CAPÍTULO 30 - OLÁ, QUEM É?

Empurrei algumas pessoas e pisei no pé de outras, tentando abrir espaço pelo hospital local de Owens.

As pessoas me olhavam assustadas, mas eu não sabia se era pelo fato de estar correndo como se alguém me perseguisse ou ser apenas um Hãnsel. Talvez os dois.

–William, espere! - ouvi Sophie gritar atrás de mim e então parei. Georgia e Miranda acompanhavam a garota de perto. Pareciam assustadas demais com minha reação, o que eu, de certa forma, conseguia entender.

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Alexis Miller havia sido atropelada.

Isso mesmo, atropelada.

Algumas testemunhas viram um carro preto suspeito e com janelas escuras dobrar em alta velocidade naquela direção, mas ninguém tem certeza de nada. Eu só achei estranho demais para algo feito pelas malditas Bruxas. Carro preto? Vidros escuros? Algumas pessoas o viram? Sério que elas deixaram tantas pistas? Estranho. Georgia tinha me contado a história toda - ou quase toda, já que não fazíamos muita ideia do que realmente havia acontecido. E lá estava eu, desesperado por notícias.

–Por que toda essa correria, querido? - perguntou Miranda - É apenas Alexis Miller, se acalme.

–Apenas Alexis Miller? - ri sem acreditar no que minha governanta e amiga falava - É por isso mesmo que estou desesperado, é a Miller.

–Se preocupa com ela, William? - Georgia parecia querer me provocar, com aquelas sobrancelhas levantadas, mas eu a ignorei.

–Claro - confirmei - Quem mais irá salvar essa cidade? Eu já estou ferrado o suficiente, sabia? Se essa garota acha que pode ficar mal assim, está muito enganada.

–Mas, pelo o que sabemos, Sophie também pode ser a Híbrida - Miranda interveio, querendo realmente acreditar no que falava. Sim, havia uma chance de ser Sophie a Híbrida da Maldição, mas eu sabia que não era. Miller era o tipo de garota que tinha uma vida cheia de confusões e problemas, sem duvida esse era mais um para sua lista gigantesca.

–Eu acredito em Alexis - voltei ao meu caminho, só que dessa vez andando um pouco mais devagar. Não precisei olhar para trás para saber que elas me acompanhavam.

Não demorou muito para eu encontrar Ashley, Brad, Jessica e Henry, sentados na recepção do hospital, aflitos.

–Onde está Gabriel? - perguntei á eles, notando a falta do loiro fascinado por anagramas.

–Oi, William. Sim, estou ótimo, obrigada por perguntar - disse Brad com um quê de sarcasmo. Isso não era nada bom. Geralmente, quando Brad ficava nervoso ele tendia a ser sarcástico, algo para liberar a tensão. Ele estava nervoso, então. - Gabriel odeia hospitais, você conhece a história dele com esse tipo de... Ambiente.

–Claro - resmunguei me lembrando de Gabriel, pobre garoto nerd.

–Como está Alexis? - Georgia roubou minhas palavras.

–Não sabemos - Ashley olhou para o chão e apertou as mãos, em um sinal claro de preocupação - O médico ainda não apareceu por aqui, estamos sem notícias.

–E Olaf? - Miranda perguntou.

–Acabamos de ligar e uma tal de Jade atendeu. Ela gritou comigo, xingou alguém, chorou por alguns minutos e depois disse que ia atrás de Olaf. Alguém conhece ela? - Ashley olhou para mim, mas eu apenas dei de ombros.

–Eu sei, o nome dela é Jade, ela veio trabalhar aqui com Olaf e tem um gosto meio duvidoso - Jessica respondeu, com as mãos na cintura. - Foi o que descobri.

–Cadê a Horda? - questionei, enquanto Sophie se sentava ao lado de Ashley, recebendo um olhar carinhosa da Oliver.

–Não irão aparecer aqui. Não querem ter esse contato com os cidadãos agora. Mas os manteremos informados. - ela falou.

–Vocês não podem fazer uma mágica ou alguma coisa assim para salvar ela? - falei. Duvidava que isso seria possível ou aceito, caso contrário, já teriam feito, mas não custava tentar.

–Claro que não - Ashley parecia quase ofendida - Não é apenas o corpo de Alexis que está machucado, William, seu espirito também. Uma bruxa não pode curar um espirito, então não adiantaria curar o corpo.

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–Como essa garota machucou o espirito? - encarei Ashley, como se as respostas para minhas perguntas estivessem em seu rosto delicado -Olha, eu já vi pessoas se machucarem a minha vida inteira, mas ninguém conseguiu machucar o próprio espirito.

–Achamos que tem a ver com o poder da Alexis. - Henry entrou na conversa, olhando diretamente para um corredor a minha direita, onde, talvez, a Miller estivesse. Pessoas apaixonadas são irritantes. Ele estava começando a me irritar.

–A Miller tem poder? Qual?

–Não sabemos se é verdade, William - Ashley me falou - São apenas suposições.

–Baseadas em quê?

–A áurea de Alexis é muito amarela, cheia de energia. Até mais que qualquer pessoa poderia aguentar. Se ela fosse humana, estaria morta. É muito poder. Nem mesmo bruxos viveriam bem com uma energia desse porte, não sei como ela consegue. - Henry disse.

–Henry, foi o primeiro a saber da Alexis - explicou Ashley - Ele hackeo o rádio da polícia, algum tempo atrás, e descobriu sobre esse atropelamento. Ele observou a áurea dela também, assim que a viu jogada no chão. Ele é bom nisso.

–É tão poderosa - acrescentou o ruivo, mais para si mesmo do que para todos nós - Qual será seu poder?

–Idiotice, sem duvida - respondi, agora também olhando para o corredor, como se ela estivesse lá. - O que deu nessa garota para sair de casa? Avisamos para ela. Está na cara, isso ai não foi um acidente.

–Quietos, Olaf chegou - Ashley mandou e fixou seus olhos atrás de mim. Me virei para encarar também. Olaf e uma mulher, com cabelos e olhos escuros, pareciam desesperados, tentando arrancar alguma informação de uma recepcionista assustada.

Me aproximei.

–Olaf! - eles se viraram em minha direção - Eles ainda não tem nenhuma informação, o médico ainda não veio.

–Como isso aconteceu? - ele perguntou. Lutei contra a vontade de dizer algo como ''Não sei, cara. Como será que uma pessoa é atropelada, né?'' e apenas neguei com a cabeça.

–Vou me juntar a Georgia, com licença - a mulher, provavelmente Jade, falou.

–Minha pequenina Alexis - o Miller disse para si mesmo e eu o observei - Ela veio falar comigo e eu não quis.

–Ela saiu para falar com você, Olaf?

–Sim. Eu estava na biblioteca de Georgia discutindo alguns assuntos com ela e Alexis apareceu querendo conversar - negou com a cabeça, como se quisesse expulsar esse pensamento terrível - Então eu neguei e isso aconteceu. Não acredito que ela foi atropelada depois.

–Nem eu - levantei uma das sobrancelhas.

Se Olaf não era ao menos um forte suspeito, então eu não era William Hãnsel.

...

–Parentes e amigos de Alexandra Miller? - um médico falou alto, mas não exatamente gritou. Todos nós nos levantamos e ele se assustou com a quantidade de pessoas.

–Como ela está, doutor? - Olaf perguntou preocupado. Para mim, tudo isso não passava de encenação, mas quando comentei com Ashley, minutos atrás, ela revirou os olhos e mandou eu calar a boca. Que garota! Ela pode ser algo como uma líder para esses bruxos, mas não era para mim. Continuei resmungando em seu ouvido, até perceber que ela estava quase me matando ali, só naquele instante, parei de enche-lá. E o ponto vai para... Isso mesmo, para mim.

–Estamos fazendo o possível - o médico falou e olhei em seu crachá, preso no jaleco. Senhor White. - Mas Alexandra não responde muito bem. O atropelamento em si, não foi tão ruim, seu corpo responde bem aos tratamentos, mas ela não dá sinais de que irá acordará. Parece um coma, mas não faz sentido algum. Não há sintomas que favoreçam um coma.

–Alexis está em coma? - Sophie parecia não querer acreditar. Talvez ela estivesse se afeiçoando a Miller.

O médico acenou.

–Sua amiga está em coma e não podemos fazer muita coisa.

–Como não podem? - Olaf parecia triste e furioso ao mesmo. Admito, o cara encenava bem. - Vocês são médicos.

–Só que não somos Deus, senhor - ele rebateu - Estaremos aguardando qualquer sinal, falaremos com vocês caso algo mude.

–Espere, posso vê-la? - Olaf disse ao senhor White e isso me irritou profundamente. Como ele poderia fingir tanta preocupação? Se eu pudesse acabava com aquele cara na mesma hora que o vi na floresta.

–Sim - o médico respondeu - Apenas três pessoas, na verdade.

–Eu vou - Olaf anunciou, mais rápido que qualquer um.

–Eu também. Sou muito amiga de Alexis, não poderei ficar aqui, sem vê-la - Ashley falou também. É claro que a loira não viria até ali para voltar, sem notícias consumadas, vistas com seus próprios olhos, da Híbrida. A Horda não aceitaria menos. Malditos bruxos! Não servem para nada.

Um silêncio se formou e todos olhavam um para o outro, esperando um pronunciamento.

–Eu vou, é claro - disse antes que Henry ou qualquer outra pessoa passasse em minha frente - Preciso vê-la.

–Você tem certeza? - Jessica perguntou, incrédula, para mim.

–Não, acabei de falar isso, porque não tinha nada melhor para fazer. Jessica, por favor - retruquei e a morena me lançou um olhar fulminante. ''Ela é uma bruxa, William, uma bruxa. Não mexa com ela, cara'' uma parte de mim gritou. Eu ignorei, obvio.

–Tudo bem - o médico interrompeu a minha quase morte - Me acompanhem, senhores.

...

O médico explicou que seria um de cada vez. Olaf primeiro, Ashley por segundo e eu por último. Decidi que era melhor assim.

Olaf entrou, mas não ficou muito tempo. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, mas isso não me fez ter pena dele em nenhum momento, apenas me fez querer acabar com ele ali mesmo. Eu sabia que não estava do nosso lado. Ashley demorou um pouco mais que Olaf. Ela me disse que além de examinar superficialmente e espiritualmente a Miller, teria que proteger o quarto contra invasores, com algum feitiço que eu não entendi.

Então chegou minha vez.

Segurei firme a maçaneta e respirei fundo. Entrei.

O ar gelado foi a primeira coisa que me atingiu e, logo em seguida, a imagem da Miller. Na verdade, aquela não parecia a minha Miller. Parecia diferente. Ela não estava sorrindo, não estava falando mais do que qualquer pessoa existente no mundo e não estava me enchendo. Estava parada e parecia dormir. ''William ela está em coma'' uma parte de mim, falou. ''Mas isso nunca poderia a impedir'' a outra parte rebateu.

–Sabe, eu juro que não ia mandar você calar a boca por um bom tempo, se você levantasse dessa cama agora. - falei e esperei, como se ela realmente fosse fazer isso. Mas, como o esperado, ela apenas continuou aonde estava. Parada. - Você não sabe o que está perdendo, garota.

Me aproximei dela e a observei.

Seus cabelos escuros caiam delicadamente no busto, suas mãos estavam ao lado do seu corpo e seus olhos castanhos não estavam visíveis. Tudo que quebrava o silêncio mortal do quarto, era o bipe dos aparelhos ao seu redor.

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–Achei que você é que me veria assim. - coloquei um pequena mecha do seu cabelo atrás da orelha - Digo, achei que me veria morrer. Eu sou o amaldiçoado, minha família morre desde muito tempo e ás vezes acho que comigo vai acontecer a mesma coisa. Mas ai eu me lembro de você. Me lembro que consegue ler o Livro, me lembro que você encarou tanta coisa na sua vida que é impossível descrever, me lembro que é mais forte que qualquer um aqui. Então, eu fecho meus olhos e acredito de novo.

''Você é a pior garota que conheci em toda a minha vida e também é a única que acredito que pode acabar com essa maldição. Vamos lá, Miller, eu queria fazer alguma coisa por você, mas tudo que consigo perceber é que você é quem faz muito por mim.

Não é que eu me importe que você esteja em coma, não confunda as coisas. Eu apenas me importo comigo. Quero que fique viva, para me libertar dessa Maldição. Viu? Sou egoísta, mesquinho e mereço um soco. Então, por favor, acorde e me dê um.''

Ela não se moveu e eu suspirei. Aquilo era perda de tempo.

–Você tem que mostrar que ainda está de pé - continuei - Mostre para aquelas bruxas que aqui não é o País das Maravilhas ou qualquer outro lugar que tenha esse tipo de criatura. Estamos em Owens, aqui é a minha cidade e agora a sua também. Mostre que mandamos nesse lugar, mostre para elas.

Seu peito subiu e desceu, mas fora isso nada mais aconteceu.

–Sabia que nenhuma garota me ignorou assim antes? - sorri e fui até a janela. Olhando entre as persianas, a cidade parecia a mesma de sempre. Ou quase. Muito quieta. - Estou ficando ofendido.

Me virei e fechei os olhos com força. O bipe ecoava em meus ouvidos e o sentimento de inutilidade apertava meu peito.

–Isso é besteira - falei para mim - Isso não adianta.

Segui reto para a a porta e antes que a abrisse, senti um calafrio subir pela minha espinha.

Algo estava errado. Eu sabia. Tinha mais alguém ali.

Olhei para o quarto mais um vez e tudo ainda parecia quieto. Quieto demais.

–É você, Miller? - perguntei, me sentido um idiota depois. Eu tinha que tentar, não é? Eu já tinha lido algo assim antes - Eu sei que é. Me ajude a ter certeza.

O vaso do centro da mesa caiu no chão, num baque forte.

Fui até ele, receoso, e olhei para as pedras, que antes estavam dentro daquele vaso. Li o que as pedras tinham formado e tudo pareceu fazer sentido. É claro que aquele atropelamento não havia sido em vão. As Bruxas haviam prendido Alexis em um lugar onde ela nunca escaparia e onde poderia até mesmo morrer. Elas a prenderam nela mesma.

Tudo tão claro. Como fui idiota?

Olhei mais um vez para as pedras, no chão.

''Me Ajude''

E eu corri, corri para ajudá-la.