O Diário De Minha Mãe

O início de uma longa viagem


Mamãe insistiu para que ficasse de repouso. Realmente, meu braço estava doendo muito.

Era uma pessoa inútil sem meu braço direito, principalmente porque não conseguia escrever.

O único lado positivo de se machucar é ver Apolo fazer o que eu não posso. Arrumar as camas, varrer a casa, secar a louça e todas as outras tarefas que eu fazia para ele, incluindo terminar a faxina na garagem.

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Irritei muito Apolo por isso, e acredite, ele gostou. Estava se sentindo o "coitadinho" da casa, que fazia os serviços e ajudava mamãe. Teve a coragem de me chamar de imprestável com meu braço nesse estado. Segurei dentro de mim todos os desaforos que queria responder. Mamãe sempre disse que nestes momentos deveria usar sabedoria, como a verdadeira Atena.

Depois de uma soneca vespertina, acordei sonolenta com a porta do meu quarto se abrindo:

- Está acordada?

Era a voz de Peter. Aquela voz firme e confiante do meu melhor amigo. Eu poderia estar segurando o mundo no lugar de Atlas, mas quando ouvia sua voz, a tranquilidade era instantânea. Talvez fosse filho de Afrodite, pelo charme de sua voz. Nunca havia pensado por esse lado. Ah, mas não! Ele não tinha um ataque cardíaco quando desmanchava o penteado de seu cabelo. Bem pelo contrário, quando tocava guitarra na banda, amava desarrumar seus cabelos loiros escuros, balançando, ou melhor, sacudindo sua cabeça a ponto de quebrar seu pescoço ou ter um torcicolo, sem se importar com cabelo arrumado.

- Oi, entra aí, acabei de acordar - falei sem jeito, vegetando.

- Senhora faxineira, como vai o braço?

- Ai, eu não consigo escrever, isso me deixa profundamente irritada - revelei.

- Ops, bom saber... - resmungou Peter quase saindo do meu quarto.

- Prometo que vou me controlar, que tal? - prometi.

- Melhorou! Tenho ensaio da banda agora, passo aqui mais tarde, pode ser?

- Pode e deve! - respondi - Tenho algo que quero compartilhar com você.

- Ai, não faz isso comigo! - brincou Peter, colocando a mão sobre o peito.

- Seu bobo, tem a ver com o estado do meu ombro! - corei.

- Sim, estava brincando... - ele ficou mais vermelho que eu.

- Pombinhos, chega de papo, vamos pro ensaio Peter - falou Apolo, entrando em meu quarto.

- Pombinhos?! - eu e Peter falamos em uníssono.

- Vamos, vamos! Beijo de despedida, rápido de preferência... - insistiu Apolo.

- Apolo! Por favor! - exclamei.

- Beijo Atena, até mais! - disse Peter, beijando minha testa.

- Na testa? - falou Apolo saindo do quarto junto de Peter.

- Sim Apolo, na testa! - respondeu Peter já no corredor.

***

Ah, pelos deuses, como um banho faz bem para uma pessoa.

Tenho uma mania que já me causou muitos problemas. Saio enrolada na toalha pela casa, depois do banho, dançando, cantando e comendo. Alguns dias atrás havia encontrado Peter e Apolo na cozinha e não sabia onde enfiar a cara. Agi naturalmente, como se estivesse vestida. Apolo também agiu naturalmente, por incrível que pareça. Mas Peter se engasgou com uma pipoca ao me ver. Ah, sim! Foi um desastre! Eu não consegui ajudá-lo, se não... Bom, a Apolo só ria. Quando viu que a situação era grave, simplesmente jogou um copo de água na cara do coitado. Por incrível que pareça, Peter se recuperou.

Desta vez, nesse banho, nada aconteceu.

***

Não me contive, tive de ler o diário de mamãe.

Finalmente, vocês devem estar pensando.

Logo de cara, via-se que o diário era um velho amigo de mamãe. A não ser que ela esqueceu em um velho e duro baú, e ainda por cima em sabia que ele estava lá.

Mamãe não era extremamente fiel com ele. Não colocava datas e nem escrevia todos os dias.

Sua escrita era implacável, letra e concordância. Poucas palavras bastavam.

Na primeira página, havia um Sol desenhado perfeitamente à esquerda, onde logo abaixo estava escrito:

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Conhece a ti mesmo

Nada em excesso

Era relacionado a Apolo. Poemas... Oráculo de Delfos... Algo do tipo.

Qual a moral de começar um diário dessa maneira? Paixão por Apolo talvez... Algo difícil de decifrar. Muito bom para a primeira página.

Virei a página:

12 anos. Essa é minha idade. Uma pirralha começando um diário pessoal. Sei que não vai dar certo. Não consigo nem fazer amigos, então imagina escrever um diário?

Comecei a estudar em uma escola nova. Não tenho facilidade de me enturmar. Assim que entrei na sala de aula, todos olharam para mim com uma cara do tipo: "Que coisa é você?".

Não sou muito inteligente, só entendo de mitologia grega. Por esse motivo, os trabalhos em grupo eu faço sozinha.

Minha melhor amiga me traiu. Começou a debochar de mim por minha paixão grega. Não tenho amigos, nem na minha cidade natal, nem agora.

Já se passaram 15 dias, e ninguém veio conversar comigo, além dos professores. Pensei que tinha que partir de mim. Então fiz o que nunca deveria ter feito.

Tenho uma colega chamada Íris. Comecei a falar pra ela que seu nome na mitologia grega indicava uma deusa. Ela pareceu gostar, o que me deixou muito feliz. Talvez conquistasse uma amizade. Mas quando falei que era a deusa do arco-íris e que era mensageira dos deuses, ela ficou profundamente magoada, porque ela tinha fama de fofoqueira, então nunca mais falou comigo.

Não consigo, literalmente, fazer amizades.

Esse é um motivo de começar uma amizade com um diário.

Estava assustada com tudo que mamãe escreveu. Ela sempre foi uma pessoa comunicativa, mas nesse momento de sua vida, ela passou por grandes dificuldades.

Só não continuei lendo, porque Peter veio aqui em casa, conforme combinado. Veio com um violão, tocando e cantando minha música preferida.