CAPÍTULO 25 - SURPRESAS DE MAIS UM DIA DE OUTONO.

A menina parecia nervosa e a arma parecia muito pesada para ela, mas mesmo assim se manteve firme e com um olhar ameaçador.

– Quem são vocês? - a sua voz deveria ser doce e calma, como uma criança daquela idade provavelmente teria, só que não era desse jeito.A voz daquela garota era fina e temerosa.

William e Henry estavam logo atrás de mim, paralisados.

– Eu sou Alexis Miller, Sophie - o nome saiu da minha boca, como uma canção favorita a certo tempo não cantada.O nome parecia tão comum, quanto qualquer outro que eu conhecia.

– Como sabe meu nome? - Sophie levantou mais arma, em puro sinal de desespero.

– É, Miller, como sabe? - William também questionou.

– Quieto! - a menina mandou e eu tive quase certeza que William não havia gostado nada daquilo - Como sabe meu nome?É uma bruxa, por acaso?Eu vou acabar com você, bruxa.

– Ei, ei - interrompi seu discurso um tanto absurdo.Ela era só uma criança, por que então não agia como uma? - Eu não sou uma bruxa e você não pode me matar.Eu não sei o por que de eu conhecer seu nome, nem mesmo sei o por que de Patrick me mandar aqui...

– Só um minuto, você disse Patrick? - ela me encarou.

– Claro que ela disse, não sabe ficar calada e não sair contando tudo, por muito tempo - William resmungou atrás de mim.

– Olha, podemos resolver isso com calma, abaixe essa arma.... - Henry tentou ser um perfeito diplomata, mas estava mais que claro que aquilo exigiria muito mais persuasão vinda de um garoto calmo e doce.

– Ela disse Patrick! - a menina gritou - Onde está meu irmão?Onde está Patrick?

– Espere, seu irmão? - me virei e encarei um William igualmente surpreso - Ela não era uma criança de 7 anos?Que morava em um hotel horrível, que não sabia sobre esse mundo e que estava com vocês no subsolo?

– Olha, primeiro: De costas ela parecia ter essa idade, e sim, eles moravam em um hotel horrível, não que isso aqui seja melhor - ele respondeu - E sobre estar lá com a gente, eu meio que estava blefando.O que?Não me olhe assim, Miller, todo mundo mente.Onde acha que estamos?No Céu?

– Vocês conhecem Patrick? - a garota em minha frente parecia mais relaxada e eu tentei lançar-lhe o meu melhor olhar carinhoso.

– Olha, para falar a verdade... - tentou Henry.

– Éramos muito amigos - interrompeu William com um sorriso torto - Unha e carne, hambúrguer e milk shake ou qualquer coisa assim.Éramos como irmãos.

– Como assim eram?Não são mais?Onde está Patrick? - ela questionou.Olhando melhor para seu rosto, ela realmente deveria ser irmã de Patrick.As feições do rosto eram tão parecidas, que poderiam ser facilmente reconhecidas.E, naquele momento, eu queria mais que nunca voltar no tempo e não matar Patrick.

– Ele morreu, sinto muito - Henry soou triste e eu quase acreditei que ele se importava, que não havíamos feito nada ao irmão daquela garota e que estamos falando a verdade.

– Ah, meu Deus! - ela jogou a arma no chão e se sentou em um sofá ao seu lado, completamente sujo e estragado.No primeiro momento achei que ela estivesse apenas com a cabeça baixa, mas depois veio o primeiro soluço e eu comecei a ver as lágrimas caindo no carpete velho da sala. - Ele disse que poderia acontecer isso, mas Patrick era forte e poderoso, não acreditei.Ele não pode estar morto.É minha culpa, eu deveria ter parado de reclamar que estava com fome; ele saiu para comprar comida e não voltou.Agora sei o porquê. - e então mais um soluço.

– Não foi sua culpa, você só tem 7 anos - Henry se aproximou da garota e se ajoelhou em sua frente, tentando conforta-la.Só que não havia conforto, eu sabia como ela se sentia e eu tinha certeza que não havia conforto.

– Eu tenho 10 anos - ela olhou para o ruivo com os olhos vermelhos e inchados.Henry lançou um olhar de ''Você é um grande detetive, cara'' para William, que apenas deu de ombros - Ele mandou vocês aqui?Por quê?

– Ah, se algo acontecesse com ele, Patrick queria ter certeza que não ficaria sozinha - falei rápido - Vamos levá-la para um lugar seguro, com uma pessoa para cuidar de você.

– Vamos? - William falou e eu lancei um olhar repreendendo-o - Claro que vamos.

– De onde vocês o conheciam? - ela perguntou.

– De onde? - repetiu Hãnsel - Ah, de uns lugares ali outros aqui, sabe?Um ajudando o outro.

– Qual seu nome?Ele não me falou de você. - ela limpou uma lágrima que caia na maça de seu rosto.

– Sou William e o babaca de joelhos na sua frente é o Henry - apresentou - E, Patrick e eu não gostávamos de falar sobre nossa grande relação de amizade.

– Bem a cara do Patrick - ela deu um levo sorriso, ainda triste - Ele queria que eu ficasse com vocês?

– Sim, ele queria - sorri para ela, que me devolveu um olhar perdido.

– Vou arrumar minhas coisas então.

...

– Então - começou Hãnsel, enquanto dobrava em uma viela, em direção a biblioteca de Georgia -, soube que Patrick não sabia sobre você desde sempre, somente á alguns meses se conheceram.

– Minha mãe e meu pai foram assassinados por bruxas á 11 meses - ela contou - Eu não tinha ninguém, ou achava que não tinha, e então ele apareceu.Provou que era meu irmão e me disse que me manteria segura.Primeiro moramos com uma mulher já muito idosa em uma casa, no centro da cidade; depois passamos um tempo em um hotel abandonado e terrível - William sorriu pelo retrovisor do carro, satisfeito - E, algumas semanas atrás, viemos para aquela casa.Ele disse que precisamos de mais segurança.Patrick estava trabalhando em algum lugar, nunca me dizia onde era.Ele me queria fora desse mundo das bruxas, fora de todo esse caos e eu não discuti.Eu queria também.

– Vamos manter você segura - disse e William quase gargalhou.Ele tinha razão, como manteríamos uma garotinha segura, se nem ao menos conseguíamos nos manter?

– Que horas são, Philips? - o Hãnsel perguntou, enquanto batia com os dedos no volante do carro, acompanhando o ritmo de uma música desconhecida para mim, que tocava na rádio local - Estou morrendo de fome.

– Quase 18:30 - Henry informou depois de olhar em seu relógio de pulso.

– Droga! - William acelerou o carro e todos tivemos que nos segurar em algum lugar, para não sermos arremessados - Eles estão chegando!

– Você está recitando As Crônicas de Gelo e Fogo? - perguntei.

– Não, seria o ''Inverno está chegando'' - me corrigiu.

– Então, quem está chegando?

– A família de bruxos mais poderosa de Owens - William disse. - Apenas.

– Ah, cara, acelera mais William - Henry pediu - Tenho que estar lá, lembra?Acelera mais.

– Está pensando que eu vou me matar, é?Não hoje, não agora, não no meu carro - William acelerou mais um pouco - Se bem que, acelerar um pouco seria a melhor opção.

E então o carro acelerou mais, por entre as ruas.

....

Quando chegamos a rua da biblioteca, William deixou o carro mal estacionado e junto com Henry correram para dentro do ''Anjos Urbanos'', sem nem ao menos esperar por mim e pela Sophie.Ah, Céus, como eu iria explicar para Ashley sobre Sophie?

–Eu não quero entrar - Sophie falou em frente a biblioteca e eu me virei para encará-la.Seu rosto era abatido e sem vida.

– Como?

–Não quero - ela repetiu - O garoto com os olhos legais disse que são bruxos muito poderosos que estão nesse lugar, não vou conseguir.

–Ei, você vai.

–Não, não vou. - ela retrucou - Queria que Patrick estivesse aqui comigo.

Houve um minuto de silêncio, onde as palavras não pareciam certas.

–Olha, eu sei como é esse período.A não aceitação, digo - falei - Sei que o que mais quer é acreditar que ele vai aparecer a qualquer momento e dizer que vai ficar tudo bem.Acredite, eu sei bem como é, e não é ruim achar isso, não é.Apenas, não deixe que isso se torne sua realidade, porque sei que a morte dói, mas a ilusão destrói.

–Quem você perdeu?

–Minha avó e meu avô, minha mãe e... Bem, meu pai também - falei.

–Sinto muito.

–Sinto muito por Patrick também. - disse - Agora vamos, você apontou uma arma para a minha cabeça, não pode estar com medo de algumas bruxinhas.

Ela sorriu e eu também.

A biblioteca era a mesma.Livros nas prateleiras, bem limpos e arrumados também.Só que algo estava diferente, algo havia mudado.Era como um imã que ia me puxando fortemente e irresistivelmente para algum lugar.

–Vem, devem estar no subsolo - disse á ela.

–Vocês têm um subsolo?

–Eu não, eles têm.

Andamos por alguns corredores conhecidos por mim e então rapidamente chegamos no escritório de Georgia.

William esperava por nós lá dentro.

–Olha, Miller, posso ser muita coisa, mas não sou babá - disse arrogante - Onde estavam?

–Estávamos aqui, para onde vamos agora? - questionei.

–Subsolo - apenas falou e abriu a mesma entrada que Jessica havia deixado aberta, horas atrás.Ele não usou chave, nem puxou nenhum livro, a porta apenas se abriu.- Nervosas, garotas?

Cada um começou a descer as escadas em silêncio, onde as respirações altas imperavam.

– Esses bruxos sabem sobre mim? - Sophie perguntou em minha frente.

–Provavelmente sim - William disse.

–Eles não vão me machucar, vão?

–Olha...

– Não se preocupe, protejo você - disse sem pensar muito.

Ela sorriu abertamente.

–Obrigada - agradeceu.

Descemos e descemos várias escadas até chegar em nosso destino.O corredor onde eu entrei e em uma das salas ali, matei Patrick.

Andar por ali era assustador e ainda pensar que eu o tinha matado era pior.Ah, eu matei um homem, Minha Nossa e era o irmão de um garotinha inocente ainda mais.

Só que ele estava do lado dos vilões, certo?

– Miller, está olhando para onde? - William e Sophie estavam indo em direção ao outro corredor, do lado oposto - Vem, os bruxos não são muito pacientes.

– Estou indo, Hãnsel - e então o segui.

Os corredores daquele lado, assim como em todo o lugar, pareciam idênticos e eu fiquei me perguntando se isso não seria um tipo de armadilha.Você pode entrar, mas não conseguirá sair.

William parou em frente a uma porta de madeira grande.Era a sala onde havia sido o café da manhã quando estive lá, dias atrás.

– Uma coisa - William segurou a maçaneta, mas não abriu a porta - Felipe está ai dentro, junto com a família.

– O quê? - falei meio surpresa, meio raivosa.

Sabia que alguma coisa ia piorar.

– Owens está passando por uma fase complicada, a cidade está mais fraca do que jamais esteve, precisamos de toda a ajuda possível.

– Para mim, Owens não parece fraca.

– Nem parece que convive com bruxos - resmungou o Hãnsel - É um feitiço, para os mundanos não perceberem que o caos está mais próximo que nunca.Híbridos devem fazer um certo esforço para ver a verdade, presumo.

– Eu posso aguentar o Felipe - falei convicta, enquanto Sophie fazia uma careta confusa com toda aquela conversa.

– Esse Felipe é um idiota? - a menina ao meu lado perguntou.

– Você nem imagina o quanto - William respondeu e abriu a porta.

A mudança de temperatura me atingiu rapidamente.O frio está intenso naquela sala e eu apertei minhas mãos uma na outra.

Todos estavam sentados em seus lugares.

No lado esquerdo da mesa, todas as pessoas que eu conhecia estavam sentadas quietas e me encarando, inclusive Felipe com seu sorriso torto.Ashley parecia furiosa.

Do outro lado da mesa, havia oito pessoas que eu nunca tinha visto na vida.Suas características variavam drasticamente, mas seus rostos não.Estavam sérios e sem emoções, encarando eu e Sophie também.

– Aproxime-se Alexis Miller - uma homem de cabelos loiros e olhos escuros falou para mim e eu dei alguns passos para frente. - Primeiro, como está o Livro?O nosso Livro?

– Está em... - comecei.

– Apenas quero saber se está seguro - ele me disse

– Sim, está - confirmei.

– Bom - entrelaçou as mãos em cima da mesa e prosseguiu - Segundo, você é a filha de Olívia Lancaster?

– Bem... - eu olhei para as pessoas que eu conhecia na sala, mas todas estavam quietas demais, absurdamente quietas - Acho que sou.

– Lancaster e Miller juntos, em uma mesma garota? - o homem não queria uma resposta e mesmo que quisesse as palavras pareciam mortas em minha boca - Uma híbrida assim, daria muitos problemas á maldição.

– Pai - Ashley se pronunciou e sua voz parecia fraca - Achamos que Alexis Miller é a Híbrida da Maldição.

– Baseados em que, querida?

– Ela consegue ler o livro, ninguém consegue isso, pai.

– Isso não tem a ver com ser ou não ser a Híbrida da Maldição, Ashley - ele falou - Apenas quer dizer que os bruxos da Horda a escolheram.

– As bruxas a querem morta. - Ashley argumentou.

– Assim como a todos nós - o pai rebateu - Sem falar que acham que ela é a Híbrida, então matar a garota seria o esperado.

– Pai, ela parece estar ligada á William Hãnsel, o amaldiçoado - a menina loira tentou mais uma vez e eu fiz uma careta, assim como, certamente, William também deveria ter feito.

– E desde quando, querida, paixãozinha adolescente quer dizer que você vai decidir o futuro de uma cidade e de todos que estão nela?

– Pai, eu tenho certeza, sei que é a Alexis.Ela é a única Híbrida que existe no mundo inteiro.

– E quem disse isso á você, Ashley?

– O quê, pai?

– Ela não é a única.

– Isso é impossível, eu sei... - os argumentos de Ashley foram interrompidos.

– Aproxime- se Sophie Milsted.Híbrida, filha de Margareth e Samuel Milsted - ele falou.

Eu olhei assustada para Sophie assim como todos os outros na sala, menos os bruxos mais poderosos de Owens que ainda pareciam sérios e sem emoções.

E justamente quando achei que minha vida não poderia me surpreender mais, ela vai lá e consegue.

Sophie estava ainda mais em perigo e eu teria que ajudar.

De alguma forma, eu teria.