Desta vez quando reabriu, Lizzie se viu na sala. A televisão continuava a exibir um filme. A garota estava suada dos pés a cabeça. Ela olhou para os lados certificando se estava realmente sozinha e bem. Nenhum sinal de Zack ou do caminhoneiro. Era apenas ela deitada no sofá e Tito de pé num canto da sala, encarando-a como sempre. Lizzie esfregou os olhos, sentando-se. Pesadelos deste tipo eram comum, mas só até a morte de Fabrizzia. A um bom tempo que ela conseguia dormir tranquilamente, mas já era seu segundo pesadelo em seu segundo dia naquela casa.

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Levantou-se para pegar um copo d’agua na cozinha, mas alguma coisa melecada em suas coxas a incomodava. Puxou o vestido e viu então o que era: sangue.

Na manhã daquele dia, Lizzie mal conseguia encarar Zack na hora do café. Quando acordou, o rapaz já havia preparado ovos com bacon para os dois. Lizzie pegou o seu prato intimidada, agradecendo forçada. No entanto, não se sentou à mesa. Ficou na sala, fingindo assistir televisão enquanto comia. Na verdade, pensava no pesadelo daquela noite.

A questão maior do seu ‘transtorno’ não era a parte do sexo macabro e ensangüentado, mas sim, o começo com Zack. Lizzie sentia-se desconfortável em ter sonhado com o rapaz se masturbando, e depois, tirando sua virgindade. Isso lhe era estranho pelo fato de Lizzie nunca ter sido uma menina pervertida, nem mesmo tinha vistos filmes pornográficos. Sexo era uma idéia que passava longe da sua cabeça, e ela só não era completamente ingênua, pois, todos os acontecimentos bizarros de sua vida, indiretamente lhe fizeram perder a inocência para sobreviver psicologicamente.

Era inegável, que a principio, enquanto era Zack aparecendo no sonho, Lizzie havia ficado excitada. E isso era o que mais constrangia a menina.

Enquanto engolia o café da manhã, Lizzie espiava-o pela visão periférica. Ela nunca tivera qualquer pensamento malicioso em relação ao rapaz, mesmo achando-o bonito e atraente mas porque então ele foi envolvido daquela maneira no sonho?

O clima esquisito permaneceu até quando foram ao hospital substituir Martin.

Lizzie ficou quieta quase a tarde inteira, pensativa. O maldito pesadelo não lhe saia da cabeça, e era chato ver as tentativas falhas de Zack em puxar assunto.

De qualquer forma, ela não queria se distrair muito, pois precisava analisar bem o ambiente em que Lucy estava internada para poder, depois, executar o plano que arquitetava. Notou que apenas uma enfermeira estava responsável por Lucy, que ficava em um quarto totalmente aparelhado ao fim do corredor que eles dois ficaram sentados; Ao fim do corredor, tinha um balcão com uma atendente. Lizzie também anotou mentalmente que a enfermeira conferia Lucy a casa 2 horas, e a atendente se dispersava a cada 20 minutos para fazer tarefas em outros setores do hospital. Por sorte, só mais um quarto estava ocupado naquele corredor, e pelo o que Lizzie soube pela enfermeira, a pessoa daquele quarto também estava em coma e não recebia visitas a um mês.

No fim da tarde, por volta das 5, Martin retornou ao hospital com uma aparência menos cansada e suja. Avisou que passaria a noite ali novamente, mas que iria trabalhar no outro dia, portanto pediu para Lizzie passar a manhã com Lucy, enquanto Zack teria de trabalhar também. Ambos assentiram e foram ‘dispensados’.

— O passeio ainda está de pé, certo? – perguntou Zack na saída.

Desconcertada, Lizzie apenas balançou a cabeça afirmativamente, mas na verdade, havia esquecido. Zack, que já havia notado o jeito indiferente da garota durante o dia, parou de andar e arqueou a sobrancelha encarando-a.

— Está tudo bem? Eu te fiz algo? Sinto que você está estranha...

— Não... Está tudo bem... Não tem nada a ver com você. Só estava pensando nessa situação da Lucy – mentiu.

— Hm, ta ok então. Eu vou resolver uma coisa agora, mas te encontro na casa do Baby daqui 1 hora e meia!

— Está bem.

Zack se despediu e andou até sumir ao fim da Hamilton Ave. Lizzie, que já sabia como andar ali pelo centro, chegou rapidamente em casa. Era engraçado como haviam depositado tanto confiança nela. Martin havia deixado uma chave com a garota, e não se importava nem um pouco em deixar sua casa sozinha com uma completa estranha que conhecera à 3 dias. Ainda assim, Lizzie sentia como se vivesse ali a anos e compreendia perfeitamente o sentido de ‘quantidade não é qualidade’.

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Em uma hora e meia, Lizzie tomou um longo banho e se arrumou. Levou muito tempo pra decidir o que usaria. Não tinha muitas opções próprias na mochila que levara consigo pra Trenton, mas Lucy havia disponibilizado gentilmente suas roupas para o uso da garota. Como não sabia para onde Zack à levaria, foi ainda mais difícil decidir.

No fim, optou por uma produção confortável: uma calça jeans, uma regata preta, um cardigan branco com renda e botas de cano médio. Não era bem a forma que costumava se vestir, já que normalmente, usava vestidos ou jardineiras, mas precisou adaptar o estilo básico e feminino de Lucy em seu corpo.

O cabelo liso secou rapidamente, e o máximo de maquiagem que Lizzie passou foi uma base para disfarçar as olheiras e tirar a palidez do rosto. Finalizou a produção com uma presilha de cristaizinhos em formato de laço no lado direito da cabeça.

As 7 horas estava pronta esperando Zack na rede da varanda.

Talvez o clima agradável e o céu parcialmente estrelado tivessem colaborado em distrair Lizzie, que só foi perceber o atraso de Zack quando se passaram 40 minutos. Depois de muito tempo ali sentada sozinha, o tédio começou a bater e a garota passou a consultar o relógio de pulso à cada 2 minutos. Ela preferia acreditar que tivesse acontecido um imprevisto, algo sério, mas não podia deixar de temer que Zack tivesse simplesmente esquecido o próprio convite. Afinal... Porque ele se interessaria em passar tempo livre com ela por livre e espontânea vontade? Era o que ela se questionava, pois se achava extremamente desinteressante e sem graça... Sem falar em feia.

A baixa auto-estima de Lizzie era facilmente compreendida: jamais tivera conselhos maternos, dias de beleza, passeios no shopping ou melhores amigas que pudessem compensar a ausência de uma figura feminina que a auxiliasse com esses assuntos de garota. Lizzie também nunca foi das mais informadas, nem intelectual, nem muito inteligente... Seu comportamento retraído na escola e a forma como vivia fora dela não a ajudava a se concentrar nas aulas. Sempre passou com notas baixas. No que se tratava de aparência, Lizzie dera sorte! Sua mãe, por baixo daquela imagem maltratada e insana, era uma bela mulher, cuja beleza poderia ter rendido um grande partido, e a única coisa que ela fez e Lizzie agradecia era lhe ter proporcionado seus genes e cooperado para formar um rosto angelical com pele delicada, cabelos negros que nem precisavam pentear de tão lisos e grandes olhos acinzentados; O corpo, embora não fosse torneado ou cheio de curvas, era proporcional e não havia muito que reclamar.

Com a roupa certa e um pouquinho de produção, Lizzie seria ainda mais bela e atraente, mas não teve com quem aprender tais truques. Ainda assim, naquela noite, com as roupas de Lucy, Lizzie se sentia bonita e feminina e tinha vontade de transparecer isso para outras pessoas, mas já não tinha tantas esperanças de que isso fosse acontecer. No exato momento em que se levantou pra entrar pra casa e tirar tudo em troca de uma camisola, o Hyundai Stellar preto que Zack usava se aproximou da calçada, e para a surpresa de Lizzie, Summer vinha dentro dele no banco do carona. Franziu o cenho.

Zack desligou o carro e saiu sem se importar em abrir a porta pra loira, que desceu do veículo como se deslizasse, exibindo um vestido azul de alça que valorizava ainda mais seu bronzeado provavelmente artificial e seu cabelo dourado. A garota estampava um sorriso satisfeito de orelha a orelha, encarando Lizzie desde o momento que entrara na varanda, enquanto Zack, sério, caminhava com a cabeça abaixada e as mãos enfiadas no bolso da jaqueta. Lizzie ficou de pé próxima a porta, abraçava-se contra o vento gélido e tentava manter uma expressão indiferente.

— Desculpe a demora Lizzie... – surrurrou Zack mordendo o lábio.

— Pois é, eu não queria tê-lo atrasado... Tanto – Summer falou antes de Lizzie conseguir dizer claramente um falso “Tudo Bem”. O tom da loira insinuava alguma coisa, assim como seu olhar provocante.

— É q-que a Summer apareceu l-lá em casa de surpresa e e – gaguejou e Summer novamente se antecipou:

— E aí você sabe, a gente nem percebe a hora passar – ela deu uma risada acreditando seriamente que Lizzie entendera perfeitamente, o que não aconteceu. A menina continuou olhando os dois à sua frente com o cenho franzido e os braços cruzados, mas ainda assim, não entendia realmente o que Summer tentava fazê-la imaginar.

— Então, no caso, você vai conosco? – perguntou, inocente, por fim mesmo sem saber o que devia falar. Era uma situação bastante embaraçosa, que ficava ainda pior com Zack imóvel com aquela cara de abobalhado enquanto Summer aumentava o sorriso malicioso.

— Eu vou? Pra onde? Ah, sim, Zack falou que iria te apresentar algum lugar aqui em Trenton... Muito doce da parte dele, né? – indagou irônica. Zack revirou os olhos, irritado.

— Na verdade, Lizzie, infelizmente nós vamos ter que adiar o programa... Aconteceu um... Imprevisto – disse evitando-o olhá-la diretamente. Lizzie suspirou desanimada, mas nada surpresa.

— Veio aqui então pra quê? – perguntou impaciente.

— Ué, pra te av...

— É que a gente vai comprar umas coisinhas pra festa da universidade e sugeri que ele aproveitasse que era aqui perto pra vir te avisar. É simplesmente horrível esperar, ainda mais atoa. Não acha? – interrompeu.

Lizzie contraiu os lábios para não se morder de raiva com a cara de Summer. Tentou se controlar pra não gerar ainda mais sentimentos negativos, pois sabia que era perigoso. O mais difícil de tudo era não pensar em qualquer tipo de agressão que ela poderia desejar aplicar na loira, e principalmente, em Zack. Pior do que Summer falando era ele permanecendo quieto, deixando claro que assentia com o que a garota dizia. Se qualquer coisa fosse mentira, ele teria desmentido, não? Em vez disso, ele continuava com aquela cara sem expressão e as mãos dentro do bolso.

— Vamos Zack? O pessoal está esperando!

— Eu só preciso ir ao banheiro, é rápido – exclamou apressado antes de invadir a cara. Summer arqueou a sobrancelha nada alegre, e depois caiu os olhos para Lizzie, dessa vez sem sorrisinhos.

— Sabe... Eu acho que tem muita coisa sobre o Zack que você não sabe! – cochichou, se aproximando de Lizzie.

— E porque eu deveria? Só conheço ele à 3 dias...

— E isso é mais que o suficiente para nós mulheres nos apaixonarmos por alguém como ele!

— ‘Nós’ somos mulheres muito diferentes, e isso é mais do que claro pra qualquer um, concorda? – Lizzie e Summer se encaravam numa distancia inferior a 20 centímetros.

— Você realmente quer se enganar, né? Acha que não é vulnerável com alguém como o Zack?

— Quantos homens você viu na vida pra achar que o Zack é tudo isso?

— Eu já vi e provei muitos, e essa é a questão... Nenhum é ou foi como o Zack, e ele nem precisa se esforçar! A questão, querida, é que você querendo algo a mais ou não com ele, eu procuraria saber mais com quem você ta se envolvendo!

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— Eu não estou me envolvendo com ninguém. Eu só vejo e falo com o Zack porque ele trabalha com o Martin, é algo que não posso evitar.

— Bom, fica a minha primeira dica – disse misteriosa. Bem depois de se afastar, Zack voltava à varanda.

— Podemos ir agora? – Summer perguntou voltando com o largo sorriso no rosto.

— S-sim... Até mais Lizzie. Sinto muito.

— Ok, adeus.

Zack e Summer desceram as escadas da varanda e entraram no carro. Lizzie ainda pode ver a loira a encarando seriamente através do vidro, enquanto Zack ligava o carro com pressa.

Toda aquela situação tinha sido estranha demais e a menina ainda tentava assimilar tudo o que Summer dissera. Viu o carro dele sumir na esquina antes de entrar em casa e se deparar com um turbilhão de pensamentos e questionamentos.

Ela estava realmente irritada com aquela situação, com a mancada de Zack. A exibição de Summer ao seu lado com a desculpa que teriam vindo avisá-la sobre a mudança de planos só piorou as coisas; A loira ainda empurrou toda aquela conversa esquisita sobre Zack. O ela queria afinal? Achava mesmo que Lizzie era uma ameaça ou algo do tipo? Aliás, quem era aquela garota e o que ela era de Zack? Pior que tudo isso era: Porque Lizzie estava se importando?