mais do rio. Para onde ele está me levando não sei, mas não importa. Apenas me ocupo em estar a seu lado e desfrutar desta estranha, porém boa, sensação de paz que invade minha alma.

Narrado em Terceira Pessoa

E naquele dia ela se foi. Tranquila e serena, partiu para os braços Senhor, foi ao encontro de seu grande amor. A eterna princesa de olhos azuis fora grandiosa em toda a sua vida. Sua ausência foi intensamente sentida pelos que a amavam, até que a dor se transformou em saudade e belas lembranças. Alguns meses após sua morte, duas crianças vieram ao mundo. No Egito, a rainha Amyla deu à luz a uma linda menina, herdeira do trono e de seus olhos azuis. A nova princesa foi chamada Henutmire, a segunda de seu nome, em homenagem a tia de sua mãe. No deserto, Sara deu à luz a um menino cujo os olhos eram também azuis como o céu. Héber deu ao filho o nome de Hur, em homenagem a seu pai. Em lugares e realidades tão distintas, era de se esperar que os caminhos daquelas duas crianças jamais se encontrassem.

Anos se passaram. A jovem Henutmire cresceu com graça e beleza, amada por seus pais e admirada por todos de seu reino, preparada desde pequena para ser a grande soberana do Egito. Por sua vez, Hur tornou-se um guerreiro de valor, ajudando Israel na conquista de Canaã. Ele e sua família já estavam firmados na terra prometida há algum tempo quando o jovem decidiu que deveria partir. Era chegada a hora de ir em busca de algo que sempre sentira ser seu, mas que estava distante dali. Não foi fácil para ele se despedir de sua família, mas levava cada um deles em seu coração, bem como os que já haviam partido para junto de Deus, em especial seus pais. O destino de sua viagem era esperado, mas ainda assim causou supresa: o Egito. Hur rumou sozinho para o reino onde a história de sua família havia começado.

Informada da chegada do filho de seu primo por meio de uma mensagem que lhe foi enviada, a rainha Amyla tratou logo de levá-lo ao palácio e assim ele conheceu a princesa Henutmire. Bastou um olhar para o amor acontecer, embora nenhum dos dois tenha se dado conta disso. Hur partira de Canaã com a firme certeza de que aquela seria apenas uma viagem e que em breve voltaria. Todavia, com o passar dos dias, menos vontade ele tinha de voltar. Sempre que estava junto da princesa sentia que havia encontrado o que tanto procurou, sentia que havia encontrado o seu verdadeiro lugar. Amyla deu a ele o lugar de príncipe que sempre pertencera a seu pai, mesmo que Héber sequer tivesse nascido em solo egípcio. Hur se tornou príncipe do Egito, mas não por ser tentado pelos privilégios de ser um membro da família real e sim porque de alguma forma o título o tornava ainda mais digno de um dia ter o amor da princesa. Por sua vez, Henutmire via Hur com um valioso amigo. Devotava-lhe grande atenção, agradava-se grandemente de sua companhia e sentia-se estranhamente encantada por seu sorriso. No entanto, quando se pegou com medo de que um dia ele fosse embora, a princesa soube que o sentimento que invadira seu coração era muito além de uma amizade.

Pacientemente, e talvez por um capricho, a vida se encarregou de dar aos jovens o mesmo destino que deu aos primeiros que carregaram seus nomes. As margens do rio Nilo estavam tomadas por flores de primavera, entre elas as raras flores azuis, quando o príncipe declarou seu amor a princesa. Ali aconteceu o que ambos já desejavam há algum tempo, um contato físico mais forte do que o que haviam tido até então, algo simples e delicado: o primeiro beijo. Passado algum tempo, Henutmire e Hur se casaram e a festa em comemoração contou com a presença dos familiares do príncipe, trazidos como convidados de honra da rainha Amyla. A princesa deu ao marido um filho e uma filha, gerados juntos em seu ventre. O sangue real egípcio e o sangue de Judá foi unido mais uma vez, como acontecera anos antes. Quando o momento chegou, Henutmire e Hur subiram ao trono como soberanos do Egito, governando o reino com sabedoria e justiça. E assim, a história que começou no primeiro encontro de olhares da princesa egípcia e do joalheiro hebreu perdurou por gerações e gerações. Olhos azuis que nunca se perderam, amor maior que foi além de dois corações.

"O que é o amor? Um sentimento tão nobre que tem o poder de tornar-se eterno nas vidas que passam a existir através dele." (A Autora)

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.