Felicity foi conversar com Sarah.

Encontrou a prima no jardim, sentada numa poltrona.

– Olá, prima!

– Felicity! Como ele está?

– Provavelmente ainda com dor, mas está sem febre. Deixei comida pra ele e enviei um criado para ajudá-lo com o banho e a trocar de roupa.

– Huum...e esse ar pensativo?

– Ele teve um pesadelo. Gritou muito e se debateu....depois se acalmou e estava chorando....disse o nome do Thommy e o meu antes de eu conseguir acordá-lo.

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– Ray me disse que muitos dos que voltaram da guerra tem pesadelos com o que houve lá. È como um trauma...Oliver quase morreu e perdeu seu melhor amigo, quase um irmão...Isso marca qualquer pessoa.

– È que eu queria poder fazer algo por ele....

Sarah olhou para a prima. Desde aquela carta que Felicity enviou para Oliver anos atrás, as duas nunca mais tocaram no assunto. Mas ela sabia que a prima guardava a sua com todo carinho, junto com o lenço que ele havia lhe dado no porto. E agora ela percebeu que Felicity guardava dentro de si e para si um sentimento profundo pelo amigo. Será que ela se dava conta? E será que ele se dava conta? Ou nenhum dos dois tinha a percepção disso tudo? Ela podia dar um jeito nisso....

– Olha...eu acho que você pode...podes dar apoio e mostrar que ele pode contar contigo....

– Mas não é certo...não posso ser vista com ele, não muitas vezes. Vão começar a falar de nós dois....

– Mas ninguém sabe que ele está aqui. Aproveite este tempo.

Quando ela retornou ao quarto, ele já estava dormindo. O criado que o ajudara falou que ele pediu um remédio para dor.

Ela decidiu deixar a conversa para o outro dia.

Na manhã seguinte ela acordou cedo e colocou um bonito vestido azul claro. Desceu para tomar café e para sua surpresa Oliver estava sentado a mesa com Sarah e Ray.

– Bom dia, Felicity!

– Bom dia, Sarah! Ray, Sr. Queen...

Ray e Oliver haviam se levantado quando ela entrou na sala. Oliver a olhou e ela parecia uma visão!

– Por favor, Felicity! Acho que aqui não precisamos sermos formais...

Ela corou levemente e ele amou aquilo.

– Certo! Como você está? Ela sentou-se de frente para ele na mesa.

– Melhor, obrigado! Ele tinha decidido agradecê-la mais tarde, quando estivessem sozinhos.

– Fico feliz.

Eles sorriram um para o outro e seus olhos se iluminaram. Sarah olhou para Ray e ele compreendeu que o que ela tinha lhe contado na noite anterior era mesmo verdade. Os dois amigos estavam apaixonados um pelo outro e nem mesmo de davam conta!

Depois do café eles foram para o jardim. O dia estava ensolarado e Oliver convidou Felicity para dar uma volta.

O jardim da casa do Ray era enorme. A grama verde era cercada por canteiros floridos e coloridos e um caminho de pequenas pedrinhas brancas ladeava esses canteiros. No final do jardim havia uma cerca verde formada por árvores antigas e de um tamanho considerável. Embaixo dessas árvores existia um caramanchão. E ali três bancos de madeira.

Felicity adorava aquele lugar. Era tranqüilo e um ótimo lugar para pensar.

Depois de andarem pelo jardim foi ali que pararam para conversar.

Ela estava sentada num dos bancos e ele sentou-se do seu lado.

– Felicity, queria te agradecer pelo que você fez por mim naquela noite. Diggle me contou que foi você que retirou a bala e cuidou de mim.

Ela estava corada, e deu um sorriso tímido.

– Sim, fui eu. Você estava sangrando e eu não conseguia ficar ali e não fazer nada....

– A maioria das mulheres teria gritado e chamado alguém....

– Bom, eu não sou a maioria das mulheres!

Ele deu um sorriso que há muitos anos ele não se permitia dar. Ela ficou encantada!!

– È, não é mesmo!! Muito Obrigado!

– Você pode me agradecer ficando longe de balas...

Ele riu.

– Sim...eu pretendo.

– E pode me contar como aquela foi parar no seu ombro.....e depois do seu pesadelo....

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– Você é bem curiosa, não é?

– Errr....sim....mas claro, se você não quiser me contar!

Ele a olhou, e não entendia porque era tão fácil contar as coisas para ela. Ele tinha certeza que ela entenderia tudo o que ele lhe falasse, sem questionar...

Oliver levantou e ficou de costas para ela.

Ela o seguiu e num gesto audacioso ela fez um carinho nas suas costas. Ele fechou os olhos e apreciou o gesto. Sentiu seu corpo reagir a ela, a desejá-la.

– Se te faz tanto mal assim, não precisa falar nada está bem? - ela estava preocupada que com sua ânsia em ajudá-lo o estivesse afastando dela.

Ele virou-se e segurou sua mão, a beijou na palma e depois a colocou em seu peito.

– Eu vou te contar o que posso certo? Há coisas, segredos que não são meus e que podem te colocar em perigo.

– Certo...

Eles sentaram-se no banco e ele começou a lhe contar.

– Durante a guerra eu, Ray, Thommy, Diggle e Slade Wilson formávamos um tipo de equipe especial. Cabia a nós descobrir os locais de munição, de detenção de prisioneiros de guerra, e os possíveis locais de ataque.

– Espera...Slade Wilson não é o homem do parque?

– Sim...ele era um dos nossos. Em 1808 a gente estava em Portugal, Napoleão havia invadido aquele país no ano anterior e naquele ano a Espanha. Nossas tropas reagiram e juntamente com os exércitos daqueles países tentamos uma reação. Nosso grupo tinha recebido a missão de ir encontrar um de nossos informantes e depois o seguir até um depósito de munição de grande proporção. Mas algo deu errado e caímos numa armadilha. Eu e Thommy conseguirmos fugir, Diggle e Ray se esconderam numas casas próximas, mas Slade foi capturado.

Ele levantou, recordar de tudo aquilo era enervante, até mesmo para ele.

– E ele te culpa por isso?

– Sim, eu estava correndo na direção do rio, Thommy e Salde estavam atrás de mim. Os inimigos começaram a atirar e eu fui atingido de raspão na barriga. Thomyy me alcançou e me ajudou, mas Slade também foi atingido. Se voltássemos iríamos morrer os três.

Ela concordou com a cabeça.

– Ele permaneceu dois anos como prisioneiro de guerra. Tentamos encontrar seu paradeiro, mas não foi possível. Provavelmente o levaram pra fora da cidade ou daquele país.

– Ele conseguiu escapar?

– Foi o que ele disse. Depois de dois anos ele voltou, estávamos nos deslocando pela península. Ele disse que conseguiu fugir. Estava maltrapilho, mas não parecia mal alimentado ou doente. Eu desconfiei. Havia algo estranho. Passamos a não revelar muito de nossas missões para ele.

– Se ele tivesse passado dois anos como prisioneiro provavelmente seria torturado, haveria sinal disso. Alguma doença, fome, hematomas...

– Isso mesmo....eu percebia algo sombrio nele. E quando abri o jogo para os outros vi que não era o único. Mas isso não foi o suficiente.

– Por quê?

Ele suspirou e ela percebeu que tudo isso levava a morte de Tommy.

– Estávamos em Leipzig, nossas forças estavam se concentrando para uma batalha decisiva contra a França. Antes da batalha final fomos convocados para uma missão de reconhecimento. Não podíamos chamar muita atenção e decidimos que somente duas pessoas do grupo iriam nessa missão...

Ele sentou e abaixou a cabeça num gesto derrotado....ela como não conseguia ver tanta dor em seu rosto bonito se aproximou e lhe acariciou as costas num gesto de conforto.

– Eu... – sua voz falhou – eu escolhi o Thommy para ir comigo....

Por isso ele se sente culpado, ela pensou. Ray havia comentado em algum momento isso.

– Não foi sua culpa....

– Fomos enganados. Era uma armadilha, quando chegamos ao local havia uns doze soldados inimigos com muita munição. No meio da batalha eu vi Thommy ser atingido e corri em seu apoio...depois o que aconteceu foi tão rápido que não consigo diferenciar muito bem....só lembro da explosão...dos cacos de vidro...do calor....da dor e...do Thommy no meio do fogo...

Ela tinha lágrimas nos olhos, sofria por ele. Instintivamente e sem se importar com o que era certo ou errado, ela o abraça.

Ele se vê em seus braços e a dor parece um pouco mais leve de agüentar.

– Eu apaguei e acordei quatro dias depois numa cama de um hospital de campanha. Diggle me tirou de lá. Ele viu Slade me seguir e resolveu ir atrás dele. Desde o inicio a gente desconfiava que ele havia trocado sua liberdade por informações sobre nossas tropas...naquele dia, ele propositalmente nos mandou para lá, por vingança, por achar que fomos os culpados por seu sofrimento...

– E ele queria que vocês pagassem na mesma moeda...

Ele estava tenso, havia mágoa e raiva, dor e tristeza no seu olhar.

– Oliver – ele segura o rosto dele entre as suas mãos – você não tem culpa do que aconteceu com o Thommy, Slade tem...você não tinha como saber que era uma emboscada...

– Mas eu escolhi levar o Thommy comigo....

– Ele já era bem grandinho e podia tomar suas decisões, se foi contigo foi porque quis, porque acreditava que vocês juntos podiam fazer a diferença lá.

Ele suspirou, ela parecia ter razão, na voz dela e do jeito que era dito, parecia fazer sentido...

– E agora ele voltou?

– Sim – ele levanta novamente – e pelo jeito ainda é informante dos franceses, ainda está tirando vantagem da guerra.

– Mas a guerra não acabou?

– Napoleão ainda está vivo, ele fugiu do exílio uma vez e tivemos graves conseqüências...tudo pode acontecer...não podemos relaxar.

– E è por isso que você levou o tiro?

– Mesmo depois de Warterloo vivemos sob tensão, o governo ainda mantém pessoas de sobre aviso para obter informações sobre qualquer movimentação francesa suspeita. Slade está sob investigação...

Oliver olha para ela. Ele acabou de despejar sobre ela um monte de informações da guerra, contou coisas da vida dele que ele nunca havia contado para ninguém....e ela continuava ali, firme, se mantendo séria e calma....o apoiando e falando quando necessário....não se abalou, só quando chorou por ele.

Ela se aproximou dele e com carinho lhe acariciou a face.

– Você precisa parar de se culpar, qualquer hora você vai achar que o Slade tem razão e vai deixar ele matar você. Você tem honra e luta por seu país, não tem porque se culpar.

Tê-la tão próximo dele fez com que ele sentisse uma necessidade de beijá-la....e foi isso o que ele fez.

Com delicadeza ele encostou seus lábios nos dela. Eram tão macios, tinham um sabor doce...um gosto de lar...

Ela suspirou, ele aprofundou o beijo e ela correspondeu...quando o fôlego faltou os dois se separaram e permaneceram com as testas encostadas.

– Felicity...