O Livro dos Cavaleiros Parte I

IV Danny: Como é ser julgado pelos seus inimigos


Dormir dentro do Ninja Nomicon era algo confortável e calmo. Danny aproveitou quando acordou antes de todo o mundo para colocar as ideias no lugar naquele lugar perfeito para meditação.

Abriu a porta sorrateiramente, dando de cara com uma brisa fresca e uma paisagem com direito à cachoeira, árvores para preencher o vazio, carpas saltitantes e garças a voar sob as nuvens. Acrescentando ainda que era tudo um desenho, que se movia realística e ficticiamente. Aproveitando o momento, Danny sentou-se em um banquinho, que também tinha um estilo típico do Japão, e inspirou o ar fresco.

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–Legal aqui, né? –Perguntou uma voz familiar.

Danny olhou para o lado, vendo que apenas se tratava de Randy.

–Sim. –Respondeu Danny- Acho que a forma dele de ensinar também deve ser bem bacana, né?

–Bom, -Explicou o outro- ele brilha, eu o abro, sou mandado para aqui dentro e aparece, em letras grandes, uma frase na minha frente. Uma espécie de metáfora, sabe? Sempre combinando com o que eu preciso, ou não... –Ele se lembrou de uma única lição que sempre discordara.

–Gostei disso, das lições e tal. Sabe, a escola devia ser assim também... Ensinando de uma maneira legal, bonita e ...mais...calma, sem ninguém gritando com a gente ou simplesmente não gostando de estar conosco.

Randy deu um pouco de silêncio para iniciar o papo novamente, mudando o assunto:

–Infelizmente. Bem... como você acordou mais cedo, Sam mandou avisar que já estamos indo embora e que, se você quiser, pode esperar aqui fora.

–Certo Randy, obrigada. –Agradeceu, mudando o tom depois do assunto refletivo, e um tanto depressivo, anterior- Eu vou ficar por aqui mesmo, aproveitando essa vista.

–Ok. –E ele entrou porta adentro.

Um a um, os recrutas foram saindo, à medida que acordavam. Depois de todos estarem lá, Randy falou para o Ninja Nomicon:

–Muito bem, pode despachar a gente agora, se quiser.

...

O livro respondeu, pois Danny abriu os olhos e levantou, vendo que os outros faziam o mesmo. Porém, já não estavam mais na floresta, e sim em uma espécie de prisão, com três paredes cinzas e outra feita de algo que se parecia com vidro.

Através da parede de “vidro”, era possível observar dois guardas usando uma armadura negra que cobria seu corpo completamente, exceto os olhos, apontando para eles e rindo, como estivessem se divertindo muito com a sensação de confusão que os recrutas e a professora agora sentiam.

–Ei! –Disse Sam, assim que levantou- O que diabos está acontecendo aqui?

–Mas que suco? –Agora era Randy que “acordava”, guardando um palavrão para dentro de si e pegando o Ninja Nomicon do chão.

–Como viemos parar aqui? –Perguntou Kai- Não foi seu livro que fez isso, né Randy?

–Claro que não! –Negou ele- Alguém deve ter pego o Nomicon e levado ele para cá ou...

–Isso poderia ser verdade. –Raciocinou Shasta- Porém isso não explica essa cela. –Tentou socar o vidro, que permaneceu intacto, ela somente ganhou dores na mão direita. Começou a dar vários socos nele, ritmados e cada vez mais fortes - Esse vidro não é normal, deve ser algo mais resistente.

–Socos podem não resolver. –Disse Erroria, tentando fazer seu chifre mágico brilhar. Foi inútil, parecia que a magia estava com mau contato- Não está funcionando!- Exclamou, tentando emitir o brilho inúmeras vezes e falhando.

–Droga! –Xingou Sam- Só pode ser Cristálida. Além de absorver magia, esse treco só não resiste à, tipo... ele mesmo!

Os guardas riam deles pelas tentativas frustradas de quebrar a tela de Cristálida. Depois de um terceiro, bem mais alto e provavelmente mais forte, aparecer ficaram quietos. Este deu uma ordem que os soldados foram incapazes de ouvir, mas que provavelmente tinha a ver com eles.

Por uma fechadura que apenas abria do lado de fora, abriram a cela. Bloquearam a saída enquanto pegavam algemas para todos, assim não correndo o risco de os prisioneiros fugirem.

–Podem vir. –Disse um, segurando muitas algemas.

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...

Depois de atravessarem um corredor de celas com vários prisioneiros que deveriam estar ali faz muito tempo, chegaram em uma espécie de sala de espera para julgamento.

Os recrutas, seguidos do guardas, estavam algemados nas mãos e nos pés, impossibilitando-os de fazer movimentos bruscos com os braços e correr (ou voar, como Erroria que teve suas asas amarradas). Como as algemas eram feitas também de Cristálida, canalizava toda a magia ou os poderes especiais de quem estava preso nelas.

Já Sam tinha um caso diferente. Provavelmente ela tinha passado lá mais de uma vez, pois os guardas já a reconheciam e zombavam dela. Tinha recebido uma descarga elétrica para os braços não funcionarem, consequentemente recebendo apenas a algema nas pernas. E, como reconhecimento de seu perigo, ganhou uma focinheira para o risco de “morder” ninguém com seus dentes afiados.

Na sala de espera, sentavam no chão. Apenas os guardas tinham o direito de se sentarem em sofás e poltronas, que não deviam ser trocados faz um tempo, mas de um jeito ou de outro eles gostavam disso. Os prisioneiros simplesmente sentavam no chão.

Assim que chegaram, viram que a secretária era uma vampira, nem um pouco simpática como as dos filmes. Mal sinal. Sorria, mostrando suas presas, sempre que chegava mais alguém para colocar na lista de espera. Quando ela olhou seus distintivos, disse:

–Recrutas da H.E.R.M.? Pensei que não tinha ficado nenhum esse ano! Como achou eles Brian?

–Pois é, Violet. –Falou o guarda maior, chamado Brian, com sua voz gravíssima e arrepiante- Achamos eles desmaiados na floresta, junto com um livro brilhante, acredita? Como eles não acordavam de jeito nenhum, aproveitamos e levamos eles até aqui.

–A rainha vai ficar bem feliz com isso. –Confirmou ela, se referindo claramente à Chaos- Como os caras da H.E.R.M. merecem seu devido respeito, vou até adiantar o julgamento... –Rabiscou um pouco na agenda- Pronto! Serão os próximos.

Enquanto conversavam sobre assuntos cotidianos, Kai sussurrou para Randy, de modo que apenas os guardas e Violet não pudessem ouvir:

–Desmaiados na floresta? Quer contar algo para nós, Randy?

–Eu pensei que nossos corpos iam parar dentro do livro, junto com as nossas consciências. –Respondeu Randy- Porém, parece que não é bem isso. Mesmo assim, desculpa por não saber, eu sei que vocês confiavam em mim, mas eu pensava que o Nomicon ia me avisar se algo de errado estivesse acontecendo do lado de fora.

–Sabe, cara do suco. –Opinou Sam, chamando Randy pelo apelido que ela tinha dado- É verdade que foi muita mancada você ter nos transportado (ou nossas consciências, sei lá) para dentro do Nomicon e depois ter nos colocado nessa encrenca. Porém... é verdade, porque o livro não avisaria a gente se algo perigoso estivesse acontecendo?

–Isso eu não saberia responder. –Confessou ele- Sinceramente, eu não vejo qualquer razão para que ele faça isso. Ou talvez...

–Talvez o quê? –Perguntou Danny.

–Deixa para lá, é besteira –Retomou.

Das portas do tribunal, saiu uma moça com seus filhos, todos chorando, seguidos por guardas. A mulher, que mal conseguia falar de tanto soluçar, desejou a eles:

–Que não recebam o mesmo destino que nós, bravos cavaleiros!

Pelo seu estado emocional, era de adivinhar que a corte não era nada piedosa. Violet, muito contente e satisfeita, anunciou:

–Professora Sam e recrutas Danny, Dipper, Erroria, Finn, Jake, Kai, Randy e Shasta: é a vez de vocês.

Pela maneira que falava, parecia nada mais que um consultório médico. Infelizmente isso não era verdade. Suando frio, adentraram aquelas portas, que já possuíam aspecto macabro.

–Ei pessoal. –Cochichou Sam- Quando entrarmos lá, fiquem quietos. Não quero que Chaos comece a ficar nervosa com vocês e faça algo de ruim.

O tribunal era escuro, já que cortinas cobriam todas as janelas, não deixando para escapar nenhuma luz do Sol. Possuía cadeiras estupidamente altas para o juiz. Porém, isso não era dado aos réus, que tinham que sentar em banquinhos pequenos, dando impressão de inferioridade.

–Nossa! Que surpresa! Não imaginava que iria julgar recrutas, nem uma soldada como brinde. –Disse, uma voz marcante e sarcástica, lá no posto de juiz. Ou melhor, juíza– Que honra tamanha de recebe-los. Por favor, sentem-se em suas cadeiras.

Nem era preciso pedir. Os guardas os forçaram a sentar-se nos bancos, com algema e tudo.

Acho que não preciso dizer quem era a juíza, não? Sim, era Chaos, vista pela primeira vez pelos recrutas, mas não por Sam.

Chaos era bem alta, quase tanto quanto a Solaria, e bonita até. Seus olhos eram profundos e de um azul-acinzentado. Havia uma marca negra cruzando seu olho esquerdo, parecida com uma lua crescente. Seus cabelos eram compridos, pretos e sedosos, chegando a bater na cintura. Já sua pele era de tom cinza estranho, meio pálido. Usava um vestido que deixava de cobrir apenas a cabeça e as mãos.

–Acho que vocês sabem porque estão aqui, não? –Falou ela- Guardando o melhor para o final, começaremos o julgamento dos recrutas primeiramente.

–Onde está o delegado e o advogado? –Desobedeceu Danny ao conselho da mentora. Sam olhou feio para ele.

–Eu posso muito bem ser a delegada. Já o advogado... Bom, se vocês tiveram a coragem de cometer um crime, tenho certeza que foi porque sabem se defender em pleno tribunal.

Depois dessa resposta, Danny calou-se. A ditadora continuou:

–Começaremos com o crime realizado ao se inscreverem como recrutas. Sabendo que seriam punidos por isso, tiveram coragem de realizar a inscrição...

–Nós não sabíamos que estávamos cometendo um crime –Interrompeu Finn- Solaria só disse que estávamos contra a senhora, não que tínhamos o risco de sermos presos por isso.

A rainha olhou bem para ele. Finn não tinha jeito de quem mentia.

–Talvez eu possa abaixar um pouco o número de anos de sentença. –Porém, concluiu, voltando ao seu tom sarcástico- Mas isso não quer dizer, claro, que sofrerão menos.

Continuou:

–Consta aqui que, com intenção, participaram da fuga de uma garota bestaana, chamada Shasta. E ela, aliás, queria fazer parte de sua organização.

–Quem disse isso à senhora? –Manifestou-se Shasta.

–Não pense que não te reconheci pela pena e aparência, jovem bestaana. Eu tenho contatos na H.E.R.M. e não tenho medo de assumir.

–Então realmente o espião que está na H.E.R.M. te pertence? –Palpitou Sam.

–É claro! Quem você acha que soltou aquela bomba? –Afirmou ela- Que diferença...de que adianta assumir se vocês mesmos não sabem quem é o tal espião? Eu não sou tola a ponto de deixar escapar tamanha informação. Porém, retomemos. Quando acordaram na prisão, os guardas estão como testemunhas, tentaram quebrar a cela; o que podemos considerar como destruição do patrimônio público.

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Adicionando mais números na sua conta, concluiu:

–Fazendo as contas, ficamos com 35 anos de prisão para os recrutas em geral e 45 para a bestaana, por ter fugido. Mas o que estou dizendo? Vamos arredondar isso para pena de morte, que tal? Não vai fazer muita diferença, vejam bem. Levem-nos, guardas.

E assim o fizeram. Erroria ficou profundamente triste quase ameaçando de chorar, assim, um guarda mais gentil deixou que Dipper ficasse do seu lado para consolá-la. Kai ficou espumando de raiva, Finn xingava em voz baixa, já Shasta estava sem reação. E o trio... era difícil definir; uma mistura de medo, raiva e tristeza.

Danny foi o único que virou a cabeça para ver como Chaos estava depois do julgamento. Ela sentia alegria ou remorso? Ficava cansada de ter que julgar ou esperava ansiosa para o próximo réu aparecer? Pelo seu rosto, não dava para decifrar.

A ditadora observava a tristeza de Erroria, e depois para Dipper pedindo ao guarda para que ficasse ao seu lado. Se fosse um reality show, seria bem interessante de se ver. Por algum motivo, seus olhos se desviaram para quem a observava. Danny sentiu os olhos cinzas profundos olhando nos seus, analisando minimamente sua alma.

Ela viu alguma coisa ali. Olhou para o resto, vendo o que era antes imperceptível. Ela era inteligente, afinal, viu algo que eles tinham em comum: potencial.

Como não poderia jogar aquela mina de ouro fora, pediu, quase gritou:

–Esperem aí!

Os guardas se viraram. Brian perguntou, intrigado:

–O que aconteceu, soberana? Algum problema?

Chaos pensou um pouco antes de responder, decidindo se aquilo era mesmo uma boa ideia:

–Ocorreu-me que... a Solaria deveria ter selecionado adolescentes com boas habilidades para serem seus recrutas. –Respondeu, meio nervosa- Então...pensei que talvez eles deveriam...

–Deveriam...?

–Bem, acho que eles deveriam mudar de lado.

–O que quer dizer com isso? –Perguntou Sam, sentindo-se ameaçada.

–Eu quero dizer que seus recrutas vão ser meus recrutas. –Desviou o olhar para ela.

Os oito entraram em estado de choque. Ela teve mesmo a cara de pau de dizer isso? Kai quase matava com seu olhar, Jake ficou incrédulo e Shasta quis imediatamente soltar-se nas algemas. Apesar das manifestações emocionais, foi Sam que falou por eles:

–É claro que eles não vão aceitar. A lealdade de apenas um deles vale mais do que o cargo de cem soldados seus.

–Cara Sam... –Disse Chaos, bem mais sarcástica- Sempre querendo causar, não? Você não percebe que o convite é para eles e não para você?

Depois dessa ofensa muito grande, a professora calou-se. A rainha virou-se para eles:

–Então, Aceitam a proposta?

Kai quase machucou um dos guardas, quando respondeu, raivoso:

–Sua... –Mas não chegou a xingá-la, para não ser punido- Além de tudo, a senhora é louca? É claro que não! Pensa que vamos servir a alguém como você?

–Meu caro... –E ela saiu da grande cadeira do juiz, vindo até eles- Kai, estou correta? Olhei na sua ficha. Não há necessidade de ficar irritado. E sim, eu penso que vão me servir sim. Porque vocês vão me servir.

–Por que diz isso? –Intrigou-se Finn- Nós temos escolha, a senhora mesma que deu opção para nós.

–Realmente –Retomou, próxima o bastante para levar um soco de um deles- O que eu disse foi muito vago. Eu dei a seguinte escolha: vocês se tornam meus soldados ou (vamos achar uma boa segunda opção) ... tortura até a morte, que tal? Parece uma boa opção para mim. Agora escolham.

Sam, apesar de muda naquele momento, negava com a cabeça e gritava com os olhos: Não quero vê-los torturados e mortos!

Vendo o pânico da professora, concordaram entre si, e Shasta falou por todos:

–Não pense que é porque queremos, Chaos. Escolhemos a primeira opção.

Ela deu um sinistro sorriso.

–Ótimo. –Falou apenas.

Um a um, foram soltos das algemas. Permitiram dar um último abraço entre eles e Sam, que ia ser a próxima a ser julgada e não ia ter a mesma sorte.

É hoje que o inferno começa. Pensou Danny. Ele estava certo.