O Diário Secreto de Anna Mei

Uma noite no... Hospital? – Só uma? Acho que foram três!


Data não solicitada – Creio que ainda esteja em março, não posso ter dormido um mês inteiro...

Minha cabecinha dói, dói muito... Acho que já falei muito isso. Melhor parar.

Sinto o cheiro de flores, o que é bem estranho porque me lembro de ter perdido os sentidos há um tempo – e além disso, meu olfato é péssimo, só funciona com comida – bom, estou estranhando o fato de que não consigo abrir os olhos (estão com muita meleca, eu acho) e de que também não consigo ouvir nada. Eu posso estar cega, surda e provavelmente muda, posso não sentir nada nesse mundo, mas ainda sinto a maldita dor de cabeça...? Pode, isso?

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Acho que é oficial... Meu cérebro saiu pelo ouvido, e o suco cerebral saiu pelos olhos... Deve ser por isso que não ouço ou vejo alguma coisa. Hum, deixe ver, ah! Sinto minhas pernas! Agora, vejamos dedos... Ok, braços... Ok, mãos... Ok... Espere um pouco... Tem alguém segurando a minha mão.

Ah, espero que seja a Mandy... Ou quem sabe a Hanna... Ou talvez seja Dennis... Hãn? Ah, desculpem estou muito doente, não estou raciocinando bem!

Abro os olhos e está tudo muito embaçado, sinto várias coisas que, há cinco minutos, eu não sentia e isso é bom! – fora algo que eu sinto no meu braço direito... É algo que dói,

Tento falar algo, mas não sai.

– Anna? – nossa! Estou ouvindo ruídos! Com isso, tento falar de novo, mas não sai.

– Mei! Você acordou?! – Está cada vez mais audível!

– Anna! – Ah, não parem ruídos! Vamos lá! Força, audição! Vocês vão conseguir, ouvidinhos lindos!

– Gente, a Mei acordou! – essa voz... Mandy? Ah, eu amo essa voz! De repente mais vozes começam a ecoar, é tão barulhento que peço para que volte a ser como antes, mas alguém me interrompe.

– Shh! Ela quer falar alguma coisa – reconheço essa voz como a voz da Hanna.

– Eu sonhei com unicórnios numa casa de praia – finalmente o que eu queria falar sai! E escuto alguém bufar.

– Mei! – finalmente posso ver melhor e Mandy está se jogando por cima de mim.

– Anna! Você me deu um susto enorme! – Hanna se joga em mim também, as duas estão com a cara de choro mais fofa que já vi, os olhos azuis da Hanna mais parecem piscinas de tão molhados.

– Dá pra vocês calarem a boca um segundo? – Quem pode... Ellie? – A garota tá cansada, acabou de acordar de um coma e ainda tem que ouvir gritos...? Ninguém merece!

Ellie me defendendo? Quem diria... Ei, que negócio é esse de coma?

– Coma? – tento me levantar, mas não dá...

– Você dormiu por três dias – Gabriel fala, ah! Ele estava chorando ou é impressão minha...? Ele sempre parece tão alegre... Me perdoa, Gabriel, por ser egoísta e entrar em um coma, fazendo você sofrer!

Ah, fora isso, me sinto tão popular, com amiguinhos me visitando depois do coma!

– Como isso aconteceu? – alguém já ia responder, mas... – Mas, antes disso... – Tento levantar, mas não dá muito certo, ainda estou segurando a mão de alguém por baixo das cobertas. Então vem o mutirão tentando me ajudar, Hanna e Mandy ainda afofam os travesseiros, que mordomia. – Bom, ai! – essa dor de cabeça me ama... Por que não vai passear, sua linda? – Como isso aconteceu? – Olho pra Mandy.

– Não sei bem, só fiquei sabendo disso tudo quando Hanna me ligou – ela coça o braço.

– Por que não perguntamos ao moço que estava lá...? – Ellie dá um sorriso irônico e olha em minha direção, um pouco acima, olho e lá está Dennis, ligando o fato que ele está do lado esquerdo da cama não é difícil descobrir que a mão a qual estou apertando é dele.

– Tá, eu conto – ele suspira. – Depois que eu descobri que você estava com febre... – ele me olha, um pouco corado, e eu entendo que está falando sobre depois de ter me beijado, e ao mesmo tempo, coro e olho para o ventilador de teto, ele continua. – eu corri pra avisar sua mãe, mas ela estava falando sobre a cortina roxa da sala de vocês e parece que não ouviu muito bem, então você desceu as escadas bem apressada e parecia que estava sentindo muita dor, pelas suas expressões malignas e também dava pra ver uma aura negra e assassina pairando sobre sua cabeça... – ele respira um pouco.

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– Expressões malignas? Aura negra e assassina? – Ellie debocha – Dennis, eu acho que você anda vendo muito filme de terror barato.

– Me deixa terminar – ele faz um gesto com a mão – Então você escorregou no fim da escada e caiu, depois começou a murmurar alguma coisa, estava muito agitada, então apagou de vez.

– Eu pifei de novo – falo, nunca tinha pifado tantas vezes num ano só!

– E tudo isso aconteceu logo no dia primeiro de março – Hanna diz.

– Você tem tanta sorte de começar o mês assim – Ellie fala sarcasticamente.

– Quanta sorte a minha – respondo, com um tom de ironia.

– Bom, você deve agradecer, se eu não estivesse lá... – Dennis começa.

– Se você não estivesse lá eu não teria ficado agitada, nem te seguiria pra depois cair da escada e pifar! – resmungo.

– Então, – Hanna diz com uma expressão travessa – Vou avisar que já acordaram, vem comigo Amandha...

Amandha sai com Hanna, Ellie está conversando com Gabriel sobre algo no sofá marrom que tem aqui, estão tão entretidos que... Tem alguém me encarando.

– O que foi? – falo.

– Nada – Dennis sorri, e aperta minha mão.

– Então para de ficar me olhando! – retruco, apertando a mão dele também.

– Não dá, você passou três dias sem abrir os olhos, então é impossível não olhar... – ele pausa, e eu fico vermelha de vergonha –... os seus olhos que estão cheios de meleca – Ah, maldito!

– Se já passaram três dias, hoje é segunda? – pergunto o óbvio.

– É, e já está de noite – Ellie se intromete, – Na escola todo muito se perguntava onde estava a baixinha de cabelo colorido – ela está sorrindo, estranho, é a primeira vez que ouço ela falar sem um pingo de ironia ou sarcasmo na voz.

– Chegamos – Mandy volta, e Hanna também... Não sei o que estavam fazendo, mas quero sabe de tudo o que aconteceu nesses três dias.

– Do que estão falando? – Hanna pergunta.

– Sobre o chororô da Ellie quando soube que a Mei estava no hospital – Gabriel fala, rindo.

– Eu não chorei! – Ellie fala.

– Todos choraram – Hanna diz, mas chega perto de mim piscando – Mas Ellie foi a pior.

– Já disse que não chorei! – Ellie se defende, batendo o pé, calçado com sandálias chiques, no chão. – é que tinha alguma coisa no meu olho...

– Ah, claro que tinham – Hanna cruza os braços – Eram lágrimas...

– Hum! Vocês não prestam! Eu vou embora! – ela bufa e sai do quarto, o rosto está queimando de tão vermelho.

– Você me deixou preocupado... deixou todo mundo preocupado, quero dizer – Dennis fala depois que todo mundo inventa uma desculpa fajuta e sai. Mandy disse que ia avisar que eu tinha acordado (coisa que Hanna disse que ia fazer minutos atrás), Hanna disse que ia chamar Ellie (o que é estranho já que as duas nutrem uma relação de ódio, nojo e desespero) e Gabriel saiu do quarto sorrindo apenas.

– Fica quieto – falo, rispidamente, e ele fica surpreso, acho que esperava um pouco de doçura da minha parte – Eu sou um cocô! Eu tinha que ir atrás de você? Não! Eu poderia ficar quieta e esperar você convencer minha mãe de parar de falar sobre cortinas e me dar um remedinho com gosto de xixi de macaco e hoje eu teria ido pra escola, estaria boa de novo!

– Anna, não esqueça que você pode pifff – ele diz antes deu apertar a mão dele com muita raiva.

– E a culpa é toda sua!

– Minha? – ele quase cai.

– Seu idiota! Mesquinho! Você só me traz problemas, esse foi o ano em que eu mais pifei na minha vida! Saia de perto de mim! – solto a mão dele.

– Mas...

– Não fale mais comigo... – digo – E não faça mais “aquilo” – olho pra ele, e ele entende do que estou falando, provavelmente não entendeu a minha opinião.

– Desculpe – ele parece estar sendo sincero... Ah, eu não quero falar disso!

– Se você tivesse feito aquilo mais vezes eu não teria pifado... – murmuro, por favor, não ouça!

Ele ouviu, e está me olhando como um debiloide.

– Isso não importa agora, por que eu te odeio...

– Achei que não me odiasse – ele sorri.

– Odeio agora, odeio tanto que voltarei ao “Sakai-sama” de sempre... – falo.

– Ah, pensei que já íamos pra parte do Sakai-kun – ele fala, sorrindo de lado.

– Cala a boca – falo isso e suspiro. – Tem uma agulha no meu pulso, né?

– Tem sim.

Eu não sei o que deu nesse indigente, mas ele segurou a minha mão de novo, agora por cima do cobertor, visível para todos que entrarem no quarto, e, nesse momento, meus pais chegam com um cara de jaleco branco, óculos e uma barbicha até legal, tem olhos azuis... Esse cara é bem bonito... Se eu fosse homem, queria ser ele – pode ser por causa do coma, mas até que é plausível! O cara é bonito, é médico e tem o jaleco mais bem passado que já vi na vida, além dos óculos e da barbicha estilosa... Já pensou, se eu fosse um cara queria ser ele: Médico, rico, estiloso com as roupas bem passadas. É isso aí!

Não gosto mais desse cara! Ele disse que a “mocinha” aqui tem que ficar por mais uma noite nesse hospital em observação. A lógica voou para o espaço, porque eu já fiquei três dias aqui, tiveram tempo se sobra pra me observar, não observaram porque não quiseram, é como dizem nas músicas, nos provérbios ou nos comentários maldosos: “Você só vai querer observar uma pessoa, quando ela está prestes a sair do hospital...” Acho que a frase não é essa, mas é uma bem parecida.

Eu teria dito algo, se não fosse a vergonha maligna de todos – inclusive o médico estiloso e algumas enfermeiras – estarem olhando minhas mãe entrelaçada na de Dennis, as únicas pessoas que não se incomodam são Gabriel, que está falando com uma enfermeira, meus pais que conversam com o médico estiloso e Mandy, que está lendo um catálogo sobre como evitar doenças.

– Nós podemos ficar aqui também? – Hanna fala.

– Não, sinto muito a mocinha precisa descansar – ele afagou meu pé! Fui afagada no pé por um médico com estilo! Não se vê isso na televisão!

– Ela descansou por três dias! – Ellie fala, batendo de leve no ombro do médico – Qual é, não é como se a gente fosse sequestrá-la e levá-la pra uma boate – ele olha desconfiado para Ellie, ela tem cada de quem faria isso. Mas, por fim, suspira, vencido.

– Então tá, mas vão ter que dormir nas cadeiras e nesse sofá, que não é grande... – ele sai, junto com meus pais, que me abraçam e afagam minha cabeça antes.

– Não é como se fôssemos dormir – Ellie sussurra pra mim quando o médico sai... O que ela pretende? Será que vai mesmo me sequestrar e me levar pra uma boate?

Não sei por que eles quiseram ficar lá comigo, principalmente a Ellie que sempre se gaba por ser uma diva maravilhosa, a noite está terrivelmente chata.

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Dennis não para de me provocar, sussurrando sobre o tal beijo... E estamos de mãos dadas o tempo todo agora – vou torcer pras minhas mãos não ficarem suadas, isso seria péssimo. – Mandy e Hanna estão falando sobre alguma coisa qualquer, muito interessante – pelo menos pra elas – por sinal. Ellie e Gabriel estão conversando animadamente sobre... Sapatos? Bom, não me interessa, parece que todos já arrumaram seus lugares de dormir, Mandy e Hanna se encolheram no sofá marrom, Ellie pegou uma das duas poltronas brancas, Gabriel está num sofá, um pouco menor que a enfermeira deu escondido por achar ele fofo – viu! Não sou a única! – e Dennis está na segunda poltrona, mas, como ele está perto da cama, é só inclinar a cabeça que ele terá bons sonhos... Ele não parece estar com sono, só fica olhando para o nada, e nada de soltar minha mão... Não que eu queira, mas... Ah, ainda estou doente, posso estar delirando!

Bom, apesar de eu ter dormido durante aproximadamente cinquenta horas direto, eu ainda estou com muito sono, e a agulha com soro continua no meu pulso – não que esteja doendo muito, mas está – então é melhor eu dormir.