Winry lembrava de como tudo aconteceu perfeitamente. Cada segundo dos momentos que passou, jamais esqueceria. Muitas angústias, muitos sofrimentos. O primeiro foi a morte trágica da primeira tenente. Quando souberam, lá pelo começo da tarde, ficaram perplexos. Como podia? A tenente sempre tão precavida, protegia o Coronel como sua própria vida. E fora isso a primeira coisa que pensaram: que ela havia morrido para proteger Roy Mustang. Edward nunca havia contado a ela, mas no fundo sabia que a ideia inicial não era muito diferente da verdadeira realidade. Depois veio o ‘’velório’’ que fora noite adentro. O enterro não teve, já que não tinha corpo. A única coisa que fizeram fora uma missa. Segundo os relatórios, ela tinha sido totalmente carbonizada pelo incêndio em seu carro, o que soava duvidoso para quem a conhecia de verdade.
Aquela fora a última vez que a protética vira o irmão Elric. Logo em seguida à cerimônia, ele levou-a imediatamente a Rush Valley. Com os fatos tão evidentes, nada ela podia fazer a não ser acatar a decisão do alquimista. Passou a noite sozinha na casa onde iria ficar. Ed não permanceu junto pois tinha definitivamente muitas coisas pra resolver na
Central. No entanto, sabia que não iria ver Winry tão cedo. Era melhor daquela forma. Menos sofrimento.

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No começo ela mandava muitas cartas, perguntando como estavam as coisas, mas nunca recebia respostas. Achava que mandava para o endereço errado ou não chegavam às mãos dele. Nunca passara pela sua cabeça que não responderia. Depois de quase desistir de mandá-las, recebera uma de Al, afirmando estar escrevendo escondido do irmão. A loura lembrava perfeitamente o que estava escrito nela:

‘’Querida Winry,

Estou escrevendo essa carta sem nem mesmo poder. Só que fico com o coração partido em ver todas as suas cartas não sendo respondidas. O Ed não quer respondê-las, mas elas chegam até nós. Só não o interprete mal, ele só está querendo proteger você, não quer mais envolvê-la nos nossos problemas. Olha só onde já está, por causa das nossas encrencas? Estou tentando dizer da maneira mais gentil possível que ele não quer mais notícias suas, está sofrendo demais por tudo o que ele já causou pra você. Mandando essas cartas o peso fica cada vez maior, a ferida nunca fecha. Dê um tempo pelo menos para tudo se digerir, já que o falecimento da tenente ainda é recente. Apenas três meses. Coitado de seus companheiros, gostaria de notícias deles.

Não me leve a mal, sempre que quiser mandar cartas, mande-as para mim. Terei o maior prazer de lê-las, mas não mais para Ed.
Acredite Win, ele está sofrendo muito.

Abraços de seu querido.”

Alphonse


E fora assim que os irmãos deram uma forma de eliminar Winry de suas vidas. Talvez porque sempre fora um grande incômodo e só naquele momento resolveram tirar o que estava atrapalhando. Mas o pior ainda não tinha vindo, já que dias depois ela descobriu-se grávida de três meses. Sinceramente, ela não se importava mais com as ameaças de Lust, porque sabia que aquele ataque contra Riza havia sido definitivo. Pra que afinal queriam agora um filho dele? Não importava, não fazia a menor diferença. O grande problema era contar a sua vó sobre aquilo. Havia passado só uma única noite com Edward e fora suficiente para carregar uma semente dele. Não sabia se era trágico ou engraçado. Foram tantos problemas que aquilo pegou-a completamente desprevenida. Ficara sem reação alguma. Não tinha a menor ideia de como começar a falar com sua vó, tudo parecia vago demais, longe demais, como se todo aquele momento no vagão com o alquimista tivesse sido há muito tempo atrás. Nada parecia ter sentido, tudo era confusamente estranho. Convenceu sua avó a passarem dois dias em Reseempool para matar as saudades, já que faziam 3 meses que nada mudava na cidade. Não em Winry.


Pinako- Winry, o que aconteceu com você? – Fumava o cachimbo calmamente, enquanto olhava o pôr do sol pela porta da sala.


Winry- Nada, vovó. Estou feliz em rever a cidade.

Pinako- Por que ainda me esconde? – Virando-se para ela, soltando a fumaça.

O coração de Winry dispara.

Winry- Esconder o que, vovó? – Tentando disfarçar, mexendo em um auto-mail quebrado.

Pinako- É do Fullmetal, não é? – Continuando na mesma posição. A fumaça acumulara-se perto dela.

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Winry gelara, como sua avó soubera? Ninguém a contou. E além do mais ela não estava quando aquele homunculus aparecera. Ed odiava Pinako, jamais contaria que passaram a noite juntos. Não havia a menor
possibilidade.


Pinako- Ande, me responda. Por que fizeste uma barbaridade dessas, Winry Rockbell?


Winry- Vovó, do que está falando? Por favor. – Limpando suas mãos no pano. Afastou-se.


Pinako – Estou falando do filho que está esperando. – Soltando a última fumaça. A garota dera uma risada trêmula.


Winry- Mas que filho? A senhora está louca. – Andava de um lado a outro da sala.


Pinako – Você acha que eu sou algum tipo de velha imprestável? Essas rugas não são para enfeitar meu rosto. Elas servem para mostrar os anos de experiência que essa velha tem. Sei exatamente quando uma mulher está prenha.


Winry- Imagina, até parece.


Pinako – Vai mentir até quando? O tempo é o seu maior inimigo.


Winry- Eu e Ed somos amigos desde crianças. – Passava as mãos na testa, aflita.


Pinako – Isso não impediu de vocês fazerem o que fizeram. – A garota já a olhava em desespero. Não tinha ninguém para dividir sua aflição.


Winry- Vovó, me desculpe! – Começara a chorar desesperadamente. – Eu não evitei. Minha nossa, quando a senhora fala assim, me sinto uma pecadora terrível. É como se fosse um irmão e eu fiz tudo aquilo.


A avó parara no meio do caminho o cigarro, olhava-a estática.


Pinako- Você jamais faria isso sem me consultar. Esse pirralho do Edward. A culpa é dele, não é? Ele te forçou a alguma coisa?


Winry- Não! – Levantou-se rápido, secando as lágrimas. Voltara a andar de um lado a outro. – Ele não fez nada, vovó. Eu é que sou culpada disso. Não sei o que fazer. – Andando novamente de um lado a outro.


Pinako – Você é muito jovem ainda para ser mãe. – Falou fria. – Quanto tempo?


Winry- Não sei, uns três meses quase.


Pinako –
Bastante tempo. Temos que ver um médico logo, minha filha.


Winry- Eu não sei o que será de mim. O que vou fazer? Estou perdida.


Pinako – E cadê ele? Por que não está aqui com você? Na hora ele estava lá, não é?


Winry- Ele não sabe. – Sentando-se no sofá novamente.


Pinako – Ainda não contou? É melhor fazer isso logo. – Apagando o cigarro no isqueiro.


Winry – Eu não vou contar. – Olhando-a fria.


Pinako – O que?


Winry- Ele não vai saber. Entendeu? Nunca vai saber da existência dessa criança.


Pinako – E por quê?


Winry- Tenho meus motivos.


Pinako – Os seus motivos não são mais contados quando se tem outro ser para cuidar. É melhor começar a mudar de ideia. Isso não vai funcionar assim.


Winry- Eu sei disso, mas não mudarei de ideia. Ele nunca vai saber.


Pinako – Minha neta, por favor. Ele vai saber de qualquer forma. Seu corpo está mudando, sua barriga vai crescer. As pessoas vão ver. Como vai esconder isso? Ficar trancada em casa? E se ele vier arrumar o auto-mail? Acha que ele não retorna em seis meses? Impossível. Ele vai te ver assim. E o que vai dizer a ele? Em?


A garota levantara novamente em pânico.


Winry- Eu não sei, não me faça tantas perguntas. Mas ele não irá retornar, tem coisas mais importantes pra fazer.


Pinako- Não importa. Uma hora ele vai voltar. Winry, essa criança é para sempre! Ela estará conosco para sempre! Você se deu conta disto? O que vai fazer quando ela nascer? Dizer que é um bastardo? Que engravidou de outro cara? Acha que ele vai acreditar nessa conversa? Ou vai dizer que é de outra família, que adotamos? Por favor. Irá sujeitar essa criatura que vai nascer ao escárnio. Vai deixá-la à margem. Sem um pai, sendo que ela tem um.


Winry- Para, chega! – Gritou, sentando-se no sofá novamente.


Pinako- Mas que grande bobagem. – Colocando o cachimbo na boca.


Winry- Eu vou dar uma volta. – Secou as lágrimas, enquanto caminhava rápido em direção à porta.


Pinako – Minha filha. – A garota parara na porta. As lágrimas ainda escorriam sem piedade por seu rosto. Respirava trêmula.


Pinako – Estarei aqui, você sabe. – A menina abaixara o cenho. Que alívio.


Winry caminhara em direção ao túmulo de seus pais e percebera que as coisas não eram tão difíceis como ela imaginara, eram terríveis. Ela chegara ao local, sentando-se no túmulo de seus pais.

Ficou a pensar: será que não foi fraca? Deixou se levar pelas circunstâncias e acabou se precipitando? Estava longe de estar arrependida, no entanto algo lhe dizia que era grave o que vinha pela frente. A entrega total a Ed foi algo pleno e único. Nem mesmo o objetivo principal do ato estragaria o momento vivido.

A insegurança estava esmurrando sua mente: e agora? E agora? Mesmo cercada de pessoas, ela se sentia só e desprotegida. Não havia mais os braços quentes e fortes de Edward a envolvendo. Turbilhões de sentimentos e uma única pergunta: e agora?

Olhava o túmulo de seus pais e retrocedia no tempo. Aquela menininha que eles deixaram e nunca mais a viram: ela mudou tanto, andou tanto, viajou tanto e no fim está aqui, querendo desesperadamente o colo deles. Eles não saíam mais do lugar, estariam sempre ali. Aguardando o próximo instante de pavor da garota para poder vê-la novamente.

E eis o momento onde a garota deixa de ser garota e vira uma mulher. Ed fizera isso. Eles fizeram. Juntos. Juntos. E agora: só. Ela estava só. Completamente só. Ou talvez com o último fio de esperança que lhe restava. Uma parte de Edward brotando em seu ventre. Naquele
instante, era a única coisa que tinha que dar certo. Era a vida que salvaria a morte.

A garota dos lindos cabelos dourados levantara e voltara para sua casa. Havia alguém que ela precisava proteger de qualquer jeito. Era seu bem mais precioso. Seu último vínculo familiar no mundo real. Sua avó, seu fio de equilibro entre o céu e o inferno. Seu porto seguro.
Passos largos e pesados eram executados a caminho da casa. O vento, o vento batia leve. Não, não era vento, era brisa. Aquela brisa que dá vontade de deitar. Aquela brisa que leva os pensamentos atormentadores embora. As conseqüências daquela noite de paixão já haviam começado. A primeira era essa: a satisfação. Teria que explicar tudo a sua avó. Não obtinha outra saída nas mãos, as coisas tinham que vir com calma para não assustar a ninguém. Nem a ela.

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