O Destino do Amor

Capítulo 24 - Arranque meu coração


- Você vai realmente me contar tudo? – ele perguntou quando ela sentou-se ao seu lado na carruagem. – Não vai omitir nada?

— Tudo. Cada detalhe. – ela concordou ainda insegura de como fazer isso – Mas você vai ter que me prometer que ouvira toda a história sem fazer perguntas ou comentários. E que vai tentar... compreender...

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Ele franziu a testa. Não estava gostando nada daquele começo.

Ela permaneceu calada, séria, a espera. Jon a olhou de lado aguardando. Annie nada disse.

Cruzando os braços sobre o peito ele perguntou:

— Vai contar? Ou vou ter que descer e perguntar a Mitchell?

Annie suspirou e se recostou no banco, levemente incomodada com a teimosia de Jon. Há poucos minutos eles estavam bem. Se abraçando, trocando carinhos e confessando que se amavam. E agora, ele estava ali, bancando o menino teimoso.

— Você vai prometer?

— Annie, Annie, Annie... – a voz firme demonstrando a pouca paciência - Você me leva ao limite!

Ela sorriu suavemente enquanto ele recostava a cabeça no forro da carruagem. Em uma expressão de desistência.

— Prometo! – falou por fim, dizendo a si mesmo que essa seria uma daquelas promessas difíceis de serem cumpridas.

A carruagem começou a se mover em direção a residência deles. Jon pediu a Andrew que seguisse pelo caminho mais longo. Não queria falar sobre aquilo em outro lugar, ou chegar ainda irritado em casa. Quando eles descessem dali, tudo deveria estar definitivamente resolvido. E ele saberia se arrebentaria ou não a cara de Peter Mitchell.

Annie se acomodou, tentando ficar quase de frente para ele. Aquele assunto não seria nada agradável. Especialmente a última parte, aquela parte que lhe pesava na cabeça e no coração. O beijo. Entretanto, tudo deveria ser dito, nada poderia ficar para trás.

Mas, como começar? Por onde começar?

Pelo começo! Mas que começo?

— No nosso noivado... – ela deu inicio à fala e ele a olhou firme pronto a perguntar o que acontecera no noivado que ele não soubesse. – quando eu lhe contei que estava apaixonada por alguém...

— Eu já sabia que você estava. Pelo jeito como me tratava, só poderia estar caidinha por outro senhor perfeito.

— Jon! – ela o chamou exigindo que ele cumprisse a promessa de se manter calado.

Ele respirou fundo e moveu a mão, indicando que ela continuasse.

— Até aquele momento, o único homem que conheci que me atraiu, até porque não conheci muitos, foi realmente...

— Peter Mitchell. – ele falou o nome produzindo uma careta de desagrado, e ela quase riu baixo para evitar que seu marido considerasse o gesto como provocação.

— Sim, Peter, e você não para de falar!

Ele estendeu as mãos para a frente num gesto nervoso.

— Então pare de fazer suspense.

— Desse jeito não terminaremos nunca a conversa. – ela reclamou.

— Culpa sua, se me dissesse logo o que aconteceu, esta conversa já teria sido encerrada.

— Só que não posso falar no que aconteceu hoje, sem que você saiba o que aconteceu antes...

— E o que aconteceu antes Annie? – ele se inclinou para a frente fixando os olhos nos dela.

— Nada. Nada além de uma garota inexperiente que acreditava estar apaixonada pelo homem perfeito, como você falou. É claro que Daisy incentivou a afeição quando me contava coisas sobre Peter...

Ele não perderia aquela chance:

— E incentivava sua aversão a mim contando coisas horríveis a meu respeito.

— É. – ela não poderia mais negar.

Ele balançou a mão em um gesto que indicava que já sabia disso.

— Continue...

— Peter e eu nos falamos pouco, apenas conversas rápidas em encontros rápidos. Só dancei com ele uma vez, no nosso noivado.

Ele lembrava disso. E agora sabia que aquele sentimento que tanto o incomodara na festa ao ver o casal dançando, muito se assemelhava ao ciúme que sentia naquele momento ao ouvi-la falar sobre Peter e seus sentimentos por ele.

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— E... – ai vinha algo que ele não gostaria de ouvir – só tivemos uma conversa mais íntima quando nos encontramos no parque, poucos dias antes do nosso casamento... e ele tentou dizer que...

— Que? – talvez ele já soubesse, provavelmente fora por causa dessa conversa que o maldito Mitchell o enfrentara no clube com aquela pose toda.

— Que me amava...

Jon soltou um riso nervoso. Aquele gesto de cavalheiro apaixonado pela garota prestes a casar com o monstro definitivamente era tudo o que Annie precisava para colocar seu sentimento e o homem que o despertara num pedestal inatingível.

— Mas, não permiti, o deixei parado no parque e voltei para casa.

Se outra mulher lhe dissesse isso, ele não acreditaria, mas Annie. Era possível que tivesse sido assim. Mesmo assim, Mitchell deveria ter alguma segurança para se achegar assim, tão tranquilamente a uma mulher que estava prestes a se casar e lhe confessar seu amor.

— Ele sabia que você o amava?

Ela desistira de impedir que ele se manifestasse.

— Não sei... nunca falei nada.

— E sua amiga? Ela sabia dos seus sentimentos não sabia?

— Sim, ela sabia.

Annie não precisava lhe dizer, Daisy entregara a amiga de bandeja para Peter.

Sua esposa, alheia aos pensamentos dele, ainda tinha mais coisas para contar.

— Então, ele foi mais afoito do que simplesmente me interpelar no parque.

— O que ele fez?

— Me enviou uma carta, onde confessava seu amor e sua devoção a mim.

— Ah! – não era de admirar que Annie estivesse tão dura e tão distante nos primeiros dias. A ilusão daquele homem perfeito apaixonado e devotado a acompanhava. E enquanto isso, ele, o marido odiado, agia como um completo idiota, tentando ganhar a situação apenas porque estava casado com ela. – Onde está essa carta agora?

Annie titubeou e ele teve um mau pressentimento.

— Você guardou? – era inacreditável.

— Guardei.

— Como se fosse a relíquia de um amor impossível! – ele debochou, aquela conversa estava lhe fazendo mais mal do que bem. - Ainda a tem?

— Sim.

Estava difícil confrontar aqueles olhos escuros a examiná-la minuciosamente.

— Por quê? – como se ele não soubesse a resposta.

— Porque, ingenuamente, eu acreditava que ainda o amava... mas hoje...

— Hoje você descobriu que não o ama mais. – aquilo parecia um conto, um conto fantástico daqueles que ele lia na biblioteca da escola. Totalmente irreal.

Movendo a cabeça negativamente Annie continuou esclarecendo a situação:

— Não, hoje eu descobri que nunca o amei... descobri que não sabia o que era amar...

Desta vez Jon nada teve a dizer em contrario. Ela o encarava direta e firmemente, como sempre fazia quando conversavam, desde a noite do noivado.

— E o que aconteceu exatamente para que você fizesse essa descoberta?

— Ele me beijou. – não havia outra forma de dizer isso.

As expressões se modificaram no rosto de Jon. Primeiro ele pareceu não acreditar no que ouvia. Depois, seus olhos levemente se fecharam, a boca se apertou e a respiração acelerou.

— Ele... ele a agarrou a força?

Ela suspirou baixo, movendo a cabeça negativamente.

— Eu permiti o beijo.

Os olhos de Jon se fecharam num gesto lento. As mãos se apertaram contra os braços. E ela acreditou que realmente o levara ao limite. Mas precisava continuar falando:

— Quando ele me beijou, percebi que não sentia nada... nada do que imaginei que sentiria. Nada do que sinto quando você me beija... quando você me toca... – ele não reagia as palavras dela, novamente as lágrimas travaram na garganta – hoje eu percebei que se não sentisse nada por você, não teria permitido que se deitasse comigo na nossa primeira noite, que não teria me sentindo tão perdida e abandonada quando você me deixou sozinha em meu quarto e seguiu para o seu... que nossos momentos juntos não seriam tão... maravilhosos... e que meu desejo de estar sempre com você não existiria.

Ele finalmente abriu os olhos, aquelas palavras poderiam ter apagado aquelas outras quatro: eu permiti o beijo. Mas, não, elas se repetiam em sua mente como uma sentença: eu permiti o beijo, eu permiti o beijo. Annie estava sentada muito perto dele, e seu rosto estava molhado pelas lágrimas. Um soluço escapou pelos lábios dela. E ele lembrou da noite de núpcias quando a ouvira chorar por um bom tempo.

— Nunca... amei Peter... – ela falou com a voz entrecortada pela emoção – Você é o único a quem amo... e espero que possa me perdoar por ser tão estúpida...

Perigosamente silencioso, Jon a olhava firme, sem se mover, como se nada do que ela dizia fizesse algum efeito sobre ele. Annie mudou de posição se afastando levemente.

— Daisy... – ele falou por fim em um tom seco e distante. – O que mais ela fez além de contar a Mitchell que você o amava?

— Ela enviou o bilhete através de Leisa... e hoje, ela me chamou para ir a biblioteca... – Annie começou, apertando as mãos uma contra a outra. Certamente que Daisy tinha sua parcela de culpa no que acontecera. Mas era fato que ela Annie era a principal responsável por sua infelicidade naquele momento. – disse que queria me contar algo que lhe acontecera.

Jon nada disse, continuou a olha-la de lado, esperando a continuação.

— Quando entrei, me deparei com Peter a minha espera. Ela saiu e me deixou sozinha com ele... tentei sair da peça, pedir a ele que... – se colocar na posição e vitima não era algo que deveria fazer. Ergueu o queixo firme, secou as lágrimas, assumir suas responsabilidades em tudo aquilo era o mínimo que poderia fazer, e só depois continuou: – ele disse que me amava, e me beijou, eu permiti o beijo, depois... depois o afastei e falei a ele tudo o que disse a você...

— O que você disse a ele?

— Disse que amava você e ameacei contar ao seu pai caso ele se aproximasse de mim novamente.

— Você bateu em Daisy?

Annie desviou os olhos, lembrando da expressão no rosto da “amiga” quando sua mão a atingiu.

— Dei um tapa no rosto dela quando...

— Quando? - ele perguntou sério.

— Quando percebei que estava sendo manipulada para atingir você...

Seus olhos se encontraram. Jon estava distante. Pensativo. Ela queria saber o que ia naquela cabeça. Os olhos dele se moviam lentamente sobre os dela, em uma análise fria antes de continuar:

— Então você voltou para o salão... me impediu de quebrar a cara de Peter dizendo que me amava.

Pelo modo como ele falava parecia que ela usara de uma mentira para afastá-lo de uma possível briga.

— Não foi um subterfúgio. – ela disse séria. – É a verdade... talvez você não acredite. Não vou culpa-lo se não acreditar em mim. Só o que posso lhe dizer é que é real...

Ele desviou novamente os olhos. Encarando a rua escura e os postes com suas lamparinas a gás através pela janela, estavam perto de casa. Annie lhe dissera tudo o que sentia, tudo o que pensara e agora...

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— Antes de voltarmos para esta casa, quando dormimos na sua cama pela primeira vez, eu tive um sonho – ela começou atraindo a atenção dele novamente – um sonho agitado e nervoso. Peter estava nesse sonho e você também... e... você o matava. – ele se surpreendeu com o teor do sonho, mas antes que dissesse algo, Annie continuou – Não compreendi nada naquele dia, fiquei apenas com medo, medo que você...

— Que eu matasse Peter.

— Sem perceber que já havia feito isso.

Os olhos do marido se apertaram mostrando que não entendia o que ela queria dizer, Peter estava bem vivo. Tão vivo que fora capaz de beijar sua esposa.

— O que eu achava que sentia por Peter já estava morto. E o responsável por isso era você... eu amo você Jon... – ela levou a mão tocando no braço dele.

Precisava de um abraço como aquele que trocaram minutos antes, quando tudo parecia que terminaria bem. Precisava e um beijo, do toque das mãos quentes de seu marido. Sentir próximo de si o aroma de campo e charuto que o acompanhava sempre.

A carruagem parou. Ele ainda nada dissera. Continuava a olhá-la sério e frio, provocando uma aperto no peito de Annie e a ânsia de chorar novamente.

- Hawkins! – alguém gritou do lado de fora e imediatamente a voz nervosa de Andrew foi ouvida.

— Hawkins! – se repetiu mais alto desta vez.

Jon se esticou diante dela e observou a rua antes de dar um suspiro irritado.

— Fique aqui! – pediu saindo rapidamente, ela ia segui-lo, mas ele empurrou a porta fechando-a lá dentro.

Nervosa Annie puxou um pouco mais a cortina, querendo identificar o que estava acontecendo do lado de fora. Andrew estava parado diante de um homem em torno dos quarenta anos, bêbado que gritava e gesticulava muito. Parecia furioso.

A luz fraca do poste mostrava que a casa deles estava fechada, ninguém veria o que estava acontecendo ali. Ela pensou nervosa.

Jon, quase de costas para ela, movia as mãos como se falasse algo enquanto o outro o encarava. Annie girou a maçaneta da porta na tentativa de sair. Jon percebendo o movimento, a empurrou de volta, evitando que a mulher saísse.

— Você é um maldito canalha... um bastardo... infeliz e calhorda... – o homem gritava com a voz embargada pela bebida.

— Dickinson. Você esta bêbado, vá para casa, Andrew o levará... conversamos outra hora... quando você estiver sóbrio.

Andrew tentava se aproximar do homem, mas não conseguia, era sempre atingido por um tapa ou soco.

Annie via a mão de Jon a prender a porta, evitando que ela saísse, e tomou a direção da outra.

— Você é um infeliz... – ela ouviu assim que atingiu o ar frio da rua. – Aisley está grávida... e todos sabem que o filho é seu...

As pernas de Annie travaram ao ouvir isso.

— Não vejo sua mulher há mais de um ano... – Jon falou firme e rapidamente. – Esse filho pode ser de qualquer um dos outros amantes que ela continua mantendo.

A petulância de seu marido era assustadora ela pensou enquanto fazia a volta na carruagem.

Sir Dickinson era um homem de estatura mediana, de poucos cabelos, mas de rosto bonito. E estava visivelmente bêbado.

— Todos sabem que o filho é seu.

Aquilo não era verdade. Só Aisley poderia ter dito tal coisa. O que aquela infeliz queria? Perturbar sua vida? Agora só lhe faltava Annie acreditar naquilo.

— Se Aisley está esperando um bebê, essa criança não é meu filho... – Jon repetiu e só então percebeu a presença de Annie perto dele.

— O que está fazendo aqui fora...? Mandei você ficar lá dentro...

Ela o olhou nervosa.

— Eu não posso! – e se voltando para o homem tentou argumentar: - Sir Dickinson... meu marido está falando a verdade...

Os olhos embaçados do homem a encararam direcionando a raiva para ela.

— Você, sua menina idiota... acredita nesse mentiroso ardiloso infiel?

— Saia daqui Annie... – Jon a empurrou para trás enquanto ela fazia forças para ficar perto dele. – eu resolvo isso...

Andrew de repente desabou no chão, de costas, quase sob as patas dos cavalos. Annie olhou em direção ao Visconde e percebeu que ele estava armado. Seu coração se agitou no peito.

— Eu disse... disse a você que deveria se manter longe da minha mulher...

Ameaçadoramente ele erguera a pistola em direção Jon.

— Dickinson... se acalme – Jon começou em um tom mais ameno, retrucar a um homem bêbado não era a mesma coisa que enfrentar um homem armado – Vamos conversar com calma...

O outro parecia decidido.

— Não adianta falar com você... vou é acabar com sua vida... assim nenhum outro homem terminará como eu...

Annie tentou se aproximar de Jon, ele novamente a empurrou, os olhos agitados e nervosos ao pedir:

— Fique longe de mim...

— Não! – ela gritou sentindo as lágrimas escorrerem por seu rosto, nunca sentira tanto medo por outra pessoa na vida. – Não vou sair daqui Jon.

— Annie... não posso resolver isto com você aqui.

Ele não percebia que o Visconde não queria resolver nada? Ninguém conseguiria dissuadir o homem de fazer o que viera fazer. Ela podia ver isso. Por que Jon não entendia?

— Cale a boca! – eles ouviram o homem gritar. – Sua estúpida vou livrar você desse monstro...

Ela encarou o homem, tinha vontade de saltar para cima dele, mas era impedida pela mão de Jon que a segurava longe de si. Então, ela acreditou ver um vulto, alguém que se aproximava por trás. Graças aos céus, era um guarda noturno. Pensou aliviada.

— Dickinson... – Jon voltou a falar de forma suave – Vamos entrar em minha casa...

— Não vou entrar na sua casa... – ele falou erguendo a pistola um pouco mais.

Nesse momento tudo aconteceu ao mesmo tempo, Andrew se agarrou às pernas do Visconde, o guarda noturno se aproximou o suficiente para interpela-lo e um disparo se ouviu. Annie cobriu os ouvidos assustada com o estampido forte enquanto sentia a mão de Jon se afastar de seu braço, o corpo dele cambalear para a frente e cair, inerte na calçada.

Seu coração parou, sua respiração parou, ela não soube como, ou quando, mas logo esteve ao lado dele, no chão, vendo uma poça de sangue se formar sob os cachos castanhos.

Aquilo não estava acontecendo. Era um sonho. Um sonho ruim.

— Sir Hawkins... – Andrew se ajoelhou ao lado deles chamando por seu marido sem obter resultado.

Annie ergueu os olhos e viu a imagem borrada do cavalariço diante de si. Outras pessoas surgiram de repente, Hilda, alguns criados, a confusão era geral a sua volta. Mas, Jon continuava caído na calçada com a cabeça apoiada em uma poça de sangue.