O Amor Pode Dar Certo

Capítulo 13 - Parte 4


– Eu preciso de você... – Ele falou por fim, antes de colar seus lábios nos dela. Iniciando um beijo calmo e apaixonado, ali mesmo, na biblioteca.

Lizzie se assustou, aquilo era inusitado demais, muito surreal, por um segundo ela pensou que aquilo era um sonho, era bom demais para ser real. Porém, percebeu que seu coração batia acelerado, um friozinho desconfortável invadia seu estômago e suas pernas estavam bambas, ela sabia que se John não a estivesse segurando pela cintura enquanto a beijava e se ela não estivesse encostada na estante da biblioteca, ela provavelmente teria tido sérios problemas para se manter em pé. O coração de Lizzie batia rápido, ela sentia todos os sintomas que um primeiro beijo pode oferecer, e ainda melhor, já que essa era uma atitude totalmente inesperada de John. O beijo era calmo, doce e apaixonado. John pediu passagem para aprofundar o beijo e Lizzie mesmo que inconsciente permitiu. Um simples toque das línguas fez Lizzie voltar a realidade. O que ela estava fazendo?? Quero dizer, o que o John estava fazendo? Lizzie partiu o beijo assustada e voltou-se a olhar John. O garoto fechou os olhos e respirou fundo, mas nenhum dos dois se atrevia a falar nada. Lizzie respirava ofegante enquanto sentia seu coração voltar a bater normalmente, e John olhava para todos os lados, menos para a garota à sua frente. Ele não se arrependia do que tinha feito, longe disso, porém, o garoto não sabia se a reação de Lizzie em ficar calada era um sinal positivo ou negativo. O silêncio, porém, era auto-explicativo.

– Eu... Eu... – Lizzie tentou falar, mas não conseguiu achar nada que completasse a frase. Ela estava confusa, muito confusa. Mil e um pensamentos passavam por sua cabeça ao mesmo tempo. Ela tentava organiza-los, porém, eles pareciam se misturar ainda mais.

Ouviu-se então o barulho de uma porta sendo aberta. Alguém havia entrado na biblioteca. Era Mike. O garoto olhou para John e para Lizzie confuso, porém, logo se voltou para o aniversariante.

– John, acho melhor você ir lá para fora... A sua namorada, quero dizer, a sua ex-namorada... Hum... A Anabela está lá fora... e, bem, ela e a Clara não parecem estar se dando muito bem. – Mike falou coçando a cabeça.

John olhou para Lizzie e em seguida para Mike e depois saiu apressado, sem falar mais nada. Depois que John saiu é que Lizzie pôde voltar a respirar normalmente.

– Hum... Lizzie, você está bem? – Mike perguntou, desviando Lizzie de seus pensamentos.

– Er... Acho que sim... Não sei... – Lizzie falou com a voz meio rouca, já que passara um bom tempo sem falar.

– Você está meio pálida. – Mike comentou enquanto os dois saiam da biblioteca.

– Não é nada... Mas, me conta, o que a Anabela está fazendo aqui? – Liz tentou voltar ao seu humor de sempre, mas estava sendo difícil.

– Sei lá, sei que ela apareceu aqui... Então a Clara foi falar com ela, dizendo que ela não havia sido convidada, e então começou uma discussão, as duas estão lá, brigando... A Clara não tem jeito mesmo...

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– Anabela, o que você está fazendo aqui?? – John perguntou sério e tentando se concentrar na conversa, porém, a todo o momento vinha a lembrança da biblioteca.

Anabela, que antes estava discutindo com Clara, se vira para John, sorrindo, como sempre.

– John!!! Feliz aniversário!! – A garota se joga nos braços de John, porém, ele tira os braços dela de seu pescoço e a olha sério.

– O que você está fazendo aqui? – John pergunta novamente, enfatizando cada palavra.

– Ah John, qual o problema? É seu aniversário, sou sua amiga, sua ex-namorada, não posso?

– Não quando você não é convidada...

– Mas isso era um aniversário surpresa, nem você sabia... Então...

– Então nada. A Clara organizou, mas isso não significa que eu aceitei todo tipo de convidados na minha festa. – John falou sério.

– E isso é jeito de falar comigo? – Anabela perguntou parecendo chocada com a grosseria de John.

– Anabela, estou sem paciência... Você já brigou com a minha irmã e está mais do que obvio que você é pouco desejada nessa festa, então é melhor se retirar antes que eu perca a minha paciência.

Anabela ficou parada, estática. Nunca ouvira John falar assim com ela e ela não entendia o que havia feito de errado. John, ao contrário, não entendia o que Anabela estava fazendo na festa, ele deixara bem claro, na noite anterior, que não queria mais nada com ela.

Lizzie e Mike chegaram até onde estava John e Anabela. Os dois assistiam a toda a cena calados e Clara foi se juntar a eles.

John respirou fundo, olhou mais uma vez para Lizzie e concluiu:

– Anny, por favor, vá embora, depois a gente conversa...

Terminado de falar isso ele saiu, dirigindo-se para onde estava a irmã e os amigos. Porém, Anabela estava inconformada, ele não poderia fazer aquilo com ela, não na frente de todos. Ela percebeu o modo como John olhava para Lizzie e como ela estava sempre perto dele.

– É ela, não é? Essa sua amiga... É dela que você está gostando, não? – Anabela não gritou, mas também não falou baixo, falou o suficiente para John e a própria Lizzie escutarem. Lizzie demorou um pouco para perceber que Anabela estava se referindo a ela e se assustou com a menção. Aquelas frases foram suficientes para chamar a atenção de John e faze-lo se virar para Anabela.

– Não acredito que você me trocou por ela... – Anabela meio que ria, irônica.

– Não te troquei por ninguém... A gente acabou, se lembra? – John também resolveu ser irônico.

– E você nem nega... Você gosta dela... Gosta sim... Você me trocou por ela... Por uma qualquer. Você trocou Anabela Martins por quem? Uma garota qualquer! - Anabela não queria magoar Lizzie, não queria mesmo, essa não era sua intenção. Ela estava magoada com John e queria provocá-lo, deixá-lo com raiva. E conseguiu, sendo que junto com isso, ela também deixou Lizzie muito magoada com suas palavras.

– Já falei que não te troquei... E ela não é uma qualquer! – John se segurava para não gritar, para não explodir. Ele olhou para Lizzie, que estava chocada com as palavras de Anabela, assim como Mike e Clara. Clara abraçou Lizzie e tentou tira-la de lá, porém ela não quis sair. Ela tinha que escutar tudo.

Os olhos de Lizzie já estavam começando a se encher de lágrimas, ela não costumava chorar com facilidade, mas aquelas simples palavras a afetaram mais do que ela podia imaginar.

– O que ela tem de tão especial? Nem é tão bonita... Inteligente eu não sei, aliás, você sempre teve um fraco por meninas inteligentes, me lembro bem disso... Ela parece ser tímida, daquele tipo de pessoa que se faz de vitima, só falta agora ela começar a chorar... Você é rico, bonito, inteligente, ela viu em você uma maneira rápida de ganhar a vida. Você com toda essa sua simpatia em excesso dá bola para todo mundo e ai, pronto, é facilmente enganado. Pensei que você fosse mais esperto, John, esperto o suficiente a ponto de não cair na conversa de pessoas como ela... Ela é, claramente, uma interesseira. Ela vai te usar! Te usar e te jogar fora, logo em seguida!!– Anabela continuava seu monólogo.

– Clara, eu quero ir pra casa, me tira daqui... – Lizzie se soltou do abraço de Clara.

– Mike, você pode levar a Lizzie até em casa? Pode usar meu carro... – Clara pegou sua bolsa e tirou uma chave de carro de dentro. – Eu vou resolver umas coisinhas aqui com essa folgada e depois a gente conversa, ok?

Mike e Lizzie confirmaram e os dois seguiram até a garagem, deixando John e Anabela discutindo.

– Eu sinto muito... – Mike falou quando os dois se afastaram.

Lizzie ficou calada por um momento, mas logo falou:

– Eu não entendo... Eu não fiz nada para ela, mal a conheço e ela já vem falando mal de mim! Será que ela pelo menos poderia tentar me conhecer? Mas não, todos adoram falar mal da Lizzie!! – Lizzie não se segurou mais e começou a chorar. – Desde pequena era sempre assim, sempre ouvindo críticas, porque queria ser inteligente demais, porque me achavam esnobe. Será que eles nunca perceberam que isso me machuca?? Estão sempre todos apontando meus defeitos, feia, esnobe, ‘aquele tipo de pessoa que se faz de vitima’...

Mike abraçou Lizzie, tentando reconforta-la, sabia que a amiga precisava desabafar.

– Lizzie, entende uma coisa: Você é linda, inteligente, não é esnobe de jeito nenhum, no máximo é um pouco tímida. Tenho certeza que a Anabela falou aquilo só para chatear o John, ela não queria te machucar.

– Mas machucou, Mike, muito mais do que ela imagina... – Lizzie enxugou suas lágrimas e respirou fundo. – Só vamos embora, ok? É muita coisa para um dia só...

– Você que manda, señorita. – Mike sorriu e abriu a porta do carro.

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– Não falei? A tal da sua ‘namoradinha’ lá, já foi embora... Ela não agüenta mesmo a verdade... A típica vítima... – Anabela continuava. John olhou para trás, onde antes estavam o Mike, Lizzie e a Clara, e só viu Clara, com um olhar mortal dirigido à Anabela.

– CHEGA ANABELA! – John gritou, perdendo a paciência. – Vá embora agora, antes que eu chame um segurança! E me faça um favor: só volte aqui quando você tiver ido à um psiquiatra!! Se você pensa que pode chegar assim na minha festa de aniversário e sair maltratando e falando mal de todos os meus amigos, está muito enganada! Quem você pensa que é para sair falando mal da Lizzie? Você nem a conhece! Ela pode não ser uma atriz famosa e sei lá mais o que, porém ela tem muito mais qualidades do que você, e uma delas é a educação e o caráter! Ela não fica dando piti só porque não consegue o que quer! Ela não fica falando mal de pessoas que ela mal conhece! Ela não fica humilhando ninguém! E se você quiser eu posso passar horas aqui enumerando as qualidades que ela tem e que você não tem e que acho que talvez não chegue nem perto de ter! Então, vá embora agora antes que eu faça alguma besteira!! – John gritava e segurava Anabela fortemente pelos braços. A garota estava assustada, nunca vira John perder a paciência assim com ninguém. Muito menos com ela.

Mal John acabara de falar, ou melhor gritar, e alguns seguranças apareceram. Ele soltou Anabela e se virou, caminhando até a irmã e deixando a cargo dos seguranças a tarefa de despejar Anabela.

– Ela foi para casa... – Clara comentou assim que John a alcançou.

– Droga! – John passou a mão pelos cabelos, nervoso.

– Ela não devia ter falado aquilo da Lizzie, ela não merece...

– E agora? O que eu faço?? – John perguntou nervoso.

– Como assim o que você faz? Fala com a Liz e pede desculpas, oras.

– Não é assim tão fácil.

– É claro que é, John!

– Não, não é Clara!

– Porque não seria? – Clara perguntou sem entender e John respirou fundo antes de falar.

– Porque eu beijei a Liz.

Clara pareceu absolver a informação, para só depois quase gritar:

– Você o que????!!!

– Eu beijei a Liz...

– Quando? Onde? Como? O que ela fez? Aiii!! Não acredito!!! – Clara só faltava dar pulinhos de alegria.

– Hoje, na biblioteca, um pouco antes da Anabela chegar. Ela correspondeu e se a Anabela não tivesse chegado acho que a gente poderia estar bem agora.

– Aiiii, como eu odeio aquela vaca!

– Droga!!! Meu Deus...

– Você realmente gosta dela, não é? – Clara perguntou sorrindo.

– Sim... Fiz mal em beijá-la? – John perguntou em dúvida.

– Claro que não!! Agora, a Anabela não devia ter chegado em seguida e ter falado aquele monte de coisas... Agora ela ficou insegura.

– E o que eu faço?

– Bom, por enquanto, nada. Amanhã você fala com ela na aula, pede desculpas pelas coisas que a sua ex-namorada doidona falou e não menciona nada sobre o beijo... Por enquanto...

– Só isso? Clara eu não sei se eu vou agüentar...

– Você agüentou até agora, vai agüentar mais. Eu vou falar com ela...

– Eu não acho isso uma boa idéia.

– Vou fazer ela admitir que te beijou... – Clara continuou falando, ignorando o irmão, que lhe lançava agora um olhar mortal.

– Eu não devia ter contado isso...

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– Obrigada Mike, e desculpas por ter te tirado da festa... – Lizzie falou assim que o carro estacionou em frente ao seu apartamento.

– Não foi nada. Hey, não fica triste com o que a doida da Anabela falou não, ok? Você não é daquele jeito, nós sabemos, o John sabe...

– Obrigada... Tchau – Lizzie deu um beijo na bochecha de Mike e saiu do carro, entrando em casa.

Mal ela pisou em sua casa e sua mãe a atacou com milhares de perguntas.

– Filha, o que aconteceu? Pensei que você só ia chegar mais tarde!

– Uns problemas, mãe, nada demais...

– O que foi, filha?

– Não é nada! Eu já disse!! – Lizzie falou mais alto do que de costume e foi andando rapidamente até o seu quarto. Fechou a porta e jogou-se na cama.

Primeiro, a montanha russa. Segundo, o beijo e depois a Anabela. É, aquele tinha sido um dia cheio e confuso. Lizzie pensava sobre o beijo, meu Deus, o beijo. Porque John a tinha beijado? (N/A: porque ele gosta de você? Dãã!). Lizzie estava confusa, até aquele momento ela não sabia direito sobre os seus sentimentos, mas parece que um simples beijo tinha feito uma enorme confusão em sua cabeça. “Quem eu penso que estou enganando? Acho que estou mesmo gostando do John... Mas... E a Anabela? Porque ela falou aquilo de mim? Será que depois de tudo que a Anabela falou o John ainda vai querer ser meu amigo?”.

Lizzie ficou em seu quarto, deitada na cama até escurecer, já passava das 7 horas da noite quando sua mãe bateu na porta.

– Posso entrar?

– Claro.

– Filha, está tudo bem? – Isabela sentou-se na cama.

– Hum... Acho que sim. – Lizzie respondeu sem muita certeza.

– Tem certeza? Você passou a tarde trancada no quarto.

– Qual o problema?

– Nenhum... Exceto que você é minha filha, eu te conheço muito bem... Você até pode passar a tarde no quarto, mas geralmente faz isso lendo. Você nem pegou em um livro... Vamos, tem alguma coisa de errado, conte-me.

Lizzie respirou fundo, sua mãe estava certa, e depois de um silêncio falou:

– Mãe, a senhora acha que eu sou estranha? Ou que me faço de vítima?

– É claro que não, minha filha. Você não é estranha, você é uma adolescente normal. Porém, com opinião e interesse próprios, talvez por isso te chamem de estranha. E você é sincera o suficiente para não se fazer de vítima. Não estou te falando isso porque você é minha filha, porém, você tem muito mais caráter do que qualquer outra garota da sua idade. Quem falou isso para você?

– Ninguém, mãe... Eu só estava pensando, sabe?

– Liz, filha, vou te dizer uma coisa. Nunca, nunca deixe ninguém te menosprezar, ninguém tem esse direito, assim como você não deve humilhar ninguém. Cada um tem suas qualidades e seus defeitos, porém, o modo como lidamos com as nossas qualidades e como tentamos melhorar os nossos defeitos é que faz a diferença. Não adianta de nada se a pessoa for linda e inteligente, se não souber usar sua inteligência e se usar sua beleza para menosprezar os outros.

– Obrigada, mãe. – Lizzie abraça a mãe.