G I R A S S Ó I S

PRESO NUMA LETÁRGIA DOENTIA, Naruto sequer prestou atenção quando o universitário cruzou as portas de seu leito, atravessando-as impetuosamente, de ombros erguidos e trazendo nas írises negras uma combinação de fúria e aflição. Ele marchou decidido na direção do colega e foi aí que os olhos cor-de-céu do rapaz miraram na direção dele. Entretanto, não foi Sasuke que o Uzumaki enxergou, mas sim a due de girassóis que seus braços carregavam delicadamente, expressando uma gentileza e carinho que não eram comuns ao Uchiha.

Foi como se os dois botões, gigantes e gloriosos, trouxessem luz ao quarto. Por isso, Naruto — em sua exaustão derivada dos remédios e o encontro com Iruka — ficou fascinado pelas flores. Elas erguiam-se tanto quanto os ombros do estudante de direito, impondo uma energia acolhedora, reivindicando o sol para si. A vitalidade delas assombrou o enfermo e ele descobriu que as palavras haviam fugido por sua boca quando percebeu que o dono daquele presente era o Uchiha.

— Elas lembram você. — Sasuke sussurrou seriamente, depositando-as cuidadosamente ao lado da cama dele. Seus dedos longos tatearam o vaso em que estavam com afeição, como se temesse que — ao menor descuido — as pétalas pudessem se desmanchar. Não que precisasse desse medo, pois em seu vigor elas exasperavam toda a glória que podiam.

Hipnotizado pelo gesto, Naruto foi paralisado pela surpresa. Os lábios ressecados abriram-se, deixando que o silêncio acompanhasse o Uchiha, cujo sentava-se no lugar que antes havia sido ocupado por Iruka. Sasuke então respirou fundo e apoiou as mãos nas pernas, cerrando-as até que os nós dos dedos ficassem brancos. Ele estava visivelmente abalado, demonstrando uma inquietação profunda, com seus olhos vacilantes, enquanto tentava encontrar as palavras certas.

— Eu te trouxe o Sol, Naruto.

O Uzumaki sentiu o coração bater forte dentro do próprio peito e o sentimento ao ouvir aquelas palavras ecoou por todo seu corpo. Ele experimentou uma confortante sensação de calor, quando os botões tão amarelos e cheios de vida lhe segredaram o significado da frase do amigo. Eram um presente genuíno de alguém que procurara algo que simbolizasse muito mais do que as palavras podiam ofertar. Ali, naquela austera due, encontrava-se a lealdade de Uchiha Sasuke. Em suas pétalas douradas escondia-se o adorável desejo de estar sempre com o funcionário do fast-food, dedicando-lhe alegrias e vitalidades.

Engasgando-se nas próprias palavras, o loiro encantou-se pela delicadeza do presente. Um amável sorriso brotou nos lábios rachados quando as lágrimas vieram aos olhos puros e ele refletiu o quanto Sasuke era diferente de todos que já tinham passado por sua vida. Aquele jovem tão ranzinza não gostava de usar palavras, pois sabia que ela de nada significavam, mas seus gestos eram quase como uma onda que se chocava constantemente contra sua alma, destruindo todas as barreiras que tentava criar, penetrando os lugares mais escuros que insistia em esconder. Extraordinariamente — como a due de girassóis —, as surpresas de Sasuke iluminavam todas as partes sombrias, colorindo o mundo preto e branco do rapaz de cabelos dourados.

— Idiota. — O Uzumaki sussurrou, deixando que as pontas de seus dedos sentissem a textura da planta. Foi ali, sentindo a vibração tão calorosa e encantadora daqueles botões, que precisou admitir o quanto Sasuke era especial para si. Ninguém jamais tinha ido atrás dos significados de flores por ele, procurando por algo que somente Naruto poderia entender, ofertando um presente que representasse tudo em apenas uma simples planta.

— Eles parecem com você. — O estudante de direito gaguejou e pareceu ao rapaz de cabelos dourados que ele se desculpava, como se achasse que o amigo tinha odiado os girassóis — É que eles reluzem a própria vida, Naruto. Isso me lembrou você.

Incapaz de achar as palavras corretas para expressar sua gratidão e com um corpo fraco demais para conseguir reunir forças, Naruto esticou o braço, deixando a mão aberta. Em segundos, as mãos cor de alabastro de Sasuke agarraram os dedos pincelados com cicatrizes, abraçando-os com cuidado e dedicação.

— É a coisa mais bela que eu já vi na vida, Sasuke. Obrigado.