O silêncio o consumia por dentro.

Naruto estava ali, aguardando qualquer migalha de informação do Grande Sábio do Monte Myoboku — qualquer coisa que pudesse ajudá-lo na busca pelos Yuurei. Gamamaru parecia dispor de uma tranquilidade que faltava a Naruto, o que tornava as coisas ainda mais difíceis. A impaciência descia do alto da cabeça até os pés e voltava. Embora procurasse manter a postura calma, tanto Fukasaku quanto Shima percebiam a inquietude em Naruto Uzumaki: o dedos batucando o tecido dentro dos bolsos da calça, um suspiro de tempos em tempos, depois uma cruzada de braços.

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Mas nada de o sapo dizer qualquer coisa.

Na mente de Naruto, era tudo bem simples: se houvesse qualquer informação, o Grande Sábio a teria. Gamamaru era, de longe, o sapo mais velho do Monte Myoboku; alguém tão antigo que conhecera pessoalmente o próprio Hagoromo Ootsutsuki, o Sábio dos Seis Caminhos — e o alertara sobre os perigos que sua mãe, Kaguya Ootsutsuki, representaria em um futuro próximo. Além de ter consigo o dom da profecia desde muito pequeno, Gamamaru conhecia inúmeros mistérios da história do chakra e do mundo ninja.

Além disso, Naruto não dispunha de tempo. Estava fora da vila, o que significava dizer estar em uma situação de vulnerabilidade. E ainda que, naquele momento, estivesse indetectável e completamente seguro no Monte Myoboku, o mesmo não poderia ser dito sobre seus amigos na Vila da Folha e em outros lugares. Naruto temia que os Yuurei pudessem usá-los para atacá-lo indiretamente, como fizeram outras tantas vezes. E era exatamente por isso que ele havia saído da Folha: para protegê-los, para atrair a atenção do inimigo para si e, é claro, escavar os segredos por trás dos Fantasmas. Mas precisava ser rápido.

Por isso, Gamamaru tinha que saber alguma coisa.

A resposta do Grande Sábio, no entanto, foi como um soco no estômago.

— Eu não tenho as respostas que procura, Naruto-chan.

Naruto ergueu os olhos.

— Como assim você não tem? — O modo como ele falou não passou despercebido por Fukasaku e Shima.

— Naruto-chan! — repreendeu Fukasaku. — Tenha mais respeito pelo Grande Sábio.

Naruto soltou um suspiro demorado, procurando recuperar a compostura.

— Isso não deveria ser possível — disse o jovem, por fim. — Gamamaru-sama, você foi amigo do Velho Rikudou e viu a Kaguya em pessoa. Sabe praticamente tudo da história.

Gamamaru piscou pesadamente. Os olhos envelhecidos estavam distantes desta vez.

— E mesmo assim, eu não tenho a localização do seu inimigo — comentou o sapo. — E torno a dizer: eu não tenho as respostas que procura.

Naruto jamais se contentaria com isso. Não tinha ido lá à toa.

Fazendo um selo com a mão direita, conjurou um sapinho verde. Era do tamanho de um dedo. Devagar, Naruto abaixou-se e estendeu a mão para o pequeno anfíbio, que pulou na palma aberta do Jounin.

— Pedi ao Gamatoki-chan para ouvir a conversa que o Shikamaru teve com a Tsunade-obachan e outros a respeito dos Yuurei — contou Naruto. — Sabia que poderia conseguir alguma coisa antes de deixar a vila. E estava certo.

— E o que descobriu? — Shima se antecipou aos outros.

Com o polegar, Naruto coçou as costas do sapo. Em resposta, o animal abriu a boca e começou a reproduzir, palavra por palavra, tudo o que fora dito na reunião entre Tsunade, Shikamaru, Shizune, Ino, Sai e Yuugao. Gamatoki não só tinha assimilado a conversa, como também reproduzia, perfeitamente, as vozes de cada um dos participantes.

Enquanto a gravação era reproduzida, Naruto desviava o olhar para cada um dos ali presentes, analisando suas expressões. Primeiro, para o Grande Sapo Sábio, Gamamaru; depois para os Sapos Anciões, Fukasaku e Shima. Se por um lado, o primeiro parecia inflexível, os outros dois ouviam cada vez mais atônitos o que era dito. Shima tinhas feições mais alarmadas.

E quando o áudio terminou, foi exatamente ela a primeira a falar.

— Mas isso é impossível! — exclamou. — Se esse tal de Meiton (Elemento Escuridão) não vem da Árvore Shinjuu, então só pode ser um tipo de Senjutsu. Não pode haver outra fonte, senão o chakra da natureza!

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— Mas Mãe — Fukasaku reagiu, igualmente intrigado —, como isso explicaria o fato de o Naruto-chan não ter reconhecido o Meiton como Senjutsu?

Shima encolheu os ombros.

— Eu não sei, Pai. — Virou-se para Naruto. — Talvez tenha cometido um er-

— Eu estava no Modo Sennin — adiantou-se Naruto. — Se fosse Senjutsu, eu saberia.

Shima coaxou desacreditada.

— Isso não faz o menor sentido. Uma coisa dessas não poderia existir, poderia?

Naruto se agachou e soltou o sapinho.

— É por isso que eu estou aqui. Preciso de respostas. — E, virando-se novamente para Gamamaru, prosseguiu: — Pode confirmar algo sobre o Elemento Escuridão, Grande Sábio? Alguém já o usou antes? O Rikudou Sennin, talvez?

Gamamaru expirou com pesar. Depois, com a pata direita, dedilhou o colar que tinha no pescoço. Seus olhos estavam abertos, porém distantes, como se pensasse em algo.

— Esse poder nunca foi usado por Hagoromo Ootsutsuki ou por qualquer um que veio depois dele — disse.

Naruto coçou a cabeça, pensativo.

— Nem pelo Velho Rikudou nem por ninguém depois dele... — Estreitou os olhos. Pensara em algo. — Gamamaru-sama, alguém poderia ter usado esse poder antes do Rikudou Sennin?

Fukasaku e Shima se entreolharam. Uma hipótese bastante perturbadora sobre alguém anterior ao Rikudou Sennin lhes sobreveio.

Gamamaru soltou um gemido cansado.

— Eu a conheci — dizia. — A Deusa Coelho, Kaguya Ootsutsuki. Vi muito do que ela podia fazer. Mas ela nunca apresentou essa natureza de chakra.

Naruto persistiu.

— Mesmo que ela não tenha feito isso, o que o Shikamaru disse pode mesmo ser verdade? — indagou. — É possível que tenha havido uma terceira fonte de chakra, de onde veio o Meiton? Algo que ninguém conhece hoje.

Gamamaru abaixou a cabeça; seus olhos encontrando a curiosidade urgente na feição de Naruto.

— É possível.

Naruto arregalou os olhos.

— Mas então... isso quer dizer que essa coisa que vem me perturbando, o Demônio Roxo, pode ser mesmo um outro Bijuu?

Gamamaru confirmou com um aceno de cabeça.

— Merda. — Naruto cerrou os punhos. — Isso é mau.

— Naruto-chan — Fukasaku se dirigiu com cautela ao jovem Jinchuuriki —, isso quer dizer que...

Naruto fez que sim com a cabeça, em descontentamento.

— Agora que aquela coisa escapou do Genjutsu do Sasuke, não posso arriscar usar os poderes dos Bijuu outra vez.

— Mas, então, o que vai fazer, Naruto? — Shima perguntou.

Era angustiante. Tudo o que havia sido feito para que ele pudesse driblar a restrição que o inimigo lhe impusera, no fim, não serviu de muita coisa. Sentia-se de volta à estaca zero. E, com Sasuke desgastado e ainda se recuperando do último confronto que tivera com os Yuurei, Naruto jamais arriscaria retornar à vila a fim fazer o amigo usar seus poderes oculares outra vez. Não, Sasuke e os outros já tinham feito muito por ele. Era a hora dele retribuir o favor.

Pensou em cada um dos amigos Bijuu: Kurama e sua personalidade orgulhosa, Shukaku com seu temperamento caótico, a natureza equilibrada de Matatabi, a quietude de Isobu, a sabedoria de Son Goku, a bravura de Kokuo, a irreverência de Saiken, a leveza de Choumei e a força de Gyuuki.

Naruto apertou a camisa na região do peito. Fechou os olhos em uma prece, a feição estava séria.

— É só por um tempo, pessoal — jurou. — Eu verei vocês de novo.

Ditas essas palavras, Naruto uniu as mãos em uma longa sequência de selos, finalizando-a ao unir as palmas das mãos.

— Fuuinjutsu: Hakke no Fuuin Shiki (Técnica de selamento: Selo dos Oito Trigramas).

E com a mão direita em forma de garra, Naruto pressionou o abdômen, na altura do umbigo, onde tinha o selo das Bijuu, e a girou em sentido anti-horário. Dentro de si, sentiu o chakra evanescer até que, por fim, era somente ele. Sozinho, com seu próprio chakra.

— Entendo — disse Shima. — Você selou todo o chakra das Bijuu.

— Isso deve bastar — falou Naruto. — Se eu não posso estar com Kurama e os outros, então os Yuurei também não vão poder usar o Demônio Roxo contra mim.

— Ainda assim, Naruto-chan — ponderou Fukasaku —, você vai contar apenas com suas próprias reservas de chakra e com o Modo Sennin. Acha que vai ser suficiente?

Naruto se virou para Fukasaku e Shima.

— Eu também fui treinado pelo Ero-Sennin — disse com firmeza. — É bom que os Yuurei não se esqueçam disso.

Fukasaku sorriu satisfeito.

“Jiraiya-chan, o Naruto-chan é realmente forte”, pensou.

— Naruto... — A voz grave e ancestral de Gamamaru fez todos se voltarem para ele. O sapo tinha os olhos fechados de tal maneira, que as linhas de expressão em sua testa estavam todas bem desenhadas. Estava concentrado em algo. Uma visão, sabiam.

— Naruto-chan... — Gamamaru chamou-o outra vez. — Você deve voltar ao início, onde tudo começou e procurar entender.

O rapaz arqueou a sobrancelha, ligeiramente confuso.

— Você, Naruto... — continuava Gamamaru — precisa voltar ao início de tudo. Entenda a história por trás da tragédia. Entenda... e você a encontrará.

Uma pontada de assombro percorreu a mente de Naruto.

— Mira?!

Gamamaru confirmou o palpite.

— Como o inquebrável fio vermelho que une duas almas, dois remanescentes do clã Uzumaki irão se enfrentar — profetizou Gamamaru. — Um vai selar o destino do outro. Onde houver um, não pode haver o outro.

Aquilo fez Naruto estremecer.

— Está dizendo... que vou lutar contra ela... até a morte?

Os brancos olhos do Grande Sábio foram ao encontro dos azuis de Naruto.

— Não tente interpretar profecias antes da hora, Naruto-chan. Elas nem sempre são o que parecem.

Naruto balançou a cabeça em ligeira afirmação, mas aquelas palavras ainda o inquietavam. Eram tão perturbadoras quanto o próprio rosto de Mira Uzumaki — idêntico ao de sua mãe, Kushina: os mesmos olhos azul-safira, o cabelo de um vermelho vivo que descia pelas costas. Se havia algo que as diferenciava, e Naruto lembrava-se muito bem, era os sorrisos de cada uma. Enquanto o de Kushina era singelo e reconfortante, o de Mira era intenso e desafiador.

Pensar que, talvez, travaria uma luta mortal contra alguém assim o deixava tenso. Não era medo, era uma estranha sensação de familiaridade. Como se, de alguma forma, estivesse destinado a enfrentar a própria mãe, com a qual ele não cresceu. Ou algo muito próximo disso.

Procurou silenciar o turbilhão de seus pensamentos.

— Está certo. Obrigado, Gamamaru-sama.

Virou-se para sair do templo, quando foi impedido por Fukasaku, que o segurou pelo braço. Quando o Sapo Ancião perguntou o que ele iria fazer e para onde ele iria, Naruto respondeu que deixaria o Monte Myoboku e iria atrás de Mira Uzumaki.

— Devo voltar ao início — dizia. — Tenho uma noção de onde começar a procurar.

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— Espere, Naruto-chan. — O sapo soltou o braço do rapaz e pulou para frente dele, bloqueando sua passagem. — Eu vou com você.

— Pai, o que está dizendo? — Shima coaxou preocupada. — Deveríamos segurar o garoto mais um pouco aqui. Sair agora pode ser perigoso.

Fukasaku sabia que Shima tinha um ponto.

— Eu sei, Mãe. Mas o Naruto-chan não está fazendo isso por ele. Se ele ficar aqui conosco, não vai fazer outra coisa senão ficar parado no tempo, esperando o próximo passo do inimigo. Além disso, todos na Folha contam com ele.

Shima ainda balançava a cabeça. Era muito arriscado, mas sabia que Fukasaku tinha razão.

— Nesse caso, é melhor vocês se prepararem. Vai ser uma viagem longa.

Naruto e Fukasaku se entreolharam.

— Sim — disseram em uníssono.

***

Ela estava sentada em sua cama, com as costas reclinadas sobre os travesseiros e as pernas cobertas pelos lençóis. Não sabia exatamente o que estava vestindo. Pelo tecido de algodão, diria que era seu pijama branco, mas não tinha certeza.

A janela estava aberta e o ar da manhã entrava com uma brisa agradável. Deveria estar um dia lindo do lado de fora, com o sol matutino ainda não muito quente — algo que só a Vila Oculta da Folha poderia proporcionar.

Só que ela não sabia dizer. Estava tudo escuro.

Ouvia vozes em seu quarto. Seus amigos estavam ali com ela, o que, no fundo, deixava tudo ainda pior. Não por eles, mas porque, novamente, sentia-se um peso para todos. Alguém frágil.

Alguém destinada a falhar.

Hinata soltou um suspiro tímido quando ouviu a voz da irmã mais nova.

— Eu fiz o que eu pude — dizia a Hyuuga mais nova. — Encontrei a Nee-sama no escritório do papai. Eu a trouxe, cuidei dela. E ninguém chegou perto da Nee-sama enquanto estive aqui. E eu não saí daqui. Vocês são os primeiros.

Como Sakura ainda estava hospedada no Distrito Hyuuga, enquanto a reconstrução acontecia, foi a primeira a ver Hinata, a pedido da própria Hanabi. Quando soube da notícia, Sakura não havia entendido exatamente o que a irmã de sua amiga queria dizer. Mas quando encontrou Hinata e a examinou, soube, para seu espanto, que tudo o que Hanabi Hyuuga havia dito era real.

Hinata Hyuuga estava cega.

— Foram aqueles malditos dos Yuurei. — Kiba cerrou os punhos, furioso. — Eles não param.

— Eu já disse — retrucou Hanabi. — Ninguém chegou perto da Hinata-neesama. Fiquei com ela o tempo todo.

— É... depois disso. — Com a cabeça, Kiba indicou Hinata sobre a cama. Hanabi suspirou, cabisbaixa.

A voz de Tsunade soou estrondosa:

— Isso não parece coisa dos Yuurei. E vimos de perto como eles agem.

— Tsunade-sama tem razão — Shikamaru acompanhou o pensamento da Hokage. — Hinata, conte-nos de novo o que aconteceu.

A líder dos Hyuuga virou a cabeça na direção da voz de Shikamaru e, detalhadamente, relatou tudo o que ocorrera na noite anterior. Informou sobre os pergaminhos dentro da caixa e a carta de seu pai. Hinata contou sobra as declarações que Hiashi lhe fizera e, por fim, falou sobre a Princesa do Byakugan.

— E depois que liberei o selo — terminava — o desenho pareceu olhar diretamente para mim. Havia uma luz roxa forte e depois tudo escureceu.

— Ninguém entrou lá depois disso, Hinata-san? — perguntou Lee.

Hinata negou.

— Eu chamei a Hanabi e ela não demorou a chegar — disse. — Depois, é como ela contou.

— É verdade — a irmã confirmou. — Assim que ouvi os chamados da Hinata-neesama, eu fui até ela. Estive com ela desde então.

— Mas então... — Ino parecia não acreditar. — Hinata, seu próprio pai fez isso com você?

Hinata emudeceu. Embora tivesse perdoado Hiashi Hyuuga em seu coração e crido em cada uma das palavras dele escritas na carta, ainda era difícil voltar ao passado. A relação de Hinata com o pai tinha sido muito complicada, principalmente na infância.

Por sua vez, Hanabi, que também sabia de tudo que a irmã sofrera por causa do pai, estreitou os olhos. No íntimo da caçula, a visão heroica e forte de seu pai fora destruída quando o segredo que envolvia Kioto Hyuuga veio à tona — o pai deixara o amigo para morrer durante a Terceira Guerra Ninja. Aquele tinha sido o estopim. Sempre acreditara que, apesar da rigidez, o pai, no fim, era uma boa pessoa. Agora, Hanabi Hyuuga pensava o contrário. E ver a irmã mais velha daquele jeito, depois de tudo, era imperdoável.

— Vindo do nosso pai, eu não duvidaria de mais nada — falou a caçula, por fim.

Tsunade, silenciosa, considerava tudo aquilo. Não poucas vezes, tivera discussões duras com o antigo líder do clã Hyuuga por causa do tratamento que ele dava à filha mais velha. De interferir no relacionamento de Hinata com Naruto Uzumaki a solicitar a exclusão dela do Corpo Jounin da Vila da Folha a fim de “prepará-la” para assumir a liderança do clã, Hiashi Hyuuga havia tomado decisões bastante contestáveis, na visão da Hokage.

E, agora, aquilo.

“Hiashi... por que fez isso?”

— Eu examinei o pergaminho, como me pediram — revelou Sai. — O maior, de fato, é só uma coletânea de jutsus Hyuuga. Já o menor, está em branco.

Hinata estranhou.

— Em branco, Sai-kun? Como assim?

Sai encolheu os ombros, encabulado.

— Totalmente em branco — explicou. — Como se nunca tivesse sido usado antes. Se havia algo nele, não deixou qualquer vestígio.

— Então é isso? — Ino perguntou, incerta. — O que vem a seguir, Hinata?

A feição de Hinata falava por si só. Sabia tanto quanto os outros sobre o que estava acontecendo com ela.

— Eu não sei, Ino-san.

— E se... — Chouji falava baixinho, cauteloso — E se a Hinata não for essa tal de Byakugan no Hime? E se ela ficar assim... — Não ousou terminar a frase.

Mas Chouji não precisava concluir nada. Hinata entendia muito bem. Afinal, aquele pensamento lhe ocorrera diversas vezes. E se o pai tivesse se enganado? E se nunca fosse ela a Princesa do Byakugan? E se tudo não passou de um mito?

E se tivesse perdido a visão para sempre?

Estava perdida em seus próprios pensamentos, e o silêncio temeroso de todos não ajudava em nada. No fim, ela sabia, estavam pensando exatamente o mesmo.

Foi Sakura Haruno quem chamou todos de volta à realidade.

— Ora, vamos! — falou, ligeiramente incomodada com tudo aquilo. — Se tem alguém que pode ser essa tal Princesa do Byakugan, esse alguém é a Hinata. Ela é incrível e vai sair dessa, então não temos que nos preocupar.

E, ficando de frente para Hinata, Sakura se agachou diante da cama e pegou as duas mãos da amiga, sorrindo-lhe gentilmente.

— Eu vou fazer tudo o que eu puder para te ajudar a recuperar sua visão o mais rápido possível, Hinata — Sakura dizia. — Pode contar comigo.

Hinata apertou com afeto as mãos de Sakura, devolvendo o sorriso.

— Obrigada, Sakura-san.

Depois de mais alguns instantes, a reunião pareceu se dar por encerrada. Despedindo-se das irmãs Hyuuga, cada um dos integrantes deixava o quarto.

Antes que ele saísse, Hinata o chamou:

— Lee-san, um momento, por favor.

Rock Lee, um dos últimos ainda presentes na sala, virou-se para o interior do quarto, na direção da Hyuuga.

— Sim, Hinata-san?

Sabia que aquilo iria contra todas as indicações médicas e que o certo seria deixar seu corpo, ainda em recuperação da luta contra Kioto Hyuuga, curar-se. No entanto, a despeito de sua saúde física, Hinata não suportava a ideia de ficar parada, repousando, enquanto seus companheiros davam duro. Precisava fazer algo e sentia que deveria ser a partir daquele momento.

— Lee-san, eu preciso que me ajude com o Punho Forte.

O pedido de Hinata provocou estranhamento imediato em Rock Lee.

— Hinata-san... — titubeava. — Você precisa descansar.

Mas a moça fez que não com a cabeça.

— Eu preciso ficar mais forte. Não sei o que vai ser dos meus olhos a partir de agora, então tenho que seguir em frente.

Lee ainda estava inseguro quanto ao pedido da moça.

— Quer que eu a ensine a dominar o Punho Forte?

Hinata negou.

— Preciso entender melhor os fundamentos, só isso — explicou. — Saber como seria possível para alguém combinar o Punho Forte com o Punho Suave dos Hyuuga. E, depois de encontrar a resposta, achar um meio de refutá-la.

Lee balançou a cabeça afirmativamente.

— Entendo. O Yuurei contra o qual você lutou da última vez.

Por um instante, Hinata se lembrou da feição de Kioto Hyuuga.

— Sim — disse ela.

Lee abriu um largo sorriso, acenando positivamente com o polegar.

— Farei o que puder para ajudá-la, Hinata-san. Tem a minha palavra.

— Obrigada, Lee-san.

O rapaz a deixou momentos depois e o quarto estava, outra vez, na quietude de antes. Sentada com as costas contra os travesseiros, Hinata se inclinou um pouco para a frente, juntando as mãos, pensativa.

E, sabia ela, ainda não estava sozinha.

— Que loucura é essa? — Recostada sobre a parede próxima da janela, Hanabi cruzava os braços em evidente desaprovação.

Hinata se virou para onde vinha a voz da irmã caçula.

— Imaginei que não fosse gostar.

Hanabi riu, irônica.

— Jura? Porque a ideia da minha irmã cega e machucada treinando para enfrentar o assassino do nosso pai soa ótima para mim.

Mesmo sem ver, Hinata tinha em mente a feição irritadiça da irmã.

— Eu preciso fazer isso.

— Não precisa droga nenhuma! — gritou Hanabi, em resposta. — Depois de tudo o que o nosso pai fez você passar, de tudo o que ele te forçou a fazer, ele não tem o direito de, mesmo depois de morto, te obrigar a limpar as cagadas que ele fez na vida. Você não precisa fazer isso.

Hinata ficou em silêncio por alguns minutos. Ouvia Hanabi fungando, a respiração ficando mais funda.

— Eu não vou deixar você carregar esse fardo sozinha, Hinata-neesama — completou. — Não posso.

Hinata soltou um suspiro lento e pesado. Sentia a dor na voz de sua irmã, a desilusão com a figura do pai e o senso protetor dela para com a própria Hinata. Hanabi sempre fora uma pessoa forte e confiante. Mas, ainda assim, era sua irmãzinha. Era Hinata quem deveria protegê-la e não o oposto.

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— Não é decisão sua — retrucou Hinata.

A expressão de Hanabi se endureceu.

— Não vem querer bancar a líder do clã para cima de mim agora, Nee-sama.

— Eu vou fazer isso, Hanabi. — Hinata tinha o tom de voz controlado; era calmo, porém firme. — Queira você ou não.

— E como espera fazer isso? — Hanabi balançou a cabeça, cética. — Porque, até onde me consta, você não está enxergando.

Hinata hesitou por uns instantes até responder.

— Isso vai passar.

— E se não passar?

— Papai disse que eu sou a Princesa do Byakugan — Hinata justificou. — Ele confiou em mim. E eu confio no que ele escreveu.

— E se não tiver sido ele? — ponderou Hanabi. — E se tiver sido como o seu amigo do cachorro disse: coisa dos malditos Yuurei?

Hinata balançou a cabeça em negação.

— Era a letra do papai. Era ele, Hanabi. Eu sei.

— Existem muitas formas de imitar a letra de alguém — refutou Hanabi. — Ainda mais se a pessoa tiver habilidade ou um Poder Ocular.

Mas Hinata se manteve firme em sua convicção, o que, para Hanabi, tornava aquela conversa ainda mais complicada.

— Você não tem que fazer isso por causa do nosso pai, Nee-sama. — E a voz de Hanabi trazia mais amargura do que raiva naquele momento. — Você não tinha que passar por nada disso. Você merece ser feliz.

— Ah, Hanabi...

Hinata estendeu os braços para a irmã, que correu para abraçá-la, tomando cuidado com para não pressionar as ataduras que cobriam toda a região do abdômen da mais velha. Hanabi enterrou a cabeça por sobre os seios da irmã, enquanto os pequenos braços a enlaçavam pelos ombros. Hinata sentia a garota tremer e, com isso, envolveu-a em um abraço materno, como costumava fazer.

— Eu não conheci a mamãe... ela morreu quando eu nasci. Perdi o Neji-niisan na guerra. E, agora, o papai. — Hanabi falava entre soluços; os olhos úmidos de lágrimas. — Hinata-neesama... você é minha irmã, é a única família que eu tenho. Não quero perder você também.

Hanabi apertou o abraço um pouco mais, esquecendo-se que, talvez, pudesse estar incomodando a irmã. Naquele instante, esquecera de toda a raiva e de todo o resto. Estava ali, nos braços de Hinata, e sentiu-se, por um breve momento, uma criança novamente. Sentia-se segura e, ao mesmo tempo, com vontade enorme de proteger a outra. Hinata era sua irmã querida e, também, uma espécie de mãe que Hanabi nunca tivera. Saber que poderia perdê-la para o mesmo homem que matou seu pai era assustador.

Hinata sabia exatamente o que a caçula estava sentindo. Com suavidade, dedilhou os cabelos negros da irmãzinha e a beijou no alto da cabeça. Depois, trouxe-a mais para perto de si, apertando o abraço e ignorando qualquer reclamação de dor que seu próprio corpo lhe fazia. Nada mais importava naquela hora.

— Eu te amo, Hinata-neesama — sussurrou a mais nova.

— Também amo você, Hanabi.

* * *

O trabalho era cansativo, mas estava rendendo. Com o planejamento adequado, as coisas em breve voltariam à normalidade na vila.

Ainda assim, era tudo muito tedioso.

Shikamaru preenchia o terceiro relatório sobre a reconstrução da Vila da Folha, apontando os itens que precisavam ser adquiridos para suprir as necessidades mais urgentes, principalmente nos hospitais de campanha instalados nos distritos dos clãs. Os donativos da Areia ainda os manteriam por, pelo menos, duas semanas. Tempo suficiente para a importação de outros, tudo graças ao dinheiro emprestado pela Vila da Nuvem.

Com muitas coisas acontecendo, foi o barulho nada comum que o trouxe de volta à realidade. E como estava esperando por aquilo.

— Ora, até que enfim.

Estendeu a mão em direção à fonte do ruído e a pegou. Era um pequeno sapo verde-capim que ficava, na grande maioria das vezes, sentado sobre a escrivaninha. Porém, naquela hora, o anfíbio coaxava um som grave e contínuo.

Era o método mais seguro de se comunicarem. Qualquer outro, pensavam, poderia ser interceptado.

Com o dedo, esfregou as costas do animal, que parou de coaxar e abriu a boca.

— Já estava na hora — falou Shikamaru, segurando o sapo na altura do queixo, como um tipo de rádio. — O que descobriu?

O Gamamaru-sama disse que ninguém usava o Elemento Escuridão desde a época do Velhote Rikudou. — A voz de Naruto saía pela boca do sapo. — E nem a Kaguya parecia usar esse poder.

Shikamaru balançou a cabeça, confirmando algumas hipóteses.

— Eu falei com a Kurenai-sensei assim que ela teve alta — disse. — Ela lutou contra uma garota Yuurei, que confirma que o Meiton não veio da Árvore Shinjuu.

Do outro lado da linha, Shikamaru pôde ouvir um resmungo de Naruto Uzumaki.

Então essa coisa pode ser mesmo um Bijuu, no fim das contas.

— O Gamamaru-sama não conhecia essa fonte do Meiton?

Não. É um mistério. Mesmo para ele.

Uma ideia ocorreu a Shikamaru. Se, de fato, o Meiton era um poder mais antigo que o Rikudou Sennin e não vinha de Kaguya Ootsutsuki, então seria, também, um poder anterior à própria Progenitora do Chakra?

“Ou, talvez...”, Shikamaru conjecturava em silêncio, “Kaguya havia chegado a conhecer o Elemento Escuridão, só que antes de seus filhos Hagoromo e Hamura nascerem? Ou ainda antes de terem idade suficiente para lembrarem? Até onde se sabe, há muito pouca informação sobre a época em que Kaguya ainda não havia comido do fruto da Árvore Shinjuu e se tornado a Deusa Coelho.”

Guardando consigo essas perguntas, voltou-se para aquilo que parecia mais concreto até então.

— E quanto ao líder dos Yuurei? — perguntou a Naruto. — Sabe dizer se é mesmo um Ootsutsuki?

Outra negativa.

— Que saco... Isso dificulta as coisas.

Naruto participou a Shikamaru o que havia feito com o chakra dos Bijuu, a profecia de Gamamaru e sua decisão de ir atrás de Mira Uzumaki. Sendo ela a segunda em comando dos Yuurei, ela certamente saberia alguma coisa. E, também, confessou Naruto, havia um interesse pessoal dele em encontrá-la.

Estou deixando o Monte Myoboku esta noite. O Vovô Sábio vai comigo.

— Tenha cuidado, Naruto. Se essa mulher for uma ninja sensorial tão boa quanto a Karin, ou ainda melhor, você vai ter problemas.

Já cuidei disso — garantiu Naruto. — Agora me fala: como vão as coisas por aí? Estão todos bem? E a Hinata, como ela está?

Shikamaru se controlou para não esboçar qualquer reação suspeita.

— Estão todos bem. E a Hinata está ótima — mentiu. — Está se recuperando aos poucos.

Ainda bem... fala pra ela que eu estou com saudades. Tenho algo que ela vai gostar de ver.

— Direi a ela.

Passados alguns segundos, silêncio. Shikamaru entendeu que Naruto havia desligado e, por isso, pôs o pequeno sapo de volta sobre a mesa. O animal deu um breve salto e pôs-se no mesmo lugar de antes.

— Você não contou a ele sobre a Hinata. — Shikamaru tomou um susto antes de reconhecer a voz de Sakura Haruno atrás dele. Sakura estava parada na porta e escutara a conversa. — Era ele, não? O Naruto.

Virando-se com a cadeira, acenou afirmativamente com a cabeça.

— Naruto já está preocupado com muitas coisas — argumentou. — Essa só seria mais uma. Ele não precisa disso agora.

Sakura concordou.

— Só espero que aquele idiota fique bem. — Sakura encolheu os ombros, cansada. — Droga, eu sinto falta dele.

O olhar de Shikamaru era de quem se compadecia por Sakura. Sendo chefe do Corpo Médico da Folha, o trabalho dela, que compreendia em coordenar todas as equipes distribuídas tanto no Hospital da Folha, como também nos hospitais de campanha, e ainda por cima ser responsável direta por alguns pacientes, era surpreendentemente exaustivo. Ele não fazia ideia de como ela dava conta, mas Sakura fazia seu trabalho com excelência. A discípula da Quinta Hokage era uma Kunoichi bastante competente.

Além de tudo isso, havia a preocupação da moça com seus companheiros de time.

— Como está o Sasuke? — perguntou Shikamaru, por fim.

Sakura deu um sorriso discreto, como que para esconder a bateria de coisas que rondavam sua mente.

— A circulação de chakra dele estabilizou — disse. — Os efeitos colaterais daquelas Pílulas de Soldado finalmente cederam. E ele está se adaptando bem à prótese que fizemos a partir das células do Primeiro Hokage.

— Isso é uma boa notícia.

Sakura fez que sim, mas não estava totalmente satisfeita. E Shikamaru sabia disso.

— Sakura... — ele prosseguiu. — O Sasuke não vai sair atrás dos Yuurei de novo. Ele vai ficar na vila agora.

Sakura deu um riso triste.

— Como se ele estivesse mais seguro aqui. O Kakashi-sensei e o Yamato-taichou se foram... E o Naruto está lá fora, sozinho com aqueles caras por aí.

— Naruto disse que o Fukasaku-sama está com ele. Com isso, é bem provável que eles encontrem o inimigo primeiro, e não o contrário.

Apesar de tudo, Sakura apreciava a tentativa de Shikamaru em tentar confortá-la, pois sabia que ele não era a melhor pessoa para isso. Ainda assim, algo a intrigava e ela não consegui parar de pensar a respeito.

— E depois? — perguntou ao amigo.

— Depois o quê?

— Caso os Yuurei não encontrem o Naruto... — começou Sakura. — O que acha que eles vão fazer depois?

* * *

— Está tudo aí, Pai? Não está esquecendo de nada? — Shima perguntou ao marido pela terceira vez.

— Eu já disse, Mãe. — Fukasaku ergueu as patas dianteiras, em sinal de rendição. — Está tudo na bolsa.

— E você, garoto? — Ela se virou para o companheiro de viagem do marido. — Está pronto?

Naruto havia trocado suas roupas habituais. Vestia um kimono verde-oliva por sobre uma camisa de malha escura. Também estava com um colete de tecido vermelho — algo muito similar ao que seu antigo mestre Jiraiya costumava usar — com o diferencial de haver um capuz. Trazia guardas de madeira que protegiam as costas das mãos. Trajava calças também verde-oliva, presas por um cinto preto. Nos pés, sandálias vermelhas de madeira.

Na base das costas, Naruto carregava um grande rolo de pergaminho preso por uma fivela de couro que descia por seu ombro direito até o lado esquerdo da cintura. Um pouco acima, transportava uma bolsa com mantimentos, moedas de ouro do Monte Myoboku e itens pessoais. O estojo de ferramentas estava acoplado na parte posterior da calça, um abaixo do pergaminho.

A fim de não ser reconhecido, Naruto não estava usando seu protetor ninja que o identificava como um Shinobi da Vila da Folha. Sendo assim, Shima optou por lhe dar um outro protetor de testa. Era preso a uma faixa vermelha, com pequenos chifres em detalhe. No centro da parte metálica, estava desenhado o kanji 油 (“óleo”).

— Experimente, Naruto-chan. — Ela estendeu o objeto para Naruto.

Assim que o rapaz terminou de prender o protetor sobre a testa, Fukasaku soltou um sorriso satisfeito.

— Você está igual a ele, Naruto-chan.

Naruto deu sorriso tímido ao ser comparado com Jiraiya.

— Obrigado, Vovô Sábio.

— Mas então? — Shima perguntou aos dois. — A chance de estarem rastreando o Naruto-chan é bem alta. O que esperam fazer?

Fukasaku saltou para o ombro de Naruto.

— Eu vou estar junto do Naruto-chan o tempo todo — explicou. — Se estiverem captando a frequência de chakra dele, os Yuurei terão dificuldade de distinguir o chakra do Naruto-chan do meu. Além disso, o chakra Bijuu está selado dentro do Naruto-chan. Para todos os efeitos, ele é um ninja comum e não um Jinchuuriki.

— Bom, isso é verdade — Shima ponderava —, mas ainda é possível que o inimigo conheça o padrão de chakra do garoto e o rastreie. Se eles tiverem um ninja sensorial habilidoso, isso é bem provável de acontecer.

Fukasaku assentiu. Depois, virando-se para Naruto, disse:

— Garoto. É com você.

Naruto fechou os olhos, fazendo um selo com a mão direita.

— Ninpou: Chakura no Gisou (Arte Ninja: Personificação de Chakra).

Graças à sua prima, Karin Uzumaki, Naruto havia aprimorado suas capacidades como ninja sensorial em manipulação de chakra. Ainda não era tão habilidoso quanto ela nesse aspecto, que conseguia estender os efeitos de sua técnica para o chakra de pessoas específicas ao seu redor, mas Naruto até que era bem eficiente ao usar o jutsu em si mesmo.

Dessa forma, além de ampliar suas capacidades de detecção, conseguia distorcer sua própria frequência de chakra e até suprimi-la, ao ponto de torná-la imperceptível a outros rastreadores. O Chakura no Gisou era uma técnica perfeita para infiltração e espionagem, porém tinha a fraqueza de também bloquear, uma vez ativada, o alcance sensorial do próprio usuário do jutsu.

Em outras palavras, enquanto Naruto estivesse indetectável aos Yuurei, ele também não poderia senti-los se aproximando. Por isso, ter um usuário de Senjutsu como Fukasaku ao seu lado supriria a fraqueza do Chakura no Gisou.

— Entendo! — Shima aprovou, impressionada. — Uma saída inteligente, de fato. Mas isso não vai atrapalhar os clones que você está deixando aqui?

Naruto negou com a cabeça.

— Desde aquela luta contra o Pain, eu consegui aumentar o número de clones para armazenar chakra da natureza sem que isso me afete em combate.

— E quantos clones das sombras deixou aqui?

— Cem clones — falou com casualidade.

Shima coaxou, espantada.

— Cem clones acumulando chakra para Senjutsu?! E fez tudo isso sem depender do chakra das Bijuu?

Fukasaku também mostrou apreensão.

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— Tem certeza de que isso não vai atrapalhá-lo em combate, Naruto-chan? Se, por qualquer motivo, seu chakra ficar instável, vamos perder todos os clones de uma vez antes mesmo de encontrar o inimigo.

Naruto meneou negativamente com a cabeça.

— Eu já vinha treinando isso há um tempo. Além do mais, vamos precisar de todo chakra da natureza que pudermos... para o caso de encontrarmos mais de um Yuurei no caminho.

Shima deu um longo suspiro.

— Tenham cuidado vocês dois — disse a sapa. — Se a coisa complicar, não hesitem em me chamar.

Eles fizeram que sim. Shima deu algumas últimas instruções a eles antes de se despedir. Naruto Uzumaki cobriu o rosto com o capuz.

— Vovô Sábio, vamos lá.

— Certo. — As patas se movimentaram rapidamente em selos manuais. — Gyaku Kuchiyose no Jutsu (Técnica da Invocação Reversa).

Depois da explosão de fumaça, já não estavam no Monte Myoboku.

Era noite de um céu estrelado. Os insetos zumbiam em seus ouvidos as mais diversas melodias ao redor. O cheiro de mata era o mesmo com o qual Naruto crescera acostumado. O tempo quente e úmido revelava que o dia tinha sido de um ensolarado fresco.

Naruto e Fukasaku surgiram exatamente no ponto em que o rapaz havia desaparecido para ir até o Monte Myoboku. Olhando para trás, Naruto Uzumaki podia ver os portões da Vila da Folha já restaurados e, lá no fundo, no monte, os rostos de cada um dos Hokage esculpidos na rocha.

Tendo em mente as pessoas que lhe eram importantes, seu povo e sua vila, Naruto deu as costas para os portões da Folha e caminhou, sem hesitação, em direção à estrada afora.

— A viagem será longa até o País do Redemoinho — comentou Fukasaku.

— Sim. — Naruto seguia em frente. — O Gamamaru-sama disse que eu preciso voltar ao início de tudo e entender a história. Bom, o País do Redemoinho foi a primeira ideia que me ocorreu, mas...

— Mas? — Fukasaku não entendeu.

— Existe outro lugar que podemos começar — explicou Naruto. — E é mais perto daqui.

Fukasaku coçou a barba, pensativo.

— E que lugar é esse?

* * *

Vila Oculta da Chuva.

Era final de tarde quando Hadame Tsukiaru abria a porta de casa.

Depois de deixar a capa de chuva pendurada no cabideiro perto da porta, junto de seus lançadores de agulhas senbon em formato de guarda-chuva, jogou-se na cadeira mais próxima de sua sala. O dia havia sido cansativo. “Um dentre tantos”, pensou.

Em seu ritual de volta do trabalho, levantou-se e caminhou até a geladeira. Abriu-a e riu da própria desgraça. Depois, procurando algo no armário, encontrou um pacote de biscoitos. Era isso ou comida enlatada.

Achara que as coisas fossem mudar depois que se tornasse um Jounin, mas, depois de quase dois anos desde a promoção, pouca coisa havia mudado nas finanças de sua casa. O que conseguia mal dava para pagar as contas e comprar comida para ele e sua irmã.

Se ao menos, não tivesse sido tão idealista...

Depois do fim da Quarta Grande Guerra Ninja, dois anos atrás, enquanto as Grandes Nações celebravam a vitória e a paz entre elas, pouca coisa havia mudado para países menores como a Chuva. Sem uma liderança consolidada e entregue à própria sorte, foi muito fácil para Kira Toraiyama, um banqueiro vindo do País do Fogo, adquirir uma grande quantidade de imóveis na Chuva, sobretudo prédios. Eventualmente, tornou-se também o líder político da vila.

A ideia de ter um homem de negócios como chefe da vila pareceu agradável a Hadame a princípio. Toraiyama trazia consigo a promessa de uma prosperidade até então jamais vista na triste história da Vila Oculta da Chuva. Também prometera abertura do comércio e interação com outras vilas ao redor. E, sendo ele cidadão originário do País do Fogo, a Chuva poderia, finalmente, crescer não só como nação, mas também como vila ninja; com auxílio, talvez, da vila ninja instalada no país de onde seu líder viera, a grandiosa Vila Oculta da Folha.

Mas Hadame esperou uma interação que nunca aconteceu. E, com o passar dos dias, as promessas de Kira Toraiyama se mostraram todas vazias. Não houve crescimento econômico, não houve desenvolvimento urbano e a situação do povo era cada vez mais degradante. Os recursos que entravam eram, primeiramente, repassados às contas bancárias de Toraiyama e a um grupo seleto de Jounin da Chuva que haviam se vendido em troca de garantir a segurança pessoal do líder da vila.

Hadame Tsukiaru, na época ainda um Chunnin, reuniu um time de colegas a fim de invadir a torre mais alta da Vila da Chuva, onde residia Kira Toraiyama, com o intuito de assassiná-lo.

O atentado, entretanto, fracassou. Isso porque, além dos Jounin contratados, Toraiyama era protegido uma guarda pessoal composta por habilidosos samurais do País do Ferro — um grupo de mercenários conhecidos como “As dez lâminas negras”. Metade dos insurgentes foram mortos, para servirem de exemplo. Os outros, foram disciplinados, para que ninguém nunca mais ousasse qualquer coisa.

Mas a disciplina não recaíra sobre os rebeldes. Sendo o líder da Vila da Chuva, Toraiyama tinha posse dos registros de cada um de seus ninjas.

E foi assim que encontraram a irmã mais nova de Hadame: Momo.

“Momo...”

Hadame foi até o quarto da garota e o encontrou exatamente como imaginava: vazio. Isso significa que a irmã estaria em seu lugar de sempre. Por isso, estendendo a mão, Hadame puxou o tapete do quarto para o lado, revelando a entrada de um alçapão escondido. Depois, puxando a alça da portinhola para cima, desceu o vão de escadas.

O local era estreito e mal iluminado, com algumas lâmpadas incandescentes instaladas no teto. Havia uma mesinha no canto, onde a irmã deixava algumas coisas, como um manto que havia costurado e algumas outras peças de roupa.

No centro do pequeno esconderijo, encontrou a irmã sentada em uma cadeira de ferro, cuidando da única paciente que ela tivera em dois anos. Momo, uma habilidosa Kunoichi médica de dezesseis anos, estava concentrada em seu Ninjutsu medicinal.

— Há quanto tempo está aqui? — perguntou ele.

Momo sequer se mexeu. Hadame deu um suspiro exausto e reiterou a pergunta:

— Momo, há quanto tempo está aqui embaixo?

A garota, sem se virar, ergueu quatro dedos com a mão direita. Hesitou por um instante antes de erguer também o polegar.

— Cinco horas? — Hadame questionou, cético. — Eu saí de manhã e você já estava aqui com ela.

Momo não desviou os olhos de sua paciente. Hadame estava a um passo de gritar, mas não conseguia ser rude com a irmã caçula. Não depois do que ela passou por causa dele.

— Você comeu alguma coisa, pelo menos? — ele perguntou, desanimado.

Novamente, não houve resposta.

— Ela não vai acordar. — Hadame apontou para a mulher deitada diante da irmã. — Sabe disso.

A garota negou com a cabeça e ergueu-a para olhar nos olhos do irmão.

“Você perdeu a sua fé, Hadame-niisan”, a garota falava por meio de sinais. “Mas eu não.”

Os olhos de Hadame desviaram dos da irmã e foram ao encontro da mulher na cama. Estava exatamente do mesmo jeito que se ele se lembrava. Dirigiu o olhar, novamente, para os olhos castanho-escuros de Momo.

— Vamos jantar, por favor.

Momo fitou o rosto imóvel da paciente uma última vez. Depois, fechando os olhos e sussurrando uma pequena prece, aceitou o convite do irmão.

“O que tem pra hoje?”, ela perguntou.

— Bom... — Hadame coçou a cabeça. — Você quer comida enlatada ou comida enlatada?

Ela esboçou um sorriso gentil.

Estavam subindo as escadas quando um barulho inesperado lhes chamou a atenção. O ruído inconfundível de um gemido fez os dois irmãos se virarem instantaneamente.

— Eu não acredito! — Hadame arregalou os olhos. — E-ela...

A mulher terminava de sentar-se sobre a cama. O corpo fraco e magérrimo reclamava por haver estado deitado por tanto tempo. Sentia-se um pouco tonta e faminta. Com a mão esquerda, afastou um emaranhado de cabelo dos olhos, enquanto o resto da cabeleira descia até à altura do peito.

Os olhos cor de âmbar se abriram com dificuldade. A luz a incomodava.

— Onde...? — A voz saiu arrastada por sua garganta ressequida. — O que aconteceu?

Momo correu à frente do irmão e, com o sorriso mais radiante que dera em anos, ajoelhou-se diante da mulher. O coração da jovem Kunoichi queimava com algo que há muito não sentia: esperança.

O rosto felicíssimo se virou para o irmão. Os olhos em expectativa.

“Ela acordou, Hadame-niisan!” As mãos da menina tremiam. Mal conseguia reproduzir a linguagem de sinais. “O Anjo de Deus acordou!”

A mulher estranhou tudo aquilo.

Hadame acompanhou a irmã e reverenciou a mulher à sua frente. Com uma expressão solene, nem ousava erguer os olhos.

— Bem-vinda de volta, Konan-sama.