Eu não podia dizer que estava pasma com o que ela acabara de me dizer, talvez isso aumentasse ainda mais o Ego dela. Mas na realidade eu estava com medo, e se tudo desse errado?

Como ela conseguiria levar a Ângela até o shopping se as duas não são amigas, elas sequer falam oi uma para a outra...ela está tão confiante que é quase um absurdo eu pensar que tudo dará errado.


Ela se vira e começa a sair da sala, só que antes que ela faça isso ela diz ainda de costas.



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–É bom nós fingimos que brigamos por um tempo, assim ninguém vai suspeitar que nós duas estamos armando pra cima da metida.

–Está bem!


Quando ela sai da sala, meu estomago reclama. Eu quase havia esquecido que eu não tomei café da manhã antes de sair de casa e que tinha planejado comer aqui na escola. Ao sair vejo Ângela e ela está conversando com a Mirian. Mas como? As duas...juntas...desde quando?


Elas olharam pra mim, mas logo voltaram a conversar animadamente, quando passei por elas foi como se eu não existisse, como se a minha existência fosse insignificante, ou que a Ângela não se incomodasse mais comigo. Passei e fui comprar algo para comer. Pego uma Coca-Cola e uma esfirra, assim que pego meu lanche vou ao lugar onde eu sento normalmente; logo vejo Rodrigo conversando com o Lucas.



–Oi.

–Onde você estava?

–Na sala resolvendo algumas coisas - dei meu melhor sorriso.

–Sei, você devia estar com a sua nova melhor amiga não é? Sabia que você ia me trocar por ela quando vi vocês duas andando juntas.



Me sentei ao seu lado e o encarei, é tão fofo quando ele dá essas crises de ciúmes, é quase como se nós fossemos namorados e eu estivesse com amizade com um cara muito lindo e tudo de bom.



–Ro...você é o único na minha vida! Não existe mais ninguém a não ser você.

–E o Lucas - ele sorriu - Porque se ele não estiver junto nosso relacionamento

duradouro vai terminar...sabe você é tudo de bom, mas não tem o que eu quero!


E é desse modo que eu fico sem graça, sem palavras, sem chão, sem tudo. As vezes eu sou pervertida, mas quando não sou eu a falar e sim, meu melhor amigo que no caso é gay eu fico procurando um lugar pra colocar a minha cabeça e me esconder até que a vermelhidão do meu rosto suma.


E o pior é que o Lucas não faz nada a não ser sorrir, se ele pelo menos falasse algo de útil como por exemplo: Ei...não fale assim, ela tem vergonha, ou até mesmo dizer que não gosta da fruta...isso ajudaria, e muito. Eu acredito que sou a pessoa mais envergonhada no mundo nesse instante. Se eu pudesse tampava a boca do Ro e só deixara-o falar novamente quando eu soubesse, tivesse certeza absoluta de que o que ele falaria fosse produtivo.


Coloco as mãos em meu rosto e balança a cabeça tentando fazer com que ele para com isso, e eu consigo...milagre.


–Bom...meus amores, tenho que ir, meu outro amor está me ligando, beijos e não se esqueçam de mim! - a coisa louca fala enquanto se levanta e vai em direção a cantina.


Olho para o garoto ao meu lado e desejo ter ficado na sala de aula. Estar apenas com ele ao meu lado é tão estranho, normalmente nós estamos sempre cercados de pessoas...essa é a primeira vez que isso acontece. Se eu tivesse uma câmera fotográfica aqui iria registrar esse momento e escrever embaixo: Coisas impossíveis acontecem.


Olho para os lados procurando ver alguém que supostamente estaria escondido pronta para sair de algum lugar e gritar, me assustando, fazendo com que meu coração saia pela boca e no final ria da minha desgraça.


–Pela primeira vez desde que nós nos conhecemos estamos sozinhos. - Ele diz como se tivesse acabado de ler meus pensamentos, ou será que a minha testa virou um altidor?

–Pois é né...pra tudo há uma primeira vez.

–Como o nosso encontro hoje.

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–Humm...pode ser também.

–Posso fazer uma pergunta?

–Claro - respondo com receio.

–Você não gosta muito de música não é? - Mas que tipo de pergunta é essa? Como eu não respondo ele continua – É que eu pensei em compor um pra você. - Ele deu um sorriso meigo, e pela primeira vez eu tive vontade de agarra-lo. Como pode alguém ser tão...tão, não tenho nem palavras para defini-lo.

–Isso seria lindo!


Ele se aproximou mais de mim e sussurrou em meu ouvido o que deu calafrio.


–Que bom, porque eu já compus a música, no nosso encontro eu vou tocar para você.


Calma ai meu bem que eu estou passando mal e quero descer. Eu devo estar drogada, acho que nessa Coca-Cola devia ter balinha ao algo do tipo, eu não posso estar racionalizando direito. Alguém pode me dizer que ele é um tarado psicopata para que eu possa correr dessa tentação?


–Você toca?

–Sim, toco violão desde os meus sete anos.


Agora com ele falando isso eu percebo uma coisa, ele diz que gosta de mim, e eu as vezes acredito nisso, as vezes acho que ele é doido, é claro que isso não vem ao caso. que me perturba é que eu não sei nada dele e vise e versa, é quase como se o que nós estivéssemos vendo fosse uma foto, e que a pessoa nela fosse extremamente atraente.


–Lucas?

–Fala.

–Eu acho que estou mais perdida que cebola em salada de fruta!


Ele começou a rir e eu o acompanhei, parecíamos dois retardados, o que eu concordo plenamente, mas ninguém precisa saber disso. Terminei de tomar a minha Coca-Cola e antes que eu pudesse engolir o restante escuto Lucas dizer.


–E eu estou mais perdido que surdo em bingo.


E eu como ainda estava com a coca para ser engolida, comecei a rir e acabei por me engasgando e fazendo-o rir ainda mais. Ele tentando ser cavalheiro bateu em minhas costas, mas isso só fez com que eu sentisse o peso de sua mão.

Me viro pronta para xinga-lo, mas ao invés disso me vem a idéia de joga-lo no chão, e é o que eu faço e antes que ele caísse do banco ele me puxa e nós dois vamos de encontro ao chão, e agora vem a cena mais clichê que pode existir, eu caio por cima dele e nosso olhares se encontram.


E você deve estar pensando é agora que vai rolar mais um beijo entre ele, mas não aconteceu isso. Quando eu olhei em seus olhos um calafrio correu por meu corpo e o meu coração disparou, fiquei com tanto medo que não pude fazer mais nada do que me levantar e ir embora sem dar mais nenhuma satisfação; desejei que o sinal tocasse naquele momento e que todos entrassem para a sala e que eu pudesse me esconder entre a multidão de alunos, mas nada aconteceu, olho em meu relógio de pulso e ainda faltam 8 minutos para o intervalo acabar. E 8 minutos são o suficiente para acontecer muita coisa, um avião pode cair, eu posso ter um AVC, posso ganhar na loteria, posso ver uma estrela cadente e eu posso até ter um filho...agora eu brisei legal!


Quando eu penso que estou livre que ele não vira atrás de mim ele para na minha frente ofegante.

–Por quê você fugiu?

–Tenho que ir pra sala, me da licença

Ele me fitou e recuperou o folego, quando voltou a falar e já estava pronta para sair dali.

–Olha me desculpa, mas não foi culpa minha, você que caiu em cima de mim!

Claro que foi culpa dele, se ele não tivesse me puxado eu teria continuado de pé e ele teria caído da mesma maneira, mas eu não consegui falar nada para ele, não porque eu não quisesse, mas porque nada me veio em mente, resolvi sair assim mesmo, sem dizer nada. Desviei dele e voltei a andar rumo a sala de aula, queria poder sumir ali mesmo e voltar só daqui há uns quinhentos mil anos, quando todos já tivessem esquecido de mim.


Dessa vez ninguém entrou na minha frente, ou parou para falar comigo, sentei-me e coloquei a cabeça em meus braços, estava pronta para me desligar de tudo, até que percebi que faltava algo para eu conseguir fazer isso: meu fone. Abro minha mochila pego o fone e o celular e volto a minha posição inicial. Os minutos foram passando o que me pareceu uma verdadeira eternidade, mas eu estava pronta para enfrentar tudo. pelo menos enquanto o meu celular tivesse bateria, o que por sinal ainda restava bastante, então eu estou segura na minha bolha. E que se dane tudo.


Ao fundo da música que estava tocando em meu celular que por acaso é a uma das minhas favoritas: blink 182 - What's My Age Again?, pude ouvir o sinal batendo, respirei fundo e esperei todos entrarem, pedi internamente para se eu tivesse sorte que ela chegasse agora e que o Lucas não se sentasse perto de mim, não me pergunte o motivo de eu querer isso, de eu estar fugindo porque eu não saberei responder! Isso está sendo infantil, eu sei, só que eu não sei como reagir.


Acho que a frase que definiria esse momento seria: eu estou com medo.

Que vida mais complicada essa, porque eu não o beijei, eu sei que ele queria, e eu lá no fundo também queria, e porque eu não fiz isso? Seria tudo tão mais fácil, seria mais fácil do que piscar. Eu acho.

E pela primeira vez no amo minhas preses foram atendidas o Lucas sentou-se na frente junto com os seus amigos "nerds", fez exatamente como fizera assim que chegou hoje. Voltei a minha atenção a música que estava tocando e cobri os fones com o meu cabelo para que o professor não visse. E assim passei o restantes das aulas.

Quando eu ter minei de copiar a lição da lousa, que eu não tinha nenhum pingo de vontade de fazer foi no momento que a aula acabou, e como sempre todos saíram correndo parecendo um bando de animais. Mas eu continuei fazendo tudo o mais lentamente possível acho que até uma lesma seria mais rápida que eu; saio da sala crente que todos se esqueceram da minha existência e que eu irei para casa à pé ouvindo mais música e feliz da vida.

Mas todo o meu mundinho feliz desmorona assim que vejo o Lucas encostado na parede olhando para o teto e com a mochila jogada no chão.


–Oi - digo por fim.


Ele me olha e abra um sorriso.


–Pensei que tinha fugido pela janela...- e mais um sorriso para tirar a minha respiração - então, vamos?rn

–Vamos - digo baixo e com vergonha.


Andamos em silêncio até carro e continuamos em silêncio no caminho para sei lá aonde. E sinceramente isso estava me matando...odeio não ter assunto na verdade odeio ter vergonha dele. Após algum tempo vejo o asfalto acabar e as árvores tomarem conta dos dois lados da estrada, olho assustada para ele e seu semblante continua normal. E se ele estiver me trazendo para o matagal e no final ele me matar? Ahhh eu não quero morrer, eu sou muito nova para isso! Será que se eu pular do carro agora eu consigo fugir? Será que eu vou continuar viva? Ó mundo cruel.


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Mais alguns minutos depois eu vejo o final da estrada e droga chegou o meu fim. Ele tira o cinto de segurança e se vira pra mim.


–Eu descobri esse lugar assim que tirei a carteira de motorista, desde então venho sempre pra cá pra clarear a mente, relaxar.


E para matar também? seu psicopata! Não vê que eu sou apenas uma menina com vários inimigos?


–Hummm.

–Vem...- ele sai do carro e eu hesito, mas ele abra a porta para mim e eu saio do veiculo.


Adentramos um pouco na mata e eu entendo o por que dele gostar tanto desse lugar é simplesmente lindo. É um penhasco, à baixo de nós há mais mata, muitos pássaros voam sobre elas e no horizonte o céu azulado domina totalmente a paisagem, é tão lindo que não da vontade de olhar para os lados.


–É lindo!

–Que bom que você gostou...eu não sabia se você iria gostar porque as vezes vocês é mais homem do que eu e...


Ele não pode terminar a sua fala porque eu acertei um soco em seu braço, mas a intenção era no rosto.