Era uma quarta-feira, a aula estava insuportável, todos gritavam a plenos pulmões, jogavam bolinhas de papel uns nos outros, andavam sem parar fazendo um barulho irritante de tacos sendo pisoteados, a professora - sem sucesso algum- estressada, berrava ainda mais tentando colocar a sala em ordem. Depois de tanto tentar, ela desistiu e se sentou.

Analisei o rosto dela, estava exausta fisicamente e mentalmente, eu tinha muita pena dos professores, ter que aturar dia após dia aquele inferno que eram as salas de aula.

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Além de meu pai ter proibido de ser professora, já havia me decidido que esta profissão estava fora de cogitação, porque se eu me tornasse professora, no mesmo minuto que colocasse o pé na sala, perderia a paciência e jogaria, aluno por aluno, pela janela e, além de ter que pagar pelo tratamento hospitalar – o que me levaria a anos de dividas - seria presa, algo que minha família não gostaria.

Mas voltando ao pensamento inicial, hoje as palavras que saiam da boca de meus colegas, até minha própria, estavam me irritando.
Parecia que tudo que não fosse o Vitor me irritava, até meu amor por ele.

Queria sair logo daquelas quatro paredes e dar os 30 passos que me separava dele, chegar nele, escutar o timbre de sua voz, seu cheiro, o calor de teu corpo perto de mim e é claro sua risada que parecia com o sopro de um anjo em meus ouvidos, tanto que eu já estava tão viciada nela que faria qualquer coisa para tê-la.

Eu imaginava o meu pequeno paraíso que, agora, estava mais perto de mim, pois graças a meus colegas havíamos trocado de sala, saindo da 2 para a 3 e continuando até a 7 que, coincidentemente, dava de frente para a sala de Alice e Sophia e algumas distantes de Vitor.

Após alguns momentos em transe total, o sinal tocou e mais rápido que minha mente pudesse acompanhar, já estava descendo as escadas e já via Alice e Sophia me aguardando no lugar de sempre.

–Oi gente! - Disse animada procurando por Vítor na multidão. –

–Oi Bella. - Sophia respondeu arqueando uma de suas sobrancelhas,

encarando minha atitude desesperada a procura do garoto.

–Oi Belinha,-Alice com sua voz de bebê.

–Onde está o Vitor? – Indaguei impaciente.

–Ele já deve estar chegando Belinha.

–Shushu!

Assim que Alice disse isso, Vítor apareceu atrás de mim, assoviando como se chamasse um cachorro.

Isso me irritava demais, então, mentalmente eu planejava como dar um belo soco no meio da cara dele. Enquanto me virava para olhá-lo, mas logo que vi seus olhos, vi seu sorriso torto se inundando por seu rosto e sua risada abafada chegou a meus ouvidos...

Fechei os olhos por um instante, em segundos viajei para meu paraíso particular com ele me envolvendo em seus braços, sentindo seu cheiro e... Seus lábios.

De repente ouvi alguém me chamando... Abri os olhos de má vontade, vendo meu paraíso imaginário ficando cada vez mais distante e eu tentando me agarrar a ele, pois mesmo tão nova, eu sabia que a vida era complicada e não era como queríamos, praticamente todos os dias minha avó e minha tia me lembravam disso.

Quando me deparei com a realidade, Vitor estava de frente para mim com a cara de quem segurava com todas as forças uma grande gargalhada.

–Você estava aonde?- Indagou

–Imaginando como deveria ser o mundo sem você.

·.

–Nossa agora o meu cão imagina! Nossa! - Dei um soco muito fraco no braço dele em sinal de alerta. –O mundo seria um horror sem mim! Sem minha beleza!

–Não, o mundo seria o paraíso sem você. - Ele estava certo, no momento que ele disse "como seria o mundo sem você", realmente eu o imaginei e o meu mundo-sem ele seria um horror, mas eu não daria o gostinho dele saber disso.

–Ata, você sentiria a minha falta.

–Sonhe Vitor, sentiria falta do que? Das suas zoações, provocações...? - Acertou em cheio.

–É claro.

–Uhum. Nunca – Repliquei.

Alice e Sophia já estavam perdendo a paciência com nossa pequena discussão, mesmo já acostumadas, então antes que elas comessem a falar algo do tipo "Dá para o casal parar de namorar e irmos embora, quero chegar em casa e comer!" isso seria uma coisa que Alice diria, mesmo ela não "sabendo" que eu gostava dele, ela suspeitava, então puxei Vitor pela manga da camisa para ele começar a andar e comecei a conversar com Sophia até o portão onde nos despedimos de Sophia, pois ela ia de carro e fomos andando para casa.

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–Vocês notaram que, praticamente, estamos no meio do ano?

–Finalmente! - Disse Vitor e Alice no mesmo tempo se entreolharam por um instante.

–Esse ano passou tão rápido, não fiz absolutamente nada e literalmente, não tenho me enturmado na minha sala.

Isso sobre não ter feito nada se referia a não ter tomado nenhuma ação a referente Vitor, estamos começando a passar de meros colegas para amigos. E sobre a sala, realmente, desde o começo das aulas eu continuava a mesma bicho-do-mato, sem amigos de sala e nerd preservada.

–Não é verdade. - Disse Vitor com o sorriso malicioso que eu já conhecia.

–Tem o seu namorado!-Completou Alice em provocação.

–1° eu não tenho namorado, 2° cala a boca!

–Tem sim, o Raul! - Alice e Vitor riram da minha cara por um bom tempo.

–O que vocês vão fazer nas férias? – Perguntei mudando de assunto.

–Bom, provavelmente ficar em casa e talvez ir para a praia. E você? Vai para Minas? - Perguntou Vitor.

–Bom, eu não sei, depende de algumas coisa...-Naquele caso, dependia de dinheiro.

Por algum motivo que eu não sabia explicar, toda vez que eu me lembrava de Minas me lembrava de como era bom sair de Jundiaí, mesmo lá ser considerado interior e também me lembrava do sobrinho da mulher do meu primo, o Lucas, um menino que morava lá, muito bonito até, não podia negar que, durante uma viagem para lá, me ele acabou se tornando minha primeira paixão de verão e última - desisti dele, pois ele era mais velho - até escrevi um poema da escola sobre ele:

"Paixão de verão,

Primeiro que paixão,

depois que solidão,

Quem nunca teve uma paixão de verão?

Não sabe oque é um pouco de adrenalina

Para depois nunca mais tê-la,

Então não se assuste,

Pois é bom tê-la nem que seja só por um

Vislumbre. "

É claro que não foi o melhor poema do mundo, mas ganhei um 10, mas tudo passou e havíamos chegado à casa de Alice e estávamos para nos despedir.

–Você vai levar a gente amanhã?-Perguntou Alice.

–Ah... Não, amanhã eu começo a ir de perua junto com a Sophia. - Minha avó depois de anos me deixou ir de carro para eu ver como era.

–Ah, tá, então a gente se vê na escola.

–Tá até amanhã, tchau...

–Tchau.

–Tchau Belinha. - Revirei os olhos e fui embora.

Mais tarde, em casa, no banho, o único lugar onde eu podia pensar, comecei a pensar em Minas, na sensação boa que eu tinha de estar lá.

Quando comecei a pensar em sair de SP, só pensei em uma coisa, ficar longe de Vitor e esse pensamento me atingiu bem do lado esquerdo do peito com um peso de um tijolo.

Eu não gostava daquela ideia, me fazia infeliz ficar longe dele, angustiada, só um final de semana inteira já me estressava imagina duas semanas inteiras, seria o fim!

Senti uma dor imensa em meu peito ,algo que nunca tinha sentido antes, parecia que estavam arrancando meu coração.
Então eu percebi que, em todos os "amores" de escola que tive, só passavam de histeria, mas aquele era um amor de verdade àquele que é capaz de cruzar os setes mares atrás da pessoa, poderoso, grande, que é para o resto da vida.

Agora a pergunta era eu iria suporta-lo?