TEMPO PRESENTE – EUA


Leon não conseguia acreditar na visão que seus olhos mostravam, e muito menos nas palavras que saiam de sua boca:


“Fique onde você está...Sr.Presidente!”


Mas ele não o escutava. O Presidente continuava a se mover, com passos tortos, descoordenados. E a cabeça de Leon só conseguia gritar silenciosamente: Não não não não...não o Adam!

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“Não me obrigue a fazer isso...”


Foi mais uma súplica do que uma ordem. Mas no fundo de sua mente, Leon sabia que o Presidente Bendford estava perdido. Mesmo na pouca luminosidade da sala, o agente conseguia perceber o tom de pele acinzentado de Adam, o sangue seco no canto de sua boca, os olhos sem vida do Presidente dos Estados Unidos da América.


Leon já matara muitos zumbis, desde Raccoon City. Mas Adam era diferente, ele não era só o Presidente. Adam era seu amigo. Leon conheceu Bendford logo após o incidente em Raccoon. Bendford trabalhava para o governo dos EUA, e junto com seu parceiro, Phillip Coulson, numa operação conjunta com a S.H.I.E.L.D, ficaram incumbidos de interrogar o jovem policial. Embora Bendford e Coulson tenham sido firmes e categóricos ao deixar claro que Leon sabia demais, e que a segurança da jovem Sherry Birkin (a filha do cientista que, de uma certa forma, causara todo o incidente em Raccon e que havia sido resgatada por Leon) estava em suas mãos, ambos conseguiram convencer Leon de que esse conhecimento deveria ser utilizado, deveria ser refinado, para que Raccoon nunca mais se repetisse. Foi dessa forma que Leon se juntou ao governo, recebeu seu treinamento e iniciou a sua longa luta contra bio-terrorismo.


Mas mesmo com toda a sua experiência e seu treinamento, nada preparara o agente para o que ele via diante de seus olhos naquele dia. O dia do grande pronunciamento onde o Presidente Adam Bendford iria anunciar a público todo o conhecimento que o governo dos EUA tinha sobre o incidente em Raccoon City, colocar todas as cartas na mesa, inclusive o próprio envolvimento dos EUA nas pesquisas da Umbrella Corporation e no acidente que resultou delas, para que assim, tanto a América quanto o resto do mundo pudessem trabalhar juntos, para impedir a onda de bio-terrorismo que assolava o planeta na última década.


Pode causar mais problemas do que resolver, Adam confessara a Leon, horas antes, e o agente sabia que ele estava certo, mas admirava o desejo de que não houvesse mais segredos do seu governo, admirava a atitude de Adam e acreditava que esse era o passo certo, em direção a uma vitória que parecia cada dia mais complicada e distante.


Bendford escolhera a Universidade Ivy, de Tall Oaks para o seu pronunciamento, a cidade onde nascera e crescera e tudo parecia bem naquele dia. Todas as medidas de segurança foram tomadas, tudo, exatamente tudo parecia perfeito. Até o momento que Leon foi abordado por uma agente do Serviço Secreto com uma expressão aterrorizada, dizendo que o Presidente estava em perigo, que um ataque iria acontecer. Leon não estava de serviço naquele dia, estando na Universidade apenas para assistir o discurso de Adam, mas vendo o pavor nos olhos da agente, ambos correram em direção ao escritório que estava sendo usado por Bendford.


Foi neste momento que as luzes se apagaram, como num blackout, seguido de confusão, tiros, gritos e correria. Quando ambos chegaram no escritório, encontraram o Presidente Bendford agarrado ao pescoço do chefe da segurança.


“Não me obrigue a fazer isso...” Repetiu Leon, inutilmente ao Presidente, que agora andava em direção a agente do Serviço Secreto, que assim como Leon, não parecia conseguir as forças necessárias para puxar o gatilho.


Leon sabia que ela não iria atirar, e sabia que se não fizesse nada, a agente iria morrer. Seu dedo ainda estava tenso no gatilho, mas na sua mente, ele sabia o que devia ser feito, ele sabia o que Bendford gostaria que ele fizesse.

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No momento em que Adam avançou em direção à agente, o tempo pareceu parar, a mente de Leon aceitando a única coisa que podia ser feita, enquanto seus lábios falavam a única coisa que poderiam naquele momento:


“ADAM!!!!!”


E Leon acordou, no escuro de seu quarto, molhado de suor enquanto as mãos seguravam firme as cobertas. Um pesadelo, era o que Leon gostaria de pensar que foi, mas não foi bem um pesadelo, foi uma lembrança, ainda bem viva na cabeça do agente.


Fechando os olhos, Leon continuou a ver o desenrolar de sua lembrança: o tiro atingindo a testa de Adam, o seu amigo caindo no chão, sem vida, só mais um zumbi em meio a mais um incidente bio-terrorista. Deveria ter sido um pesadelo, mas foi real. E dali as coisas só pioraram; um acidente viral de enormes proporções que devastou duas cidades na China, a descoberta de Leon de que o ataque bio-terrorista que causara a morte e infecção de Adam fora causada pelo Conselheiro Chefe do governo Bendford, Derek C.Simmons, o qual Leon rastreou até a China, e que foi infectado com o C-Virus e morto por Leon e a agente do Serviço Secreto, Helena Harper. A morte de Adam, obviamente causada pelo seu desejo de revelar a verdade ao mundo, o que fez Simmons achar que isso enfraqueceria a posição norte-americana no conselho mundial e levaria o mundo ao caos e uma nova briga por poder.


As más notícias continuaram, no funeral de Adam, quando Leon recebeu a informação de que o governo dos EUA estava voltando atrás na posição de Bendford de revelar a verdade ao mundo, receosos de toda a repercussão que os incidentes em Raccoon City e Tall Oaks iriam causar entre as nações. Basicamente, a morte de Adam não teve significado, considerada um “horrendo ato terrorista.” O governo voltou a se esconder debaixo dos panos e de toda uma rede de intrigas relacionadas a guerra ao bio-terrorismo.


Leon ficara furioso, é verdade, mas mais que tudo isso, ficara completamente decepcionado. Uma decepção que o fazia questionar sua posição e seu trabalho até aquele dia. É possível lutar do lado certo de uma guerra, mesmo que seja apoiando a sua luta em mentiras?


No dia do funeral de Adam, Leon pode rever Coulson e naquele dia recebera do agente da S.H.I.E.L.D um convite inesperado:


“Eu sei como se sente Kennedy, eu SEI como é descobrir que o verdadeiro inimigo estava, as vezes, bem embaixo do nosso nariz. Seja Simmons, seja a HYDRA, eu sei o que é questionar aquilo pelo que lutamos tanto anos. Eu preciso de pessoas em quem eu possa confiar...e você, meu amigo...acho que precisa de algo em que acreditar. Acredite em mim, acredita na S.H.I.E.L.D, acredite naquilo que fazemos. Nossos trabalhos nunca foram muito diferentes, e acho que devemos faze-lo juntos, a partir de agora. Pense nisso, Leon.”


E então Coulson se foi, deixando Leon apenas com um pequeno pedaço de papel e um número de telefone. Isso foi há duas semanas, e Leon não conseguia parar de ter pesadelos, e não conseguia parar de pensar nas palavras de Coulson, “eu acho que você precisa de algo em que acreditar.” Leon não conseguia mais acreditar no governo, não conseguia acreditar nos engravatados covardes que haviam feito com que a morte de Adam não significasse nada. Para os covardes que haviam feito Derek C.Simmons vencer, mesmo que morto.


Talvez Coulson estivesse realmente certo, talvez Leon precise ver as coisas de outro modo, lutar essa guerra por um novo ponto de vista. O agente então pegou o celular, constatando que eram 4 da manhã, mas ele conhecia a pessoa para qual ia ligar, sabia que ele não estaria dormindo.


O telefone tocou apenas duas vezes e Leon simplesmente respondeu, depois de ouvir o “alô” do outro lado da linha:


“Que bom que está acordado Phil. Sobre aquela oferta de emprego...ainda está de pé?”