29. Exames

A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos.

Platão

Voltei a lembrar-me da conversa relativa aos elfos domésticos que tinha tido com a Natalie, quando estava sozinho na cozinha, a beber de um copo de chocolate quente, no final do dia. Para responder a algumas das dúvidas que tinha chamei o único elfo doméstico que conhecia.

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— Winny!

Quase saltei da cadeira quando ouvi no segundo seguinte um “POP” acompanhado pelo aparecimento da pequena figura da elfa doméstica.

— Mestre Harry Potter, chamou?

— Sim, Winny. — As orelhas dela levantaram-se e tive uma imagem mental de um cão leal. —Eu gostava de perguntar algumas coisas sobre os elfos domésticos mas caso estejas ocupada posso esperar. Não é nada urgente. — Eu dei-lhe um sorriso encorajador, para ela perceber que estava a ser sincero e que não ficava magoado caso ela quisesse sair.

— Mestre Harry Potter, Winny tem sempre tempo para si! — Quase gritou de excitação. — O que o Mestre quer saber?

Todo aquele comportamento submisso da pequena elfa estava a causar-me desconforto, porém consegui controlar a minha expressão facial para ela não ter essa percepção.

— Hum, — murmurei, limpando a garganta — podias não me chamar Mestre?

Ela piscou os seus grandes olhos e eu vi pura confusão na sua expressão.

— Mas Mestre Harry Potter é Mestre.

— Eu não sou Mestre, eu… — Ia tentar explicar que era uma pessoa normal mas uma voz, estranhamente divertida, interrompeu-me.

— Não insistas, eu já tentei. Ela não vai parar de nos chamar mestre.

Eu olhei para a porta e vi a Natalie lá, de braços cruzados com um estranho sorriso no rosto, encostada à parede. Aquela expressão de divertimento era tão alienígena que eu fiquei chocado.

— Mestre Natalie!

— Olá Winny — murmurou, entrando e para meu espanto, sentando-se na mesa à minha frente.

— Mestre Natalie, precisa de alguma coisa?

A Natalie, cujos olhos normalmente sem expressão se encontravam vivos e alegres, sorriu para a Winny, carinhosamente.

— Não, eu estou bem, obrigada. Só quero falar com o Potter.

A atenção da pequena elfa passou para mim, ao ser dispensada pela Natalie.

— Mestre Harry Potter, o que queria à Winny?

Eu senti-me ligeiramente constrangido, por ver que os outros dois seres vivos naquela cozinha estavam a observar-me atentamente.

— Eu depois falo contigo, Winny, se não te importares. Não era nada de muito importante. — Murmurei, desistindo de ter aquela conversa enquanto tivesse a Natalie como espectadora.

— Winny vai deixar os mestres sozinhos então. — E desapareceu com um “POP”.

Houve um minuto de silêncio, no qual, eu e a Natalie ficamos a olhar para o sítio onde a elfa tinha estado.

— Ela é diferente do normal, não é? — Perguntei, decidido a cortar aquele silêncio.

— Quase todos os elfos domésticos são assim.

— Mas porque é que eles são tão felizes e submissos ao mesmo tempo? Eles são tratados como seres inferiores.

Houve uma pausa em que a Natalie ficou a observar-me, calmamente, com os seus olhos azuis acinzentados a estudar minuciosamente a minha expressão.

— Existe alguma controvérsia relativamente à forma como os devemos tratar. — Começou, passando a língua pelo lábio inferior, pensativa. — Existem pessoas que defendem que nós devemos libertá-los e contratá-los, como faríamos a uma empregada doméstica. Os nossos pais defendem esse ponto de vista e, por isso, pagam e obrigam os elfos a terem férias. Depois existem os outros bruxos que acreditam que como os elfos querem estar ligados a uma casa, eles ficam felizes por ter esse privilégio e podem ser tratados como escravos.

— Mas isso é horrível. Eles são seres vivos!

Ela deu-me um sorriso triste.

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— Tens a opinião dos nossos pais. — Foi a única resposta dela.

— E tu?

Ela parou, observando-me com os seus olhos azuis acinzentados tão frios que eu, por vezes, pensava se ela era mesmo filha do Sirius.

— Eu cresci a ouvir pessoas defenderem esse ponto de vista, por isso, presumo que também esteja inclinada a ter essa opinião.

Lembrei-me em como ela sorria sempre que via a Winny e achei difícil que a Natalie tivesse realmente aquela opinião.

— Tu gostas da Winny.

Os olhos dela voltaram a ganhar o brilho que eu aprendi que, com a minha interação com ela, era causado por divertimento.

— O gosto é relativo.

— Tu não és assim tão insensível.

A Natalie suspirou, voltando a olhar para mim com a sua face disfarçada de estátua, sem expressão e completamente fechada a interpretações do que estaria a pensar ou a sentir.

— Potter, a maioria dos bruxos sangue-puro defendem que os elfos são escravos e essa discussão é uma que é difícil vencer, inclusive, com elfos. Eu desisti desse tema à muitos anos e acredito que isso seja uma coisa que as pessoas tenham que decidir por si próprios, daí a minha resposta mais neutra. Aconselho-te a fazeres o mesmo quando fores para Hogwarts. Não sejas precipitado e apaixonado por temas que só defendas levemente. Isso só te irá levar a situações complicadas e desnecessárias.

Eu senti revolta ao ouvir as palavras dela.

— Eles são seres vivos! O que eu estou a defender é o correto e, por isso, a minha opinião não vai mudar! Como é que podes dizer isso? Estás a dizer que irias ficar indiferente se eu começasse a maltratar a Winny?

— Eu disse que as pessoas têm que decidir por si próprios. Ela é a minha elfa, por isso, caso a maltrates, tu tens que responder perante mim, que não permito isso.

Resumidamente, ela estava a dizer “Se não tocares no que é meu podes fazer o que quiseres”.

— Isso é tão errado. — Murmurei, enjoado com aquela ideia.

Apesar da Natalie continuar a olhar indiferentemente para mim, algo mudou na sua expressão.

— Realmente, tu e a Granger são idênticos. Ela partilha da mesma opinião e quer, inclusive, começar um clube para defender os direitos dos elfos.

Um sorriso nasceu involuntariamente no meu rosto, ao ouvir as palavras dela. Isso era tão característico da Hermione e tão diferente do que percebi ser a personalidade da Natalie. Defender uma causa porque era correto, independentemente da opinião das outras pessoas e dos problemas que isso iria causar.

— Tu és transparente, Potter, relativamente às tuas emoções. — Murmurou, revirando os olhos. — Enfim, pelo que percebi da tua conversa com o Cedric, vais aceitar a minha proposta?

A proposta. Eu aceitava falar sobre a minha magia, ela ensinava-me oclumelência e a proteger-me das pessoas da casa. Ah, e tinha que seguir os seus conselhos referentes a Hogwarts, para a ajudar num plano que ela tinha com a finalidade de proteger o Charles.

— Sim.

Eu senti-me tão fraco ao aceitar aquela proposta. Mais uma vez, ela tinha-me mostrado que conseguia ser insensível sobre certos assuntos e, mais uma vez, eu estava a ceder a uma pessoa com essa personalidade.

— Ainda bem. — Ela sorriu, parecendo cansada.

Houve um silêncio constrangedor, onde vi claramente que ela estava a lutar consigo mesmo sobre se continuava a falar ou não. Por fim, ganhou a curiosidade dela.

— Porque é que não me pressionaste?

— Em relação ao quê? Querias que fizesse mais um jogo estúpido antes de aceitar e começasse a te contrariar para retirar o máximo da situação? — Ela abriu a boca mas eu decidi não a deixar responder. — Eu não sou esse tipo de pessoa e além do mais tu vives comigo. Se não puder ser simples contigo e, consequentemente, não conseguir ter paz em casa, então prefiro mudar-me.

Ela mandou-me um olhar estranho, parecendo confusa com as minhas palavras.

— Eu pensei que me odiasses.

— Ódio é uma palavra muito forte. — E que eu reservo apenas a algumas pessoas especiais da minha vida. — Além de que isso é exagerar muito os meus sentimentos por ti. Porquê, tu odeias-me?

A Natalie mandou-me outro olhar estranho, como se tivesse a confirmar mesmo que eu estava a ser sincero.

— Não. Só sentes rivalidade?

O que era aquele questionário todo? De repente, estava sensível? Será que estava naquela altura do mês?

— Não lhe chamaria rivalidade. — Murmurei. — Provavelmente, sinto o mesmo que tu sentes em relação a mim.

O cansaço era evidente na sua expressão, agora que tinha voltado a deixar escapar a sua máscara… cansaço e curiosidade.

— Mas porquê o questionário? Estás de repente com dúvidas em relação aos teus sentimentos por mim? — Perguntei, encostando-me à mesa e, consequentemente, aproximando-me mais dela. — Eu sei que sou irresistível mas nós vivemos na mesma casa, por isso, controla-te. — Murmurei, dando-lhe o meu melhor sorriso. — Não fiques perdidamente apaixonada por mim.

Ela só revirou os olhos.

— No dia em que o Voldemort dançar de tanga, no meio da rua e declarar o seu amor eterno por ti, isso é uma possibilidade. —Eu ri-me com a sua comparação e vi, pela primeira vez naquela conversa, porque é que ela era filha do Sirius.

— Claro, claro.

— Mas não era por isso que estava a fazer essas perguntas, como deves de calcular. Eu queria perguntar porque é que não insististe com o Cedric, relativamente ao Nott.

Nott. Não podia esquecer esse nome porque tinha o pressentimento que ainda o iria ouvir muitas vezes.

— É a tua vida pessoal pelo que percebi. Se não queres falar, não tenho direito a perguntar.

A Natalie estreitou os olhos para mim, julgando-me e, mais uma vez, desconfiando da minha resposta.

— Se tu és tão cavalheiro então porque é que perguntaste ao meu pai sobre a Pequena Natalie? Achas que eu vou acreditar nisso?

Suspirei, cansado e, sem energia para pensar numa mentira ou ofensa para ela, acabei mais uma vez por lhe dizer a verdade.

— É diferente. Esse assunto é um que apesar de tu achares vergonhoso, notou-se que não ficavas realmente chateada caso isso fosse conhecido… — Eu suspirei mais uma vez e passei a mão pelos meus cabelos não sabendo bem como acabar a frase. — Eu não sei o que se passou e nem é necessário que eu saiba e, independentemente, da minha curiosidade, eu reparei que não querias mesmo falar sobre esse assunto. Nem comigo nem com o Cedric. Quem sou eu para fazer perguntas nessas condições? — Ela abriu a boca e mais uma vez eu falei. — Eu também tenho assuntos que não quero discutir e, por isso, eu compreendo. Esta é a resposta sincera.

Ela observou-me por mais uns segundos, sem dizer nada, apenas a olhar para minha cara cansada que lhe retribuía o olhar. Estava cansado e farto de jogos mas não iria ceder naquela luta porque estava a ser sincero.

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— Certo. — Murmurou, levantando-se, parecendo finalmente convencida que eu estava a falar a verdade. — Vou dormir. Boa noite. — Eu retribui o cumprimento e fechei os olhos, apreciando o silêncio daquela cozinha. Porém, ela surpreendeu-me mais uma vez nessa noite, ao falar outra vez. — Obrigada pelas respostas.

Eu abri os olhos assustados com aquela simpatia e vi-a à porta, a olhar para mim, parecendo estranhamente frágil. Será que se eu não a atacar verbalmente sempre que a vir, ela até é simpática? Ou ela estaria simplesmente a manipular-me? Ou… ou teria acontecido alguma coisa que a tinha mudado e feito com que ela tivesse a necessidade de realizar aquelas perguntas referentes ao meu ódio sobre ela? Será que estaria insegura?

–-- OLC –

Estranhei quando no Sábado à noite, na véspera do dia da partida da Natalie para Hogwarts, ouvi o som de piano. Era normal haver música pela casa mas aquela melodia que estava a ouvir era diferente e não era por ser clássica.

Rapidamente, percebi porquê. Alguém estava a tocar piano e tinha que admitir que tinha talento. Era uma música triste, não muito rápida e que me fazia querer fechar os olhos e simplesmente apreciar a melodia.

Os meus pés pareceram andar por vontade própria e quando voltei a ter consciência, encontrava-me perto de uma porta, no corredor onde se encontrava a sala que eles dispensaram para mim. Eu sempre pensei que as outras salas daquele corredor, fora o laboratório onde faziam experiências e poções, estivessem vazias, por estarem sempre trancadas. Mas naquele caso, a porta encontrava-se entreaberta e o som vinha, claramente, dali. Por curiosidade abri-a e vi a Natalie, sentada à frente de um piano, numa sala que para além do piano só tinha quadros na parede, a tocar de olhos fechados enquanto movia suavemente a sua cabeça.

— Ela toca de forma maravilhosa, não achas? — Perguntou uma voz, perto de mim, num sussurro.

Espantei-me quando notei que o Sirius estava dentro da sala, encostado à parede, de braços cruzados a observar-me divertido.

— Eu não sabia que ela sabia tocar piano.

O meu padrinho sorriu orgulhoso e olhou para a filha que continuava a tocar, isolada do mundo, sem reparar que estava a ser observada.

— Não é uma coisa que faça recorrentemente. Só quando quer pensar. Fica tão imersa no seu mundo que nem repara quando está a ser observada. — Murmurou, com carinho.

A música mudou para uma mais agitada, com vida e eu vi-me a ficar imerso, outra vez, naquela melodia.

— Por que é que ela não toca mais vezes? — Ouvi-me a perguntar, espantado.

— A Nat parou de tocar quando foi para Hogwarts. Agora, para ela, a música é só um refúgio, infelizmente. — Ele fez uma pausa, observando a Natalie com admiração e orgulho. — Se a tivesses conhecido na infância. — Murmurou, perdido nos seus pensamentos. — Ela tinha uma paixão pelo piano tão grande que nos obrigou a colocá-la em aulas lecionadas por um Muggle.

Notava-se que ela gostava daquela atividade. Se não fosse pela música, que parecia sentida e emocional, tinha sido pela sua postura. Ela estava a viver a música, tão perdida no seu mundo que nos ignorava completamente.

Eu não comentei mais nada, decidido a apreciar apenas a música. Música clássica era um dos assuntos que me causava uma opinião conflituosa. Eu tinha tentado ouvir quando era mais novo e apesar de gostar, conforme cresci, aprendi que a minha visão daquele tipo de música tinha mudado completamente. Aquela música era especial, parecia que tinha uma linguagem própria e que não era ensinada, só sentida. Era por esse motivo, que naquele instante, eu conseguia entender que a Natalie estava triste e confusa.

Ela tocou durante muito tempo e eu não conseguia sair daquele lugar, ao pé da porta e ao lado do Sirius, enquanto a observava e ouvia a sua música. Estava a ficar tão afastado da realidade que me assustei quando a música parou.

— O que é que estão a fazer aqui? — A Natalie perguntou, olhado, primeiramente, com curiosidade para o pai e, depois, com inquietação para mim.

— Queria falar contigo. — Respondeu, o Sirius, descruzando os braços enquanto se desencostava da parede.

A Natalie devia de estar ainda influenciada pela música porque eu vi, claramente, os seus sentimentos. Confusão, compreensão e, depois, medo.

— Eu estava a passar por aqui e ouvi a música. Não sabia que tocavas piano. — Murmurei, respondendo-lhe.

Ela deu de ombros, olhando outra vez para o piano enquanto tocava umas notas sem nexo.

— Eu gostava de tocar quando era pequena.

Eu ia comentar sobre o seu uso do passado naquela frase quando ela voltou a olhar para o pai com um olhar tão cheio de emoções que eu decidi sair dali. Eles mereciam privacidade para falarem e, por isso, decidi sair daquela sala com uma despedida rápida.

–- OLC –

— Harry?

Espantei-me quando ouvi a Rose chamar-me e a vi atrás de mim, ao lado da Lily, no corredor, a irem provavelmente, também para a sala-de-estar.

— Rose, como é que estão a correr as aulas? Já consegues meditar?

A Rose, como tinha esperado, aceitou logo as aulas da Lily para proteger a mente e, em qualquer instante que via que a Lily tinha disponibilidade, pedia-lhe mais dicas. Para meu espanto, a Lily correspondeu às espectativas e sempre que a Rose lhe pedia ajuda, ela dava.

— Ainda não, mas a Lily disse-me que estou a melhorar.

Eu sorri para ela, achando engraçado a forma como ela tinha mais confiança com a minha mãe do que eu. A Lily tinha-lhe obrigado a tratá-la pelo primeiro nome quando a Rose lhe chamava sempre “Senhora Potter”. A partir daquele instante, em que a minha mãe demonstrou jovialidade para a Rose e, principalmente, depois das aulas, elas tinham formado uma ligação que me fazia concluir que a Lily era realmente bondosa.

— E está. Não sabia que ela tinha tanto talento. — Murmurou, colocando uma mão no ombro da Rose que lhe sorriu, em retribuição.

— Ela sempre foi aplicada. — Nós deslocamo-nos em silêncio para a sala durante cerca de 10 segundos, até que a minha curiosidade ganhou. — Não sabia que a Natalie tocava piano.

A Lily olhou com espanto para mim, até que um brilho de compreensão passou pelo seu olhar.

— Ela sabe tocar desde pequena mas não é algo que faça usualmente. — Murmurou, dando-me inconscientemente a mesma resposta que o Sirius.

— Mas ela toca tão bem. Por que é que não faz isso mais vezes?

A Lily sorriu para mim, parecendo também ter orgulho pelo talento dela.

— Não podemos obrigar uma pessoa a fazer arte, mesmo que tenha um talento excecional.

— A Natalie sabe tocar piano? Acha que ela me pode ensinar? — Perguntou rapidamente a Rose.

— Podes perguntar-lhe mas não acredito que ela tenha tempo para isso. Se quiseres podemos falar com a antiga professora dela para te dar aulas.

A Rose abriu um sorriso de orelha para orelha para a Lily, com os seus olhos azuis a brilharem intensamente. Mais uma vez, a sua sede de saber iria fazer com que ela aprendesse uma coisa nova.

Eu acabei por as seguir para a cozinha, onde iam lanchar, a fazer conversa de circunstância, porque os meus pensamentos estavam na Natalie. Como é que ela podia desperdiçar um talento tão grande?

–--OLC---

— Nervoso?

Eu olhei para a Lily que me observava divertida enquanto eu estava na sala-de-estar, rodeado por livros no sofá, com a varinha na mão, a testar alguns feitiços. Eu só lhe mandei um sorriso amarelo, que a fez rir.

— Não precisas de estar. Estás mais de que preparado para os testes que vais fazer. Foste um exemplo de que com disciplina e esforço se consegue evoluir muito num pequeno intervalo de tempo.

Mandei-lhe outro sorriso, sem parar de ler o livro que se encontrava à minha frente. Contudo, sobressaltei-me quando ela foi para o meu lado e me retirou o livro.

— Chega. O Remus está a chegar e quando te levar para Hogwarts não é para ficares em pânico. Vai correr tudo bem.

— Mas eu…

— Estás preparado. Nós testamos-te e sabes mais do que é necessário.

— Eu…

— Harry, chega! Vai correr, saltar, mas não vais estudar mais!

Olhei para ela, com a minha melhor expressão de cão-perdido-no-meio-de-um-tsunami mas a Lily continuou a olhar seriamente para mim, com aquela expressão que eu conhecia demasiado bem. Ela usava-a sempre para me obrigar a parar de estudar e ir falar com as pessoas da casa, nomeadamente, o Charles, o James e a Rose, que por norma também andavam ocupados nas suas tarefas.

— Está bem. — Só consegui aguentar cerca de 10 segundos de silêncio. — Mas como costumam ser os exames? É a matéria que está no programa? E se se focam mais na matérias dos anos anteriores que eu não estudei tanto?

Nós encontrávamo-nos na primeira semana de Junho, era segunda-feira e eu estava à espera do Remus para me levar para Hogwarts. Ia passar a semana lá devido aos exames e iria ter a avaliação referente a Defesa Contra as Artes das Trevas naquela tarde. Como o meu tempo para aprender tudo foi reduzido acabei por desprezar um pouco a matéria dos três primeiros anos, estudando apenas o essencial .

— Só a matéria do quarto ano é que vai ser avaliada. Descontrai, Harry!

Eu suspirei, desejando que o Remus chegasse para acabar o meu sofrimento. Eu iria almoçar em Hogwarts (acho que foi um dos planos do Dumbledore para eu falar com pessoas da minha idade) e depois do almoço ia ser avaliado. Tinha combinado que iria ter com a Hermione (correspondi-me com ela através de cartas), para ela me levar à sala onde ia ser examinado. Contra a minha vontade, o Sirius também iria passar a semana em Hogwarts, porém só iria para lá, à noite. Ele tinha argumentado que era necessário um adulto para me vigiar e ajudar a estudar caso fosse necessário. Como ele tinha um emprego cujo horário era mais flexível que um elástico, conseguiu convencer o Dumbledore. Por esse motivo, tinha o pressentimento que ao longo da semana iria ver muitas vezes a Natalie.

A Natalie… algo se passava com ela. Os outros adultos da casa não sabiam mas eu tinha ouvido uma conversa sobre a visita do Sirius a Hogwarts. Ele estava a dizer que tinha que ir para ter consciência das represálias que ela poderia estar a sofrer e, caso fosse necessário, recorrer ao poder da casa Black para a proteger. Quando eu entrei na sala, que era onde eles estavam a conversar, eles desconversaram com uma rapidez tal que se eu não tivesse certeza do que tinha ouvido, pensava que estavam a falar apenas de política. Mas, no entanto, eu tinha escutado e, como tal, estava desconfiado, apesar de o meu instinto me avisar para não fazer nada em relação a isso. A Natalie era demasiado independente.

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— Olá Harry, nervoso?

Eu quase saltei do sofá com o cumprimento do Remus. Ele tinha acabado de entrar na casa e apesar da aparência cansada dele, ele estava com um sorriso no rosto. Eu respondi-lhe rapidamente que não, o que fez a minha mãe manda-me um olhar incrédulo que eu fingi ignorar, em prol de ir buscar a minha mala de viagem. A minha despedida foi rápida, devido a ela ser a única presente na casa e quando tive consciência, estava a agarrar a minha mala e a dirigir-me à lareira para ir para o gabinete do Diretor da Escola através da rede de flu.

— Remus, Harry. — Ouvi o Dumbledore dizer mal sai da lareira. — Espero que tenha sido uma boa viagem.

— Olá. Dumbledore. — Respondeu o Remus, enquanto eu dizia um “bom dia”.

O director levantou o olhar dos papéis que estava a ler e observou-me amavelmente.

— Harry, tenho uns pedidos para te fazer. — murmurou. — Mas, primeiro, pousa a mala para os elfos a levarem para o teu quarto.

Eu senti um arrepio ao lembrar-me do lugar onde tinha ficado, lembrando-me da Bellatrix e tudo o que ela fez, contudo larguei a mala e vi com surpresa, ela desaparecer instantaneamente.

— A localização do teu quarto é num sítio diferente da tua outra estadia em Hogwarts. — Ele murmurou, provavelmente lendo os meus pensamentos. — Eu falei com a Miss Granger para te indicar o caminho no final da avaliação. O Sirius já sabe qual é. Segundo, houve uma mudança de planos e eu tenho que te pedir para ires almoçar com a Miss Granger, hoje, no salão principal, em vez de almoçares no local onde tu e o Sirius irão ser alojados.

Ele parou de falar para me observar e eu não consegui esconder a minha excitação. Eu iria almoçar no salão, que eu tinha visto na minha visita a Hogwarts e que me tinha marcado pela sua beleza clássica.

— Não há problema. — Respondi, vendo que ele não iria continuar até eu falar.

— Perfeito. A Miss Granger deve de estar a chegar a qualquer momento para te vir buscar. — Ele suspirou, parecendo constrangido com o pedido seguinte. — Por fim, tenho mais um pedido. Este é pessoal e eu compreendo caso queiras recusar. Todos temos direito à nossa privacidade. — Ele observou-me e ao ver que eu estava prestar atenção às palavras dele, continuou. — Eu pedia-te que nos próximos dias fosses almoçar com um membro de cada casa.

Olhei confuso para ele, não compreendendo o pedido. A única justificação que encontrava era que ele quisesse que eu fizesse amigos e aquilo fizesse parte do plano “não sejas antissocial”.

— É um pedido egoísta porque é para me beneficiar. — O Dumbledore continuou a falar, parecendo cansado. — Vou ser completamente honesto contigo. Eu tenho recebido críticas relativamente à minha imparcialidade sobre o teu caso. Uma delas é que eu estou a querer colocar-te na casa dos Gryffindor, onde eu estudei. — Ele recostou-se contra a cadeira, demonstrando a sua fragilidade. — Isso não é verdade, afinal cada casa é marcada por um atributo e não acredito que a coragem seja superior aos outros três. É me irrelevante se preferes a casa dos Gryffindor ou dos Slytherin. Não é isso que irá marcar o teu carácter ou, como a maioria das opiniões, te irá definir como um salvador ou um futuro Lord das Trevas.

Ele apoiou-se na secretária, inclinando-se na minha direção, com os cotovelos apoiados na mesa.

— Por esse motivo, para demonstrar a minha imparcialidade com a escolha da tua futura casa, venho-te pedir isto. Hoje irias almoçar com a Miss Granger na mesa referente aos Gryffindor e nos próximos dias, nas outras, de forma a poderes analisar por ti próprio o espirito de cada casa. Irias também realizar os exames com os alunos pertencentes à casa com quem irias almoçar. Os alunos que te vão acompanhar, caso aceites, foram escolhidos pelos Chefes de cada casa.

Eu tinha percebido o motivo para aquele pedido, porém tinha uma dúvida.

— Se isso é um problema porque é que não me coloca a almoçar sozinho, como da outra vez que estive aqui? E eu vou estar aqui seis dias, por isso, não consegue fazer uma divisão justa.

Ele sorriu, ao ouvir as minhas perguntas, voltando a encontrar-se na sua cadeira.

— Eu preferia que passasses algum tempo com os alunos e, de qualquer das maneiras, a verdade é que eu nunca iria proibir o teu contato com a Miss Granger ou com os gémeos Weasley, o que iria reforçar a opinião sobre a minha imparcialidade. Relativamente, ao problema dos dias. Os quatro primeiros dias eram com os alunos de cada casa, os últimos dois, tu tens a opção de escolha. Já é algo excecional, eu estar a impor a tua presença durante 4 dias, com pessoas escolhidas por mim. Tu também precisas de ter liberdade de escolha.

A verdade era que preferia comer sozinho e não no salão, porém eu lembrei-me das palavras da Natalie. Eu tinha algum tipo de poder político e era melhor fazer uso dele. O Dumbledore tinha tentando ajudar-me, mal me conhecendo, para além de ter tentado salvar os alunos naquele fatídico dia. Então achei que era uma maneira justa de retribuir o favor.

— Não há problema. Eu posso fazer isso.

Ele não escondeu a surpresa na sua face quando me observou. No entanto, recuperou rapidamente, abrindo um dos seus famosos sorrisos.

— Eu nem vos ofereci nada. A idade faz dessas coisas. Querem um rebuçado de limão? — Perguntou, oferecendo um enquanto ele próprio colocava outro na boca.

Olhei para o Remus e vi-o a sorrir para o Dumbledore.

— Não, obrigado, Albus. — Respondeu.

O Remus abriu a boca para continuar a falar, contudo fechou-a quando ouviu alguém bater à porta.

— Entre, Miss Granger. — O Dumbledore respondeu, sem desviar o olhar para observar quem poderia estar do outro lado da porta.

Eu olhei para a porta e sorri, involuntariamente, quando a vi entrar, muito direita, com os seus cabelos volumosos e olhos quentes, que brilharam quando me viram. Ela mandou-me um sorriso na minha direção, antes de se dirigir para o Dumbledore e murmurar uma saudação.

— Miss Granger, espero que esteja tudo bem. — Disse o Diretor, parecendo feliz por a ver, porém voltou a olhar a para mim, rapidamente. — Harry, agradeço-te profundamente a cooperação disponibilizada por ti relativamente aos meus pedidos e, se mudares de opinião, só é necessário informares o Sirius. Desejo-vos boa sorte para os vossos testes. — Disse, mandando um dos seus sorrisos bondosos.

— Não há o que agradecer. — Eu olhei para o Remus à espera que ele dissesse alguma coisa mas ele só abanou a cabeça.

— Eu ainda tenho que falar com o Albus e depois vou para a casa. O Sirius deve de chegar à hora de jantar.

Eu assenti e estava preparado para sair quando ouvi a voz do Dumbledore.

— Só mais uma coisa, Harry. Relativamente, à escolha de alunos que vão almoçar contigo nos próximos três dias, eu depois dou essa informação ao Sirius e ele informa-te. Se precisares de alguma coisa durante a tua estadia em Hogwarts, avisa-me. Boa sorte para os dois. — Concluiu, com os seus olhos estranhamente brilhantes.

–--OLC---

Não consegui ficar impassível conforme andava pelos corredores do castelo, a seguir a Hermione. Primeiro, devido ao deslumbramento causado pela beleza clássica dele. Depois, voltaram as lembranças.

A adrenalina causada por estar a correr pela minha vida.

A gargalhada da Bellarix…

A ameaça…

O funeral…

Tudo.

— Harry?

Eu pisquei os olhos, voltando à realidade para perceber que nós tínhamos parado à frente da entrada para o salão. Da última vez que tinha estado ali, o salão tinha estado vazio mas agora estava quase cheio, com atividade e barulho. As quatro mesas, que estavam paralelas umas às outras, encontravam-se ocupadas por alunos enquanto os professores e funcionários, estavam sentados numa mesa em cima de um estrado, separada dessas quatro.

A Hermione levou-me para a mesa mais à esquerda, enquanto eu olhava deslumbrado para as centenas de velas que flutuavam em cima da cabeça dos alunos e para o teto que demonstrava que o dia estava nublado. Porém, fui parado antes de chegar à mesa por duas pessoas iguais

— Meu Lord…— Disse um gémeo, enquanto ele e o seu irmão pararam à minha frente. Eu mal tive tempo para abrir a boca para vocalizar um protesto quando eles fizeram uma vénia com um sorriso de lado.

— Finalmente chegou ao seu castelo. — Completou o outro, enquanto voltavam à posição inicial, porém não me deixaram falar antes de voltarem a agir.

— Tivemos tantas saudades! — Disseram ao mesmo tempo, abraçando-me para meu desgosto.

Eu nem soube como reagir, sentindo só os braços deles à volta do meu corpo. Felizmente, aquele abraço durou pouco tempo, apesar de eles continuaram na sua missão de me importunar. Primeiro, empurram-me para o banco mais próximo, depois fizeram-se sentar e eu nem tive tempo para observar a mesa — que se encontrava cheia de comida — porque eles sentaram-se ao meu lado, um de cada lado, e começaram a encher o meu prato com comida. A reação deles foi tão rápida que eu nem tive tempo de dizer nada.

— Meu Lord, tem que comer. — Murmurou o gémeo à minha esquerda, enquanto colocava ainda mais comida no meu prato.

— Carne.

— Arroz.

— Salada...

— Para ser saudável e forte…

— Calma. — Disse, finalmente, conseguindo falar quando percebi que eles já não podiam encher mais o prato. — Obrigada por tudo, Fred e George, mas eu ainda sei como me servir e alimentar. — Resmunguei, vendo que o próximo passo era eles colocarem a comida na minha boca.

— Deixem o Harry em paz. — Murmurou a Hermione, que se sentou à minha frente e só nesse instante é que eu observei quem estava ao meu lado.

Tinha o Neville, ao lado da Hermione e do outro lado o Ron. Ao lado de um dos gémeos estava a irmã deles, e depois só via caras desconhecidas que estavam a observar-me, atentamente, sem disfarçar a sua curiosidade.

Estranhamente, com o aviso da Hermione, eles controlaram-se e eu pude comer um pouco mais descansado e com alguma paz. Durante o almoço, falei brevemente com o Neville e o Ron e quase nada com a Hermione, porque ela estava a ler um livro conforme comia. Existiam coisas que nunca haveriam de mudar. Apesar da curiosidade dos outros alunos, que estavam sentados naquela mesa, acho que os olhares que os gémeos mandavam para os poucos que se tentavam aproximar, fizeram-nos mudar de ideias e, efetivamente, ninguém me dirigiu a palavra, apesar de estarem atentos ao que era discutido no nosso grupo.

A hora de almoço passou rapidamente e quando eu tive consciência já me estava a dirigir para a sala com a Hermione, o Neville, o Ron e mais quatro alunos que nos seguiam mas que ainda não me tinham dirigido a palavra, parecendo entretidos em ouvir a minha conversa com a Hermione que estava a fazer-me perguntas aleatórias sobre a matéria, para ver se estava preparado.

Quando chegamos à sala, vimos que a porta ainda estava fechada e, por isso, ficamos à espera, perto da entrada. Havia mais alunos à espera e eu observei a Natalie que apenas me deu aceno com a cabeça, quando viu o meu olhar.

Alguém limpou a garganta e só tive tempo para perceber que era um dos rapazes que nos tinham acompanhado antes de ele começar a falar.

— Olá, eu sou o Seamus. — Murmurou o rapaz, que tinha uma pronúncia ligeiramente irlandesa, estendendo-me a mão. — Seamus Finnigan.

— Prazer. — Respondi, tentando ser educado. — Sou o Harry.

O rapaz que parecia ter a minha altura, cerca de um metro e setenta, magro, olhos azuis brilhantes, cabelo da cor de areia, assentiu com a cabeça, afastando-se ligeiramente para dar lugar ao outro rapaz do grupo. Ele era negro, o que contrastava contra a palidez do Seamus, um pouco mais baixo do que o último e tinha olhos e cabelos castanhos. Toda a sua postura mostrava uma descontração que eu não apresentava.

— Eu sou o Dean Thomas.

Eu mandei-lhe um sorriso mas nem tive tempo de dizer mais nada antes de uma das duas raparigas, se colocar à frente dele, com um sorriso demasiado predador para o meu gosto. Ela tinha um longo cabelo loiro, encaracolado e tinha uns olhos castanhos que brilhavam cheios de emoção.

— Olá, eu chamo-me Lavander Brown. O que é que achas de Hogwarts?

Eu mal tive tempo de piscar os olhos e pensar na resposta, antes que a outra rapariga se colocasse ao lado dela. Ela, como a Lavander, era elegante. A sua aparência: pele morena, olhos castanhos-escuros, cabelos pretos lisos, faziam-me crer que era indiana. Tinha um sorriso simpático, que eu preferi ao que a Lavander apresentava.

— Eu sou a Parvati Patil. Vens estudar em Hogwarts para o ano?

— Eu já conhecia Hogwarts… da minha outra estadia. — Respondi, vendo as expressões excitadas desaparecerem. — E sim, é por isso que vim fazer os exames. Para comprovar que tenho o conhecimento necessário para ser admitido.

Elas as duas trocaram um olhar incrédulo, que me fez dar um passo trás e olhar para a Hermione, que estava demasiado distraída a olhar para o livro outra vez.

— Mas nem precisavas de fazer os exames. Nós sabemos que o teu conhecimento é muito superior ao dado em Hogwarts.

Eu senti uma ruga nascer, não conseguindo disfarçar a minha irritação. Eu só queria aquele tempo antes dos exames para poder estudar, como a Hermione estava a fazer e não sofrer um interrogatório. E muito menos, queria falar com pessoas que pensavam que eu era o super-homem bruxo.

— Temo que tenho que discordar com essa afirmação. — Respondi cordialmente à Lavander enquanto pensava numa maneira de desviar aquela conversa. — Porém, se vocês não se importarem, eu preciso de tirar algumas dúvidas antes do exame. Hermione, podes ajudar-me?

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A Hermione finalmente olhou para mim e acho que ao ver a minha expressão percebeu o que estava a acontecer.

— Claro, Harry. — Ela olhou para o livro que tinha nas mãos e fechou-o. — Qual é a tua dúvida?

— Vocês conhecem-se?

Eu só suspirei ao ouvir o grito histérico da Lavander.

— Qual é o vosso tipo de relacionamento? — Perguntou a Parvati, também demasiado excitada.

Os dois rapazes que tinham-se apresentado deram de ombros, ao ver o meu olhar para eles. O Ron e o Neville ainda continuavam do outro lado da porta a discutirem entre si assuntos relativos da matéria. Ao ver que a Hermione também não iria responder, estando a olhar para mim indecisa, pensei em qual seria a resposta mais correta. Por um momento, queria voltar à minha personalidade que eu adotei na escola Muggle mas, lembrando-me das palavras da Natalie nas férias da Páscoa, decidi que era melhor adotar a atitude menos antissocial.

— Sim. Mas se for possível, como estamos a ficar sem tempo, podem-me dar um minuto? Eu preciso mesmo que a Hermione me tire uma dúvida antes do exame. — Disse dando o meu melhor sorriso. A Natalie devia ter assistido aquele momento para eu lhe comprovar que eu conseguia ser sociável!

Elas deram um aceno afirmativo, com a cabeça e eu virei-me para a Hermione, e fiz-lhe a primeira pergunta que me lembrei. Felizmente, não tive que inventar muitas perguntas porque entretanto apareceu o professor que ia fazer o exame.

Ele era o professor da disciplina, Alastor Moody, um auror muito conhecido e que os meus pais pareciam admirar. A sua aparência era assustadora, devido às imensas cicatrizes que estavam no seu rosto, ao olho mágico que girava dentro da sua órbita e a perna de pau. Porém, eu mal tive tempo para o observar com atenção porque mandou-nos entrar bruscamente e sentar-nos, informando-nos que íamos ter uma hora para fazer um teste teórico e o resto da tarde iria passar, a fazer um exame de dois em dois alunos, prático. Por sorte — ou devido à influência do Dumbledore — eu fui chamado com a Hermione. Quando o Professor me viu, não disse nada relativo ao meu estatuto e mandou-me realizar os mesmos feitiços que ela, que consistiu em conjurar escudos. Felizmente, esta disciplina era uma que eu tinha facilidade em aprender e, por isso, os dois testes tinham corrido bem. Pela expressão da Hermione, quando saímos da sala, ela não achava o mesmo, estando nervosamente a rever as perguntas teóricas no livro.

Eu só revirei os olhos e perguntei-lhe onde é que eu iria ficar, devido ao Dumbledore apenas me ter dito que ela me ia levar lá. Ela assentiu e eu percebi que foi preciso todo o autocontrolo dela para não continuar a fazer perguntas ou a rever a matéria.

Ela não tinha mudado nada durante aqueles anos, conclui com divertimento.

Nós fomos diretamente para o sítio onde eu ia ficar alojado, conversando distraidamente sobre o exame. A sala que me tinham disponibilizado, daquela vez, tinha sido uma que estava guardada por dois cavaleiros, que me fizeram uma pequena vénia ao ver-me. Quando a Hermione disse a palavra-passe “exames” o quadro deslocou-se para o lado e nós entramos pela abertura.

O interior daqueles aposentos eram parecido com os outros, disponibilizados em Dezembro. A sala era grande, com três sofás à volta de uma mesa e de uma lareira. O Sirius encontrava‑se em pé, a ler alguma carta e quando me viu, levantou o olhar para mim e sorriu.

— Harry! Como correu o exame? — Antes de ter tempo de responder, ele olhou para a Hermione e alargou ainda mais o sorriso. — E tu deves de ser a Hermione, de quem ouvi falar tanto? — Perguntou, charmoso, aproximando-se.

A Hermione assentiu, parecendo constrangida ao conhecer o Sirius.

— Eu sou o padrinho do Harry, o Sirius. — Ele murmurou, parando à nossa frente. — O Harry deve ter-te contado tudo sobre mim, especialmente, as minhas aventuras que me fazem parecer um bruxo incrível. Apesar de ele ser um pouco humilde nas minhas descrições é tudo verdade. Eu sou mesmo brilhante!

Ela ficou sem reação ao ouvi-lo e eu revirei os olhos para ele, observando como ele tinha um pouco de barba na face e apesar do seu sorriso brilhante e palavras idiotas, os seus olhos não estarem com o seu brilho alegre, normal.

— Para ele idiota é ser brilhante. Por isso, é que ele se está a chamar de brilhante. — Murmurei, vendo-o abrir a boca indignado enquanto eu sorria em resposta. — E o exame correu bem. — Continuei, divertido. — Estava a pensar em ir estudar um pouco antes de jantar, para o exame de amanhã, com a Hermione.

— Estudar, estudar. — Comentou o Sirius, revirando os olhos. — Cada vez pareces mais o Remus.

Eu olhei para a Hermione que estava distraída a ver a nossa interação.

— Só porque tu não fazes nada não quer dizer que eu tenha que seguir o teu exemplo.

— Oh, mas eu estava a pensar em irmos jogar um jogo, para vocês se descontraírem. Até porque a Natalie deve de estar a chegar. Assim eramos quatro. — Murmurou, dando o seu melhor sorriso.

Ao ouvir que a Natalie vinha para ali, fiquei decidido.

— Não, nós vamos para o meu quarto. Qual é?

Ele só apontou para a porta da esquerda, tentado dar o seu melhor olhar de cão perdido à Hermione que só se riu.

— Ele não sabe mesmo descansar, não achas, Hermione? Não preferias jogar alguma coisa?

— Acho que também prefiro ir estudar. — Ela murmurou, timidamente.

Eu só me ri, pensando que se eu era sério para o Sirius, então ela seria muito pior. Por esse motivo, dirigi-me para o quarto com a Hermione, a pensar o quão equivocado o meu padrinho estava relativamente a ela.