O Clube Dos Cinco

About Larry Kentwell


– CAPÍTULO TREZE –

ABOUT LARRY KENTWELL

– Tem uma coisa sobre o Larry que eu preciso te contar.

Cato mal dissera aquelas palavras, Clove sentiu o coração afundar pela segunda vez. Pelo tom de voz, a tal "coisa" que Cato queria contar sobre seu irmão, não deveria ser nada boa.

– Confessa, campeão! – Marvel não perdeu a oportunidade de provocar Cato. – O Larry era seu namorado? Ele te chutou e por isso você mandou o cara pro hospital?

– Ai meu deus... – Glimmer comentou chocada.

– Foi você que quase afogou o Larry Kentwell? – Peeta perguntou no mesmo tom.

Mas Cato estava pouco ligando para as provocações de Marvel e os olhares de reprovação de Peeta e Glimmer. O que lhe preocupava ali era a reação de Clove, que ele sabia que seria a pior de todas.

– O QUÊ? – Clove esganiçou-se, olhando para Cato sem acreditar. – Foi... VOCÊ?

– Clove... – Cato pediu, olhando para o chão. As palavras pareciam ter sumido. – O Larry foi o motivo da minha detenção. Não era assim que eu queria te contar, mas...

– CONTAR O QUÊ? O BULLYING QUE VOCÊ FEZ COM O MEU IRMÃO? – Clove respondeu aos gritos. – Eu não quero ouvir mais nada!

– Mas eu vou falar – ele disse com firmeza, ignorando o pedido dela. – Não espero que isso mude alguma coisa, e se você não quiser mais olhar pra minha cara, eu vou entender.

Clove continuou de cara virada quando Cato prosseguiu:

– O mais idiota de tudo, é que eu só fiz esse bullying com o Larry pra tentar agradar o meu pai – ele confessou, olhando para os demais já que Clove ainda não o encarava. – Eu torturei aquele garoto, porque eu queria que o meu pai me achasse o máximo... O meu pai vivia falando de como ele era nos tempos de escola, das coisas que ele aprontava. Aí eu pensei que ele deveria estar desapontado comigo, porque eu nunca tinha feito nada parecido.

Cato emitiu um suspiro, antes de continuar com o desabafo.

– Um dia, eu e meus amigos entramos no vestiário. – ele reviveu a lembrança com pesar. – O Larry estava lá, se vestindo, bem perto da gente. Ele é tão fraquinho, tão pequeno... Naquela hora eu comecei a pensar no meu pai, nas coisas que ele diz sobre fraqueza, nas coisas que ele fez quando estudou aqui... Aí do nada, eu pulei em cima de Larry e arrastei o garoto até a privada mais próxima. Ele nem reagiu quando eu enfiei a cabeça dele na água; os meus amigos começaram a rir e me aplaudiram, então eu enfiei a cabeça do Larry na água de novo; eu fiz isso um monte de vezes, até perceber que ele estava se afogando, de tanto engolir aquela água suja...

Ao ouvir aqueles detalhes, Clove soluçou, sem conter o choro. Glimmer segurava a respiração e Peeta nem piscava.

– Depois que levaram o Larry pro hospital – Cato continuou, visivelmente envergonhado –, quando eu estava aqui na sala do Snow, eu só conseguia pensar na vergonha e na humilhação de ter que explicar tudo pros pais do Larry....

Cato fez uma pausa, mas ninguém se manifestou. Todos seguiam em silêncio, talvez chocados demais para falar. Ele mesmo se sentia surpreso por ter compartilhado sua história, uma vez que ele jamais havia pensado em fazer isso, principalmente diante daqueles estranhos até então.

– O Sr. e a Sra. Kentwell ficaram ali me encarando, mas eu nem consegui pedir desculpas. Porque eu nem sabia como me desculpar por ter feito aquilo com o filho deles. – ele voltou a falar, estando ele próprio à beira das lágrimas. – O que eu ia dizer? Que foi tudo porque eu queria imitar o meu pai? Se vocês soubessem o quanto eu odeio esse homem... Ele é uma máquina que eu não reconheço mais...

Cato imitou a voz de seu pai:

"Cato, você tem que ser o melhor! Eu não tolero perdedores, você tem que ser o orgulho da família! Só a intenção não conta, você tem que ser o campeão! Vença, vença, vença!"

– Ele é um grande filho da puta... – Cato disse resignado. – Às vezes, eu queria me machucar feio pra não poder lutar nunca mais e então ele teria que me esquecer...

Inesperadamente, algumas palavras de apoio vieram de Marvel.

– Acho que o seu pai e o meu deveriam se conhecer e marcar um jogo de boliche... – Marvel comentou sem deboche pela primeira vez, o que fez Glimmer lhe dirigir um breve sorriso terno.

– É – Cato concordou inexpressivo, ainda preocupado com a reação de Clove. Ele a chamou: – Clove, diz alguma coisa, por favor...

Clove ainda estava processando todas aquelas informações. Talvez ainda estivesse sob a adrenalina que as descobertas sobre Nora causaram em seu sistema nervoso, mas ela não conseguia encontrar um raciocínio lógico que a levasse a aceitar os motivos de Cato como justificativa pela forma que Larry havia sido tratado. Afinal, como o próprio Cato dissera, o desabafo dele não mudaria o que aconteceu, muito menos o fato de Larry ainda estar hospitalizado e respirando com ajuda de aparelhos. Na verdade, ela ainda não sabia o que pensar de tudo aquilo.

– Eu não sei – Clove disse com sinceridade, levantando-se da poltrona de Snow; quando Cato voltou ao olhá-la nos olhos, ela disse com mágoa: – Eu me abri com você, eu te contei coisas da minha vida, e o tempo todo você foi o responsável pelo que houve com o Larry... – ela prosseguiu com dificuldade, as palavras saindo entrecortadas. – Mas agora eu só consigo sentir ódio de você!

– Clove... – Cato tentou argumentar de novo, chegando mais perto dela, mas foi em vão.

– Me deixa em paz! – Clove disse agoniada, saindo da sala num rompante.

Cato fez menção de ir atrás, mas Peeta interferiu.

– Cara, deixa a garota esfriar a cabeça, primeiro – ele disse como se fosse óbvio. – Já tava difícil pra caramba antes de você falar do irmão dela, imagina agora...

– O Peeta tem razão – Glimmer concordou. – Deixem comigo – ela comunicou, antes de sair da sala.

Assim que a porta bateu, Cato tornou a falar.

– Estraguei tudo, não é? – ele perguntou para Marvel e Peeta.

– Relaxa, campeão. Você nem sabia que o Larry era irmão dela – Marvel disse, encorajando-o.

– Mas você pegou pesado contando isso agora. – comentou Peeta e quando Cato o olhou sem entender, ele explicou: – Quero dizer, ela já tava abalada com a história da mãe perdida, e você ainda joga essa bomba em cima dela? Cadê a sua sensibilidade? Ninguém aguenta tanta pressão de uma vez só...

– Pensei que sinceridade contasse alguma coisa. – Cato respondeu. – E o que você sabe sobre isso, pãozinho? – ele devolveu a pergunta com irritação. – Você nem sabe o que é viver sob pressão...

Eu não sei viver sob pressão? – Peeta indagou apontando para si mesmo. – O Snow achou uma arma no meu armário, e você ainda acha que eu não sei o que é ser pressionado?